Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

One Love 26

— Precisamos conversar — Caitlin desabou na cadeira ao meu lado.
Vasculhei o café do aeroporto em busca de ouvidos bisbilhoteiros. Hanna se apoiava no balcão dividindo o peso sobre o Louboutin preto de sola vermelha sofisticado, apontava para o cardápio animadamente, afinal, era hora do café da manhã. Caleb ria ao seu lado quando pensava que ela não via. Ele nunca entendeu o espaço que a comida tinha em nossa vida. Por sua vez, Maya não saíra do banheiro, gastava todo seu tempo tentando ficar longe. O único a prestar atenção em nós duas era Ryan, me encarando do outro lado da mesa redonda de madeira, implicitamente já concordando com o que ela diria.
Cruzei os braços, um mecanismo de defesa.
— Pode falar.
— Quando foi que você ficou demente? — rosnou.
Olhei séria pra ela.
— Me diga você.
— Acho que foi quando decidiu confiar em Justin Bieber de novo e trazer Maya Baker com a gente. Você está caindo na conversinha dos maiores pilantras.
— Caitlin...
— Me conte exatamente o que está acontecendo entre você e Justin.
Caitlin começou a girar o saleiro, representando uma espécie de ampulheta. Me senti num interrogatório policial hollywoodiano. De fato, eles me olhavam como uma criminosa. Para uma interferência dessa gravidade partindo dos dois, minha situação podia estar pior do que eu mensurava. 
— Somos amigos — dei de ombros — Por que estão me olhando desse jeito?
Caitlin arqueou uma sobrancelha. Era uma pergunta óbvia, ela não responderia.
— Quem disse que são amigos?
— Nós dois. Ele propôs. Eu aceitei.
Suas órbitas quase pararam no cérebro quando revirou os olhos. Não pude deixar de me irritar um pouco com aquilo. Parecia que eu tinha enfiado o dedo estupidamente na tomada com os pés descalços para receber uma reprovação daquelas.
— Sabe o que é pior? Ver você se tornando dependente outra vez quando achei que melhoraria. Não achava que seria burra o bastante para cometer o mesmo erro duas vezes, mas olha onde estamos.
Ryan virou toda a cabeça em sua direção para que ela visse seus olhos repreensivos. Só que já era tarde. A onda de raiva se movimentava livremente por minha corrente sanguínea.
— Seu problema, Caitlin, é pensar que o mundo é um mais um. Na realidade, a resposta nem sempre é dois.
Névoa densa tomou conta de sua íris azul.
— O que a droga da matemática tem a ver com isso?
— É um jeito ameno de te dizer que o buraco é mais embaixo. Que não se trata apenas de aparência. E a porra do sentimento que me consome você nunca vai entender. Então não venha falar com tanta propriedade sobre o que não sabe. Se a sua forma de lidar com a volta dele é bloqueá-lo, ótimo, não vou meter o dedo. Mas o jeito que administro essa saudade que me matou não pode ser teu alvo de críticas também.
Caitlin endureceu o queixo. Não tinha argumento para me rebater, bem como não concordaria. Recostou na cadeira e elevou a cabeça, cheia de razão.
— E qual a sua brilhante argumentação em relação à Maya? — debochou.
Contive a vontade de gritar que nada daquilo lhe competia. Caitlin era linda, jovem, com uma carreira promissora de modelo, livre para fazer o que queria, possuía uma casa luxuosa em Boston e um carro, não estava diretamente obrigada a se envolver em todos os meus problemas, entrava neles por livre e espontânea vontade. Porém, eu sabia que a ausência do seu irmão lhe doía tanto que ela se agarrava ao mundo em que ele vivia, ao mesmo tempo que procurava em outras pessoas a fraternidade que tinha com ele. Me perguntei se preferia que fosse Christian de volta no lugar de Justin, e isso justificava metade da sua fúria.
— Annelise mesmo confirmou que ela está na merda. Me sinto responsável por essa situação — me apressei quando ela abriu a boca para falar — E já pensei que podem estar armando alguma juntas. Mas não vou deixá-la sair da minha vista agora que sabe que Justin está vivo.
Caitlin deu um sorriso ácido.
— Parece que deixou sair agora — levantou-se. Eu não sabia dizer se era para ir atrás de Maya ou por não aguentar mais ficar perto de mim.
Ryan tentou sem sucesso segurar sua mão assim que ela passou feito um furacão. Ele soltou um suspiro cansado, deixando seus olhos caírem em mim. Peguei um guardanapo no compartimento de metal e — me perdoem árvores — comecei a picotá-lo com a ponta dos dedos.
— Você sabe que esse assunto é delicado pra ela. Dá um desconto — pediu.
Reparei quanto era, no mínimo, fofo que ele tentasse aliviar o lado de Caitlin. Os dois tinham diferenças suficientes para os considerarmos opostos. A despreocupação e encarnação da ira em pessoa. Dava pra ver no que se completavam, trazendo aquilo que o outro estava em falta. Foi impossível não pensar se eu e Justin já, pelo menos, fomos assim. O que acrescentamos no outro? Tirando toda aquela metáfora passada de inverno e outono, éramos compatíveis? E se eu agora estava mais para inverno, nem a teoria podia nos acobertar de uma possível verdade: Caitlin estava certa em pensar que nossa coexistência se dotava de toxidade.
Eu não conseguia pensar em uma conclusão sozinha. Rasguei de uma vez todo o papel e joguei na mesa com um grunhido.
— E você? Não quer jogar acusações também?
Ryan franziu os lábios, relutante.
— Tem certeza que não vai jogar saleiro na minha cara se eu disser o que penso?
Afastei o saleiro de mim como prova. Ainda assim, ele pensou um pouco antes de falar. Coisa esta que não era do seu feitio.
— Veja, eu gosto muito da Caitlin, mas sei que tenho uma vida toda além dela. Se for uma coisa muito obsessiva, vai acabar fazendo mal para nós dois. Não estou querendo comparar vocês com a gente. Só... toma cuidado com vício porque leva à overdose — ele se aproximou um pouco mais de mim, abaixando a cabeça e a voz — Ouvi dizer que overdose mata. Só não conta pros clientes dos traficantes pra não cortar o barato.
Eu ri porque só Ryan conseguia fazer coisas serias ficarem engraçadas.
— Acho que eles sabem e mesmo assim compram.
Ele bateu na mesa e apontou para mim, empolgado.
— É isso o que estou dizendo! Não seja esses caras.
Assenti, fingindo uma expressão séria.
— Está dizendo para eu me afastar do Justin, agora que eu descobri que ele está vivo, porque posso morrer de overdose?
Ele meneou a cabeça.
— Cara, eu amo o Bieber como a um irmão. Ele é o cara. Mas um cara com cabeça mole que faz tudo o que dá na telha. Ou seja, tem que aprender a trabalhar com ele pra que não folgue muito. Todos trabalhamos muito mal para ele chegar a fazer uma coisa estupida dessas de fingir estar morto pra gente. Claro que ele afirma ter feito isso por um gesto altruísta, porque se preocupa com você. Só que temos que calibrar. Eu ainda estou puto. E se dissesse que gosto da ideia de vocês dois juntos vou estar mentindo. Você é muita areia pra esse cara de pau. E eu vou quebrar a cara dele por ter vacilado com um mulherão da porra desses. Mas você é adulta pra saber o que quer e eu vou te apoiar de qualquer forma. É isso, cara.
Possivelmente, meu coração se derretia naquele instante conforme a ponta dos lábios se esticava. Ryan. Como eu podia definir Ryan Butler?
— Quantas vezes você fala a palavra “cara” num dia?
Ele abriu um sorriso largo.
— Cara... quantas vezes você quiser, bebê — piscou.
Eu ri, expulsando a umidade dos meus olhos.
— De qualquer forma, posso cultivar uma amizade com ele tão saudável quanto a sua.
Agora ele gargalhou.
— Tá bom. Mas, sério, eu vou matar qualquer desgraçado que fizer mal pra você, e Justin não está isento dessa — fez uma expressão maldosa — Muito menos Annelise. Desde o início repudiei essa aliança com ela. Mas deixa ela perder a utilidade pra ver o que acontece.
Por essas e outras Ryan era uma das minhas pessoas favoritas no mundo. Estendi a mão para ele.
— O que seria de mim sem você?
— Literalmente nada — respondeu presunçoso, beijando as costas da minha mão — E sim, eu acho que o Bieber está realmente a caminho de Boston. Ele está louco para resolver isso de uma vez — adivinhou minhas profundas preocupações.
— Sei como ele quer se ver livre dessa história. Então o que garante que não esteja indo para a Califórnia?
— Eu disse que cortaria as bolas dele com canivete enferrujado e jogaria para os tubarões comerem. Um homem dá muito valor na sua genitália.
Fui obrigada a tapar a boca para não explodir o café com minhas gargalhadas.
— Já que vocês não querem contar sobre a volta dele, essa foi a melhor decisão. Nós no voo comum e ele num jatinho particular. Se bem que eu sinto mesmo uma falta tremenda de um jatinho — Ryan fez uma careta.
Eu entendia porque Justin tinha um jatinho, não é como se ele pudesse desfilar livremente por aí com sua cara de defunto enquanto viajava entre estados e países. Mas não me parecia sensato deixá-lo ir para Boston separado de todos nós. A lista enorme de motivos para isso era mais clara que água cristalina, enumerá-los me levaria o dia todo. O ponto de encontro seria na antiga casa de Caitlin. Previsivelmente, ele chegaria mais cedo. Tomando como possibilidade que realmente estivesse indo para Boston, o que faria até que chegássemos lá também me preocupava. Como se eu precisasse de mais do que apenas estar longe dele para ficar inquieta.
— Alguém disse jatinho? Caleb não quis vir com o de Bryan — Hanna afastou as cadeiras com os quadris, sentando-se no lugar em que outrora estivera Caitlin. Nas mãos equilibrava uma bandeja com Waffles e torradas, Caleb uma jarra de suco de laranja e outra pequena de café. A mistura atrativa do aroma quase alcançou meu estômago.
Caleb se acomodou ao lado de Hanna, Ryan ficou visivelmente isolado.
— Eu estava dizendo que quero comprar um — respondeu.
— Como você vai conseguir dinheiro para um jatinho trabalhando numa boate? — Caleb perguntou cético.
Chutei o pé dele por baixo da mesa.
Ryan forçou um sorrisinho.
— Não duvide da minha determinação — e então levantou — Vou atrás da Caitlin.
Esperei que ele saísse para lançar um olhar feio ao meu irmão.
— Muito soberbo você, não?
Ele pegou uma xícara de café tranquilamente.
— Só disse uma verdade. Com que dinheiro ele planeja comprar um? Acaso está planejando outra fonte de renda?
— Se quer saber se ele voltou ou planeja voltar para a vida sanguinária, a resposta é não.
— Sou um monstro por não querer minha irmã andando com assassinos?
— Achei que depois de saírem ontem a noite estavam se dando melhor. Ryan não é uma pessoa ruim.
Caleb assentiu vagamente, tomou um gole de café e pegou uma torrada com o guardanapo. Hanna se ocupava em recolher a chacina que eu tinha feito na mesa.
— É isso que planejo ver.
Apoiei o cotovelo na mesa e descansei a cabeça na mão. Aquela intriga entre os quatro estava me dando fadiga.
— O que aconteceu que você ainda não atacou o waffle? — Hanna me perguntou, pegando um pratinho para si.
— Estou meio sem fome.
Ela me ignorou, colocando um prato na minha frente também. Depois de me servir com um Waffle, praticamente encheu um copo de suco de laranja.
— Gosto mais da Faith que come. Não me deixe sentir como uma baleia sozinha. Você disse que ainda somos amigas. 
Não seria Hanna se não tivesse pelo menos uma chantagem emocional no dia. Para deixá-la mais contente, empurrei tudo aquilo para o meu estômago, e percebi que realmente isso lhe deixou mais à vontade, como se tudo voltasse a ser como antes. Consequentemente, Hanna iniciou seu costumeiro tagarelar, não deu um segundo sequer de descanso para a boca, se não falava, mastigava.
Para alguém que sentia saudade da amiga, me perdi mais vezes do que posso contar nos assuntos. Entretanto, eu sabia dizer quase todos os temas: reclamações em geral das matérias da faculdade, destaques nas roupas das nossas colegas (ex colegas para mim), sua aproximação inesperada com algumas delas (reforçando que nenhuma chegava aos meus pés), discussões imotivadas que andava tendo com sua mãe, e estranhamente, não houve uma citação sequer sobre garotos. Esse, entre comida e roupas, sempre foi o assunto preferido de Hanna. Depois de meses ela ainda não tinha um crushzinho para me contar?
— Sei... Mas e os calouros desse ano? Foi mesmo uma leva tão ruim assim? — um dos nossos hobbies todo começo de semestre era analisar a carne nova para reajustar a lista hierárquica de Hanna.
Ela subiu a escada para o avião atrás de mim, e mesmo assim vi seu dar de ombros.
— Não reparei neles — desdenhou.
Cumprimentei as comissárias e o comandante com um “bom dia” muito bem planejado para soar simpático. Eu depositara minha vida na mão dessas pessoas, conquistar sua empatia era importante. Uma vez dentro do avião, me senti grata por Caleb e Hanna terem protestado pela primeira classe — com a promessa de pagar a diferença para quem não tivesse dinheiro suficiente. Aviões já são claustrofóbicos num geral, eu precisava de mais espaço para respirar. A desvantagem era que Maya se sentaria ao meu lado por praticamente três horas. Eu não podia jogar essa responsabilidade para mais ninguém.  
— Desde quando você não repara em homens?
Minha poltrona era a primeira do lado direito, bem perto da janela, paralela a de Ryan e Caitlin no lado esquerdo; Hanna e Caleb atrás de mim. Sentei-me no tecido azul afofado, virando a cabeça para trás a fim de receber a resposta. Com os olhos em qualquer lugar menos em mim, ela elevou a cabeça, se acomodando em seu lugar.
— Você deve estar me confundindo com outra amiga sua.
Mensurei o tom defensivo de Hanna e acabei concluindo que ela não queria esse tipo de conversa em público. Não que se importasse com isso antes. Mas talvez tivesse conhecido alguém especial e quisesse me contar depois com mais calma. Preferi deixar para lá e me contentei com meu lugar, me voltando para a televisão retangular à minha frente. Respirei fundo, já sentindo os nervos pipocarem de tal modo que pareciam tomar conta da minha garganta numa clara ameaça de fechá-la. Nunca fui muito a favor de altura. Entrar numa caixa metálica voante a cerca de onze mil metros — repito, onze mil metros — do chão, não me parecia muito inteligente.
Para ajudar com a inquietação, assim que a comissária passou oferecendo os lanches, pedi um café do Starbucks e um chocolate. Balançar meus pés no ar se mostrara uma atividade ineficaz para fazer. Mastigar — embora já houvesse comido, e sem fome mesmo — podia ser boa ideia para evitar ranger meus dentes. Ainda descontente, sem encontrar algo me satisfizesse na televisão de onze polegadas, conectei meu celular com o Wi-Fi e chequei meu iMessage. Para um quase alivio instantâneo, havia uma mensagem do número que Justin salvara no meu celular noite passada.
“Estou a caminho de Boston. Seu voo já saiu, certo?”
Respondi:
“Certo. Duas horas e quarenta de voo. Eba.”
Meio minuto depois chegou sua resposta:
“Você está sentada ao lado de Maya?”
Dei uma olhadinha de esguelha para minha companheira. Ela permanecia entretida com The Voice, tomando uma taça de vinho. Os ombros encolhidos contrastavam com sua fachada relaxada. Então eu ainda não me sentia ameaçada por sua presença.
“Sim.”
“Dê um tiro nela por mim.”
“Se você der um em Annelise.”
“Já te disse: Precisamos que ela nos acoberte até chegarmos à Boston, depois disso, temos umas contas a acertar.”
Bufei. Umas contas a acertar. Que tipo de contas? Lençol + roupas no chão = Justin e Annelise reatando?
Não se eu pudesse impedir.
“Vai ter que entrar na fila.”
“Se quiser podemos fazer juntos.”
Abri um sorrisinho e comecei a digitar:
“Podemos fazer muitas coisas juntos.”
Por estar com um pouco de juízo, apaguei e mandei apenas: “Combinado.”.
Eu não havia realmente pensado no que estava prestes a fazer e no que aquilo significava. E mesmo que não fosse admitir em voz alta em hipótese alguma, tinha conhecimento de que meu plano era extremamente impulsivo e precipitado. Levar Maya para Boston, não parecia só arriscado, como burrice também. Como complemento, seria a primeira vez que veria Eleanor e Bryan depois de todo aquele tempo. Me afastei deles porque os julguei parcialmente responsáveis por toda a merda que havia acontecido comigo. Mesmo com Justin de volta, não mudava sua negligência quanto a nossa segurança. A notícia da festa só mostrava que não haviam mudado. Tudo o que importava para os dois era o status social elevado, vanglória e exibicionismo. Por outro lado, de Flê e Etienne eu sentia falta.

— Meu Deus do Céu!!! — Hanna deu pulinhos quando descemos no aeroporto, agarrando meu pescoço com um braço — Boston você está sentindo isso?! O ar até está diferente agora que esse lugarzinho medíocre tem Hanna e Faith reunidas no solo em que tudo começou! Espera só a vibração que o shopping vai sentir!
Desvencilhei-me de seu braço sufocante.
— Hanna, eu não vim aqui fazer compras — repreendi.
Ela não perdeu a animação.
— Nós vamos para a festa, você tem que se arrumar, precisa de um vestido perfeito, a maquiagem, as unhas...
— Será que ela sabe que estamos num caso de vida ou morte aqui? — Caitlin comentou com Ryan propositalmente alto.
— Se vamos morrer, vamos morrer com glamour.
Caleb riu e imperceptivelmente Maya concordou.
— Eu não vou a shopping nenhum — retruquei.
Hanna me olhou séria.
— Faith, você precisa estar vestida para matar, não vou te deixar sabotar sua volta triunfante.
— Não é uma volta.
Finalmente, suspirou exasperada.
— Caleb, faça alguma coisa.
Ele levantou as mãos, imparcial.
— Temos coisas mais importantes para fazer do que brincar de modelos da Victoria Secret's. Sem ofensa, Cait.
— Não me ofendi, dá mesmo muito trabalho pra conciliar com outra coisa.
Hanna revirou os olhos, rapidamente agarrando meu braço para me puxar longe dos outros. Me encarou fixamente e esbravejou:
— Nós já planejamos tudo de cabo a rabo, não há o que fazer a não ser esperar dar a hora da festa. Você prefere ficar se retorcendo de agonia entre quatro paredes a passar um tempo comigo? Por que tenho a impressão de que tenta passar o máximo de tempo longe de mim?
— Han, não é assim.
— O que eu te fiz? — perguntou ressentida.
Relaxei os ombros. Se ela soubesse que Justin estava vivo certamente entenderia porque eu me afastava. Tudo o que eu queria era ficar perto dele e garantir que nunca mais me deixasse. Da forma que fosse, eu só precisava que ele ficasse. Aquelas poucas horas longe dele já estava me deixando com falta de ar. E confesso que meu passatempo predileto no avião foi na verdade reviver infintas vezes a noite passada. Aquela massagem dos deuses seguida de uma conversa despretensiosa até que adormecêssemos como o havíamos feito no dia anterior — infelizmente tirando a parte de acordar em cima do seu peito desnudo.  
Vislumbrei um olhar significativo de Ryan sobre o ombro de Hanna e peguei a mensagem. Queria me lembrar da obsessão que já me repreendera. Quase esperneei como uma criança birrenta diante de seu fracasso. Ambos estavam certos. Justin dissera que eles ainda não estavam no aeroporto, não tirara os olhos do monitor para rastreá-los. De Los Angeles para Boston são sete horas, então se pegassem um voo nesse momento não chegavam antes das cinco. Hanna merecia nosso tempo juntas e eu também. De algum modo, ajudaria a colocar um pouco da cabeça no lugar.
— OK. Vamos — cedi de uma vez antes que pudesse desistir.
Feito uma criança, os olhos de Hanna se iluminaram imediatamente.
— Mas eu vou ter que levar Maya comigo — avisei. Sua perda de entusiasmo com essa informação não foi significativa. Ela não podia me dar mais motivos para desistir, minha convicção diminuíra em 99,9%.
— Não tem problema — cintilou — Caleb! — ela se voltou para o grupo paciente — Vá para a sua casa e ajude com os últimos detalhes. Nós vamos ao shopping arrumar roupas decentes.
— Caitlin, vá com elas, eu vou pra sua casa e... espero vocês lá — Ryan se pronunciou.
Caitlin e Hanna se olharam, diga-se de passagem, um pouco desgostosas.

Mal havíamos entrado no uber e Justin me mandou outra mensagem, disparando meu coração:
“Depois você me diz que não tem péssimas ideias.”
Pelo que eu havia estudado no ensino médio, os efeitos daquela mensagem apontava para uso frequente de heroína. Sua mini-bronca era mais bem vinda do que ele pensava. 
“Já chegou em Boston?” — desconversei.
“Estou na casa da Caitlin. Eu cumpro o combinado.”
E assim eu esperava que fosse em relação à Annelise. Mesmo que uma parte de mim se recusasse a acreditar somente em suas palavras, já podia me sentir parcialmente aliviada com sua afirmação de estarmos no mesmo território. Por outro lado, angustiada por estar tomando justamente o caminho contrário dele.
“Não faça nada fora do combinado, Justin, Ryan está a caminho.”
Ryan havia me prometido ficar de olho nele e me mandar uma mensagem assim que chegasse à casa para confirmar sua localização. Se não tivesse o feito eu estaria mais perturbada do que fiquei durante as compras.
Andar no shopping atrás de uma roupa ideal pode ser extremamente desgastante se sua cabeça não estiver totalmente focada e preparada para isso. Esforcei-me exclusivamente por conta de Hanna. Ela estava tão animada que mal andava, corria. Imaginei dois grilhões colados aos pés de Caitlin, seguindo-nos com uma nuvenzinha negra sobre a cabeça disparando raios e trovões. Maya já se sentiu em seu habitat natural. A partir do momento em que pisamos no centro comercial salpicado de pessoas, lojas perfumadas com rosas e cheiro de roupas novas e ar condicionado no ponto certo, notei certo músculo rígido em sua testa descansar. Foi bom porque eu mesma estava me vendo estourando-o com uma agulha.
— Você não pode detestar todos os vestidos que eu te mostro — Hanna queixou-se, segurava pelo menos uns cinco cabides na mão direita e mais quatro na esquerda — Pelo menos tem de prová-los.
Joguei a cabeça para trás, cansada só de imaginar o “tira e põe roupa” em looping. Entretanto, não adiantou discutir. A partir daquele instante, sentadas no sofá vermelho longo fora das cabines de prova, Hanna, Caitlin e Maya me viram desfilar por infinitas vezes. Não foi tão ruim quanto eu pensava. Tudo bem, a parte de vestir e tirar os tecidos elegantes era extremamente desgastante — e precisei da ajuda de Hanna em algumas vezes —, mas, encontrei aí oportunidade de integrá-las, pedindo a opinião das três, embora já soubesse a minha. Elas podiam abrir uma loja em conjunto, todas adoravam a arte de se vestir, Caitlin sabia exatamente o que falava — aprendera dos vários estilistas pelos quais passara. Conforme eu posava, alguns comentários entre elas começaram a surgir sem que percebessem.
— Vocês não acham que a pele dela casa perfeitamente com amarelo? — Hanna perguntara.
Elas me analisaram e assentiram.
— Com certeza. Mas esse ficou meio sem graça. Faith pode ser mais elegante do que isso — Maya argumentara. Foi a primeira coisa que falou de livre e espontânea vontade em horas.
— Precisamos de outros vestidos. Vamos nós três à caça. Faith, não saia daí — Han comandou.
— Eu estava pensando... — comecei a dizer, colocando as mãos na cintura e olhando a pilha de descarte de vestidos. Assoprei os cabelos que faziam cócegas na minha cara para terminar — Eu não quero vestir uma coisa assim.
Recebi três pares de olhos descridos.
— Como assim?
— Isso tudo parece muito “Eleanor”. Sou independente agora. Quero alguma coisa que...
— Que ela vá desaprovar — Hanna completou, desafiando-me a contrariá-la.
Pensando bem, eu nem ao menos queria encontrar argumentos para contestá-la. Precisava provar para meus genitores que eles não eram meus donos. Precisava provar que sou um sujeito pensante, de opiniões próprias e dignidade personalíssima. 
— Eu posso ter uma ideia — Maya disse a meia voz. 
Ao não encontrar oposição, enfiou-se entre os cabides, escolhendo entre as roupas durantes minutos fugazes. Nos limitamos a observá-la, nos deparando com sua presunção ao apresentar seus resultados.
— O que acham?
Quase foi possível ouvir o ruído de três bocas se abrindo de perplexidade.
— É vestimenta de uma rebelde sem causa. Com certeza. Eleanor ficará furiosa. Você tem certeza de que quer fazer isso na festa de aniversário dela? Não é todo dia que se comemora quarenta e cinco anos.
Hanna produziu o efeito contrário que desejava. Visualizei Bryan e Eleanor espumando diante de seu público ao encarar a filha que criaram debaixo de tantas regras de etiqueta vestida daquela maneira. O sorriso em meu rosto foi involuntário.
— Você disse vestida para matar, não foi, Han?

One Love 25

— Oi, galera, essa é a minha amiga Maya. Acho que Ryan, Caitlin e Rafael se lembram dela — decidi ser a primeira a falar, aproveitando-me do choque deles. Eu não queria que Caleb e Hanna soubessem da historia trágica que envolvia minha ligação com Maya. Para isso, eu teria que contar o motivo de estar em Minneapolis, depois, que ela me ameaçara — meu abdômen ainda se ressentia pelo golpe que levei. Seria muita reprovação para um encontro só.
Ryan, Caitlin e Rafael se entreolharam. Passei direto por eles, abandonando Maya para trás e abrindo meus braços para Hanna.
— Han! — forcei um pouco mais animação do que eu sentia, no intuito de amenizar a possível raiva que a dominava.
Hanna sempre foi bem maleável, ela era mais coração do que cérebro. Então, se inicialmente foi como abraçar uma pedra, gradualmente foi amolecendo e envolvendo os braços ao meu redor, quase me esmagando contra ela.
— Sua jumenta! Te odeio! — sua voz já estava trêmula.
Naquele abraço, percebi o quanto sentia falta dela mesmo que não pensasse nisso. Convivi com Hanna diariamente durante três anos. Antigamente, ninguém me conhecia como ela. Chegamos a um nível de intimidade que tínhamos praticamente uma conversa inteira só com o olhar. Éramos Yin-yang, Chris e Greg, ou simplesmente, Faith e Hanna.
Emotiva como estava, senti o impulso de abrir minha alma pra ela como sempre. Desde que Justin aparecera, eu tinha vontade de gritar para o mundo inteiro que ele existia não apenas na minha mente. Entretanto, com Hanna era diferente. Contar-lhe uma coisa dessas parecia mesmo fazer toda a diferença no meu mundo.
Hanna me afastou pelos ombros para me fitar, o rosto levemente corado e os olhos úmidos. A expressão chorosa adquiriu um traço de curiosidade conforme me encarava. Subestimei sua capacidade de ver através de mim, então, com medo de que visse demais, me desvencilhei dela, partindo para Caleb.
Ele me envolveu protetoramente. Às vezes, eu odiava os abraços de Caleb. Fazia-me sentir extremamente frágil, vulnerável, como se ele fosse minha casa, onde eu podia deixar aflorar os mais profundos sentimentos. Foi pior o fato de ele não ter dito nada, apenas me dando um beijo na testa, provando que sempre seria meu ponto de apoio.
Barrei a nova onda de sentimentalismo, evitando que o aperto na garganta expulsasse as lágrimas não desejadas.
— Senti falta de vocês — admiti, me afastando antes que me desmanchasse.
Eles deram meio sorrisos, se entreolhando. Entendi a mensagem que trocavam como “Como podemos jogar bronca agora?”.
— Acho que precisamos conversar — Caleb disse com hesitação.
Como eu poderia lhe contar uma coisa daquelas?
— Claro. Eu só vou... — procurei por Maya ainda estagnada para fora da porta feito um animal sob ameaça. Caitlin não lhe dava espaço para passar. Estendi minha mão a ela — Vamos, Maya. Só preciso acomodá-la — dei o aviso geral — Já volto.
Puxei-a comigo, e só assim ela conseguiu passar pela barreira. Eu escapara de uma bronca inicial, mas a tensão se solidificava a minha volta, um aviso sútil de que a tempestade só se fortalecia.
Apressei o passo pelo corredor e abri o quarto, trancando quando já estávamos dentro. A partir daí, me esqueci da presença de Maya, correndo para a janela ao lado da cama. Destravei a tranca e empurrei o vidro para cima. Esperava pelo menos um guincho como alerta de que eu a abrira, mas só se ouvia minha respiração.
Coloquei metade do meu corpo para fora e chamei num sussurro:
— Justin!
O carro ainda estava ali, pelo menos. Apertei os olhos para procurá-lo dentro da lataria. O lado do motorista estava vazio.
— Justin? — tentei de novo, um pouco mais alto.
Meus nervos começaram a se atacar, os neurônios prestes a apertarem o botão de “pane”. E se ele não tivesse me dado ouvido? E se tivesse desaparecido de novo?
O próximo pensamento foi inevitável: E se nunca tivesse voltado e eu inventara todas as últimas horas?
— Jus... — me interrompi no meio quando ouvi o ruído atrás de mim.
A porta do banheiro se abriu e Justin simplesmente passou por ela, me olhando ingenuamente.
Eu poderia ter perguntado como ele conquistara o feito de entrar por uma janela trancada. Ou eu havia deixado aberta quando saí? De qualquer forma, não era segredo sua habilidade, tão estimada por ele, de invadir lugares. Como meu coração, por exemplo.
Fechei a boca, atenta ao olhar mortal que ele direcionou para Maya ao flagrá-la a centímetros de seus punhos. Apressei-me para me colocar entre os dois.
— Ok — pude ouvir o alivio em minha voz — Preciso conversar com eles lá fora... — parei para pensar as probabilidades de homicídio caso eu os deixasse sozinhos entre quatro paredes. Eram muitas para o meu gosto. Por outro lado, eu também não queria Maya xeretando meus assuntos — Maya vem comigo. Justin não sai daqui — Caitlin não gostaria da minha ideia.
Ele não pareceu se incomodar tanto com o fato de ter que ficar no quarto, se sentando tranquilamente na cama e se acomodando nela como se fosse sua. Eu não duvidava que fosse. O que me alertou foi o silêncio que ele ainda se recusava a quebrar. Se estava tentando me deixar louca, merecia um troféu e tudo.
Guardei mais um pouco de seus detalhes em minhas memorias, entalhado ali na cama, descansando a cabeça em cima de um braço. Aquele bico resignado de discordância lhe dava um toque especial no charme. Seus olhos lampejaram do celular para mim quando notou que eu não me movia.
Saí do quarto, empurrando Maya para o cômodo da frente onde Caitlin e Ryan se refugiaram a noite.
— Não saia daí — avisei-a.
Maya pareceu bem ansiosa para obedecer. Eu mesma me senti disposta a lhe fazer companhia quando recebi cinco pares de olhos extremamente exigentes na minha direção. Sentei-me naturalmente no sofá, aparentemente despreocupada.
— Vocês não querem se sentar? — ofereci.
Nenhum deles respondeu.
— Então essa é a pessoa com quem saiu para achar o contrato? — Caleb começou, os braços cruzados.
— O quê?
— Eles — apontou com a cabeça para Ryan e Caitlin — disseram que você achou alguém para te ajudar, mas garantiram que não haveria risco.
Fechei a cara para Ryan e Caitlin. Uma pessoa. Para. Me. Ajudar. A achar. O contrato.
Caitlin deu de ombros, claramente sem se importar. Eu diria que até fizera de propósito só para me ver de cabeça quebrada para arrumar desculpas.
Assenti de mau gosto.
— Ela meio que trabalha na Companhia.
Boa ideia, Faith, se você está querendo conhecer Jesus mais cedo.
— Ela o que?! — Hanna e Caleb arfaram juntos. Uma ótima sincronia, aliás.
— Mas só como assistente. E agora está com problemas por ter me ajudado.
Mil e uma broncas passaram pelos olhos do meu irmão. De algum modo, sua reprovação era uma das piores que eu podia receber. Encolhi os ombros, preparando-me para a enxurrada de palavras.
Ele passou a mão no cabelo liso, agarrando-o no couro por alguns segundos antes de soltar juntamente com sua respiração.
— E então, conseguiram alguma coisa?
Preferi que voltássemos à bronca por ter me envolvido com Maya. Mordi a boca. Meu calcanhar deu pulinhos no chão. Caleb também tomaria como verdade aquele nome. Para ele, aparências sempre foram suficientes para ensejar consequências muitas vezes desastrosas. Utilizava-se do argumento de que era melhor pedir desculpas depois do que correr o risco de não ter feito nada quando deveria.
Dei uma olhadinha receosa para Rafael. Ele também não podia participar dessa conversa. Os ânimos ficariam deveras exaltados e ele acabaria percebendo do que se tratava toda essa confusão.
— Entendi — ele deu um meio sorriso, um pouco tristonho demais para me deixar aliviada — Vou estar no quarto.
Antes que eu pudesse pensar se o queria com Justin no mesmo espaço, Rafael já estava no meio do corredor. Da última vez que conversaram o resultado não foi bom. Já conseguia imaginar de quais outras formas Justin poderia tentar empurrar Rafael para cima de mim.
— Você sabe quem é — Caleb deduziu depois de ouvirmos a porta se fechar.
— Não sei se aquele era o documento certo, tudo indica que tenha sido fraudado.
— Tudo o que? Quem é, Faith? — pressionou, desconfiado.
Eu não queria dizer. Mas também não podia mentir na cara dura para o meu irmão sobre uma questão que lhe afetava diretamente. Talvez eu estivesse me precipitando por pensar que ele teria uma reação exagerada. Talvez Caleb deixasse as emoções de lado e pensasse racionalmente antes de decidir fazer alguma coisa.
Então, incentivada por essa onda repentina de positividade, me vi despejar de uma vez, como fazia para tirar um curativo. E todos eles começaram a brincar de estátua. Entrei no jogo, quase ninguém conseguia ficar parado como eu. Quase se podia ouvir, entretanto, as engrenagens de vários cérebros trabalhando dobrado no momento instante.
Ryan foi o primeiro a perder.
— Vou ver se Rafael precisa de ajuda com alguma coisa — ele saiu de escanteio com Caitlin no seu encalço. Possivelmente, já haviam entendido que Justin se escondera no quarto e queriam um relato fiel do que acontecera.
As sobrancelhas de Caleb começaram a se mover, tentando uma união que não aconteceria no meio da testa. Por vezes sua expressão séria me amedrontava. Essa era uma delas.
— Como vocês conseguiram essa informação?
— Maya pegou diretamente com George — respondi imediatamente. Se ele soubesse que na verdade fora Annelise, podia dar mais crédito a minha história de fraude. Mas eu não podia mencioná-la sem colocar Justin na história. E atenta ao fato de que não gostara de saber que eu trabalhara com uma assistente da Companhia, muito pior seria com a assassina responsável por nosso contrato. Com certeza, me internariam por ficar me envolvendo com gente que tenta ou quer me matar.
— Me dê um argumento plausível para acreditar que a assistente do diretor, a qual está em apuros por isso agora, recebeu o documento errado de seu chefe?
Porque foi Annelise, e ambos me odeiam, pensam que peguei os irmãos de Justin, como também o ajudei a colocar fogo na sede de Boston e estou encobrindo sua suposta morte. Sendo que só a última parte é verdade agora.
Esse argumento estava fora de cogitação.
— A nossa vida toda...
— Sentimentalismo não. — Ele me cortou, rude.
Ótimo, Caleb também acreditava.
Busquei conforto em Hanna, mas ela já começava a transparecer uma indignação acusatória.
— Caleb, pensa comigo...
Ele pegou sua mala azul pequena perto da lareira, se direcionando para a porta.
— O que está fazendo? — me levantei.
— Pegando um Uber — seu celular já estava na mão.
— Você não pode divulgar nossa localização assim! Se a Companhia descobrir esse lugar...
— Então quem vai nos levar ao aeroporto?
— Aonde nós vamos?
— Para Boston.
— Caleb, por favor...
Hanna também pegou sua malinha rosa.
— Ele está certo, Faith. Não podemos ficar aqui. Eles estão viajando, então quase certeza que estão Minneapolis. Disseram que só voltam para a festa. Ah meu Deus, a festa! — ela ficou mais afobada — Temos que cancelar tudo e...
Foi minha vez de me intrometer:
— Do que você está falando?
Caleb e Hanna trocaram mais um olhar. Tudo bem, aquilo já estava ficando irritante. Caleb fez um sinal positivo. 
— O aniversário da sua mãe. Ela marcou uma festa para amanhã à noite — Hanna disse com calma, como se seu tom de voz pudesse me deixar relaxada.
Mesmo tendo incentivado, Caleb pareceu insatisfeito que ela tivesse dito.
— O aniversário dela é só dia quinze de Junho — retruquei.
— Ela quis adiantar, alguma coisa a ver com a estação estar melhor agora, mas não importa, temos que voltar e cancelar. 
Tive um breve pensamento inoportuno. Minha mãe estava arranjando uma festa de aniversário para ela e não me convidara? Finalmente esqueceu que tem filha, então. Ou me substituiu mesmo. Uma vez que Hanna dissera "temos que cancelar", no plural, incluindo-se no assunto, ficava explícito que ela ajudara a preparar. 
— Já acabaram? Precisamos ir. Pegue suas coisas, Faith.
Segurei o braço de Caleb, impedindo que tocasse o trinco da porta.
— Você pode ouvir meu plano? — pedi. Ele me fitou com impaciência. Eu tinha segundos para convencê-lo — Precisamos investigá-los primeiro antes de tirarmos qualquer conclusão... — e foi dessa forma que transformei meus segundos em nada. Caleb escapou de minhas mãos.
Corri para ficar na frente da porta, me colando de costas a ela.
— Me deixe terminar! — Caleb me fuzilou com os olhos. Três segundos — Tudo bem. Nós temos que pensar em uma coisa digna para confrontá-los, não podemos chegar simplesmente na fúria achando que podemos contra eles. Se já querem nos matar, dar um tiro na nossa testa não vai fazer diferença. Ficamos por aqui hoje e bolamos o plano central — ele estava prestes a me interromper, então falei mais alto —, eles não vão passar por cima da Companhia para cumprirem eles mesmos o contrato, é contra as regras — eu pressupunha que fosse, pelo menos —. Estamos seguros na cabana, Ryan garantiu. E então vamos para lá amanhã. Não precisa nem cancelar a festa, se conseguirmos falar com tanta gente em volta, ficarão acuados. Só temos que pensar bem em como será essa abordagem. 
Palmas. Eu merecia palmas por improvisar uma argumentação tão bem fundamentada.
Caleb concordou com a cabeça, mas utilizando-se da ironia.
— E o que te faz pensar que eles não vão usar dessa festa para dar a cartada final?
Round 2.
— Eles não sabem que nós sabemos. Estamos um passo a frente. Não vão colocar a cara a tapa, então os pegaremos desprevenidos. 
Eu sinceramente merecia o premio Nobel. O Oscar também serve.
Caleb travou o maxilar. Sinal de que eu conseguira lhe plantar a semente da dúvida. Havia lógica no que eu falava, ele não podia negar. Seu olhar procurou o de Hanna para uma consulta rápida. Ela meneou a cabeça, me dando crédito, embora não quisesse concordar. Acho que temos uma vencedora aqui.

— Amém! — Hanna exclamou baixinho quando Caleb saiu com Ryan para levarem Rafael embora — Eu sei que sempre reclamei da sua impaciência e coisa e tal, mas às vezes Caleb te supera.
Não pude discordar. Quase morremos todos de estresse no dia infinito que foi aquele. Para variar, todos estavam frustrados ou decepcionados comigo. Maya ainda desconfiava de mim, passou o dia todo trancada no quarto — o que foi mais um motivo para Ryan e Caitlin espumarem contra a minha pessoa. Sempre que podia, eu checava se Justin continuava no local combinado, e bastante entretido com o notebook, quase não notava minha presença — aquilo me incomodou mais do que o necessário. Seu silêncio se estendia por minha ideia genial de manter a festa de Eleanor e comparecer nela. Não havia uma alma que concordasse comigo, então suspeitei que estivessem fazendo minha vontade por um misto de culpa e dó. Acrescentando o fato de que o plano deles também não era melhor do que o meu.
Caleb passeou pela sala tantas vezes que achei que o chão fosse ceder a nossos pés. Finalmente Ryan lhe convidou para fazer companhia quando Rafael decidiu ir, suspeitei que exclusivamente em razão de também se irritar com toda aquela inquietude. Este último parecia chateado por estar de fora dos assuntos, e tive que me esforçar para convencê-lo a ficar conosco no período da tarde e jantar as pizzas congeladas que tínhamos na geladeira.  No fundo, me indagava se Justin tinha contribuído para seu mau humor, mas decidi que não podia partilhar minhas culpas com ninguém.
— Se eu puder ser útil, me liga — ele dissera ao me abraçar para se despedir, senti um tom de mágoa em sua voz.
Tentei lhe dar meu melhor sorriso. Ele quase não viu.
— Bom, agora me conta qual é a sua com esse bonitão. Quer dizer, se você ainda me vê como sua confidente de segredos — e tinha mais essa, as alfinetadas que Hanna e Caitlin trocaram o tempo todo.
Para ser justa, Hanna era quem estava jogando provocações em geral. Caitlin só parecia mais irritadiça pelo jeitinho peculiar da minha melhor amiga. Hanna sempre foi uma barbiezinha meio rebelde. Caitlin só enxergava a parte do “barbiezinha”. E pelo que me contara, desde criança nunca gostara de Barbie.
Caitlin arfou ruidosamente.
— Não tem nada, Han, ele é só um amigo que conheci na galeria. Hazel vende os quadros dele, que são muito bons por sinal.
Hanna pegou o olhar desacreditado que Caitlin me jogou.
— Se não quiser me contar, tudo bem — murmurou ressentida, os olhos murchos.
Fiz cara feia para Caitlin.
— Sério, Han, não é nada. Ele só me chamou para sair algumas vezes. Eu o conheço há uma semana, teoricamente. Fomos numa exposição de Vladimir Kush na terça feira, depois comemos uma pizza, e só. Apenas amizade.
Não pude lhe contar à parte que Justin Bieber tentava nos unir como um casal.
Hanna arqueou a sobrancelha.
— Você acha que é só amizade, Caitlin?
Cait pareceu abismada que ela tivesse lhe dirigido a palavra.
— Me abstenho dessa discussão.
— Hm. Pois pra mim parece que ele tem interesse. Você não tem?
Neguei.
— Acho que ele daria um bom par com você — falei.
Ela abanou a mão.
— Já estou fazendo um shipp de vocês dois. Seria Rafaith o novo casal do ano? — suas sobrancelhas dançaram.
Eu ri. Parcialmente de nervoso. Eu estava mais presa ao passado do que nunca.
— Prefiro Hannael.
Ela revirou os olhos e me deu um tapinha.
Olhei a hora no meu celular outra vez, torcendo para já estar tarde o suficiente para que eu pudesse dar boa noite. Oito e meia estava bom para mim.
Dei um pulo do sofá, unindo as mãos.
— Bom, parece que já deu a minha hora. Preciso dormir. Dia cheio amanhã, sabe como é. Caitlin, você pode arrumar as coisas aqui na sala para os dois?
— Se você levar aquele pedaço de ser humano para o seu quarto também, por mim tudo bem.
Droga.
— Você vai dormir à uma hora dessas? — Hanna me avaliou de baixo a cima.
Fingi um bocejo.
— Estou muito cansada. Sei que amanhã também terei muitas coisas para lidar. Preciso preparar meu emocional.
Ela semicerrou os olhos.
— Você parece muito animada para estar cansada.
— É nos meus sonhos que encontro conforto ultimamente — soei um pouco gótica propositalmente.
Hanna ponderou um pouco, torceu a boca e depois abriu um sorrisinho tristonho. Ela devia estar pensando em como era difícil lidar com a morte de um namorado, fato este que ninguém podia ajudar a tornar melhor. Senti-me péssima por causar-lhe esse desconforto sem motivos.
— Sendo assim, nos vemos amanhã.
Dei-lhe um abraço e acenei para uma Caitlin enfezada no sofá. Se ela não mudasse o humor logo, aquele seria seu estado natural para o resto da vida.
Bati na porta do quarto onde estava Maya para cumprir com meu combinado. Ela parecia pior que antes, nem o batom usava mais. Esforçando-se mais um pouco conseguiria mais um bocado de compaixão minha.
— Precisamos voltar para aquele quarto. Vamos dormir lá — avisei.
Sua testa se franziu.
— Nós três? — questionou baixo, mas a perplexidade bem audível.
Mesmo assim, olhei para os lados como garantia de que Hanna não estava perto bisbilhotando.
— Sim. Vamos.
Justin levantou os olhos da tela pequena diretamente para Maya quando entramos. Quis dizer a ele que não precisávamos de mais nada para que ela se sentisse mais excluída e indesejada.
— Maya vai dormir aqui também — senti a necessidade de anunciar.
Ele olhou pra mim. E baixou a cabeça para o notebook.
Criei diversas formas de se quebrar um notebook em um corpo humano na minha mente por uma fração de segundos. Visto que não colocaria nenhuma delas em prática, me centrei em uma função mais útil. Abri o guarda roupa e achei uma colcha cinza grossa. Arrumei-a no chão, ao lado contrário que Justin estava na cama, e coloquei um dos quatro travesseiros ali também. Enquanto minhas mãos trabalhavam mecanicamente, a mente se ocupava em me deixar louca com a possibilidade de que Justin dividisse a cama comigo. Está certo, havíamos dormido juntos no sofá, mas não foi propositalmente.
— Você pode ficar aí, Maya. Só vou tomar um banho, depois que eu sair, pode tomar um também.
Ela assentiu, lentamente se direcionando para a cama improvisada que eu fizera. Percebi que se afastava o máximo que podia de Justin. Já ele voltou a me encarar.
Levei uma camiseta de alcinhas e um short leve para o banheiro. Embaixo do chuveiro, pensei na possibilidade da minha pele se desgastar devido à frequência com a qual eu queria tomar banho agora. Não podia negar que tinha a ver com Justin estar por perto. Mesmo que não me quisesse, todo mundo merece ficar perto de alguém perfumado. Ele fazia isso por mim — não exatamente por minha causa —, eu podia retribuir o favor.
Fui mais célere que podia, e com os cabelos desgrenhados pingando nas minhas costas, abri a porta num rompante. Vestida eu estava. O quarto permanecia calmo, os dois estavam vivos — sem me dar atenção—, então aproveitei um pouco mais o vapor de água quente que envolvia o banheiro, dotado do aroma bom de banho tomado. Penteei meus cabelos devagar com o pente de madeira armazenado na gaveta, olhando-me no espelho. Repeti para mim mesma que o fato de  poder ver Justin no reflexo não significava nada. Isso até que ele me pegasse encarando-o.
Terminei meu processo de limpeza escovando os dentes minuciosamente, caçando cada pedaço de pizza de pepperoni que pudesse estar escondido. Fiz gargarejo três vezes. Conferi meu cabelo de gato molhado de novo — ele tinha um quê em secar naturalmente, só assim formava cachos nas pontas —. Meu Deus, pensei até mesmo em passar ao menos um brilho nos lábios. Identificando esse traço de paranoia, decidi que já era o suficiente.
— Vai querer alguma roupa emprestada, Maya?
Ela tentou disfarçar a surpresa com meu gesto, se colocando em pé.
— Claro.
— Pode ver o que vai querer da mala.
Busquei não olhar para deixá-la escolher sem censura. Subi na cama, engatinhando para chegar à cabeceira.
Justin deixou o notebook de lado, colocando os pés no chão.
— O que está fazendo? — perguntei antes que pudesse se levantar.
— Vou arrumar uma cama pra mim.
— Não seja idiota — rebati — Tem espaço suficiente aqui para nós dois. Não tenho nenhuma doença contagiosa.
Fingindo estar desinteressada em sua decisão, me deitei de costas pra ele, abracei o travesseiro e fechei os olhos. Por outro lado, meus ouvidos se atentaram o máximo para saber se ele deixaria a cama. Pelo que ouvi, ele ainda estava ali. Mas passados alguns segundos, senti necessidade de confirmar o fato com a minha visão. Abri o olho esquerdo e dei uma espiada. Justin se sentara outra vez com o notebook no colo.
O que ele tanto via naquela joça?
— Pensei que quisesse ser meu amigo — cutuquei.
Ele me olhou pelo rabo de olho, cético.
— E o que te faz pensar que mudei de ideia?
Tomei liberdade de me voltar para o lado dele.
— Não sei. Talvez o fato de não estar me dirigindo uma palavra.
— E amigos não podem ficar bravos com amigos?
— Então admite que está bravo comigo?
— Eu não cheguei a negar.
— Você não tem o direito de ficar bravo comigo.
Ele deitou a cabeça para o lado.
— E por que você acha?
— Porque não te dei motivos. E quem está brava com você sou eu.
— Não é porque você está brava comigo que não posso ficar com você. Meu motivo está deitado ao seu lado. Na maioria das vezes, você tem péssimas ideias. Além do mais, essa história de festa foi o ápice.
Sentei-me na cama para olhá-lo da mesma altura, fazendo cara feia.
— Quem vê pensa que suas ideias são ótimas. No fundo você sabe que meu argumento para a festa tem pertinência.
Ele negou.
— Não gostei dessa história.
— Caleb já avisou Eleanor e Bryan sobre o contratante estar de volta, então eles dobraram os seguranças. Tudo bem que não sabem de quem vocês suspeitam, mas uma jogada perigosa é mínima para a festa. O que favorece uma conversa civilizada.
— Vamos fazer da sua forma — ele concordou, mas seu tom de voz sugeriu um complemento que eu não gostaria muito — Se der errado, faremos da minha. Temos um trato?
Colei meus lábios. Não era justo que eu tivesse de abrir mão de uma decisão que teoricamente caberia exclusivamente a mim.
Ele respirou fundo.
— Prometo não fazer nada antes de te consultar — cedeu, contrariado.
Levantei o dedo mindinho.
— Promete mesmo?
O canto do seu lábio se repuxou em um sorriso engraçado.
— Prometo — seu dedo mindinho abraçou o meu.
— Isso é uma promessa muito séria, ninguém pode quebrar promessas de dedo mindinho.
Dessa vez ele quase riu.
— Eu sei.
Investiguei a seriedade em seu rosto e só depois soltei seu dedo. Descaradamente, olhei a tela de seu notebook.
— O que está mexendo tanto assim?
Havia, no mínimo, umas dez abas abertas em seu navegador, e num julgamento prévio, eu não conhecia nenhum daqueles sites. O que estava selecionado naquele instante parecia uma espécie de google maps.
— Pegando a localização deles. Consegui rastreá-los. Estão na Califórnia.
Só então notei um pontinho vermelho piscando na Califórnia, dando movimentos mínimos. Meu queixo caiu.
— Como você consegue fazer esse tipo de coisa? — perguntei abismada. Só de pensar no trabalho que dava, os músculos das minhas costas endureciam.
Massageei meus ombros, fazendo um caminho com a ponta dos dedos até o meio das costas e voltando. Eu não havia percebido que realmente havia pedras descansando em cima dos meus ossos. Um dia no spa favorito de Eleanor não parecia péssima ideia agora. Não havia nós rígidos o bastante para eles extinguirem.
— Habilidades inerentes... Está tudo bem por aí?
Rodei a cabeça em meia lua para trás, ouvindo estalos de uma velhota de cem anos. Eu realmente deveria parar de faltar às aulas de Krav Maga.
— Sim. Meio desgastada apenas. Continue dizendo.
Dei tapinhas nos ombros. Massagem não era exatamente uma coisa que eu soubesse fazer.
— Aqui — ele se inclinou para colocar o notebook no chão, voltando-se para mim — Deixa que eu faço.
Engasguei com a saliva. Ele queria fazer massagem em mim?!
Antes que eu pudesse desobstruir a garganta, ele me virava pelos ombros de costas pra ele. Meu Senhor do Céu me dê forças!
Senti suas mãos grandes se apoiarem em cada ombro meu, os dedões iniciaram movimentos circulares, se encontrando no meio das minhas costas. Em um estalar de dedos, minha pele toda já queimava.
Pai. Eterno. Me segura.
— Caramba, Faith, já pensou em relaxar um pouco? Parecem duas rochas.
No momento relaxar era a última coisa que eu faria.
Os arrepios desceram junto com a nova qualidade que eu descobria sobre ele. Justin era um ótimo massagista. E com ótimo eu queria dizer o melhor de todos. A corrente elétrica ajudava-o a descontrair meus músculos, bambeando todos os meus ossos.
— Com licença.
Ele passou a mão para dentro da minha camiseta quando esta impediu o contato com a minha pele. Mordi os lábios, temendo um arfar constrangedor. Já era ruim o bastante que ele provavelmente sentisse meu coração esmurrando as costelas desordenadamente. Ritmo de respiração? Há tempos eu não sabia o que era.
— Estou te machucando? — ele perguntou com receio. Cacete, a porcaria da voz dele batia no meu pescoço.
Sem saber a forma que minha voz tomaria fiz apenas um breve sinal negativo com a cabeça.
— Então tente respirar um pouco mais fundo. Você está muito tensa.
Soltei o ar devagar, entrecortado.
Ele tirou as mãos de mim só para colocá-las de novo na base das costas, subindo a camiseta conforme massageava. Suas palmas não eram totalmente ásperas ou macias, estavam no meio termo. Um maravilhoso meio termo.
Aquilo era, com toda certeza, homicídio na forma tentada. Ele estava tentando me matar outra vez.
Fechei os olhos com força, ingenuamente pensando que fosse me ajudar. Entretanto, na ausência de todos os outros elementos a minha volta, afundada na escuridão, só havia o seu toque friamente quente. O perfume dele ganhou mais força, me afogando em sua presença. Tudo o que eu respirava era ele. Entrei num estágio de deleite tão extremo que poderia afirmar estar flutuando pelo quarto, deitada em plumas e recebendo uvinhas na boca. Todas as memórias e sentimentos construídos durante todo esse tempo de nós dois ganharam liberdade para bagunçar meu sistema. Quando se tratava dele, nada mais fazia sentido, todo o meu corpo fazia questão de me lembrar disso.
Sim, suas mãos mágicas conseguiam desatar os nós em meu corpo, mas ao mesmo tempo, estreitavam nossos nós, enlaçavam-me nele de tal forma que eu me perguntava como consegui viver sem tê-lo comigo por quase seis meses. Justin Drew Bieber deveria ser considerado uma droga potencialmente nociva.
— Melhor? — com a ajuda da minha imaginação, ele pareceu mais rouco e sério, irresistível e sedutor. Se você quiser massagear minha boca também, estamos aí.
Não tinha mais controle de mim mesma, mas pensei ter afirmado com a cabeça.
— Faith?
É, talvez não.
Abri os olhos e virei para olhá-lo tão perto de mim. A sede insaciável dele me atacou de forma desnorteante.
Eu o odeio por ser assim.
Ele não pareceu estranhar meu silêncio. Soltou um suspiro esquisito e sorriu torto.
— Acho que sim — concluiu por si só.