Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

One Love 24

— Como você pode acreditar numa coisa dessas? É óbvio que é armação, besteira, mentira! — eu me revoltei logo que deixamos Annelise de volta à casa de Maya.
Ela ficou o caminho todo se vangloriando e tagarelando sobre o quão engraçado aquilo era. E sinceramente, eu não sei como me contive para não jogá-la fora do carro. Annelise ultrapassara muito além da minha quota de paciência na vida inteira.
Justin permaneceu calado, mas não era uma coisa boa. Eu podia ver a ira consumir seu rosto e imaginava os pensamentos homicidas que estava tendo, gritando tão alto que eu quase podia distingui-los pela minha audição. Os nós de seus dedos estavam brancos da força desnecessária com que agarrava o volante, o carro quase voava pela pista.
Sua raiva estava provocando a minha. Me irritava que ele estivesse realmente crendo que aquela informação era verídica.
— Justin! Me olha nos olhos e diz que não acredita nessa besteira!
Seus olhos lampejaram para mim.
— Não posso fazer isso. Você me pediu para ser sincero com você.
Grunhi, dando um soco no painel do carro. Justin pareceu ofendido, abriu a boca para reclamar, mas a fechou quase no mesmo instante com um ruído.
— Agora você confia em Annelise e George? Não acha que eles podem estar ganhando com essa informação falsa?
Ele estava obstinado em não responder, o queixo duro.
— Me responda, Justin! Eles estão armando alguma coisa! Precisamos descobrir o que é!
O carro deu uma freada brusca e a porta do motorista se abriu no timing perfeito. Justin tirou um boné de beisebol e um óculos preto sabe-se lá de onde, saltando para fora. Cogitei a possibilidade de ele estar me deixando para trás por não aguentar mais meus surtos.
Pertinente, fui atrás dele, descontando tudo no carro outra vez ao bater a porta com força. Ele parou no meio da calçada.
— Você precisa maltratá-lo mesmo? Ele não tem culpa de nada.
Cruzei os braços, a cara mais enfezada do que nunca.
— Onde você pensa que está indo?
Olhei para a placa branca que ele apontava, lendo os escritos “Clube de luta” grotescos em vermelho. Antes que eu pudesse protestar, Justin empurrava a porta para entrar.
— O que caralho você espera que façamos aqui? — exigi saber, apertando o passo para que ele me ouvisse.
O sujeito de bíceps do tamanho da minha cintura apoiado num balcão de recepção fez uma rápida análise minha enquanto cumprimentava Justin. Quando a porta se fechou atrás de mim, inalei o ar carregado de homem suado, uma banda de rock nervosa gritava nos alto falantes. O centro do local mórbido, sem janelas ou cores claras, abrigava um ringue de luta, e a sua volta pendiam sacos de pancada gastos. Homens sem camisa pingando suor dividiam o espaço, separados em duplas para distribuir socos entre si ou no saco. Eles não me deram atenção. Em outro dia, eu poderia me sentir intimidade naquele clima pouco amistoso.
Justin pegou um par de luvas vermelho e voltou a andar, em direção a escada de ferro que apontava para um segundo andar não visto antes por meus olhos lentos.
— Se você não me explicar o que está acontecendo, não dou mais um passo! — estagnei onde estava, recebendo alguns pares de olhos pelo pequeno ataque.
Ele indiciou a escada, arqueando a sobrancelha.
— Você não quer conversar? Podemos fazer isso com segurança lá em cima.
— E não estávamos no carro? Que porra de lugar é esse?
— O carro é um espaço muito pequeno. Belo palavreado.
— Quem você acha que é para falar do meu palavreado?!
Tive a impressão de que ele sorriria, e se sorrisse, que Deus fosse capaz de salvar seu rosto.
— Faith, podemos? Por favor?
Se essa era a forma de ele conversar comigo sobre isso, ótimo! Subiríamos até numa montanha russa se ele quisesse.
Marchei ao seu lado, produzindo um som desnecessariamente alto, até o cômodo solitário todo coberto de tatame azul com dois sacos pendendo paralelamente do teto.
— Se vamos conversar, para que as luvas?
Ele deu de ombros.
— Você parecia querer socar alguma coisa. Melhor o saco do que meu carro.
Desci meu olhar ameaçadoramente para um pouco abaixo do seu quadril. Perplexidade temerosa tomou seu rosto.
— Não o meu.
Ele estava bem engraçadinho fazendo replay do ano passado. Furiosa é pouco para descrever o estado em que fiquei quando o descobri numa boate e depois sua verdadeira “profissão”. Acabei caindo de uma corda de lençol idiota e fui drogada. Conheci Caitlin e no mesmo dia a casa dele. Lá dentro, ele me levou para sua sala de treinamento como uma forma de aplacar minha fúria.
Justin me estendeu as luvas. Olhei para elas por um momento. Então as ignorei e me posicionei de frente para o saco, iniciando uma sequência.
— Depois que conversarmos com Maya, precisamos investigar Annelise — anunciei.
Ele respirou fundo.
— Faith, você não reconhece aquela assinatura? Da mesma forma, eu não vejo motivo plausível para forjarem uma situação dessas. O máximo que podemos alegar é George saber que estamos atrás do nome e ter nos cedido tão facilmente por alguma razão particular.
Neguei, meus punhos já protestaram com certo incômodo pelo contato impactante com a superfície dura. Era o que eu precisava, servia para me deixar com os pés no chão, na terra. Eu não me deixaria convencer de que aquele absurdo era verdade.
— Acho válido pelo menos um confronto face a face para averiguar. Não perderemos nada com isso.
— Uma acusação injustificada não tem consequências? Difícil — o som oco dos meus punhos contra o saco quase cobriu minha voz cortante.
— Não precisamos acusar para descobrir. Me deixe conduzir a investigação. Prometo que será imperceptível.
— E enquanto isso o verdadeiro contratante fica impune?
— Só preciso de um dia, Faith. Menos do que isso.
Dei um soco com um pouco mais de força. O saco balançou como um pêndulo de relógio, quase me atingindo. Eu xinguei, chacoalhando a mão latejante.
— Você pode, por favor, usar as luvas? — Justin pediu com agonia.
Lancei um olhar crítico.
— Você usaria numa situação dessas?
Ele não pensou muito. A resposta foi se colocar atrás do saco e firmá-lo para mim. Trocamos um olhar antes que eu recomeçasse, mentalizando o rosto perfeitinho de Annelise como alvo.

Estávamos no shopping no horário marcado, mesma mesa, há pelo menos meia hora. O burburinho leve de conversas despreocupadas do centro comercial não me deixava tão nervosa quanto deveria. Por estarmos mais próximos de uma pizzaria, o aroma de pizza nos envolvia. Mas por incrível que pareça, não incentivava o meu apetite. Meu estômago fora trancado por uma chave de emoções contraditórias dos últimos acontecimentos.
— Ela não vai vir — concluí o óbvio, expirando.
Já havia lhe mandado duas mensagens ignoradas com sucesso. Eu mesma ignorei a enxurrada de mensagens vindas de outros cinco contatos. Hanna, Caitlin, Caleb, Ryan e até Rafael. Eles teriam que aguentar aquele drama por mais um pouco de tempo.
— Duas alternativas: as intenções dela realmente não eram boas ou George a pegou primeiro.
Deitei a cabeça na mesa branca da praça de alimentação, tinha cheiro de álcool em gel, o que devia clarear minhas ideias — não funcionou. Observei a aba do boné de Justin puxada praticamente até seu nariz, tornando um pouco desnecessário o uso do óculos preto de sol. E eu não dizia isso só porque odiava o fato de perder uma oportunidade de olhar seus olhos. Percebi que era a primeira vez que o via de boné, e cá entre nós, sim, estava atraente. Muito. 
— Fico feliz que tenha decidido não usar a touca no fim das contas.
Ele puxou a aba um pouco mais para baixo, sem saber o destaque esplendido que aquilo dava ao seu sorriso. Eu definitivamente amava que usasse boné.
— Se eu usasse em público chamaria atenção ao contrário de passar despercebido. A polícia me investigaria por terrorismo.
Concordei, dando uma risadinha.
— Você tem todo um equipamento de camuflagem no carro?
— O necessário para viver na sombra por meses.
Mordi a língua, prevenindo qualquer acusação ou comentário ressentido que eu pudesse fazer. Eu não queria ficar o tempo todo me vitimando, afundada em mágoa, quando poderia apenas desfrutar de sua presença. Não foi isso que pedi desde o início?
— Ryan me contou que você está fazendo aulas de Krav Maga com Caitlin. Se quer saber, está funcionando.
— Não sou só um rosto bonito — brinquei.
— Nunca pensei que fosse.
Meu queixo caiu dramaticamente.
— Obrigada por me dizer que sou feia.
Justin revirou os olhos.
— Faith, se você pudesse se ver com os meus olhos, nunca chegaria a pensar numa coisa dessas.
Ruborizei imediatamente, indecisa entre me esconder embaixo da mesa e lascar-lhe um beijo na boca. Como não podia fazer nenhum dos dois, de acordo com a decência social, desviei o assunto. De qualquer forma, eu não podia afirmar que ele estava sendo sincero.
— Acho que já está na hora de enfrentar Caleb — suspirei.
Justin fez um muxoxo.
— Você pode se dar alguns minutos de descanso. Foi um treinamento puxado. O que quer almoçar?
Seu maxilar travado denunciava que ainda fingia uma tranquilidade inexistente. Como eu, Justin era imediatista. O modo como seus olhos inquietos corriam pelo shopping confirmava a aflição para que encerrássemos o assunto de uma vez. Pensei em protelar o máximo no intuito de que diminuísse a raiva bem escondida em seu rosto e pensasse melhor. Mas eu tinha conhecimento de sua capacidade surpreendente de conservar intacto aquele sentimento, enraizando-o em sua cabeça. Justin me dissera que investigaríamos a fundo a história do contratante, entretanto, sua opinião já estava muito bem formada.
— Se você não me disser, eu mesmo escolherei.
Pisquei.
— Não estou com fome.
— Ok.
No próximo segundo sua cadeira se arrastava para trás quase sem produzir som algum, ele se colocava em pé, direcionando-se a algum lugar atrás de mim. Justin entrou na fila pequena do restaurante verde “Greenlicious” sob a constante vigia dos meus olhos atenciosos.
Não demorou muito para que fosse atendido por uma mulher morena com o chapéu temático verde obrigatório. Ela pareceu indiferente à sua presença, depois o olhou com mais atenção e perdeu o interesse novamente. Se a coitada soubesse o que havia por baixo daquele disfarce mal feito... Eu mesma fiz bom proveito. Praticamente o despi com meu olhar, mesmo que provavelmente ele estivesse ciente disso.
Mais rápido do que eu esperava, provavelmente porque perdi a noção do tempo encarando suas costas divinas, ele já estava voltando. Equilibrava uma bandeja nas mãos. Levantei a cabeça para lhe dar espaço quando começou a arrumação, aquela destreza seria útil se resolvesse ser garçom. Um copo e um prato branco com talheres foram baixados à minha frente, outro conjunto à sua; o prato enorme de uma salada variada — que se parecia muito com a 1605, uma receita famosa da Flórida incluindo queijo suíço e romano, presunto e etc — e a porção generosa de batata frita entre nós.
Arqueei a sobrancelha.
— Eu devia estar surpresa por você ignorar minha vontade outra vez?
— Almoço é uma refeição sagrada. Eu não queria comer sozinho. Você não precisa pegar muito se não quiser. — Argumentou, acrescentando logo em seguida — Mas caso precisar de um incentivo, pense nas pessoas que dariam tudo por um pouco disso — se empoleirou na cadeira.
Fechei a cara.
— Você mesmo já me disse que compaixão não é seu estilo, não jogue baixo.
— Descobri que coisas com “paixão” não são de todo um ruim.
Estreitei os olhos. Annelise não era mais seu tipo, só que não eliminava as outras mulheres de serem. Um pensamento novo poluiu meu raciocínio, me preocupando com a possibilidade dele estar apaixonado por uma terceira intrusa. Posso ter soado mais ranzinza do que queria quando respondi:
— Na verdade, não é tão bom assim. Spoiler: você sempre se ferra no final.
— Talvez. Mas vale a pena.
Cruzei os braços, verdadeiramente aborrecida com aquela inversão de papéis. Justin parecia ter transferido sua amargura para mim e eu o retribuíra com um estado de espírito relativamente leve. Não era justo.
— Estômago forrado te deixará mais relaxada — ele persuadiu — E assim é mais fácil de pensar.
Inicialmente, não cedi, mas conforme ele comia e eu ficava só olhando, decidi que não faria mal empurrar um pouco de alimentos saudáveis pela garganta. Peguei uma pequena quantidade da salada, consequentemente deixando uma expressão um pouco mais satisfeita em Justin.
— Você está de dieta?
Os olhos de Justin saltavam intrigados do meu prato para a porção de batata frita. Me dava fadiga só de pensar em uma resposta para isso. Fiz um breve sinal negativo com a cabeça.
— Então não vai querer um pouco de batata frita?
Outro sinal.
— Por que?
Parei de mastigar, lhe dando uma encarada saturada. Ele levantou as mãos na defensiva.
— Pelo que eu me lembre, batata frita era seu alimento preferido na vida. Esse tipo de amor não some. Então me perdoe se não entendi.
Muito irônico, seu otário.
Entre dar a explicação que eu tinha e abrir mão daquele princípio, escolhi o caminho mais simples. Com um suspiro, estendi a mão para pegar uma batata. Hesitei, fitando o legume amarelo em forma de palito tão inofensivo entre meus dedos. Ele parecia me desafiar, rindo da minha vulnerabilidade patética.
Tudo bem, Faith, é só uma batata, não precisa temer.
Captei Justin me encarando com curiosidade e julguei mais uma vez a batata abençoada. Se eu disser que estava suando frio vou parecer louca, então não direi.
Contei até três, tomei coragem e coloquei de uma vez na boca. Mal senti o gosto, engolindo rápido demais para triturar o alimento suficientemente. A batata desceu dançando poli dance por minha garganta, escorando-se nas paredes para não cair no meu estômago, deixando um rastro por onde passara.
Olhei desolada para o copo vazio que Justin colocara na minha frente. Aquilo era pra ser algum tipo de enigma?
— Já vão trazer o suco — ele disse, vendo minhas intenções.
Depois desse reencontro catastrófico, ousei colocar mais algumas em meu prato para parecer normal. Eu podia colocar no meio da alface e comer sem perceber, ou enrolar no guardanapo quando Justin não estivesse vendo.
Um dos atendentes chegou logo depois com uma jarra de suco laranja, servindo nossos copos. Eu praticamente tomei de uma vez e precisei me servir de novo. Isso não passou despercebido ao ser humano atento à minha frente.
— O que você vai dizer ao seu irmão?
Como se eu precisasse de mais um motivo para indigestão.
— Não sei. Aceito sugestões.
Ele tomou o suco, coçando o queixo depois.
— Eu diria que temos uma nova pista para investigar em Boston. Podemos voltar hoje mesmo.
— Caleb vai querer saber qual pista é.
— Não temos um meio termo. Você pode contar toda a verdade ou uma pequena mentira.
Batuquei os dedos na mesa, inquieta. Dado minha história com mentiras, era compreensível que aquela fosse uma das coisas que eu mais odiasse no mundo. Não existe mentira pequena.
Pensei e repensei o que diria a Caleb e delineei todas as reações que ele teria. Nenhuma delas me pareceu reconfortante. Em quase todas ele gritava e atirava coisas pelo quarto. Depois me trancava para me manter segura e pegava um avião com Justin de volta à Boston, onde eles resolveriam o problema em segundos. Ou assim pensariam.
Completamente absorta, só despertei ao ouvir Justin no telefone com Ryan. Meu tempo de pensar em alguma coisa estava acabando. Ryan deu o berro “No inferno!” quando Justin perguntou onde eles estavam. Eu poderia rir, mas estava preocupada demais pra isso.
— Eles estão almoçando no Union Bar & Grill. Ryan esperava que isso acalmasse Caitlin, já que ela gosta de lá. E bom, não deu muito certo.  
— Tudo bem, eu vou ao banheiro e voltamos imediatamente pra cabana — disse eu com firmeza, sem brecha para a discussão de se ele podia ou não voltar comigo.
Sabiamente, Justin se limitou a limpar a boca com um guardanapo e se afastar da mesa.
Fui escoltada até a porta do banheiro feminino, e se pudesse, tinha a impressão de que ele entraria junto. Não que eu fosse reclamar.
— Qualquer coisa, dê um grito — me avisou.
Com isso, ele podia contar. Longe de seus olhos, eu corri, procurando ser mais rápida que The Flash. Meus cinco amigos deveriam estar quase se matando, e eu ainda tinha a impressão de que Justin desapareceria a qualquer segundo. Motivos não me faltavam para a pressa.
Saí da repartição em tempo record, mas estagnei a caminho da pia.
Maya levantou a mão, apressada.
— Por favor, não grite. Você precisa me ouvir.
Meu primeiro reflexo foi varrer sua postura e suas mãos, procurando alguma ameaça iminente. Maya estava aparentemente desarmada, e visualmente destruída. Olheiras tomavam conta de seu rosto, e eu duvidava de que ela penteara o cabelo. O batom vermelho mal fazia alguma diferença em meio suas rugas permanentes de aflição. Ela estava mais louca do que da última vez, mas louca do tipo que vê fantasmas, não do tipo endemoninhado.
— Faith, você tem que me ajudar. Ele vai me matar. George vai me matar. Eu não posso morrer ainda. E antes fosse só morrer! Ele vai arrancar meus cabelos um a um — ela começou a andar de um lado para o outro, as mãos na cabeça — Você não conhece esse homem, Faith. Você tem que fazer alguma coisa!
Eu não disse nada, muito ocupada em acalmar o ritmo do meu coração. Ela olhou pra mim, endurecendo as feições.
— Você me colocou nessa! — me acusou — Você tem que me tirar! Ele já me declarou culpada, nem se eu encontrar as crianças posso me livrar dessa.
Dei um passo para trás quando ela tentou se aproximar. Suas mãos se reuniram numa prece.
— Faith, por favor. Por favor. Por favor — sua voz foi sumindo de pânico — Eu sei que Justin Bieber está te ajudando. Vocês dois podem me ajudar.
Elevei a cabeça, disfarçadamente gelando.
— Quem disse? Não sabe que ele faleceu?
Quis me desmentir imediatamente, meu corpo já rejeitava totalmente aquela informação, ameaçando me destruir de dentro para fora caso eu simplesmente a cogitasse.
— Eu sei que não. Por que acha que fugi ontem? Não posso enfrentá-lo. Mas eu não planejo entregá-lo para George — acrescentou rápido — Nem isso me absolveria. George não perdoa traidores. Me delataram, disseram que coloquei você lá dentro.
Eu podia ter certeza de que ainda não havia contado a ninguém? Justin estava em risco? Mais suspeito ainda era o fato de Annelise saber que George não tolerava traições, e simplesmente resolveu arriscar tudo por dinheiro. Ela podia estar tramando com ele para que colocassem as mãos em Justin.
— Eu faço o que vocês quiserem. Juro.
Além de confiar em Annelise, eu seria obrigada a confiar em Maya? Burrice seria pouco para o que eu me classificaria. Porém, com ela por perto, teríamos mais controle sobre a situação? Certo?
— Não posso voltar para casa, Annelise está montando guarda lá.
Meu grilo falante já tagarelava perto do ouvido. E se Maya estivesse mesmo em perigo? De fato, era minha culpa se sua cabeça estivesse mesmo a leilão. Claro, ela devia ter pensado primeiro antes de aceitar esse maldito emprego. Apostava alto que muitas pessoas já haviam sido manipuladas por ela e, com certeza, muitas outras morreram.
Só que o erro do outro não justifica o seu.
Fiz careta para minha consciência petulante.
— Por favor, Faith — suplicou outra vez, se contorcendo.
Um desespero desses não podia ser fingido, concluí. Ela podia ter contado a George sobre Justin, mas depois percebeu que isso não a salvaria.
Quis gritar, bater a cabeça dela no espelho e depois enfiar um caco de vidro na minha garganta.
Argh!
A voz de Justin apareceu primeiro que ele:
— Faith? Está tudo bem?
Maya e eu não tivemos tempo de ter uma reação, em um piscar de olhos Justin a tinha jogado na parede, o braço esmagava sua garganta e a outra mão agarrava seus pulsos.
— Justin! — gritei num impulso.
Minha resposta foi o arquejar de Maya por ar.
— Justin, não! Me ouça!
Maya passava de vermelho para roxo em questão de segundos. Minha barriga se contorceu.
— Justin!
Ele apenas virou a cabeça para mim, usando mais da sua força.
— Por favor, para! Eu posso explicar. Deixa-me explicar.
O que você está fazendo?
Ele se voltou para ela, mas não me deu ouvidos.
— Justin! — agonizei.
O tempo pareceu eterno, no entanto, ele se afastou, colocando-se na minha frente. Maya caiu no chão, engasgando enquanto tentava retomar o oxigênio que lhe faltara.
— Faith, me dê apenas uma razão para eu não terminar o que comecei — ordenou ele entredentes.
— Ela precisa de ajuda — falei sem pensar.
— Tenho certeza que precisa.
— Ela precisa da nossa ajuda — me corrigi — Não quer me fazer mal. Não mais — Você tem certeza, querida? — Não importa o que fizer, George não a deixará sair livre. Ela disse que vai nos ajudar no que for preciso — me vi buscando argumentos para fazer com que ele se acalmasse, e só assim percebi o que aquilo significava. Eu me sentia responsável pelo que se sucederia a ela. Preferi pensar que apenas a ideia de ter sangue alheio em minhas mãos me incomodava — Ela pode ter alguma utilidade para nós. Você sabe que para George ela já está morta. A vigiaremos de perto. É preferível ter mais um no nosso time do que contra nós, certo?
Aquela era a jogada mais arriscada da minha vida. Mas com o que Maya sabia, eu não permitiria que saísse da minha vista.
Eu não tinha a visão completa do rosto de Justin, o que via já era suficiente para saber o quão absurda ele estava me achando.
— Deixa eu ver se entendi, você quer confiar em Maya, que é da mesma laia de Annelise, embora não confie nesta última? — suas palavras eram uma armadilha.
Me dotei de uma certeza aparente, mesmo não me sentindo assim por dentro:
— Sim. Justin, por favor?
A vermelhidão de raiva que escalava seu pescoço se concentrou. Ele se agachou perto dela tirando os óculos, enroscou sua mão na gola da camiseta para puxá-la até estar na altura de seus olhos.
— Vamos tentar simplificar o problema. Sei que se te matasse a merda seria maior para nós dois, mas não pense que se você pisar na bola eu perderei a oportunidade. Se você respirar perto da Faith de novo, eu arranco seus dentes um a um. Fui claro?
Maya assentiu freneticamente de olhos esbugalhados.
— Ótimo — a soltou — Vamos, Faith.
Ele estava furioso comigo, não havia como negar. Furioso e decepcionado. Foi pior quando nos esprememos — os três — dentro daquele cubículo que seu porshe havia se tornado. Tomei a liberdade de ligar o rádio, um costume que havia perdido há tempos, disposta a ouvir qualquer coisa que não fosse aquele silêncio violento. Harry Styles anunciava o fim dos tempos, e talvez fosse mesmo.
Depois de um século chegamos à cabana, e eu percebi com certo desespero que toda a galera já estava lá dentro. Não foi só por causa do carro que Ryan estava, mas pelos gritos misturados que vinham lá de dentro. Quando eu entrasse com a surpresa, um tsunami derrubaria as portas.
— Justin, dê a volta com o carro, vá para trás da cabana, eu vou abrir a janela do quarto para que você entre — instruí.
O motor do carro continuou roncando, e ele não tirou as mãos do volante, entalhado em pedra. Senti o pânico me sondar.
— Por favor? Você pode fazer isso por mim? — inusitadamente, percebi minha mão gelada agarrar seu braço.
Ele olhou nosso pequeno contato, depois analisou meu rosto. Acabou suspirando e apertou o acelerador. Consegui respirar.
Quando o carro parou outra vez, estendi a mão para que me desse a chave.
— Tenho que provar que estava dirigindo — argumentei. Na verdade, aquela era uma desculpa para que ele não tivesse a chance de mudar de ideia. Como se não soubesse fazer ligação direta.
Nem com as chaves em mãos pude me tranquilizar então. Voltei-me totalmente para ele.
— Diz que vai me esperar aqui. Temos que resolver isso juntos — implora mais que está pouco.
Ele concordou rápido demais. E para piorar, eu não via seus olhos.
Titubeei antes de conseguir sair do carro, e após uma última olhada, mal esperei Maya para chegar à entrada.
— Você não vai dizer nada sobre o Justin a partir de agora, entendeu? — olhei advertidamente para ela.
Maya ainda parecia em choque pelo que ocorrera no banheiro, acuada. Assentiu como um cão abatido.
— Se você fizer eu me arrepender disso, Maya... — deixei a ameaça no ar.
— Eu não vou — ela me afirmou com a voz fraca, se abraçando.
Mas eu já me arrependia.
Antes que eu batesse na porta, o tumulto lá de dentro cessou, e de repente, Caitlin estava na minha frente no meio de um grunhido. Todos se acumulavam atrás dela, envolvidos numa calmaria estranha para me olhar. Não exclusivamente para mim.
Entendi o motivo da calmaria me parecer estranha. Significava que a tempestade estava para chegar.
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2...

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