Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

domingo, 29 de março de 2020

One time 1


— Você ouviu isso? Temos que apresentar o trabalho de Psicopatologia até sexta que vem. Não conseguiu mesmo nenhum candidato para fazermos um diagnóstico? — Ava recolheu seus cadernos. Embora estivesse frio, prendera o cabelo longo e liso num rabo de cavalo, geralmente não tinha muita paciência com a tendência dos fios de entrarem em seu campo de visão. O mais lógico seria cortá-lo, mas até a sugestão lhe ofendia.

— Não consegui pensar em ninguém — lembrei de quando sugeri ao Justin para ser nosso cobaia em tom de brincadeira e acabei ferindo seus sentimentos. Psicopata era um apelido frequente quando trabalhava para a Companhia Bieber — Se Ethan reconsiderasse e aceitasse nossa proposta...
Como esperado, ele ouviu da carteira ao lado e cruzou os braços com certo charme. Seus olhos escuros pareciam ter vida própria, sempre bem humorados, tal qual seu cabelo de cor bronze ondulado jogado para o lado. Mas apesar de tudo, o maxilar marcante era o que mais chamava atenção de suas admiradoras.
— Já falei meu preço, meninas, quem é a felizarda que vai me pagar um jantar?
— Você já viu o namorado da Faith, né? Deixa ele ficar sabendo dessa história.
Eu entendia porque a presença de Justin intimidava todo ser vivo na terra, então nem tentava contestar.
— Acho que então sobra pra você, A — Ethan sorriu, arqueando as sobrancelhas para ela.
— Vai nessa — Ava revirou os olhos teatralmente e saiu enquanto ríamos. Tive que correr um pouco para alcançá-la.
Dei-lhe um tapa na cabeça.
— Você é uma tonta, não aproveita as oportunidades! — Ava tinha uma queda por Ethan desde a primeira vez que colocou os olhos nele.
— Ele não fala sério, Faith. Com tanta gente aos pés dele acha que daria mole pra mim?!
Dobramos o próximo corredor em direção à gloriosa saída e eu já esticava o pescoço para ver se Justin estaria lá como combinamos.
— Com toda certeza, você é a japonesa mais linda que esse mundo já viu.
— Eu concordo — Lucas surgiu do nada e enganchou o braço nos ombros dela. E agora minha “panelinha” da faculdade estava completa. Ava, Lucas e eu éramos quase inseparáveis. Lucas só se juntou ao nosso grupo de dois porque era apaixonado por Ava, mas havíamos nos tornado bons amigos. Ele não seguia meus conselhos para conquistá-la, ela não percebia as reais intenções dele e assim seguíamos. Ava me pedia indiretamente para ajudá-la com Ethan e Lucas me pedia indiretamente para ajudá-lo com Ava. Nada complicado.
— Vocês dois são cegos, mas Ethan não é.
— Ethan é um mané.
Ava tirou os óculos dele e colocou nela mesma.
— Lucas é um mané porque não deu valor às investidas da Emma — engrossou a voz para imitá-lo.
Todos nós fizemos careta à menção de Emma, nossa colega de classe de cabelo louro e olhos verdes tão grudenta quanto mel de Maple.
— Ethan se joga para todas e não dá valor à nenhuma — rebateu.
— Faith, tem como você me ajudar aqui?
— Faith não está mais entre nós, precisa de ajuda para localizar seu namorado, mulher?
Mas eu já entendera que ele não estava ali, em seu lugar Ryan me esperava encostado em sua caminhonete vinho em trajes muito elegantes. Assim que me localizou, abriu um sorriso enorme.
— Vejo vocês segunda— dei-lhes abraços rápidos e parti em sua direção.
— Ora ora, e não é a médica mais linda do mundo?
Recebi de bom grado seu abraço, mas fitei-o desconfiada quando me afastei.
 — Vai me contar o que aconteceu dessa vez ou eu vou precisar arrancar de você de novo?
Deu de ombros, como se não fosse grande coisa.
— Ele se atrasou no trabalho e pediu que eu te buscasse.
Respirei fundo, frustrada. Já perdia as contas de quantas vezes Justin falhava com sua palavra, e eu não o via desde domingo. Fora para Vancouver na segunda e voltara quinta à noite, mas me prometera compensar hoje.
— Então ele vai passar em casa mais tarde?
Ryan abriu a porta para mim e deu a volta no carro.
— Não sei nada sobre isso.
Uma vez que evitava me olhar nos olhos, deduzi que Ryan preferia se manter longe do assunto por não saber de nada ou queria acobertar seu melhor amigo. Preferi deixar meus ânimos aflorados para o verdadeiro alvo e mudei de assunto.
— E então, por que está tão arrumado assim?
— Fui assistir uma conciliação hoje e já vou aproveitar para levar Caitlin para jantar. Dois por um — piscou.
Surpreendentemente, Ryan estava se adequando bem à faculdade de Direito. Sabíamos, contudo, que ele aprenderia as leis para burlá-las.
Paramos no cruzamento, à esquerda estava a casa em que eu residia com a família do meu namorado, à direita, a residência de Justin. Fui inspirada por uma ideia.
— Ryan, me deixa na casa do Justin.
— O quê?
— Me deixa na casa do Justin.
Ele me olhou em dúvida.
— Cara, mas...
— Eu tenho a chave, vamos Ryan. Se Justin me deu uma chave quer dizer que posso entrar quando bem quiser, não? — Não. Só consegui a chave porque eu mesma fiz uma cópia dela, quando Justin descobriu não gostou muito, mas aceitou a ideia desde que eu avisasse sempre que quisesse ir pra lá. Eu não estava fazendo nada diferente do que ele fazia com minha casa em Boston, tinha até mais moral por possuir uma chave.
— Não sei, Faith. Ele me disse especificamente para te deixar em casa.
— Casa é um termo relativo. Considero o imóvel dele como minha casa também.
O carro de trás emitiu uma buzina, já demorávamos demais parados. Ryan suspirou e virou à direita.
— Tô vendo que eu vou me dar muito mal por isso — resmungou.
— Não vai, eu assumo a responsabilidade dos meus atos, sou bem grandinha.
Por algum motivo Justin não via as coisas dessa forma. Ele me tratava como uma criança de cinco anos que precisava de cuidados. Eu já havia dito que não devia se preocupar, eu estava bem, e desde aquele encontro desastroso com Annelise não tivemos contato algum com a Companhia Bieber. Minha vida estava bem normal, na verdade, e parecia até um sonho.
— Obrigada, Ryan — beijei sua bochecha quando ele estacionou, na tentativa de amansá-lo, quase senti o gosto azedo da desaprovação que distorcia sua expressão numa careta.
— Memorize bem meu rosto porque Justin vai se certificar de que essa seja a última vez que o vê.
Eu ri do seu drama e fechei a porta com um “fique tranquilo, Ryan”. Entrei na casa escura de três andares, e a primeira coisa que fiz foi procurar o interruptor. Sem Justin ali o imóvel parecia um pouco intimidador. Por isso, também procurei o controle da caixa de som e o liguei, ao que parece Justin estava ouvindo Metallica, nada novo sob o sol, mas para o momento eu precisava de algo mais calmo, assim, mudei as faixas, prevendo que aquela era sua playlist variada. Parei quando reconheci Daniel Caesar – Japanese Denim.
Em seguida, fui para a cozinha, combinamos de jantar, não ia cair minha mão se eu começasse a preparação. Eu aprendera muitas coisas com Pattie, na verdade, por incrível que pareça eu estava cozinhando razoavelmente bem, Flê se orgulharia. No fim, não era tão diferente do que cozinhar meus doces. Era até mesmo relaxante, o trabalho manual deixava minha mente livre para voar.
Revirei os armários e meu arsenal mental de receitas. Não havia muitos mantimentos, Justin mal parava em casa. Encontrei um pacote de macarrão pela metade quando já cogitava a ideia de ligar para um restaurante. O queijo quase vencido fora esquecido na gaveta da geladeira. Muito bom, os ingredientes básicos para um canadense.
Fiz todo o procedimento pensando no meu dilema de qual casal eu deveria me esforçar verdadeiramente para unir. Afinal, Ava combinava mais com Lucas ou Ethan? Sinceramente, eu pensava que ela merecia alguém mais como Lucas, mas talvez Ethan não fosse tão ruim assim. Afinal, as aparências são só carcaça que esconde a nossa essência.
Estava tão concentrada no trabalho manual e os pensamentos supérfluos que me assustei quando ouvi o pigarro repentino às minhas costas. Derrubei todo o macarrão que eu colocava com cuidado na água fervente e o líquido respingou grande parte em minha mão. Dei um pulo já com a mão dentro da boca para aplacar a ardência enquanto virava para trás.
Portanto, ver Justin brotando tão silenciosamente no meio da cozinha tanto me satisfez quando irritou.
— Se queimou? — ele se aproximou de mim, tomando minha mão para analisar de perto.
— Meu Deus, você me assustou — num impulso retirei minha mão da sua e coloquei embaixo da torneira. O alívio da ardência foi instantâneo.
— Imagine eu quando notei que havia alguém na minha casa.
Não precisei olhar para perceber um leve toque de irritação em sua voz, mas o fiz, arqueando a sobrancelha. Alguém? Minha casa?
— Oi, Faith, eu estava com saudade, me desculpe por não poder ter te buscado na faculdade, fico feliz que esteja aqui, e perdão por te assustar — fiz uma imitação grotesca dele.
Justin ainda estava vestido em tons neutros de uma roupa social, mas o que me chamou atenção foi seu rosto carregado de cansaço, frustração e uma pitada de estresse genuíno.
— Eu não te pedi para pelo menos avisar quando decidisse vir para cá? - murmurou no mesmo tom.
Fiquei meio segundo lidando com a minha própria frustração e uma irritação crescente. Era sexta feira a noite e tínhamos um jantar marcado. Ele não estava demonstrando nem um pouco de prazer em me ver ali, mesmo depois de alguns dias sem me ver, embora eu estivesse esperado ansiosa para esse encontro. Estávamos claramente fora de harmonia, eu parecia uma visita inconveniente e irritante. Talvez eu tenha mesmo me superestimado. E em tempos de TPM não tinha muita tolerância.
— Tudo bem. Talvez seja melhor que eu vá embora então.
— Faith, a única coisa que eu te pedi foi para me avisar quando viesse — retrucou.
— Eu já entendi. Já estou indo — fiz menção de sair, porém, ele segurou meu braço, suspirando.
— Não pedi para você ir embora.
— Não é o que sua atitude demonstra — argumentei, olhando para seu rosto — O primeiro sinal foi não ter me buscado na faculdade, depois me cumprimentar como se eu fosse uma ladra assaltando sua geladeira, embora não tenhamos nos visto há quase uma semana. Então desculpa se não sinto receptividade para estar aqui.
Ele respirou fundo e eu pude ver alguns nós se desfazerem em sua testa.
— Desculpa. Eu me atrasei e você sabe que me preocupo que passe muito tempo aqui, principalmente se for sozinha.
Esbocei uma expressão de quem tinha ouvido, ainda chateada com a situação para dizer alguma coisa. Por outro lado, uma parte da minha consciência reconhecia que, de fato, ele me pedira para avisar quando eu viesse, e eu tinha uma pequena noção de que o aborreceria descartando isso, além de que, atrasos aconteciam — mesmo que muito frequentes ultimamente. 
— Bem, vamos passar uma pomada na sua mão.
Deixei que ele me conduzisse ao banheiro do primeiro andar e o observei desenrolar o pano da minha mão, fiquei quieta enquanto ele passava pomada de queimadura nos pontos vermelhos que já apareciam. Imaginei se Justin me buscaria em casa para jantar se eu não tivesse vindo para cá. Foi justamente o receio de que não fosse que tinha me levado ali, e reparando nas marcas de cansaço do seu rosto, bem como seu histórico ultimamente, eu tinha sérias dúvidas. Não me importaria de somente dormir ao seu lado se ele não quisesse conversar ou jantar, as vezes eu mesma estava muito cansada para tais coisas, mas preferia descansar ao seu lado do que estar sem ele. E se isso não era reciproco...
 — Não queria te assustar. Eu realmente senti a sua falta e estou feliz que esteja aqui — foi a primeira coisa que ele disse para quebrar o silêncio, as palavras proferidas claramente uma conclusão de seus pensamentos.
Mas eu também chegara a minha própria conclusão.
— Acho que você está cansado, talvez seja realmente melhor que eu vá embora. — sugeri, testando.
Ele franziu um pouco a testa e me olhou diretamente nos olhos.
— Não quero que vá embora. Ficamos praticamente uma semana longe. Na verdade... pode dormir aqui?
Fingi pensar só para avaliar a ansiedade crescer em seu rosto, e a veracidade dela. Parecia sincero.
— Não sei — falei em um tom descontraído, um pouco mais humorada — O que eu ganho com isso? Até agora só ganhei uma mão queimada.
Seu sorriso de canto conspiratório foi contido, mas eficaz em aliviar uma parte da inquietação que me assombrava desde que vi Ryan em seu lugar na faculdade.
— Bom... — ele fechou a pomada, tendo concluído o trabalho em minha mão, guardou-a no armário e apoiou o corpo na pia, me puxando para si lentamente pela cintura — Depende do que você considera ganhar — sua mão direita se encaixou no meu rosto, estava pegajosa e cheirando a menta, devido a pomada que aplicara em mim, mas estando tão perto dele, não me incomodei com esse detalhe — Para mim, com certeza é lucro — e de uma vez, encostou nossos lábios.
E tudo pareceu sossegar de novo. Nós tínhamos passado por muita coisa durante nosso relacionamento, mas estar conectada a ele fazia com que tudo parecesse superável. Eu me lembrava claramente o que nos tinha custado para estar ali, numa casa pacífica no Canadá, e não tinha sido fácil. Nos desvincular de uma Companhia sanguinária dos Estados Unidos, fugir para o país vizinho buscando proteção da Companhia rival, as desavenças familiares, adaptação a um novo lugar, conseguir uma boa faculdade e tecer uma nova rotina com duas crianças grandes me chamando de mãe e o desafio de encontrar de uma vez por todas uma solução para livrar Justin desse negócio hereditário. Se estivéssemos juntos, eu sentia que podíamos enfrentar o que viesse.
Eu sentia falta da minha família, de Hanna, Flê, Etienne, Wren, até mesmo de Rafael, mas não havia muito que pudesse ser feito, mesmo com sua suposta morte, Justin e eu permanecemos entrelaçados. Minha vida foi transformada desde o dia em que ele apareceu nela, e apesar de algumas consequências difíceis, me sentia transbordar ao lado dele.
— Me conte o que andou fazendo essa semana — Justin aproveitou a pausa necessária em busca de ar entre o beijo, um pouco ofegante.
Tentei colocar as ideias no lugar, afetada pelo seu toque, conforme o corpo ardia em esperança de receber mais.
— Hmm... muitos estudos. Terminei uma temporada nova de CSI. Jazzy deu um soco no queixo de um colega na escola e Jaxon quebrou o ventilador do quarto de novo — percebi que estava encarando a boca dele, sendo puxada por uma força magnética para frente.
Tive um breve vislumbre pela visão periférica de seus olhos se arregalando de surpresa com as novidades, mas a curiosidade foi abafada com a necessidade de mover novamente a boca junto da minha num beijo intenso, nossa respiração quente se misturando. Sua pele exalava o cheiro amadeirado de colônia e a roupa engomada, embora ele provavelmente tivesse usado aquele traje o dia inteiro. É verdade que ele estava sempre impecavelmente cheiroso, mas a ausência do odor leve de suor indicava que não havia se movimentado muito no dia.
— Soco, é? —Justin se afastou, divertindo-se — O que o rapaz fez para merecer o castigo?
— Estava discutindo com ela sobre ser mais forte, eu não lembro como chegaram a essa disputa, e Jazzy quis provar seu valor. Talvez o orgulho esteja no sangue.
Ele semicerrou um pouco os olhos numa acusação fingida e algum outro sentimento camuflado. Talvez... incomodo?
— Orgulho, é? — dei um gritinho surpreso quando ele me pegou repentinamente no colo. Envolvi seu pescoço com meu braço enquanto me levava para fora do banheiro — Bom, se tem uma coisa que aprendi com Jazzy e Jaxon foi lidar com Caju.
— Caju? — indaguei reparando saudosista no seu sorriso brincalhão.
— Carência por Justin, que resulta nesses comportamentos desdenhosos e... sim, beicinhos como esses — beijou-me rapidamente.
Mostrei a língua e firmei os pés no chão assim que chegamos na cozinha outra vez. O macarrão já parecia estar no ponto para ir ao forno. Pensar no queijo derretido fez minha boca salivar e reparei que minha barriga protestava um pouco de fome.
— Sua vez de me contar o que fez essa semana — hesitei antes de perguntar — Alguma novidade?
Justin se apoiava na pia e desviou os olhos distraidamente ao assimilar o que eu queria dizer.
— Hmm... Importa-se que eu tome um banho primeiro? Preciso relaxar o corpo.
— De modo algum. Na verdade, eu mesma quero tomar um também — mesmo fazendo todo aquele escândalo sobre entrar na casa dele de surdina, Justin havia reservado um guarda roupa para mim, com roupas selecionadas por Caitlin — seu senso de moda era inquestionável — em um dos cinco quartos da casa, que era meu — segundo ele, bem em frente ao seu, no terceiro andar, para que eu me sentisse a vontade.
— Claro. Vamos — ele engrossou um pouco a voz e notei certo tom de malicia nela. Olhei para seu rosto e toda a sua expressão estava sugestiva.
Fiquei repentinamente quente, as bochechas coradas. Bloqueei imediatamente qualquer pensamento leviano que pudesse passar pela minha cabeça e pigarreei.
— Eu vou... Colocar o macarrão no forno e... depois vou para o “meu” — fiz aspas com as mãos — quarto.
— Você sabe que todos os cômodos da casa são seus — delicadamente, colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Aquele ordinário sabia muito bem como me desconcentrar.
Terminei de escorrer a água do macarrão e achei uma panela para derreter a manteiga, evitando olhar diretamente para ele.
— Agradeço, mas sua reação mais cedo põe em cheque sua sinceridade agora.
Justin emitiu um som de descontentamento na garganta.
— Me deixe te provar isso, então — persistiu.
Eu ri sem graça e o repreendi com os olhos.
— Vá tomar seu banho, você já está me atrapalhando aqui.
Mas, na verdade, eu adorava quando falava essas coisas. Não pela indecência, claro! Quando brincava comigo daquele jeito, toda sua postura se relaxava, os traços na face tão descontraídos que o rejuvenesciam em uns dez anos. Como se fosse aquele garoto do colegial que não vale um dólar.
Sua risada em resposta foi igualmente leve.
— Te darei cinco minutos de folga — e beijando minha bochecha demoradamente, se afastou.
Sem conseguir evitar o sorriso idiota no canto da boca, acrescentei a farinha de trigo na panela e misturei com a manteiga manualmente, ocupando minha mente com a arte culinária ensinada por Pattie.
— Você precisa colocar o leite aos poucos na massa e em seguida o leite. Viu? — explicara pacientemente, me mostrando os produtos e manuseando-os devagar — Não pare de mexer, e agora acrescente os queijos cheddar e parmesão — no caso, Justin estava apenas com parmesão na geladeira — Misture e deixe a panela no fogo até os queijos derreterem...
Não pude deixar de sentir um conforto no coração ao me lembrar da doçura de Pattie. Ela me tratava realmente como uma filha e era sempre muito paciente. Nos primeiros dias eu parecia um animal acuado, evitando até que meus passos ecoassem muito alto no chão. O contato com Jazzy e Jax tornava tudo melhor, na verdade, eles foram os principais fatores para o clima estranho passar mais rápido. Todos eles eram muito amáveis, claro. O problema em si era eu, me sentindo uma intrusa ali. Quando Justin não estava e eu não estava brincando com pequenos, passadas as amenidades trocadas com os outros residentes da casa, eu me escondia a maior parte do tempo no quarto.
No fim, Pattie me ganhou pela barriga mesmo, aceitando minha ajuda na cozinha e me chamando para aprender algumas receitas. Bastou um mês da nossa chegada para que Justin a presenteasse com um restaurante com o mesmo nome daquele que construía em Boston outrora, The light. Embora tenha dado o aval para que trocasse a nomenclatura, Pattie decidiu ficar com aquele, com os olhos marejados e quase sem palavras pelo gesto do filho. E então eu ia para lá sempre que possível, quando não estava estudando, cuidando de Jazzy e Jax ou passando um tempo isolada com Justin. Pattie passou um tempo abrindo o restaurante somente a noite e nos fins de semana, até que pegasse uma boa clientela e se demitisse do emprego que estava na época. E eu não podia negar, seus dotes culinários eram palpáveis. Até mesmo Flê havia aprovado quando me visitou no meu aniversário.
Tudo entrou nos eixos finalmente quando consegui entrar na faculdade de medicina, meus pais estavam conformados e até que gostavam da ideia de ter uma filha médica agora. Assim, eu quase podia ignorar que estava exilada no Canadá. De fato, a Companhia Bieber não chegou mais perto dos meus e de mim, contudo, era aquele fantasma assombrando o fundo da minha mente e me despertando de noite banhada de suor. Um lembrete constante nos rostos ingênuos de Jax e Jazzy de que seu avô provavelmente esperava o tempo oportuno para os pegar de volta. E para completar, o “emprego” atual de Justin me contorcendo as tripas.
Ele tinha entrado em um acordo com os Cavanagh de cuidar apenas dos casos envolvendo criminosos — eu gostava de pensar que por sua própria consciência e não por minha causa — e isso fazia com que viajasse bastante, uma vez que a demanda era mais ampla. Não foi uma dificuldade para a Companhia afinal, os requintes necessários para lidar com aquele patamar eram altos, e Justin estava claramente a altura. Mesmo assim, que direito ele tinha de decidir quando alguém não merecia mais viver?
Eu já havia colocado o macarrão pronto no forno, sentindo aquele orgulho revigorante por ter feito uma refeição com minhas próprias mãos, e sozinha. Apenas trinta minutos e já estaria provando o resultado. Por óbvio sempre me deixava um pouco tensa cozinhar para Justin, ele também era um cozinheiro de mão cheia — uma coisa hereditária, talvez, mas ele sempre era muito educado e generoso em avaliar minhas obras.
Logo em seguida a cozinha já resplandecia novamente com a presença de um Justin vestindo apenas uma calça moletom cinza. Era novembro, o clima lá fora não estava tão agradável quanto suas vestes faziam parecer, mas o aquecedor estava mesmo funcionando, quente o bastante para que ele se sentisse confortável para ficar sem camisa — e como aquele homem adorava ficar sem camisa, tanto quanto eu adorava vê-lo daquele jeito.
Para manter as prioridades da noite intactas, não olhei muito e instrui que aguardasse vinte e cinco minutos antes de desligar o forno — caso eu não voltasse antes disso — e parti para o quarto. Selecionei um pijama confortável, tendo em vista que não planejávamos sair, mas nada muito desleixado também. Ele acabara de chegar de viagem, merecia ter ao menos um pouco do deleite que eu tinha com sua visão impecável — se bem que eu estava seriamente considerando o fato de literalmente qualquer coisa cair bem naquele corpo.
Depois de sair de um banho rápido e meticuloso, minha pele exalava o cheiro de um campo de flores, a qual cobri com um pijama de seda preto, a parte de cima de alças e uma calça. Passei um pouco do perfume fresco e organizei meus cabelos da melhor forma que pude, abaixando os fios mais teimosos. Desci seguindo o cheiro apetitoso — modéstia à parte — de macarrão com queijo e me deparei com a visão estupenda de um homem vigoroso terminando de arrumar a mesa para dois. Eu tinha certeza que Justin já percebera minha presença, mas só me olhou depois de descansar as taças ao lado da garrafa de vinho. Apontou cerimoniosamente para uma cadeira puxada para trás, enquanto seu olhar se demorava numa avaliação satisfatória da minha aparência.
— Deus, como eu senti falta disso... — balançou levemente a cabeça, me deixando vagamente desconcertada, e então arrumou a postura — Mademoiselle.
Eu sorri para ele ao aceitar o assento. Visto que éramos só nós dois, comeríamos na mesa quadrada de quatro lugares que ficava na cozinha. A copa continha uma mesa retangular de vidro de dez lugares e praticamente nunca fora usada, já que ele se recusava a receber visitas por achar perigoso. Sua família tinha vindo uma ou duas vezes, e ele garantiu que o período de permanência fosse curto.
Justin fez questão de servir os pratos e as taças de vinho antes de se sentar ao meu lado, elogiando o aroma exalado pela refeição. Daniel Caesar ainda cantava num volume ambiente pela casa, o cheiro de comida caseira preparada recentemente preenchia o ar e a temperatura estava aconchegante. A sensação de lar me abraçou.  
— Nada comparado ao seu perfume, garanto — piscou para mim. Ele já estava totalmente diferente de quando havia chegado, reparei, até mesmo o cansaço se extinguira dos seus traços. Aquele homem tinha facilidade de mudar seu humor da água para o vinho em questão de minutos, o que era meio difícil de acompanhar.
Conversamos brevemente sobre questões frívolas, como o gosto apetitoso do macarrão — Pattie se orgulharia de sua aluna —, o clima, notícias sobre a cidade, até que ele estivesse na segunda taça de vinho e eu tivesse coragem de perguntar outra vez.
— E aí, o que andou fazendo essa semana?