Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

domingo, 16 de agosto de 2020

One Time 12

Caitlin estava me esperando na porta da faculdade quando saí na sexta feira. Ryan fizera o favor no dia anterior. Ao que parece, eles haviam sido designados como meus babás por um Justin paranoico. Depois da minha gafe na quarta feira, achava muito arriscado me deixar perambulando sozinha por aí, mesmo que tenha prometido a ele me comportar — em troca do simples favor de me contar o que andara confabulando nas minhas costas. 

— Não há muito a dizer. Ele me contou que investiga as Companhias há tempos, procurando uma brecha para entrar e destruí-las de dentro por fora. É um ambicioso — o modo como seus olhos sorriam me deram a certeza de que ele considerava o adjetivo algo positivo —. Ele acha que podemos voltar uma contra a outra e fazer com que se destruam, nos facilitando muito o trabalho. Opina que eu também possa ser útil nesse sentido, como criador de intrigas — arqueou a sobrancelha para mim, completamente presunçoso com o papel —, já aumentei a tensão me mudando para o campo inimigo, não precisaria de muito mais esforço para conseguir o restante.

Eu não gostei daquela conversa dele ser usado como isca, mas minhas preocupações lhe pareciam absurdas. O passo que estavam tomando no momento era uma investigação para descobrir se a família Bieber tomava meios efetivos de buscar seus filhos perdidos: Jazzy, Jax e Justin, para saber uma maneira primeiramente sutil de apimentar. A princípio de modo que tirasse o deles da reta. Seria uma estratégia muito bem estudada para não transformar tudo em uma banho de sangue envolvendo civis e derivados desnecessariamente. Eu disse que ajudaria a pensar, Justin franziu o cenho mas não discutiu. 

E então ele fora viajar a trabalho, e eu detestava fortemente suas viagens a trabalho porque era mais difícil obrigá-lo a me dar atenção. Na quinta feira mal recebi um oi, e naquele dia ainda não havia recebido mensagem nenhuma. Eu estava tentando muito lidar com aquele espaço que agora existia entre nós, mas às vezes ficava insuportável. Sabia que não poderia forçá-lo a ficar comigo, e tinha que reprimir o pânico de que não estivesse mais sendo suficientemente agradável para ele. Se estivesse sentindo falta, ele viria atrás, não é? 

De qualquer forma eu não conseguia tirar da cabeça a luta que me contara estar tendo consigo mesmo, e eu precisava estar ao lado dele para garantir que o lado certo vencesse. O lado familiar que só queria ser um namorado, irmão e filho comum, não a parte insensível que sentia prazer na dor alheia e era incapaz de criar laços. Eu estremecia só de pensar nisso, e me recusava a aceitar que ultimamente andara perdendo-o bastante para esse lado. 

O que ele estava fazendo naquele momento? Será que pensava em mim?

— E então, o que quer fazer? É sexta feira! — Cait anunciou contente — Estar de cárcere comigo é divertido, você sabe. 

— Hmm... Ryan está trabalhando no bar hoje? 

Ryan estudava durante o dia e trabalhava em um bar perto da sua casa em alguns dias da semana. Eu não entendia de onde ele arrumava dinheiro para manter o padrão elevado de vida fazendo aquele bico, mas Justin me contara que Ryan também fora prevenido e guardara dinheiro para emergências enquanto trabalhava para a Companhia Bieber. Eu não conseguia imaginar quanto eles recebiam por mês para ter tanta coisa guardada, mas não queria perguntar também. Ryan era um claro nômade, se adaptava a qualquer situação que fosse, e não se importava nem um pouco de trabalhar no bar, ele se divertia onde quer que estivesse. Ryan era a própria felicidade.

— Sim. Temos a noite toda. Conversei com Diane e ela estará no turno de cuidar dos pequenos hoje. Roger já avisou ao oficial Somers para ficar de olho na casa também. 

Somers era outro policial envolvido na parceria com Roger, aquele que havia me atendido na recepção da delegacia. Justin havia conversado com ele também e concluíra que era inofensivo, eu sabia que essa conversa envolvia uma vasta pesquisa. De qualquer forma ele devia estar se corroendo por ter de viajar quando os Cavanagh haviam me confrontado — por minha própria culpa. Então estávamos mais cautelosos com a segurança de Jazzy e Jax. Por isso, eu não me animei muito em sair. 

— Não sei não, Cait. Acho que é melhor ficarmos em casa. 

— E quem falou em sair? A casa de Patricia é grande o suficiente para nos divertirmos por lá. 

Assenti, ela estava certa. Justin dera à sua família uma mansão, o imóvel era tão bem equipado com lazer que poderíamos ficar ali para os programas de entretenimento mais variados. Cinema, piscina, jogos...

Contudo, pela sua natureza o programa não poderia ser tão pacífico, e acabamos no gramado próximo a piscina nos fundos da casa para "um treino leve e saudável", ela disse. Caitlin era faixa preta em tantas modalidades de luta que eu havia perdido as contas. Havíamos feito aulas de Krav maga juntas em Minneapolis. Depois que Justin voltou eu decidira me aproveitar das habilidades de professor particular dele, mas Caitlin continuara na empreitada e agora estudava o Método de Keysi.

Jazmyn e Jaxon nos seguiram imediatamente, empolgados com a atividade. Grande parte se devia ao fato de Justin recentemente tê-los inscrito em aulas de luta, Jax escolhera Kung Fu e Jazzy Karate. Eu não sabia se a vontade duraria por muito tempo, mas tinha certeza de que Justin os obrigaria a continuar. E se fizessem muita pirraça, ele mesmo os ensinaria. A arte de se defender era tão necessária quanto inglês e matemática, segundo ele. Nas nossas circunstâncias atuais eu não podia negar.

Repetidas vezes eu acabei estatelada de costas na grama para o divertimento dos meus pseudo filhos. Era um fato que Caitlin estava em vantagem por seus anos de experiência, mas aquilo não era capaz de aplacar minha frustração e raiva contidas. Eu precisava ser capaz de defender aquela familía, e se não era páreo para Caitlin, que dirá a assassinos muito bem treinados. 

Depois de se enfrentarem repetidas vezes — recebendo vários apelos meus e de Cait para que tomassem cuidado —, Jazzy e Jax se entediaram, minha derrota estava óbvia e cansativa. A noite se arrastava, e com teimosia eu insistiria até mudar o placar. Então, não sei dizer se por pura pena ou tédio Caitlin me deixara imobilizá-la com o braço enganchado em seu pescoço. As crianças comemoraram minha vitória de dentro da cama elástica. 

— Parabéns, Faith! — Cait elogiou depois que eu lhe soltei, alcançando sua garrafa de água deixada ali no chão. 

Imitei-a com uma carranca, a vitória não era tão saborosa depois de tantas derrotas. Eu não teria 30 chances — 30 vidas — para gastar antes de vencer uma na vida real. Na primeira seria aniquilada. 

— Sim, parabéns se eu não quiser uma expectativa de vida alta — grunhi e acalmei a ardência na garganta com a água gelada. Não estava gelada antes, mas o inverno estava praticamente ali, a qualquer momento começaria a nevar. Apesar disso, eu estava com calor em meu moletom depois de toda a atividade. 

Cait riu, indiferente ao meu mau humor. 

— Se quiser, eu passo aqui mais vezes para te treinar. Não tem praticado muito com o Justin?

Suspirei depois de engolir mais um bocado do líquido revigorador. 

— A pergunta certa é se ao menos eu tenho estado com ele — meu ciclo menstrual estava próximo, o que me deixava propensa a tristeza, carência e raiva exacerbada. O fato só piorava o abandono afetivo. 

Caitlin franziu a testa para mim. 

— O que está acontecendo?

Eu ainda não havia me queixado diretamente com Caitlin sobre as ausências dele. Parecia bobo, mas tinha medo de que as palavras tornassem a realidade mais concreta. Procurei a melhor forma de dizer, revirando meu cérebro. 

— Hmm... — olhei a garrafinha em minha mão, retorcendo-a — Você acha que ele... — Suspirei, jogando a toalha — Você acha possível que ele goste de mim por muito mais tempo? 

Cait engasgou. 

— O quê? — Grasnou. 

— Às vezes tenho a impressão de que ele está se cansando de mim e a qualquer momento será o fim — dizer aquilo em voz alta foi instantaneamente libertador, até passar a insuportavelmente doloroso. Só de pensar em ser rejeitada por ele... eu não conseguia respirar. 

— Faith... — Cait estreitou os olhos para mim — por que acha isso?

Respirei fundo de novo e comecei a dar voltas pequenas na frente dela, os olhos em meus pés para que não visse meu desespero. 

— Você sabe que ele não tem estado muito aqui. E tudo bem, é pelo trabalho — adiantei antes que me interrompesse —, mas nem ao menos responde minhas mensagens às vezes. Antes não era assim, e ele também estava trabalhando, então acho que... — minha voz tremeu — eu estou lutando muito por ele. Em alguns momentos consigo resgatar sua atenção e carinho, mas não sei até quando isso vai ser suficiente ou se estou sendo apenas impertinente. — Dei de ombros, um gesto inadequado para como me sentia. 

Cait não me disse nada por um tempo, quatro voltas para ser exata,  só consegui uma reação quando coloquei meus olhos nela. Seu rosto expressava descrença. 

— Faith... ele te adora — destacou a palavra — Deveria ver a forma como ele te olha e se move perto de você, como se você fosse o centro do universo. Acho que ultimamente ele só está muito preocupado. 

Eu não podia lhe contar sobre o surto que ele tivera da última vez sobre quem ele era, um assunto muito pessoal. Contudo, entendia que, se nem ao menos tinha noção de quem queria ser, como podia ter certeza de com quem queria estar? 

— Você já tentou conversar com ele sobre isso? — Perguntou quando fiquei quieta. 

Assenti, desanimada. 

— Algumas vezes, mas sempre voltamos a isso. 

Ela mediu minha careta tristonha por um momento e concluiu:

— Você pode ir para a minha casa se quiser, se achar que se sentirá melhor tomando um tempo para você. Moraremos juntas, como antes — imprimiu certo tom animado na voz — Claro que agora também tem o Ryan, mas ele é um ótimo companheiro de casa. 

Dei um sorrisinho. 

— Obrigada, Cait — respondi de coração, era bom saber que eu não estaria desamparada — Mas me conta, ainda está gostando mesmo da experiência de juntar as trouxas com Ryan? Deve ser uma piada nova a cada segundo.

Cait riu, sentando-se ali mesmo no chão. Fiz o mesmo sem muita cerimônia. A grama estava gelada e resfriou meu corpo através do tecido. 

— Ah, claro. Continua o máximo. Com Ryan não há um só dia de tédio, e ninguém aguenta meu humor terrível como ele. Sou muito grata ao Justin por ter nos apresentado. Sabe, a convivência com ele me tirou meu irmão, mas ao menos me trouxe o amor da minha vida e vocês — esboçou um meio sorriso — Claro que nada substituirá a presença dele na minha vida... Mas, você me entendeu. 

Assenti com um sorriso solidário. Justin nunca se perdoaria pela perda de Christian, o amigo para quem ele levara a profissão bem remunerada. Quando não aguentara mais o ofício, Christian tentara sair, mesmo sabendo que não era permitido, e acabou sendo assassinado pelos colegas. Eu nunca perguntara como fora sua tentativa, mas duvidava de que fosse algo como explodir uma das sedes, fugir com dois herdeiros e se vender para os inimigos. Estremeci, evitando de pensar no ódio que eles deviam nutrir por Justin. 

Em vez disso, pensei em como devia ser Christian. Igual a Caitlin? Eu duvidava, ela era uma peça muito rara para ser duplicada. Mas, eu gostaria de tê-lo conhecido, o imaginava tão peculiar quanto ela. É terrível pensar que as pessoas simplesmente deixam de existir, e então não há mais nenhuma possibilidade de dizer uma última palavra, dar um último abraço, deixar o último encontro ao menos memorável. Tudo ocorre sem previsão, na maioria das vezes, onde, como, quando e quem? Naquele exato segundo o parente de alguém, amante, filho, neto, estava morrendo, e só podíamos esperar que não fosse nenhum dos nossos. 

Estremeci com os pensamentos e imediatamente pensei em Wren de novo, nosso contato era o mais mal resolvido que eu tinha, e eu não sabia quanto tempo detinha para consertar aquilo. Levantei-me num salto, pegando meu celular. 

— Você pode dar uma olhadinha nos meninos? Preciso fazer uma ligação — pedi a Cait, já procurando o número. Diane estava escalada para o turno, mas como eles nos seguiram, não fizemos objeção ao "trabalho", não era como se fossem recém nascidos.

Ela concordou, contendo a curiosidade que eu via em seus olhos.

Lhe dei as costas, andando em direção à casa e disquei, sem pensar muito para não me acovardar. Enquanto chamava, resisti ao impulso nada corajoso de desligar, cada toque era necessária uma nova leva de coragem. 

— Alô? — Ele atendeu. 

Percebi que eu tremia, mais nervosa do que no dia anterior pelo contato mais direto. 

— Oi Wren.... Sou eu, Faith. 

Dois segundos de puro silêncio. 

— Ah, oi Faith, tudo bem? — Ele me cumprimentou, a voz contida cautelosa. 

— Bem graças a Deus, e você? Que saudade!

Mordi o lábio, andando de um lado para o outro no corredor da casa. Essa era a pergunta que importava, e eu sabia que a chance de que respondesse com sinceridade era mínima.

— Tudo bem também. Quanto tempo, hein? — Imparcial de novo. 

Suspirei, eu não aguentava esperar mais. 

— Sim. Wren, eu.... lamento muito — minha voz soou distorcida e percebi minha garganta se apertar. 

De alguma forma me sentia completamente responsável pelo falecimento dos seus pais. Eles que haviam encomendado minha morte, mas eu não conseguia expulsar o sentimento inexplicável. Até minha ausência com o filho que nada sabia poderia ser explicada pelo trauma. Contudo, para mim não era assim. E eu levei todo aquele tempo para fazer alguma coisa sobre. 

— Faith... — Murmurou contrariado. 

— É sério, eu lamento que não tenha conversado com você antes sobre isso, te dado atenção, não sei, eu te abandonei completamente e isso é imperdoável, mas mesmo assim eu quero que me perdoe. Eu lamento pelos seus pais e como tudo acabou... — Pigarreei para tentar expulsar a obstrução na goela, mas depois eu não tinha mais palavras, e já não via um palmo a minha frente, os olhos marejados.

Estava me sentindo a pior pessoa naquele momento, e me abracei para tentar expulsar a sensação. 

— Faith, eu te compreendo completamente. Não há motivos para pedir desculpas. Quer dizer... Meus pais fizeram algo terrível, pra mim você nunca mais quereria ouvir meu nome pro resto da vida. Eu quem devo te pedir desculpas, e o faço com meu coração inteiro.  — Respondeu numa voz branda, o sentimento trasbordava em cada palavra, doloroso de se ouvir.  

E eu estava chorando. Eu cresci junto com Wren, vivi em sua casa e ele na minha, sua família fora quase uma extensão da minha, perder aquele laço havia quebrado algo dentro de mim, e quando eu não ignorava, percebia a extensão dos danos. 

— Claro que não. A culpa não é sua, Wren. De verdade, como você está? Sinto tanto a sua falta — choraminguei, limpando meu rosto. Algo havia se aberto dentro do meu peito com o alívio por finalmente estar falando com ele e eu só queria ser capaz de lhe dar um abraço. 

Ele deu uma risadinha sufocada. 

— Também sinto sua falta, Faith. Agora as coisas estão melhores. Me reestabeleci, estou com um emprego, voltei à faculdade, mudei de bairro... E recentemente comecei a sair com uma pessoa. Acho que você gostaria dela. É uma publicitária, chama-se Charlie. E você, o que anda fazendo? Está em Toronto, não é? Vi uma notícia sobre isso.

Revirei os olhos para a palavra notícia, uma reação involuntária. Funguei, sorrindo pela vida dele estar entrando nos trilhos. Wren merecia o máximo de felicidade que pudesse conseguir. 

— Fico feliz, Wren, me preocupei muito com você durante todo esse tempo — disse aliviada, o que ele reagiu com um murmúrio de gratidão — Quanto a mim, realmente estou em Toronto. Estudando medicina em período integral, ajudando no restaurante da mãe do Justin às vezes e cuidando dos irmãos dele também. 

— Ah, que bom, Faith. Fico surpreso que seus pais tenham te deixado ir para aí. Você está morando com ele? O Justin? — Perguntou com certa reserva. Provavelmente porque da última vez que nos vimos Justin queria matá-lo, literalmente falando.

— Hmm, não exatamente. Estou morando na casa da mãe dele para ajudar com as crianças, ele está morando em outra casa. Às vezes vou lá ficar com ele.

— Entendo... Bem, você está feliz aí? Está feliz com ele? 

— Estou sim, não consigo me imaginar sem ele — suspirei com a verdade daquela informação à luz da conversa que tivera com Caitlin poucos minutos atrás. 

— Fico feliz, Faith — imitou-me, mas eu podia ouvir pela voz dele que alguma coisa ainda o incomodava, então esperei — E você está... sabe como é, segura? Ele cuida de você? 

Wren havia juntado os fatos, claramente sabia que Justin era um assassino. Resolvi responder só a segunda pergunta. 

— Sim, ele cuida, é muito decente Wren, creio que também gostaria dele. Ele me respeita muito. Até a questão de... você sabe, meus princípios... — senti minhas bochechas arderem, não era confortável falar daquelas coisas. 

— Ah! Ele aceitou seguir a castidade com você? — Pareceu surpreso. 

— Sim, muitas vezes quem impede é ele, porque sabe o quanto isso me incomodaria no dia seguinte. É um dos mandamentos, sabe como eu sou religiosa. 

Uma das minhas preocupações antes era arrumar um namorado que não conseguisse lidar com aquilo. Aliás, na sociedade atual e, principalmente com o sexo masculino tão fixado em relações sexuais, é difícil achar pessoas que deem valor nesse tipo de coisa. Com seu histórico, ainda era uma surpresa pra mim que Justin resolvesse esperar. Esperar até o casamento, completei. Isso pressupondo que chegássemos até lá.

Se fosse por mim, chegaríamos sim. 

 Fico feliz, Faith, você não merece nada menos do que isso. — Deleitou-se, repetindo — E está segura? — Insistiu. 

Titubeei, sem saber se deveria e queria contar aquilo a ele. Mas eu estava tão exultante em retornar o contato com meu melhor amigo que o impulso era lhe contar todos os pormenores da minha vida. Joguei-me no sofá e desfiei toda a história, desde o começo para que fizesse sentido. Contei como eu havia conhecido Justin, o que acontecera para que ele se fingisse de morto, tomando especial cuidado para não mencionar diretamente seus pais, e quando tive de fazê-lo fui breve. Também relatei o que fora fazer em Minneapolis, como descobri que seus irmãos estiveram o tempo todo no orfanato que eu visitava, e editei a história para atualizações do que aconteceu depois do incidente em minha casa, quando confrontamos os contratantes, ele já sabia essa parte. 

Disse como nos mudamos para o Canadá compelidos e que Justin se vendera para outra Companhia. De repente inspirada, decidi não contar que estávamos tentando fugir dos Cavanagh, com medo de que meu telefone estivesse grampeado. Contei que eles nos protegiam dos Biebers em troca dos serviços remunerados de Justin, não esqueci de acrescentar a parte de que ele só aceitava vítimas moralmente puníveis e tive que morder a língua para não dizer que mesmo isso não estava lhe bastando. Wren contribuía no assunto com leves murmúrios de incentivo e mais nada. Imaginei que nos julgava, logo eu que dava tanto valor a vida acabar com um assassino? Eu queria poder lhe explicar que Justin era muito mais do que isso e que só não saía do ofício porque não conseguia, mas estava tentando. 

Eu achava.

— Você poderia nos fazer uma visita, seria muito bem vindo. — Terminei com o convite, e de imediato pensei que qualquer pessoa com perfeito juízo não desejaria chegar perto da minha bagunça — Quinta feira vamos fazer um jantar de ação de graças, você poderia vir, meus pais virão com Caleb e Hanna, adoraríamos te ter aqui. 

Com toda aquela tensão eu não me sentiria muito confortável em tê-los aqui, perto dos meus problemas, mas não podia negar que sentia saudades, e eles viriam de qualquer forma, já que não ousávamos pisar os pés nos Estados Unidos. Os eventos festivos anuais estavam previamente marcados em nossa agenda. 

— Ah, claro, posso pensar. — Ele foi evasivo. 

— Pode trazer Charlie se quiser. 

Mordi minha língua de punição depois de dizer, eu não me contentava em colocar minha família em perigo?! 

— Obrigado, Faith, vou conversar com ela e te aviso. Bem, agora tenho que ir. Muito obrigado por ligar, é realmente bom falar com você. Senti sua falta como ninguém, Faith. Você sempre vai estar no meu coração. 

E novamente meu coração derreteu. 

— Você não faz ideia de como é bom ouvir sua voz e finalmente conversar contigo. Por favor, me ligue quando precisar e quiser conversar. Tenha uma boa noite, Wren. 

— Durma bem, Faith. 

Quando ele desligou eu ainda podia sentir o sorriso em meu rosto, estava tão feliz que poderia sair pulando nos sofás. Aquele peso que eu carregara durante tantos meses finalmente saíra dos meus ombros, Wren estava bem e não me odiava. Eu com certeza dormiria melhor por isso. 

— Faith? — Não percebi a aproximação de Diane em meio aos meus devaneios, ao olhar minha expressão ela sorriu imediatamente — O que houve? Está com uma cara ótima.

— Ahh, só estava falando com um velho amigo. Posso te ajudar, Anne? 

Ela alargou o sorriso, feliz por mim, e me estendeu um envelope creme, percebi que haviam outros em sua mão também, devia estar vindo da caixinha de correio.

— Esse é pra você — anunciou.

Agradeci antes de investigar o conteúdo. O envelope de algum modo parecia muito sofisticado, confeccionado em material nobre, não havia remetente, e no lugar do destinatário uma letra elegante escrevera em tinta dourada apenas meu nome "Faith Angel Evans". Um selo de cera vermelha fechava o envelope. Eu prendi a respiração ao reconhecer o símbolo na cera, a letra "'C" desenhada de forma que suas pontas pareciam facas, uma espada parecia lhe cortar de cima a baixo. 

Engoli em seco, tremendo só de pensar que aquela era uma carta possivelmente enviada direto da Companhia Cavanagh para mim.

O que poderiam querer comigo?