Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

One Love 10

Caitlin estava praticamente feliz, apesar do começo desastroso de seu aniversário. Levando em conta ainda que quase tivemos que enterrar Ryan devido a sua teimosia em não me deixar sozinha com Annelise. Ele ficara o tempo todo atrás da porta, ouvindo, prestes a interferir caso fosse necessário.
Como se eu já não tivesse coisa demais para pensar, fora mesmo obrigada a ir ao Park Stable. Com a desculpa bem aceita de que eu vomitaria no cavalo se subisse em um, me limitei a tirar fotos, correr atrás deles e provocá-los. Pelo menos hoje, não podia demonstrar a Caitlin que estava morrendo fisicamente e mentalmente. E tentei muito não pensar no desastre acumulado que o destino me preparava.
Se a companhia possuísse mesmo meu contrato, poderia pedir a Maya para descobrir para mim? Depois de um segundo, concluí ser burrice. Ela com certeza era mais leal ao emprego do que a alguém que acabara de conhecer. A dúvida se prendeu à parede do meu cérebro. E se sua receptividade com a minha aproximação fosse mais uma estratégia dos Biebers?
Ryan me pedira para deixar toda a influência da conversa com Annelise para o dia seguinte, mas era minha cabeça na bandeja. Era ele o despreocupado com a vida, não eu.
Abrimos a porta do apartamento escutando Ryan dizer alguma besteira. Caitlin se encontrava sob o efeito do riso frouxo, então gargalhava jogando a cabeça para trás. Eu entrei primeiro, e mesmo no escuro podia distinguir as silhuetas paradas no meio da sala, me deixando estagnada onde estava. Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, um clarão invadiu o ambiente.
— SURPRESA! — gritaram em uníssono.
Caitlin deu um gritinho assustado, em posição de ataque, e aos risos, seus parentes e amigos começaram a cantar o hinário Parabéns. Eu me juntei a eles, reparando na faixa colada em nossa janela dizendo “Feliz aniversário, Cailtin” e balões verdes espalhados por todo canto cheios de gás hélio. Pelo canto do olho, vi um sorriso presunçoso e satisfeito nos lábios de Ryan. Dava para notar em sua testa, um pouco maior do que o tamanho convencional, que ele organizara. Não fiquei chateada por ter me deixado de fora, mas ainda assim era estranho.
A maioria das amigas de Caitlin dali eram modelos, colegas de trabalho da agência em que ela trabalhava. Então, como um ato de piedade com minha autoestima já abalada o suficiente por um dia, me enfiei em meu quarto, extremamente grata por ter limpado mais cedo. Tomando por base a roupa dos convidados, eu não podia ficar totalmente desleixada. Sendo assim, depois de um banho minucioso, estudei meu guarda roupa, mas, repentinamente, observei toda intenção de me arrumar se dissipar. A quem eu queria impressionar? E por que?
Vesti um short jeans e uma camiseta manga longa de lã folgada na cor bege estampada com uma cruz preta. Saí de cabelo ainda molhado nas costas e chinelo. Não estava tão ruim quanto antes, esperava que não envergonhasse minha amiga.
De volta à sala, eles não pareciam ter sentido minha falta. Caitlin conversava com seus pais, e Ryan com as modelos. Exclusivamente por minha situação de anfitriã, não recuei em passadas ligeiras para meu quarto, montando um sorriso hospitaleiro no rosto.
Notei o indivíduo tão deslocado no espaço quanto eu antes que se dirigisse a mim. Em situações de desconforto, o primeiro passo para uma válvula de escape é encontrar pessoas na mesma situação, assim um elo de segurança se cria. De qualquer modo, tinha quase certeza de que essa não era a razão primordial de Rafael.
— Por um momento pensei que estava fugindo pela janela — ele disse bem-humorado, tomando um gole do que parecia ser refrigerante.
Usufruindo de um autocontrole escasso, não lhe perguntei diretamente o que fazia ali. Segunda visita surpresa no meu apartamento, sendo que eu não lhe dera meu endereço, em dois dias. Inicialmente, culpei Caitlin por convidá-lo, até perceber ser uma tarefa meio impossível já que a festa fora surpresa. Assim, concentrei meu olhar acusador em Ryan. Quem mais poderia ser? Logicamente Caitlin havia lhe dito alguma coisa, e aqui estavam os resultados. No exato momento, Butler captou a energia negativa, arqueando suas sobrancelhas sugestivamente para mim. Completamente culpado e nada arrependido.
— A tentação é grande — respondi, talvez um pouco tarde demais.
Rafael deu uma risadinha descontraída. Por algum motivo desconhecido, ele era uma pessoa difícil de se abalar.
— Você não gosta muito de festa, não é? Muitas pessoas juntas. Ou, porventura, despreza as próprias pessoas.
— Não me incomodo com muitas pessoas juntas — rebati — E gosto de festas em que posso ficar bêbada. Falando nisso... — sem outro aviso prévio, me conduzi à cozinha para pegar um copo de água, a sede avassaladora em consequência da noite anterior ainda não havia passado.
Ele veio atrás de mim, se escorando com certo charme no balcão de granito preto que separava a cozinha da sala.
— Teria a ver com a música então?
Rihanna nos embalava com sua voz potente através de nosso som estéreo, me lembrando vagamente da minha conversa com Hanna no ano anterior. Estávamos na festa de aniversário de Clarissa, a ruiva, nossa colega de classe, fissurada no meu irmão; e intimidada pela organização magnifica, me pedira para contratar Rihanna para minha festa de 21 anos. Na realidade totalmente paralela àquele tempo, não quis ao menos que me desejassem feliz aniversário. O que havia de feliz naquela data? Minha última lembrança dos números 02-05-1996 era o código que usara para desbloquear o celular de Justin. Uma vez, eu havia lhe dito que de presente de aniversário apenas desejava que não o esquecesse. Ele reconfigurara o código como uma prova de que não o faria. Neguei veementemente quando tentaram me convencer a ir para Boston apenas por um dia, e mesmo contra minha vontade, Hanna, Caleb e Wren, vieram me visitar. A maior parte do dia eu não estava sóbria, então só conseguia me lembrar de que eles não foram embora muito contentes.
— Tudo bem, você detesta a música — Rafael concluiu, me tirando dos meus devaneios.
Eu pensava em como até Clarissa podia ser um lembrete de Justin na minha vida. Em sua festa, Justin esmurrara Charles por supostamente pensar que ele me beijava contra minha vontade e terminamos a noite dando nosso primeiro beijo. A outra memoria voltava ao dia em que eu descobrira que ele havia sido contratado para me matar, então fugi de sua casa e Clarissa me emprestara o celular para ligar para Hanna me resgatar.
— Não é culpa da Rihanna — argumentei, enchendo meu corpo de água mais uma vez, como se suas substâncias neutras pudessem cuidar do meu vazio.
— Sabe o que eu acho? Você tem mais a ver com rock, alguma coisa sombria na sua expressão me dá a dica.
Cética, franzi o cenho pra ele.
— E sabe o que mais? Metallica vai vir para cá na sexta-feira. Quer curtir um pouco de música de verdade? — ele arqueou a sobrancelha, certo de que aquela se tratava de uma oferta irrecusável.
Em quantos segundos eu esgotaria todas as formas de dizer não? Joguei toda a responsabilidade de ser obrigada a dar mais um fora em Rafael no Ryan.
Metallica? Sério?
— Acho que você consegue companhia melhor. Não gosto de Metallica.
Ele realmente pareceu confuso e surpreso com minha resposta, e achei que aquela era minha deixa, me esgueirando para perto dos Beadles. Sandi e William me olharam com sorrisos felizes, eu via em seus olhos o quanto estavam contentes por finalmente estarem perto de Caitlin. Essa era a primeira vez em que eu os conhecia, e antes mesmo que dissessem uma palavra, já gostava deles, pareciam ser o tipo de pessoas que deixam a atmosfera leve só com sua presença. Sandi tem os olhos azuis como os de Caitlin e um cabelo liso platinado, ao contrário de William que possui um cabelo castanho ralo e olhos da mesma cor.
— Você deve ser a grande amiga de Caitlin da qual ela tanto fala! — Sandi abriu os braços, tomando a intimidade de me acolher com um abraço — Ficamos felizes em finalmente conhecer você!
— Igualmente! — respondi, inesperadamente me sentindo à vontade.
William também me abraçou. Eles não eram nada do que eu esperava. Caitlin não lhes contara a verdade sobre como Chris morrera, mas eu não achava que com todo esse carisma eles pudessem culpá-la.
— Sei que Caitlin ainda não te convidou — Sandi disse com um leve tom de repreensão — Mas quero que saiba que nossa casa estará sempre de portas abertas à você. Temos um lar um tanto aconchegante em Atlanta.
Eu assenti agradecida, sabendo que se tratava também de uma cutucada em Caitlin. Queria dizer que ela poderia viver em condições melhores se morasse com eles.  
— Quem sabe você não pode convencer Caitlin a voltar a morar conosco? Também temos um quarto reservado a você.
Caitlin revirou os olhos dramaticamente, terminando com uma encarada para Sandi.
— Mãe — reprovou, não tão a sério assim.
— Você sabe como os pais são — Sandi abanou a mão para mim, passando o braço em volta de Caitlin — Vai me dizer que seus pais não te imploram para voltar para casa também?
Dei uma risadinha nervosa, concordando. A diferença era que Sandi e William não tinham o mínimo de parcela de culpa na decisão dos filhos se mudarem de casa, por outro lado, Eleanor e Bryan eram parte de pelo menos metade da minha vontade de ir embora.
— Sempre.
— Mas não interessa o que vocês façam, sempre vamos amá-los mais do que tudo. Vocês não sabem o efeito que tem em nós ficarem ao menos algumas horas longe. Imaginem meses! Entenderão quando tiverem os seus — o sorriso dela vacilou no rosto, e eu soube que pensava em Christian também. Ela apertou Caitlin um pouco mais forte, os olhos ligeiramente mais molhados.
Me senti uma intrusa, então levantei a mão como um pedido de licença para me afastar.
Invejei a relação deles, entrando em desacordo com a decisão de Caitlin de se manter afastada. Eles precisavam superar o luto juntos, e estava na cara que seus pais tinham muito amor para lhe dar. Mesmo sem querer, pensei em Bryan e Eleanor. Eu recusava todas as ligações que eles me faziam, então não nos falávamos há meses. Eles também não tentaram aparecer na minha porta, sabiam que seriam tão bem acolhidos quanto um ninho de cobras. E apenas por um momento pensei se estaria fazendo a coisa certa. Devia ter aprendido com Justin que não sabemos por quanto tempo teremos as pessoas em nossa volta. Se eles morressem, como eu me sentiria?
Toda essa linha de raciocínio durou por um segundo inteiro, mas depois, tudo entrou em ordem novamente. Era culpa deles que minha vida estivesse uma droga agora. E eu não os perdoaria por isso.


— Abençoado seja Rafael Mendez! — Hazel juntou as mãos, representando uma prece à Rafael como se ele fosse mesmo um anjo — Não fechamos nem uma semana desde o contrato e nossas vendas já aumentaram consideravelmente! — comemorou.
Ela estava diante do computador, os olhos esbulhados de ganância. Pensei em como seria péssimo se eu o fizesse cancelar o contrato porque já recusara sair com ele duas vezes. Ele contaria a ela o motivo de querer seus quadros bem longe de mim ou me deixaria fazer o trabalho difícil? Tinha certeza que Hazel encontraria uma punição para mim pior do que apenas a demissão.
— Eu só tenho acertado ultimamente — se gabou, colocando as mãos atrás da nuca e se recostando na cadeira — Primeiro, contratando você, depois ele. Eu abençoo essa união.
Essa era o mais perto que ela já chegara de um elogio para mim, mas óbvio que terminaria com as palavras erradas. Seus olhos ardilosos se voltaram para mim.
— Soube que ele está solteiro — me disse, convencida de que estava me fazendo um favor.
Fingi estar arrumando os quadros nas paredes, buscando a perfeição do visual.
— Ele é muito bonito. Essa é a hora de avançar. Na inauguração, todas as mulheres estavam de olhos nele. Além do mais, todos sabem que gente apaixonada produz o dobro no trabalho. Ele ainda aumentaria a parcela do que nos é devido e teria um gosto maior de permanecer com a gente.
Implorei para que qualquer cliente passasse pela porta, atender um bêbado fedido arrogante seria melhor do que continuar aquela conversa.
— E então, o que me diz? — Hazel insistiu, impaciente.
Suspirei.
— Você quer que eu seduza Rafael para manipulá-lo?
Se ela soubesse das visitas que ele andou me fazendo...
— Você está vendo da forma errada — replicou ela com cara de coruja seca que chupou limão — Só queremos deixar ele feliz.
— Ele pode contar com minha amizade transparente — aleguei.
Na verdade, até agora, tudo o que eu havia lhe dado era minha sinceridade. Depois de lhe dizer que eu não iria ao show do Metallica, tentei me redimir, e levei a ele um pedaço da pizza que haviam comprado, puxando assunto sobre o que eu havia aprendido em Harvard. Com isso, Rafael ficou até cortarmos o bolo, e acabei concluindo que eu estava perdoada.
— Por hora, tudo bem — finalizou, mas disse como se o assunto não estivesse encerrado.
Contive minha vontade de bufar e finalmente um homem de camiseta cáqui entrou pela porta. Pela primeira vez na história daquela clientela, fui ansiosamente atendê-lo.
Apenas uma hora depois de toda aquela conversa constrangedora, sete da noite, Rafael adentrou a galeria vestindo uma camiseta social azul e carregando uma caixa pequena retangular de isopor. Eu quase choraminguei, prevendo os próximos movimentos de Hazel.
— Mendez! — ela deu um pulo da cadeira, radiante. Do modo que seus olhos brilhavam, eu sabia que mesmo querendo jogá-lo para cima de mim, Hazel se perguntava o que ele achava de mulheres um pouco mais velhas — Estávamos mesmo falando de você!
Os olhos impassíveis dele se desviaram para mim.
— É mesmo? Boa noite, garotas. Pensei em fazer companhia à Faith para o fim do expediente, ela pode me ensinar um pouco de persuasão.
Palavras erradas, Rafael.
Ela me jogou um olhar sugestivo.
— Concordo plenamente, vocês dois tem muito a ensinar um ao outro.
Ele riu com ela vagamente, investigando entre nós duas.
— Bom, eu tenho que ir pra casa agora, mas sinta-se à vontade! Faith precisa mesmo de companhia, aqui pode ser um pouco perigoso às vezes.
Hazel se apressou para recolher as coisas e partir, me fitando significativamente antes de desaparecer.
Rafael se aproximou e colocou a caixinha no balcão.
— Pensei que estaria com fome — disse orgulhoso de si mesmo, abrindo a tampa e dando visão para uma porção generosa de batata frita.
Qual era o problema desse homem? Ele devia ter um manual para dar tanto fora assim.
Forcei um sorrisinho e fiz minha melhor expressão de desculpas.
— Eu não gosto de batata frita, perdão. Mas obrigada pela consideração.
Rafael permaneceu parado por um tempo, perplexo, concentrado em algum pensamento. Imaginei se era a hora em que ele dizia ter terminado o contrato com a galeria, e tremi na base.
— Claro que não — murmurou baixo, se apoiado no balcão e coçando o queixo — Estão tentando me sacanear.
Eu recuei na cadeira, hesitante.
— Está com raiva de mim?
Ele pareceu surpreso com minha conclusão, balançando a cabeça com energia demais.
— Não, a culpa não é sua que dou ouvidos a péssimos conselhos. Ou os conselhos são péssimos, ou você realmente não gosta de estar perto de mim.
Eu ri com nervosismo, começando a batucar com os dedos na mesa.
— Não tenho nada contra você, acredite. Andou recebendo conselhos sobre mim? De uma garota esbelta de olhos azuis ou um o Pouco Cabelo castanho/louro escuro despreocupado?
Quem mais poderia ser? Primeiro o lance com as estrelas, o show do Metallica e agora as batatas fritas. Isso sem contar que ele de repente conseguiu meu endereço e foi convidado para a festa de Caitlin. Eles sabiam que eu não gostava mais dessas coisas, mas podiam estar esperando que Rafael pudesse curar essa minha aversão e me trazer de volta a antiga versão de mim mesma. Mais patético impossível.
Rafael veio para o meu lado do balcão, sentando na cadeira de Hazel e virando-se para mim. Após recostar-se nela e cruzar os braços, disse:
— Ele não parecia ser tão despreocupado assim, mas esqueça.
Eu mataria Ryan com minhas duas mãos.
— Tá, os conselhos podem ter sido ruins, só que não são completamente responsáveis pela sua resistência. Quem é ele?
— Ryan? Um propenso careca que se acha minha babá — revirei os olhos — Sorte dele que é um cara legal.
Rafael riu, mas negou com a cabeça, os olhos atentos e compreensivos em meu rosto.
— Não estou falando do seu amigo. Estou falando do cara que quebrou seu coração.
Eu não esperava que ele tomasse essa direção, então fiquei sem fala por um tempo. Desviei meus olhos para a blusa, mexendo na barra dela, eu estava preparada para dizer “ninguém”, só que Justin era tudo, menos ninguém. Parecia terrivelmente errado manchá-lo dessa forma, mesmo que Rafael não soubesse sobre o que eu estava falando. Antes mesmo que eu pudesse pensar, as palavras escapuliram:
— Ele foi embora — eu disse, numa forma muito amena de retratar o que realmente acontecera.
Sua mão tocou meu joelho carinhosamente, me transmitindo força e provando que eu não estava sozinha. Mas, de fato, eu estava.
— Ele foi um idiota — Rafael soou um pouco revoltado.
O encarei.
— Não, ele não foi.
Rafael meneou a cabeça com cuidado, percebendo minha hostilidade.
— Não foi uma escolha inteligente a de te deixar.  
Levantei um ombro para transparecer indiferença, porém, pareceu mais ter se contraído por dor.
— A culpa foi minha.
Ele apertou os olhos, indignado.
— Você não devia se culpar por essas coisas. Todos nós temos escolhas, se ele quis partir, foi por vontade própria.
Neguei.
— Você não entende...
— Pode ser que não. Mas sei que o que ele fez foi resultado de sua decisão. Você pode achar que tem alguma influência nisso, só que no fim do dia, era ele e a própria consciência.
Passei as mãos no rosto, me livrando do sentimento desagradável, deixando-o se abrigar ao vazio inflamado em meu peito.
— Não quero falar sobre isso.
Rafael assentiu, com ousadia levantou meu queixo, me olhando nos olhos.
— Prometo não tocar mais no assunto se prometer sair comigo amanhã.
Eu vacilei e um sorrisinho confiante puxou o canto da sua boca.
— Nada de batata frita, Metallica ou estrelas. Eu mesmo peço sua dispensa à Hazel.
Expirei devagar, eu não podia lhe dar um terceiro fora. Então olhei para as batatas em cima do balcão e tive uma ideia brilhante. Já que estávamos falando de negociações....
—  Concordarei se me deixar chamar minha amiga Maya para nos fazer companhia agora à noite.
Depois da intimidação de Annelise, meu tempo estava acabando, era agora ou nunca. Se eu não descobrisse alguma coisa logo, da minha cova que não poderia ser útil.
Rafael respirou fundo e se recostou à cadeira, gesticulando com a mão.
— Vá em frente. Mas assim fica me devendo mais alguma coisa.
Sem pensar muito no assunto, concordei e peguei meu celular da bolsa, digitando rapidamente a mensagem:
“Venha para a galeria AGORA ter seu encontro com Rafael, esteja preparada para o máximo da sedução. Traga bebida. Aos montes”

terça-feira, 25 de julho de 2017

One Love 9

Devolvi o sorriso como se fosse apenas o cumprimento de duas estranhas que se reencontraram acidentalmente. Não pude deixar de fazer uma análise agora minuciosa do seu rosto. As bochechas eram altas no rosto rechonchudo, levemente avermelhadas, os cílios longos faziam sombras para os olhos grandes de piscina; um batom vermelho sangue pintava seus lábios de Angelina Jolie; como um véu, os cabelos de ouro caíam imperceptivelmente ondulados em seu rosto. Ela exalava sedução e uma ingenuidade perigosa.
Senti certo desconforto na boca do estômago nada relacionado à náusea da ressaca. Estava totalmente nítida a razão pela qual Guilherme guardara tanta mágoa de Justin. Aquela não era uma beleza com a qual eu pudesse competir. Talvez Hanna e Caitlin conseguissem entrar na disputa. Consegui me sentir ameaçada, embora soubesse que não havia como estar num polo alternativo com ela pela atenção de Justin. Não mais.
Um garçom baixou meu prato à minha frente, me tirando do transe. Ryan esperou que ele saísse para falar de novo.
— Nós temos que sair daqui. Ela está olhando?
Remexi a salada no prato, tentando agir naturalmente. Caitlin olhou de esguelha.
— Está — respondeu com aflição — Aliás, ela é muito bonita.
Então não era só eu que me incomodava com a aparência física de Annelise. Ryan a havia descrito como “loira de corpo violão”. Mais sem noção que isso, impossível.
Eu podia esperar que esse encontro fosse mero acaso, uma coincidência não tão grande por supostamente morarmos na mesma cidade, mas alguma coisa no meu ouvido me dizia o contrário. Talvez fosse apenas pessimismo.
Quis investigar. No passado, eu podia fugir de ameaças, mas agora, me jogava na direção delas para provar que não me deixaria ser abatida tão facilmente. No fundo, também tinha outra motivação para querer bisbilhotar Annelise. Queria descobrir o que Justin vira de tão interessante nela e o que o fizera mudar de ideia depois. Por que escolheria alguém como eu tendo conquistado alguém como ela? Além do mais, era estranhamente bom ter contato com mais alguém que o conhecia. Ela podia conhecer alguma parte dele que não cheguei a conhecer.
— Tive uma ideia — contei, inspirada subitamente — Eu vou ao banheiro, se ela me seguir, deixem o restaurante imediatamente. Não se preocupem com a conta — alguém ficaria no vermelho esse mês.
— Por que acha que ela vai te seguir? — Caitlin perguntou cética.
— Intuição. O jeito que ela está me olhando.
— Ela não está atrás de você, Faith. É atrás de mim. Eles descobriram que estou vivo. Eu tô fudido — Ryan agonizou.
— Vocês só estão paranoicos. Ela deve ter vindo apenas almoçar — Cait argumentou, não parecendo totalmente confiante no que dizia.
— Tá. Mas se me ver, acabou pra mim. Isso se já não viu. Eles vão me culpar totalmente pela explosão. George vai comer minhas tripas no café da manhã.
— Concentrem-se! — exigi — Até pensarmos em outra coisa, vou colocar em prática o meu plano. Não temos nada a perder.
Já estava me levando, Ryan agarrou meu tornozelo por baixo da mesa.
— Continua sendo uma ideia ruim. Se estiver certa, você não pode encará-la, Faith.
Chacoalhei meu pé, me livrando da sua mão.
— Atenção — disse a Caitlin, me distanciando dos dois.
Escutei Ryan me chamar entredentes uma última vez, então passei pela porta sem olhar na mesa de Annelise, seguindo a placa com o desenho da bonequinha de vestido para a esquerda. Entrei sem pestanejar, notando que o banheiro de quatro reservatórios estava vazio. Me apoiei na pia de mármore e olhei para o espelho enorme, reparando na minha aparência destruída. Como complemento das olheiras profundas, cara amassada, olhos vermelhos, e roupas que não combinavam; meu cabelo apontava para todas as direções. Não era um bom dia para encontrar Afrodite em pessoa. Minha autoestima já no chão seria enterrada e cuspida por ela.
Liguei a torneira e joguei a água gelada em meu rosto, já impaciente. O quanto eu havia esperado? Trinta segundos? Quem sabe eu era mesmo insignificante para Annelise.
Estava pensando na possibilidade de arrastar uma cadeira e me sentar ao seu lado com algumas perguntas despreocupadas no falso intuito de fazer amigos, quando a porta do banheiro feminino se abriu. Vi pelo reflexo a loura escultural desfilar até a torneira ao lado. Annelise se aproximou do vidro, checando a maquiagem.
— Essa coisa toda é complicada, não? — falou despreocupada, organizando os cílios com as costas do dedo indicador. Não precisei perguntar ao que se referia, podia sentir que ela continuaria falando independentemente de alguma manifestação minha — Maquiagem, roupa, cabelo; é tudo tão complexo. Saber combinar é como montar um quebra cabeça — desabafou, expirando com exaustão.
Ela ajeitou a jaqueta de couro vermelha contrastando com a camisa branca de decote profundo em V e a calça de couro preta; uma bota de cano longo da mesma cor abrigava seus pés. Eu não sabia como ela exercia a profissão em cima daquele salto. Literalmente, estava vestida para matar.
Sem ao menos disfarçar, Annelise me olhou de soslaio, entortando a boca. Tarde demais para me arrepender de não ter me preocupado com a roupa mais cedo.
— Sei que entende meu ponto. Mas, devo confessar, amo montar quebra cabeças — uma pitada de sugestão permeou sua voz.
Dei um sorrisinho de lado, mostrando-me desinteressada na conversa. Eu não queria discutir sobre quebra cabeças, tinha algumas coisas mais interessantes em mente. Annelise podia saber da localização de Jazmyn e Jaxon?
— E você, Faith Evans, gosta de brincar com alguns jogos em particular?
E finalmente, as cartas estavam na mesa.
Dei uma risadinha forçada, a encarando.
— Não gosto de jogos, prefiro ser direta.
Ela aparentou surpresa, mas uma surpresa agradável, devolvendo meu olhar.
— Eu esperava que você ao menos perguntasse de onde te conheço. Não parece muito confusa.
Dei de ombros, indiferente. Minha hostilidade não estava sob controle.
— Você me conhece, então? Sabe por que estou aqui?
Não respondi, cruzando os braços. O óbvio estava confirmado, ela me conhecia, e aparentemente estava atrás de mim. Por hora, Ryan não deveria temer. Minha vozinha covarde jogada no fundo da cabeça me avisava que eu deveria. Se fosse esperta, arranjaria um jeito de deixar o banheiro imediatamente, usando de alguma distração patética, evitando qualquer olhar que a irritasse. Se eu fosse esperta.
— Ok, só eu vou falar. Apesar de que, essa sua atitude já me pareceu uma meia resposta — disse ela, bem-humorada. Resgatando um batom do bolso de trás da calça, se inclinou para retocá-lo em seus lábios, embora eu não conseguisse enxergar algum motivo para fazê-lo — Está gostando de Minneapolis, Faith? — ela me olhou através do espelho, dando uma risada melódica em seguida — Esqueci, nada de perguntas. Só não posso deixar de imaginar por que está aqui.
Esperei que terminasse seu segundo de vaidade, congelada do jeito que estava, temendo que qualquer movimento meu denunciasse meus propósitos. Quando ela se virou totalmente para mim, me arrependi de não ter mudado de posição antes, seus olhos me perfuraram, parecendo enxergar minha alma.
— Bem, ouça uma coisa engraçada. Você morava em Boston, certo? A filial da empresa para qual trabalho de lá explodiu catastroficamente, o que foi bem estranho. Meu chefe tem certeza, aliás, todos nós temos, de que foi provocado por alguém. Cogitamos várias pessoas, temos muitos inimigos. Entrevistamos todos eles, se assim se pode dizer — o sorriso cruel dela me dava o verdadeiro significado de entrevistar, torturar — E nenhum parecia saber de nada. Claro, eles poderiam estar mentindo, mas vislumbramos uma alternativa que não queríamos enxergar antes — ela pausou, deixando o suspense no ar — Pode ter sido alguém de dentro.
Eu queria engolir em seco. Ryan tinha razão, eles haviam descoberto. Ele não estava seguro. Precisava ir para o Havaí agora mesmo, adotar um novo nome, se esconder para sempre. Tinha certeza que Caitlin iria junto com ele, mas eu não podia. Não sem encontrar o que me trouxera aqui para começo de conversa. Comecei a finalmente me arrepender de tê-lo arrastado junto comigo. Ele estava se passando como morto, e eu o trazia para a única cidade em que suas chances de ser descoberto eram altíssimas?
— Parece mesmo uma teoria de conspiração, concordo. Meu chefe me designou para cuidar disso. Você sabe, as vezes nós mulheres conseguimos ser bem mais observadoras que os homens. Mas então, qual seria o motivo para haver uma traição justo em Boston? Uma das filiais que mais gerava lucro para a empresa. O que ocorrera de diferente? Vou te apresentar agora as peças do quebra cabeça que eu tenho. Eu sei que você conheceu Justin Bieber, não posso dizer ao certo até que ponto, mas pelo menos a saliva dele você conhecia — ela riu — Uma coisa que temos em comum. Fala sério, ele era uma anomalia da natureza, uma beleza sobrenatural.
Havia algum motivo para me sentir enciumada? Sendo lógico ou não, quis estourar a cara dela.
— Você sabe qual era o ganha pão dele, Faith? — ela semicerrou os olhos, me estudando — Eu acho que sim. Aliás, compareceu a uma festa de Hall com ele para conversar com George um dia antes da explosão. Justin queria uma promoção, e isso não é nada anormal, sua ambição sempre foi visível. Mas ele não estava disposto a abrir mão de você para ganhá-la, e isso é terrivelmente curioso — eu recuei quando ela deu um passo a frente, a intriga brilhando em sua expressão — Nunca ninguém pode competir com seus interesses. Eu mesma não cheguei a ter um valor tão alto pra ele, surpreenda-se.
Percebi que eu não era a única a me sentir ameaçada ali. Na verdade, ela estava ultrajada, e me arriscava dizer, com inveja. Annelise tinha inveja pelos sentimentos que provoquei em Justin. E que segundo ela, não experimentara. Me senti um pouco mais aliviada, embora soubesse que inveja era um sentimento perigoso.
— E mais outra, Brad, o administrador da filial em Boston, que Deus o tenha, participaria de um almoço com meu chefe no dia da explosão. Ele queria relatar algum problema que estavam tendo. Um problema que não podia ser conversado por telefone, que precisava ser demonstrado pessoalmente. Brad não arriscaria desperdiçar o tempo do chefe, então a coisa era importante. Claro, o encontro nunca chegou a acontecer, mas temos certeza de que o relato teria relação direta com o incidente. Você está vendo como as coisas estão se encaixando?
Levantei a cabeça, escondendo o quanto eu estava nervosa. Sabendo ou não que Ryan estava vivo, era claro que suspeitavam de mim, eu podia ver o caminho que a conversava tomava, uma acusação direta seria jogada na minha cara. Se eu não admitisse por bem, Annelise teria o maior prazer de arrancar uma confissão minha. E sabe-se lá o que fariam comigo depois de descobrir que eu fora a causa da explosão. Estava certo que eu não sabia desses planos, mas Justin fizera aquilo por mim, o que me tornava imediatamente culpada.
—Te apresento mais, a madrasta de Justin foi encontrada por ele depois que um livro de registros da família Bieber foi roubada do cartório. Percebe que as coisas estão girando muito ao redor de Justin? E sabe o que é mais estranho? Ele ter um casinho com você — ela me olhou de cima a baixo, me intimidando — Não se sinta ofendida, querida, mas o seu tipo nunca foi o que ele almejou para uma noite. Na verdade, você, especificamente. A filinha perfeita de Bryan Evans que vai à missa aos domingos, visita orfanatos, não gosta de bebidas alcoólicas e estuda em Harvard. E de repente, ele se interessa por você? — ela bufou — Quer saber o que pensei? Justin tinha um modo certo de se aproximar de suas vítimas femininas, ele as seduzia por pura diversão e depois quebrava mais do que o coraçãozinho delas.
Dei mais um passo para trás quando ela se aproximou, uma reação que não conseguia conter, embora soubesse ser demonstração de fraqueza. Ela não podia saber o quanto me intimidava.
Annelise deitou a cabeça para o lado, numa expressão fajuta de piedade.
— Ele quebrou seu coração, Faith? Sei que havia gente atrás de sua família na época. Ele conseguiu concluir o serviço antes de ter que te eliminar? Acho que não. 
O fim do discurso estava próximo, eu podia ver. Imaginei se com ele vinha meu pescoço quebrado. Não era uma realidade muito distante. Seria muita besteira correr?
— Então chegamos na minha teoria final. Justin foi contratado para colocar um fim na sua vida, mas por algum milagre, se apaixonou por você e não conseguiu. Eu sei, isso é um absurdo, concordo. Mas de qualquer forma, ele não ficou muito contente com a empresa, seu amigo havia sido eliminado, além do fato de descobrir alguns segredos que escondiam dele. Ele queria a promoção para colocar as mãos nessas informações, sua lealdade não estava mais conosco, George pode sentir. Era isso o que Brad queria contar, que ele havia se tornado um risco para nós. E então, a empresa explode, ele morre e você se muda para a cidade onde está a sede? Pensamos muito sobre a possibilidade de ele estar vivo, mas esse olhar perdido que você tem agora, não poderia ser fingido. É evidente que está agonizando, não dá para fingir uma coisa dessas. Você veio pra cá terminar o que ele começou? E por que ele explodiria a empresa? Será que pra sumir com o seu contrato? Ele tomaria esse risco apenas para te ver segura? Tem alguma peça faltando — ela colocou a mão no queixo, a testa franzida de concentração como se estivesse tentando resolver um cálculo de matemática.
Meu coração batia mais forte. Ela estava praticamente com toda a verdade nas mãos. Era o fim da linha pra mim. Me confortava apenas o fato de não ter citado Ryan ao menos uma vez. Se suspeitasse dele, já teria o mencionado a essa altura.
— Felizmente, estamos tentando resgatar o material que as câmeras do dia da explosão gravaram. Não estamos longe, a qualquer momento poderemos ver os últimos acontecimentos. E tenho esperança de que isso vá nos guiar a conectar tudo o que falta — me contou animada — Nós não agimos sem ter certeza. Pode levar o tempo que for, mas trabalhamos com cem por cento de eficiência.
Annelise olhou distraída as unhas grandes pintadas de preto, me esperando digerir tudo o que ela havia dito. O que ela queria? Que eu confessasse de uma vez? Eu estava encurralada, era certo, mas não seria por minha boca que ouviria toda a verdade. Por outro lado, se eu admitisse toda a culpa, eles parariam de investigar, dando tempo para Ryan desaparecer do mapa com Caitlin. Ela podia ter uma parcela de culpa em todo o plano. Eu sabia que agia por fora para Justin, querendo destruir a Companhia que assassinara seu irmão.
“Não ouse” Justin ordenou em minha cabeça, reconhecendo minha tendência a confissão para ser o bode expiatório.
Era tudo o que eu queria, ouvir a voz dele uma última vez antes que partisse dessa para a melhor. Se havia mesmo uma melhor depois dessa.
“Feche essa boca, Faith, temos muito o que fazer ainda”
— Tem um jogo que aprecio mais do que quebra cabeça — ela voltou a falar, me encarando com diversão — E é o que faço para realizar meus trabalhos. Eu gosto de causar pânico em minhas vítimas, de tal modo que as leve a loucura. O desespero deixa um rastro inconfundível enquanto tentam fugir de mim, e nada é mais prazeroso do que essa perseguição. Sente esse cheiro? — ampliou seu sorriso impiedoso, lembrando-me muito de um demônio — É medo.
Um arrepio desceu por minha coluna e eu percebi que era isso que ela queria. Annelise queria que eu me sentisse sem saídas para lhe contar tudo de uma vez. Então eu não faria, tinha orgulho demais para facilitar todo o seu trabalho. Ela queria uma caçada? Eu lhe daria uma inesquecível.
Cruzei os braços, lhe fitando com o nariz empinado.
— Boa sorte.
Eu pareci mais confiante do que me sentia.
Ela piscou um olho, visivelmente mais empolgada com minha determinação.
— Nos vemos por aí.
E então saiu a passos de cobra por onde havia entrado. Antes que pudesse passar pela porta, entretanto, se virou para mim.
— Só mais uma coisa que não faz sentido pra mim. Justin é lendário demais para se deixar morrer em uma explosão, mais ainda se for uma que ele mesmo provocou. Você mesma pode ter engolido essa história. É óbvio que ele não te aguentaria por muito tempo e arrumaria uma forma de fugir de você. Mas se por um acaso o reencontrar, diga a ele que não sou tão fácil de enganar assim. E se quer uma dica amiga, não se deixe relaxar achando que seu contrato simplesmente evaporou. 
Tendo certeza de que ela havia saído, eu relaxei a postura, finalmente respirando livremente. Provavelmente essa era uma das últimas vezes que eu poderia ter essa regalia. Eu não sabia qual era o sentimento que predominava dentro de mim, mas raiva era um forte concorrente. É claro que fazia parte do seu plano de me deixar em pânico plantar a dúvida de que Justin realmente falecera. Ela queria me levar a extrema agonia. Também estaria blefando sobre o meu contrato? Ou voltaram a procurá-los para nos perturbar? Muita coisa para uma cabaça de ressaca assimilar. 

quarta-feira, 19 de julho de 2017

One Love 8

Eu havia limpado todo o meu quarto, que estava mais para um banheiro químico naquela manhã. Aproveitei e passei o trabalho para o meu banheiro também. Aquele cheiro nojento estava impregnado em qualquer coisa num raio de dois metros. Tive que trocar o lençol e a fronha do travesseiro por um conjunto preto pego na lavanderia sexta feira. Sem Flê, precisei aprender algumas coisas, mas Caitlin e eu nos recusávamos a lavar e passar roupa. Eu não tinha tantas peças assim para me arriscar a manchá-las ou queimá-las. Tinha certeza que andar por aí com estampa de ferro quente nunca entraria na moda, embora não fosse um assunto que eu acompanhasse.
Meu humor desceu de menos dez para menos cinquenta. Caitlin cravou aquelas palavras em mim e não consegui me livrar delas — ou do cheiro horroroso em meu quarto — para poder dormir novamente. O que ela esperava ganhar dizendo aquelas coisas pra mim? Por um acaso havia algum manual obrigatório de como lidar com a morte? Eu não tinha dúvida de que era covarde, e podia mesmo estar me esquecendo de que eles também estavam sofrendo; não é porque não demonstram estarem caindo aos pedaços que estão inteiros. Possivelmente, também, eu precisava de ajuda profissional. Entretanto, não aceitaria o fato do mundo seguir em frente sem a presença de Justin. Qual era a lógica de haver felicidade numa terra em que ele não existia?
Frustrada, segui para a cozinha. Eu não passaria por aquela ressaca daquela forma. Caitlin e Ryan não estavam em lugar nenhum, e por um lado aquilo era bom, eu não aguentaria mais uma briga sem estapear a cara de alguém. Quando coloquei a mão na geladeira, porém, vi o calendário grande preso por dois imas de morango ali. Nós decidimos que precisávamos de um para guardar datas importantes. Na verdade, Caitlin decidiu e eu concordei. Então notei a data de hoje circulada em verde várias vezes. Em cima do número 15 havia uma nota gritante em letras garrafais “QUEEN’S BIRTHDAY!!!
Paralisei, desacreditando. No próximo segundo, tudo fez sentido. Eu havia prometido para Caitlin acompanhá-la em tudo o que ela quisesse em seu aniversário, e ao que parece, ela quis começar pela igreja. O remorso chacoalhou meus ossos. Eu havia esquecido seu aniversário. Pior, havia feito com que começasse da pior forma possível. No passado, Caitlin sofreu um acidente que quase a matou; por mais louco que pareça, um Jet Ski a atropelou, passando em cima de suas pernas. Desde então, ela me contara que 15 de maio se tornara um dos dias mais esperados do seu calendário. Para completar o combo desastroso, esse era o primeiro que passaria sem Christian.
Bati na minha cabeça como punição, me sentindo uma inútil, a dor da ressaca já estava lá, e não recebeu o acréscimo muito bem. A culpa removeu o monopólio da raiva e frustração que me corroía há cinco meses. Corri para o quarto, abrindo o guarda roupa e pegando qualquer coisa que vi na frente para me vestir. Peguei a bolsa transversal e quase esqueci de trancar o apartamento. Disquei o número em meu caminho para o ponto de ônibus.
— Onde vocês estão? — perguntei assim que a chamada foi atendida.
Ryan suspirou do outro lado da linha.
— Almoçando no Union Bar & Grill.
— Estou indo! — avisei, desligando o telefone.
Chegando no ponto, grunhi. Eu não havia lhe comprado um presente ainda. Planejava comprar depois que voltasse da minha sessão de espionagem no dia anterior, mas toda aquela visita me deixou desnorteada.
O que eu compraria em menos de cinco minutos?
— Oi, Maya — a saudei no telefone, tendo arquitetado um plano.
Não precisei esperar muito para que ela aparecesse com seu carro. Pulei no banco antes que parasse completamente.
— Você está me devendo dois favores — ela anunciou representando o número com os dedos.
— Dois encontros? — sugeri.
Ela sorriu de lado.
— Certo.
Na verdade, eu podia tê-la salvado do tédio. Maya vestia um short desfiado e uma camiseta de mangas caídas, deixando a mostra seus ombros. Hoje George havia lhe dado uma folga.
— Você está com uma cara horrível. Onde foi a bebedeira e por que não me chamou?
Deitei a cabeça no vidro, me lembrando do quanto estava acabada.
— Em casa mesmo, eu estava entediada. Da próxima posso te chamar então? — eu não estava certa de que ela quereria sair comigo para beber depois de supostamente ter me revelado seu trabalho.
— Deve! — respondeu com energia demais — Nunca pensei que diria isso, mas me cansa só sair com homens.
Forcei uma risada, mais preocupada com qual presente eu escolheria para Caitlin. Um que coubesse no meu bolso. Sempre escolhi presentes independentemente do valor, mas agora eu não podia mais me dar a esse luxo, o que reduzia minhas variedades na metade, pelo menos.
— Ok. Você disse que quer comprar um presente pra sua amiga que não gosta de mim, confere?
Já estávamos entrando no estacionamento do shopping, procurando uma vaga.
— Não é bem assim...
Ela abanou a mão, bufando.
— Eu não me preocupo com isso, você sabe. Já escolheu o que vai ser?
No fundo, ela se preocupava sim, por isso era tão carente a ponto de abrir espaço para que eu a usasse de acordo com meus objetivos. Seria cômico se não fosse patético.
— Não, alguma sugestão?
Descemos do carro juntas, andando rápido para as portas de vidro automáticas.
— Ela parece ser bem do tipo vaidosa, por que não compra um salto?
Achei ótima a ideia, por mais que soubesse da grande possibilidade de me beneficiar com isso depois por pegar emprestado. Entrei na primeira loja de sapatos que achei e pedi por um salto alto verde. Era a cor preferida dela, ela poderia arrumar uma maneira de combiná-lo com alguma roupa.
A vendedora pareceu com um Scarpin verde musgo escuro de ponta redonda e salto dourado. No fim, não achei tão feio quanto pensei que acharia. Na verdade, era até bonito. Paguei com uma dor no coração, significava menos bebida para mim.
Maya conseguiu me levar ao restaurante após meia hora de ter ligado para o Ryan. Se eu fosse fazer todo o processo de ônibus levaria umas duas horas. Cogitei a ideia de já terem ido embora, mas resolvi tentar a chance.
— Obrigada Maya — lhe dei um olhar grato, minha primeira emoção a ela não fingida — Te compenso depois — abri a porta e pulei pra fora com a caixa de embrulho vermelho nas mãos.
— Estarei esperando! — respondeu, mas me pareceu estar um pouco desanimada. Talvez ela esperasse que eu a convidasse para o almoço. O que não era possível, muito menos querido.
O restaurante retangular é localizado em uma esquina de Minneapolis, dividindo sua estrutura em três andares. A porta e as janelas são de vidro; eu conseguia ver muitas janelas, com a extensão pegando quase toda a parede, de forma que as pessoas pudessem dar uma espiada na rua caso a conversa de sua companhia estivesse entediante — ou a própria companhia em si. Dali de fora, não consegui encontrar Ryan e Caitlin.
Passei pela porta, embaixo do letreiro de neon branco anunciando “UNION” e parei na entrada, correndo os olhos pelo local para me familiarizar. As mesas quadradas e vermelhas estavam encostadas na parede das janelas, e sofás da mesma cor serviam como assentos; do lado contrário, estava o bar com balcão e bancada amadeirados. A parte do bar tomara conta de todo o primeiro andar, então desci pelo corredor para chegar às escadas e encontrar o restaurante. O piso branco cedia espaço para os degraus revestidos de madeira.
Subi dois lances até chegar ao segundo andar, percebendo um clima diferente. As mesas retangulares nas paredes abrigavam quatro cadeiras estofadas de marrom, já as do centro, dois sofás grandes da mesma cor. Lustres quadrados e simples pendiam no teto à direita; bem no centro eles se assemelhavam à uma lágrima gigante, as mesas da janela não possuíam esse benefício. Correndo os olhos até o fundo, eu via prateleiras com divisórias de uma parede a outra abrigando vinhos. E mais uma vez, eu não encontrara os responsáveis por eu sair do meu conforto. A hostess estava se dirigindo a mim com um sorriso de gloss barato e camisa social preta engomada quando voltei as subir as escadas.
Eu quase me desequilibrei quando alguém esbarrou em mim.
— Perdão! — a voz doce e levemente frágil pediu.
Por conta de sua educação, mordi a língua, contendo o adjetivo nada educado que eu planejava lhe dar; e olhei para a loira dos olhos azuis líquidos com paciência. Levantei apenas uma mão como sinal de “sem mágoas” e ela deu um sorriso gracioso, prosseguindo seu caminho.
No terceiro andar, o teto fazia uma meia lua, englobando a parede, toda a extensão de vidro. As cadeiras eram de fibra sintética palha, e havia alguns vasos espalhados com plantas, dando um ar mais natural ao ambiente. A hostess de cabelo vermelho foi mais rápida que a outra, já parada ali para a recepção, me dando sorriso educado.
— Boa tarde, a senhorita possui reserva?
Reserva? Eu estava mesmo suspeitando pela decoração que os preços não seriam agradáveis.
— No nome de Caitlin Beadles ou Ryan Butler — disse eu, a natureza da fala entre afirmação e dúvida.
Ela conferiu a espécie de agenda marrom em suas mãos e sua expressão se iluminou.
— Claro, me acompanhe.
Por um momento cheguei a pensar que eles não haviam incluído uma terceira pessoa na reserva, e depois me perguntava se deveria mesmo ter vindo. Caitlin me queria aqui? Além do mais, aparentemente os dois estavam começando — ew — um romance. Eu estava ali para fazer papel de vela? Minha presença não estragaria o almoço?
Não cheguei a uma conclusão antes que chegássemos até o extremo do restaurante e a hostess abrisse a porta de vidro, nos conduzindo para a parte de fora, uma área reservada para refeição ao ar livre. Lâmpadas pequenas se estendiam como varal acima de nossa cabeça, e imaginei como ficava bonito aqui a noite. A ruiva apontou para as mesas mais próximas a barra de apoio que nos separava da queda desastrosa para a rua.
Ryan e Caitlin estavam sentados frente a frente numa mesa de quatro lugares, ele falava alguma coisa com a maior empolgação que conseguia, enquanto ela forçava um sorriso e cutucava sua comida. A onda de culpa me sondou de novo.
— Vocês sabem que hoje é aniversário dela? — perguntei para a hostess, falando mais baixo.
— Não! Não sabíamos! — respondeu surpresa, já planejando em sua cabeça uma forma de agradá-la para que voltasse outra vez.
Antes que pudesse sugerir alguma coisa, eu me adiantei.
— Por que não junta o maior número de garçons que puder e me traz pelo menos um pedaço de bolo para cantarmos parabéns?
Ela assentiu, prestativa. Eu voltei para dentro, esperando que tudo se encaminhasse sem deixar com quem me vissem. A hostess voltou em menos de cinco minutos com cinco garçons e um prato com um pedaço de bolo generoso do que parecia ser leite ninho, espetado com uma vela rosa pequena e fina. Ela entregou o prato nas minhas mãos e acendeu a vela com um isqueiro.
— Tudo bem, o nome dela é... Caitlin? — confirmou.
Dei um sinal positivo, e assim nos dirigimos para fora. Eles começaram a bater palmas e cantamos juntos em um tom alto.
— Parabéns pra você nesta data querida! Muitas felicidades, muitos anos de vida!
Era previsível que todos os olhos se concentrassem em nós, e por um momento me arrependi de ter tido aquela ideia ridícula, até que Caitlin e Ryan nos olharam e pude ver surpresa no seu rosto, e não raiva. O que certamente seria o que eu veria se apenas chegasse com minha cara lavada.
Ela deu um sorriso tímido para as pessoas, alguns dos clientes até ajudaram a terminar de cantar. Eu abaixei o bolo na direção de sua boca para que assoprasse a vela e ela me encarou antes de o fazer.
— Obrigada, galera — deu um aceno geral, o rosto todo expressando gratidão.
A hostess me entregou o presente que eu lhe passara para que pudesse segurar o bolo assim que baixei o prato na mesa.
— Assim que se acomodar peço para virem anotar seu pedido — me disse, saindo em seguida para nos dar privacidade.
Gostei de sua performance, eu lhe daria até uma gorjeta generosa em outras condições.
Estendi a caixa vermelha para Caitlin com um sorriso um pouco hesitante.
— Feliz aniversário, Cait.
Ela deixou os olhos no presente enquanto o pegava, inexpressiva, empurrando o prato e colocando em cima da mesa. Me sentei ao lado de Ryan, dando uma olhada nervosa para ele. Seu lábio se repuxou para o lado numa careta de “sim, você fez merda”.
Caitlin segurou um par do salto e o examinou na luz do sol, os olhos críticos. Então me fitou, esperando.
— Gostou? — perguntei com receio.
Ela levantou os ombros, como se não fizesse diferença. Portanto, sim, havia gostado. Não deixei transpassar meu alivio, podia ver que ainda estava ressentida.
— Seus pais vão mesmo vir para o jantar a noite? — puxei assunto, vendo-a guardar de volta na caixa e colocar tudo na cadeira ao seu lado.
— Vão, algumas pessoas me amam ainda.
Os pais de Caitlin eram de Atlanta. Ela e Chris saíram de casa na tentativa de conseguirem construir uma vida eles mesmos, e assim, levar um pouco de orgulho para casa. Caitlin podia ter voltado para casa depois de Chris falecer, mas ela se sentia responsável, afinal, ele era o irmão mais novo; o que a impedia de olhar nos olhos de seus pais sem ter vontade de chorar.
— Se eu não te amasse, não estaria aqui.
Ela revirou os olhos.
— Que roupa é essa, afinal?
Olhei, pela primeira vez, para o que vestia. Uma calça moletom cinza, camiseta laranja florescente e uma sapatilha amarela. Fiz uma careta, imaginando Hanna arrancando os olhos se soubesse que eu usara esse tipo de coisa. Agora eu entendia porque recebera tantos olhares tortos até aqui. Todos estavam muito bem vestidos. Maya poderia ter me avisado.
Acabei concluindo que não importava, eu não voltaria para o apartamento só para trocar de roupa, já estava atrasada. E ninguém ali tinha que pagar minhas contas mesmo.
— Estava com pressa — justifiquei.
Chamei o garçom com a mão e pedi uma salada Union, uma das coisas mais baratas no cardápio à minha frente.
— E então, o que quer fazer à tarde?
Ela voltou a comer toda a mistura em seu prato, eu podia ver ovos, feijão preto, tortilla...
— Não sei, provavelmente limpar toda aquela nojeira do seu quarto. Não quero que meus pais pensem que vivo na rodoviária.
Controlei meus nervos, embora eu também não estivesse de mil amores com ela, era seu aniversário.
— Já limpei — anunciei orgulhosa — Faça novos planos.
— E você vai aceitar sem dar ataque? Não está de ressaca? — questionou cética.
Não cutuque muito, Caitlin.
Forcei um sorriso.
— Estou muito bem — menti.
Ryan olhou entre nós duas e resolveu se manifestar.
— Eu sei o que podíamos fazer. Como seus pais vão chegar lá para as oito, achei que poderíamos ir na Bunker Park Stable. Na verdade — ele pegou alguma coisa dentro do seu bolso da calça jeans, mostrando na mesa uma folha de papel dobrada — É meu presente de aniversário pra você.
Caitlin pegou o papel, os olhos levemente arregalados. Assim que abriu, um sorriso enorme apareceu no seu rosto.
— Ryan! Não acredito! É maravilhoso! Faz muito tempo que não ando a cavalo e só Deus sabe o quanto senti falta! — ela quase cantarolou.
Ryan estava radiante que o presente a agradasse tanto. Eu apertei a mão em punho, segurando o sentimento ruim que ameaçava se espalhar em meu rosto.
— Fiz três reservas. Está marcado para uma e meia — completou, feliz.
Caitlin fez uma dancinha na cadeira com um som empolgado saindo do fundo da sua garganta.
— Eu não sei como te agradecer. Caramba.
Não consegui conter a ameaça o suficiente, e a lembrança poluiu todo o meu cérebro. Justin me levara para cavalgar como uma forma de me compensar por ter desaparecido por dias. Tivemos uma briga na noite anterior, o que resultou em Charles com um olho inchado e a invasão do responsável pelos meus sentimentos mais confusos em meu quarto. Foi onde ele me beijou pela primeira vez.
— Você disse três, não é? E aí, Faith, já está preparando um ataque para recusar? — Caitlin disse, a acidez permeando seu tom, me puxando de volta.
Tentei engolir, meu corpo rígido, o mecanismo de defesa já trabalhando, recusando sentir qualquer tipo de dor.
Eu me lembrava exatamente do bilhete que encontrara em meu quarto depois de voltar de um dia difícil da faculdade, cheia das perguntas dos meus colegas. Eu o lera tantas vezes que não podia não saber até quantas vírgulas ele usara.
"Querida Faith,
Meu saldo se encontra negativo com sua pessoa, portanto convido-lhe para uma tarde de fuga comigo. Os trajes para nosso passeio devem te dar uma pista. Se aceita, vista-se e me encontre bem em frente à sua casa às 13:00. Prometo compensar minha falha,
Jb."
Eu ficara tão nervosa com o convite que quase entrei em colapso.
— Faith? Está tudo bem? — Ryan tocou meu braço, os olhos atentos em meu rosto.
Eu respirei, pensando que a âncora que puxava minhas tripas para baixo me impediria de realizar o trabalho.
— Claro... Eu só.... É a ressaca — me desculpei. O estranho era que não ouvia minha própria voz — Não vou surtar, eu vou com vocês.
Eu não havia lhes contado o que aquilo significava para mim, e não planejava fazê-lo. Muito menos planejava subir em um cavalo. Eu podia ir junto e arranjar alguma desculpa para não os acompanhar na montaria. Assim Caitlin não ficaria tão decepcionada de imediato.
Ela não esboçou uma expressão exatamente alegre, mas eu sabia que estava.
Repentinamente, Ryan se jogou no chão.
— O que...? — Caitlin começou a perguntar, vendo-o se enfiar embaixo da mesa.
— Caralho, não olhem pra mim! — exigiu.
Caitlin e eu trocamos um olhar confuso.
— Do que está se escondendo? — ela questionou, e olhamos em volta.
Esperei ver George ou Kathy, mas não os encontrei.
— Estão vendo a mulher loira de corpo violão escolhendo uma mesa? Lá dentro?
Olhei através da porta de vidro, procurando.
— Disfarcem, porra!
Ele estava visivelmente aflito. Meu primeiro pensamento foi que encontraria um homem bomba. Caitlin desceu o olhar para seu prato.
— Ela trabalha na Companhia. E pior, me conhece.
Meus olhos encontraram os pares de olhos grandes e azuis ao mesmo tempo em que eles me encontraram. Com um resgate impressionante, reconheci a mulher que havia trombado comigo na escada. Ela estava se sentando em uma cadeira próxima à porta, seu lugar lhe dava visão privilegiada de nós três.  
— É a vaca da Annelise.
Eu reconhecia o nome de algum lugar. 
Meu cérebro me impressionou, trabalhando veloz. O nome saíra da boca de Guilherme ano passado, e ao que parece, era o motivo de toda a intriga entre ele e Justin; ou seja, praticamente a razão por eu quase morrer e Justin não conseguir nos tirar da Companhia em segurança. Annelise escolhera Justin ao invés de Guilherme, os dois riam juntos das elites, dos Evans. Ela provavelmente me conhecia, e naquele momento, direcionava um sorriso angelical para mim.