Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

One Love 29

Charles surgiu sob a luz artificial do fundo de casa que auxiliava o brilho emanado pelas estrelas e através da lua.
— Aí está você — me saudou.
Na hora mais inoportuna Clarissa não podia segurar seu homem? Abri um sorriso apressado enquanto juntava a mão atrás das costas entre ele e a piscina. Desviei o olhar para as estrelas, esperando que entendesse minha inexistente receptividade e fosse embora.
— Uma dança e tanto com o Capitão América, hein?
Não, Charles, bater papo agora não. Assenti, superficialmente cordial.
— Eu não deveria estar impressionado por vocês conseguirem esse feito. Não é lenda a capacidade de um Evans, nos dois sentidos da coisa.
A estratégia do voto de silêncio não estava funcionando. Apelei para outra:
— Aposto que Clarissa também adorou, sei que ela gosta dele — destaquei o nome de sua namorada e apontei para uma crise de ciúmes que o levaria daqui.
— De fato, o está adulando agora mesmo. Só por isso sou um elfo livre — brincou. Ele não se importava? Ah, desgraça — Vejo que também queria um pouco de ar livre. Veio para cá sozinha mesmo? Pensei ter ouvido alguma coisa — esticou-se para olhar atrás de mim. Imediatamente dei um passo para o lado.
— Sim. Às vezes preciso de um tempo sozinha — mais claro do que isso só água. Se toca, homem!
Notei certa desregulação em minha respiração. Meu organismo se atrelava de tal forma à Justin que funcionava como se eu estivesse embaixo d’água.
— Compreendo — fez-se silêncio, pensei alegremente que ele iria embora — Faith, eu nunca tive oportunidade de te dizer... o quanto eu sinto muito por tudo o que te aconteceu. No seu lugar eu também me afastaria da cidade.
Troquei de peso nos pés.
— Obrigada, Charles.
— Acho que até já sinto falta do soco dele.
Se eu não estivesse tão preocupada estaria rindo de verdade. Reprimi a vontade de dizer que se ele não saísse de uma vez eu mesma podia lhe dar uma amostra grátis.
— Enfim, acho que agora posso te dar um abraço digno de feliz aniversário — estendeu os braços. Pai do Céu — Espero que não tenha ficado chateada com Clarissa, ela é meio...
Lhe dei tapinhas nas costas e já me afastei.
— Entendo. Conheço Clarissa — dotei minha fala de destreza e a enfeitei com um ponto final marcante.
Ele ficou indeciso entre esboçar um sorriso ou não forçar expressão alguma. Deu meia volta e eu calculei quantos passos seriam necessários para Justin poder sair — nove longas passadas dos pés médios de Charles —, mas, repentinamente, virou-se para mim outra vez. Quase soltei um grito de desespero.
— Eu te fiz alguma coisa, Faith? Está chateada comigo?
Mal esperei que terminasse de falar, afogando em agonia.
— Não, Charles — me abracei, fincando as unhas na minha pele sob o tule — Só preciso ficar um pouco sozinha mesmo — nem mesmo eu entendi o que acabara de dizer, atropelando as palavras.
Talvez tenha sido um pouco grossa, ideia que tirei da sua fisionomia ligeiramente perplexa. Charles pareceu prestes a se desculpar, mas se limitou a abrir um sorriso sem graça.
— Claro — e fez o caminho na metade dos passos que contei, ansioso para se ver livre daquela situação desconfortável.
A porta mal tinha fechado e corri para perto da piscina.
— Justin? — sussurrei alarmada. Eu não conseguia segurar a respiração nem por trinta segundos. Quantos minutos já haviam se passado? Cinco? Um ser humano podia ficar sem respirar por cinco minutos? Qual era o record? Um? — Justin! — Chamei de novo, varrendo a piscina com olhos. Não vi nada que me acalmasse, nem mesmo bolhas interrompiam o líquido sufocante.
Sem precisar pensar duas vezes, embora não pudesse ser considerada nadadora profissional, muito menos salva vidas, me joguei na piscina, errando tão feio no mergulho que caí de barriga, espalhando uma ardência chata por minha pele. Consertando meu erro, afundei a cabeça e abri os olhos embaixo d’água para enxergar, ignorando o fato de que me deixava terrivelmente incomodada. Pisquei para reajustar minha visão, e, de repente, eu estava de volta a superfície, a água batendo no meu peito. 
— O que está fazendo? — Justin disse entrecortado antes que eu o visse bem na minha frente. Soltou meu braço, contendo um sorriso molhado cômico.  
Eu respirei, sem saber se minha falta de ar se devia ao susto de imaginá-lo se afogando e poder recorrer exclusivamente à Caitlin por ajuda ou por ter esquecido de tomar fôlego antes de mergulhar.
— Eu ia... salvar você — balbuciei. Ele apertou os lábios para não rir, despertando minha fúria outra vez como se funcionasse por um disjuntor em suas mãos. Passei as mãos no meu rosto para expulsar a água, num impulso só as levei ao meu cabelo, passando-o inteiramente para trás — Mas parece que você é capaz o suficiente de brincar com o ar como o faz com as pessoas — usei os braços como remos para me levar a beirada da piscina a fim de sair e decidir como proceder em seguida. Seria genial entrar pingando em casa no meio da festa sem explicações lógicas para dar. Entretanto, mal encostei no chão e Justin me virou de volta para ele. O humor cedera espaço para a seriedade em seu rosto.
— Não estou gostando muito das suas acusações de hoje.
Tentei não me intimidar com sua proximidade e olhar penetrante. E daí que eu via perfeitamente a água escorrer da ponta do seu nariz e cair diretamente nos lábios franzidos como se ele fosse um maldito modelo posando de terno dentro da piscina?
— Se fosse para te agradar eu não as faria — rebati entredentes.
Ele assentiu, simulando que finalmente entendera alguma coisa.
— Pode me dizer de uma vez o que a está perturbando?
— Você diz o fato de passar por cima de mim outra vez?
— Não é só isso. Tem alguma coisa subentendida.
— Se você não fez aulas de interpretação a culpa não é minha.
Planejei fazer minha saída triunfal dramática. A realidade foi que ele terminou de me encurralar, estendendo os dois braços ao lado do meu corpo para se segurar na beirada. Precisei encostar na parede para ficar longe da zona de risco de pensamentos desalinhados. Justin só queria me confundir e eu não admitiria isso. Levantei o queixo, esperando parecer uma rainha das águas ao contrário de gato molhado que eu me sentia.
— Estamos chegando lá. Admita.
— Admitir o quê?
— Que você tem alguma mágoa aí dentro pulsando para vir à tona. Algo que ainda não me disse.
Eu já tinha ouvido que guardar mágoas podia causar até mesmo doenças crônicas. Porém, parte de mim preferia pagar pra ver a jogar aquela verdade na roda. O fato de saber da existência dela demonstrava que eu me importava. E a última coisa que eu queria era me colocar em mais desvantagem do que já estava.
— Admita — insistiu.
Endureci a mandíbula.
— Nós não sairemos daqui até que me diga.
Revirei os olhos.
— Quem vai me impedir? Você?
Ele se inclinou sobre mim, ficando na mesma altura do meu rosto. Dificultava todo o meu processo para regularizar a respiração, não havia ao menos como disfarçar que sua presença não me afetava mais do que o normal.
— Olha nos meus olhos, Faith, e diga que não tem nada a me falar.
Determinada, fitei sua íris cor de mel tão líquida quanto a água límpida que nos cercava. Pensei realmente que pudesse bater de frente com a sua persuasão e sair ilesa. Acabei caindo na sua provocação barata, interpretando como se me julgasse covarde a ponto de não conseguir acusá-lo. Então reverti meu orgulho para outro ponto. Afiei minhas palavras:
— Só acho cômico que tenha esquecido dos sentimentos — fiz aspas com as mãos — que tinha por mim com tanta facilidade. Podemos ir agora? — terminei com naturalidade, declarando o fato como verdade absoluta incontestável. Assim não parecia tanto uma humilhação. Não havia nada que pudéssemos fazer sobre.
Engano meu outra vez. Minha afirmação foi levada como um insulto, um dos grandes, capaz de distorcer toda sua fisionomia com repulsa. Acho que ofender sua mãe não resultaria numa expressão tão violenta quanto aquela.
— Você está se ouvindo? — pronunciou cada palavra feito um xingamento que acabara de inventar.
Recuei instintivamente, só para me lembrar depois de que eu não deveria me sentir constrangida por expor a realidade. 
— Você realmente acha isso, Evans? — Fiquei em dúvida se ele queria que eu respondesse à pergunta. De qualquer forma, não planejava responder, o achava bem inteligente para diferenciar sozinho uma suposição de afirmação. E de fato era, a conclusão o deixava quase insano de raiva, vi em seus olhos o filtro da decência ser descartado pela necessidade de rasgar seu peito — Não faz a menor ideia do inferno que foram esses dias. Ficar longe de você é insuportável, então imagine como é te ver e não poder fazer qualquer tipo de interação? Pior, te ver sofrendo e ser impedido de te consolar, com a consciência de que a situação deve ser perene. Cômico é pensar que eu me condenei a essa sentença, achei que estivesse pagando finalmente por todos os meus pecados. Você me fez ser altruísta pela primeira vez na vida, e quanto mais doía mais parecia certo, porque pra te ver viva eu aceitaria qualquer condição imposta — deu um sorriso amargo — E eu sei que meu nome é sinônimo de morte. Pode me chamar de manipulador, insensível, traidor, ignorante, discordar das minhas ações, que seja, mas nunca ao menos pense que seu valor pra mim é menor do que minha própria vida. A verdade é que não consigo dar um passo mais sem estar pensando em você. Acha que se existisse alguma fórmula de te esquecer eu já não teria descoberto? Temo admitir que ainda que existisse, eu não a quereria.
Ouvi cada palavra sua ecoar, as assisti se transformarem em uma bolha e me envolverem num só ato. Parecia mais um furacão, me girando sem direção certa, me desnorteando e finalizando em um lugar qualquer dentro de mim. Abandonei-me, sem a menor ideia de para onde ir depois.
Ele fechou os olhos, balançando ligeiramente a cabeça, preso no tormento interno que me desenhara, visualizando os estragos que hipoteticamente havia feito na casa que existia dentro de si, infeliz.
— Eu não sei nem porque estou te dizendo isso. É assim que você me deixa — voltou a dizer com a voz rouca, abrindo os olhos — Vulnerável, embaixo dos seus pés para que pise em mim se precisar — pigarreou — Sei que as coisas podem ser diferentes agora, que você não... não pensa em mim como antes e eu provavelmente não deveria dizer que...olhar pra você é minha forma particular de volúpia e tormento — lentamente para que eu tivesse conhecimento de suas intenções, levou a ponta de seus dedos para minha mandíbula, traçando um caminho até a base do meu pescoço, acompanhando o movimento com o olhar. Um arrepio frio desceu até a ponta dos meus pés — Te desejo tanto que arde, e parece que você me provoca sem saber. Está sendo quase impossível falar com você sem te beijar agora — observei seus olhos descerem por meu corpo vagarosamente.
Fiquei estática, uma linha firme se formando em meus lábios, conscientemente esperando uma explicação de tudo o que ele dissera. Tinha certeza de que o ouvira afirmar a Rafael que não tinha interesse algum em mim. Por outro lado, para os meus hormônios a questão já era bem mais simples.
— Eu te vi algumas vezes com alguns caras estúpidos nas baladas te tocando — assumiu outra vez a fachada enfurecida. Não consegui impedir o rubor injustificável que tomou conta do meu rosto — Nenhum deles sabia o que estava fazendo. E quis insaciavelmente te provar que posso fazer melhor do que eles.
Antes que eu pudesse perceber que me manifestaria, meus lábios já se moviam:
— E você faz — sussurrei. Burra, o que está fazendo? Só pode ser um jogo dele.
A perplexidade devolveu sua atenção ao meu rosto. Se ele não percebia que ainda me tinha nas mãos, eu estava fazendo mesmo um bom trabalho em acobertar minhas emoções ultimamente.
Desconfiado, continuou:
— Mas Rafael me supera — não soube identificar se aquela era uma pergunta ou afirmação, mas respondi:
— Eu não saberia te dizer, não tivemos esse tipo de intimidade. Somos amigos. — Você não precisa se explicar para ele, Faith Evans! 
Parecendo pensar sobre o assunto, mordeu a boca. Entramos em um impasse, próximos demais para ser aceitável, olhos nos olhos, trocando o calor emanado por nosso corpo — o meu exponencialmente alto —. Embaixo do céu, o mundo acabou, simplesmente deixou de existir, restando no vácuo criado apenas eu e aquele projeto de homem. Burra, só pode ser um jogo. 
— Prometi a mim mesmo que não faria isso — resmungou baixo, perturbado, vincando a testa — Mas você mesma disse que sou péssimo em cumprir promessas.
Estarei mentindo se disser que tentei entender sobre o que falava, eu estava muito preocupada em mensurar quanto tempo levaria para lhe roubar um beijo. Meu organismo secara e implorava que sua boca saciasse aquela sede ilógica.
Burra, só pode ser um...
O ar entalou na minha garganta quando ele se aproximou precisamente, olhando para minha boca. Por estar prestando atenção em tudo o que lhe envolvia, pude perceber assim que sua respiração perdeu o compasso.
— Faith... — o teor de seu tom deixava claro que ele planejava dizer alguma coisa, porém, perdeu-se por um instante.
Burra, só pode ser...
Feito um imã, provocávamos um campo magnético a nossa volta, eu representava o polo sul atraído pelo polo norte que ele materializava. Nossos dipolos não podiam ser separados, foi essa percepção que tive quando entreabriu a boca a um centímetro do meu rosto, tão resistente quanto eu. Ambos recebíamos comandos de rejeição para não insistir em um erro declarado, só que aquilo era maior do que nós dois.
Burra, só pode...
Não percebi quando fechei os olhos, sentindo seus lábios roçarem os meus vagarosamente, experimentando um sabor perdido há tempos. As substâncias derivadas dele tiveram efeito imediato, reverberando em cada parte do meu sistema, despertando o vício até então contido. Pensei que meu coração explodiria devido a palpitação desesperada, e a única coisa que desejei foi morrer ali mesmo em seus braços, sem nenhum espaço que pudesse se colocar entre nós. Assim posto, espalmei suas costas com uma das mãos, trazendo seu peito para descansar no meu, juntando finalmente as duas metades. Firmei os dedos da mão direita em sua nuca, implicitamente implorando que não se afastasse tão rápido.
Burra, só...
Entendendo a deixa, Justin ganhou mais confiança, contornando as formas da minha cintura embaixo d’água para entrelaçar os braços nas minhas costas. De selinhos ininterruptos, aprofundou aquele reencontro com a língua delicadamente abrindo espaço para entrar em contato com a minha, refutando minha tese de que meu coração não poderia acelerar mais. Perdi a consistência dos ossos, me mantendo em pé exclusivamente por estar prensada contra ele.
Burra...
Sonhei com aquele beijo mais vezes do que posso contar nos últimos meses, e previsivelmente, Justin superava minhas expectativas, me levando ao ápice da insanidade. Embora tenha me esforçado tanto para guardá-la fresca em minhas memórias, a doçura de sua boca detinha fascinação imensurável.
...
Ele não se afastou para respirar, preferindo expelir lufadas de ar quente em minha bochecha, ponta da orelha e, enfim, meu pescoço, deixando formigamento por onde passara. A ponta de seu nariz pintou a trilha da perdição por ali.
— Sou obcecado pelo seu cheiro — sussurrou com ardor contra minha pele, descendo até onde o tule impedia. Eu podia me visualizar rasgando o material para lhe dar total liberdade sobre mim. Para conter o impulso, fechei as mãos em punho bem onde estavam.
Ainda presa no transe só o ouvi resmungar:
— Droga, de novo?
Se eu estivesse em meu perfeito juízo talvez tivesse relacionado os pontos um pouco mais rápido, mas a vergonhosa verdade foi que tive outras ideias indecentes quando ele afundou na água outra vez. Precisei de segundos inteiros para perceber que a maldita porta se abrira. Engolindo meu desespero, vi Bryan se aproximando um pouco confuso ao me ver.
— Hm, Faith, o que está fazendo aí? — sua perplexidade era tanta que não cedera espaço para a repreensão.
Apoiei os cotovelos na beirada da piscina, forçando uma postura relaxada. Importunamente, no meio da construção da expressão as mãos de Justin seguraram minhas pernas. Ele claramente estava me usando como apoio para manter-se submerso, mas eu não conseguia explicar isso para minhas glândulas empolgadas. Tive que manter as mãos ocupadas em abaixar a saia do tule que insistia em boiar — e eu reparara apenas naquele momento.
— Estou... pegando um ar — uma justificativa um tanto ineficaz já que eu estava tendo certos problemas em respirar.
Suas sobrancelhas se uniram como quando Eleanor tentava lhe explicar a diferença entre Chanel e Prada.
— Dentro da piscina? Sozinha? No meio da festa?
Muito inteligente mesmo da minha parte. Seria mais fácil explicar que pulara na piscina para salvar um rato que se afogava. O que não fugia tanto assim da verdade.
Enchi meu peito de dignidade.
— Sim. Tem algo a reclamar sobre isso também? — na ocasião, o ataque era de fato minha melhor defesa.
Ele pestanejou, temendo dizer alguma coisa que me espantasse de casa outra vez. Só a sua hesitação já era surpresa para mim, mas foi seu ato de relevar que realmente me derrubou do cavalo.
— Eu só... — eliminou as rugas de sua testa uma a uma — queria conversar com você um segundo antes de cantarmos parabéns. Sua mãe quer liberar aqueles que ficam apenas por dever para que vocês fiquem mais à vontade.
Imediatamente fiquei desconfiada, eu investigaria mais a fundo se não tivesse um homem já sem ar no meio das minhas pernas — e não de modo muito agradável para ele.
Concordei ligeiramente.
— Claro. Pode me dar mais um minuto? Já entro, conversamos lá dentro.
Ele repuxou o lábio um pouco incomodado. Pelo que eu me lembrava, Bryan nunca segurara alguma bronca que quisera me dar. Que pena, para tudo tem uma primeira vez.
— Se quiser passar no seu quarto para se trocar depois, suas coisas ainda estão da maneira que deixou — ficou evidente que aquele era um apelo. Bryan não sabia se eu estava louca a ponto de ficar pingando no meio da casa pelo restante da festa. Seu conhecimento de sua própria filha se tornara por fim um exercício de pisar em ovos.
Assenti outra vez.
Bryan girou nos calcanhares, elegantemente se distanciando, bem diferente da forma desajeitada com que Charles saíra. Nem a minha rejeição o faria perder a compostura.
Tomei a liberdade de pegar os cotovelos de Justin para puxá-lo a superfície, ansiosa. Não tinha certeza de que tomara fôlego antes de privar-se de oxigênio. Ele limpou o rosto com um sorriso malicioso.
— Não posso dizer que estava ruim lá embaixo — murmurou brincalhão entre os intervalos que tomava para respirar. Semicerrei os olhos, ruborizando — Mas acho que seria melhor entrar, se mais alguém nos interromper eu serei obrigado a usar uma arma.
Lamentei em silêncio, estava longe de me dar por satisfeita de sua presença, sem ter certeza em que ponto estávamos. Me dava fadiga pensar no trabalho que teríamos para alcançar aqueles sentimentos outra vez.
— Preciso me trocar. Posso te arrumar alguma roupa de Caleb se quiser, só não sei como passaremos os dois despercebidos encharcados.
— Só garanta que a janela de Caleb estará aberta — ele espiou o quarto do meu irmão de onde estava, preparando sua mágica.
Segui seu olhar, imaginando as mil formas como podia dar errado. Eu tinha uma mente muito criativa para negatividade. Mentalizei as inúmeras vezes em que ele invadira ileso meu quarto para me dar um pouco mais de calma. Só não sabia dizer se em todas elas dera um de homem-aranha.
Trocamos um rápido olhar antes que eu decidisse sair da piscina de uma vez, se aguardasse um pouco mais, não arranjaria forças para deixar nosso ninho de conforto. Antes que eu me endireitasse, Justin já estava lá fora me estendendo a mão para ajudar. A força que usou nos trouxe uma proximidade maior do que planejada. Olhou-me fixamente.
— Vê se consegue não escorregar e bater a cabeça, por favor.
Impedi-me de impor uma condição desproporcional para o trabalho banal. Eu não podia esperar que mais beijos acontecessem a partir de agora por causa de um momento de fraqueza de ambos.  
— Vá.
Tive a impressão de sair cambaleante em direção à sala de jantar. Policiei-me a não olhar para trás e perder todo o propósito. Vacilei apenas dentro da sala de jantar e o que eu vi me fez dar graças pelo controle de todo o caminho. Justin certamente estava achando graça de alguma coisa, mas ao mesmo tempo parecia me despir com os olhos. Essa última imagem me fez correr pela casa. Fui interrompida logo na cozinha, obrigada a diminuir o passo para não esbarrar na mulher loira com uma bandeja de mini lanches. Praticamente todos os indivíduos do cômodo se voltaram perplexos para mim e apenas um me ofereceu ajuda. Recusei educadamente e guinchei como um pato desajeitado de sapatilhas até tomar a sábia decisão de tirar os saltos escorregadios. O som molhado que eu produzia continuava, porém, pelo menos não tinha a impressão de que cairia a cada passo dado. Senti-me péssima pela bagunça que deixaria na cozinha e torci para nenhum deles levar um tombo. 
A pior parte foi passar pela sala da entrada, recebi sorrisos montados dos amigos dos meus pais indecisos entre fingir que não reparavam no meu desastre e especularem entre si o que raios eu deveria ter aprontado. Flê fez menção de me seguir, só foi preciso levantar a palma da mão para que se detivesse. Mantive os olhos a frente para não chamar mais atenção, então não pude ver a expressão de Eleanor — e muito menos encontrar Caitlin, Clark e Maya. Subi os lances de escada dando pulos a cada dois degraus, chegando rápido no segundo andar.
Confirmei que não estava sendo seguida antes de invadir o quarto de Caleb e destrancar a janela, abrindo-a quase no mesmo instante. A mão de Justin apareceu no parapeito e com um só impulso ele se colocou para dentro. Conduzi-nos ao closet sem parar para pensar.
— O que você quer vestir? Social? Casual? — foi apresentando as opções, lembrando-me de passar reto pelas preferidas de Caleb.
— Alguma coisa que ele não vá sentir tanta falta. O que acha dessa? — mostrou-me uma camiseta lisa preta, uma calça jeans escura e um sapatênis — O evento não é tão formal então...
— Perfeita — o interrompi, mais satisfeita impossível. Jeans sempre lhe cabia muito bem. Camisetas lisas justas e neutras também.
Atravessamos o corredor para o meu quarto e eu não tive tempo de desfrutar um pouco de nostalgia, partindo diretamente para as minhas roupas. A perplexidade me alcançou quando coloquei os olhos no montante. Eu não me lembrava de que eram tantas. Peguei o primeiro vestido que vi na frente, o de mangas longas com a parte de cima preta assemelhada a uma blusa de segunda pele com os ombros a mostra, e a parte de baixo branca com renda preta nas pontas. Lembrei-me de fechar o closet assim que coloquei a mão para tirar o tule. Dei um pulo de susto por ver Justin encostado no batente da porta.
— Vai precisar de ajuda para tirar a roupa? — perguntou sério, simulando uma preocupação genuína.
Ignorei o tremor nas pernas e fechei a cara para ele.
 — Não. Você vai?
Franziu os lábios.
— Suas mãos seriam muito úteis.
Joguei o cabide do vestido nele por me fazer pensar em coisas indevidas. Justin se esquivou, rindo.
— Nunca diga que não ofereci — fechou a porta do closet para mim, dando as costas todo engraçadinho.
Balancei a cabeça rindo sozinha e comecei a levantar o tule. Para meu infortúnio, o tecido molhado colara em minha pele do quadril pra cima com a vontade que eu tinha de agarrar Justin. Pronunciei todos os xingamentos que conhecia e ao mesmo tempo rezei para conseguir fazer aquilo sozinha. Cogitei rasgar o vestido inútil e maldito para não ter de dar o braço a torcer por minutos inteiros.
Respirei fundo, mantendo a calma. Não havia necessidade de nervosismo, o tule era transparente, Justin não veria novidade nenhuma se me ajudasse só um pouquinho. Pigarreei.
— Justin — chamei baixinho, com a mesma força de vontade que me fazia convidá-lo a caçoar da minha cara. Obviamente, não me ouviu — Justin — aumentei um pouco o tom. Talvez fosse melhor abrir a porta. Coloquei a minha cabeça entre o vão, o banheiro estava aberto — Justin? — tentei de novo.
Não demorou para que ele aparecesse por lá, dando ré. Meus ovários explodiram assim que o notei com a calça jeans e sem camisa. Seu corpo majestoso nunca deixaria de me surpreender
— Diga.
Acovardei-me instantaneamente.
— Quer saber? Deixa pra lá.
— Você precisa mesmo de ajuda para tirar a roupa, não é? — me olhou de cima a baixo, segurando uma risada.
— Acho que vou cortar mesmo — dei de ombros.
— Não seja ridícula. Venha aqui.
Praticamente me arrastei até o meio do quarto, não sabendo aonde enfiar a cara. Ele tomou a barra do tule das minhas mãos.
— Levante os braços, Faith — pediu quando não o fiz de livre e espontânea vontade.
Obedeci devagar, fechando os olhos para não ter que o ver tão perto de peito desnudo, minando minha imaginação fértil. Senti o tecido passar pela minha cabeça e me preparei para correr. Justin se adiantou à minha intenção de me esconder no closet, enganchando a mão na minha cintura. Logo seu peito estava contra o meu de novo. Dessa vez, apenas meu sutiã se colocava entre o contato de nosso tronco, eu podia sentir sua barriga malhada na minha, me dando arrepios em lugares que eu nem sabia da existência.
— Pensei que você fosse cair. Consegue andar sozinha?
— Eu tenho pernas, não?
— Olhe para mim, Faith.
O fiz de malgrado, entretanto, sabia que era o caminho mais rápido para me ver livre.
— É o momento certo para confessar que sou dependente da sua boca? — molhou os lábios.
Quem era a Companhia Bieber inteira diante do poder homicida que Justin tinha sobre mim?
Não me manifestei, dando liberdade para que nossa boca se encontrasse mais uma vez. Talvez pela visível falta de roupas, todo o meu corpo reagiu intensa e rapidamente demais. Com um autocontrole impressionante, como se eu tivesse levado um choque, consegui afastá-lo pelo peito — aquele peito glorioso — antes que caísse dura no chão. No próximo segundo já estava trancada no closet, trocando de roupa o mais ligeiro possível para não ter tempo de mudar de ideia.
Depois de pentear o cabelo, tive que esperar um pouco mais para que minha respiração se acalmasse e só então me dar a carta de alforria. Eu não admitiria ser escrava dos meus desejos.
Justin já estava devidamente vestido, a minha espera, fascinante como só ele sabia ser. Sorriu pra mim, curtindo alguma piada interior.
— Eu volto do mesmo lugar que vim. Mesmo esquema. Tudo bem?
Nada bem. Ele me desestabilizava e esperava que eu ficasse sozinha sabe-se lá por mais quanto tempo?
— Certo — consegui dizer.
Deixamos meu quarto e ele segurou o trinco da porta de Caleb.
— Você está linda, a propósito — piscou, me deixando para trás no meio do corredor.
Perdi as contas de quantas vezes ele havia me matado só naquela noite. Talvez Justin ainda estivesse cumprindo seu contrato do ano passado, e eu não podia me conter para não cometer o mesmo erro.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

One Love 28

Nicole entregou uma caixa rosa com laço vermelho em cima nas mãos da mulher que eu julgara recepcionista da festa. Pensei seriamente em avisar que deixasse a caixa bem longe da casa, temendo que houvesse um explosivo ali dentro. Se ela só deixasse o presente e fosse embora, teríamos que evacuar o imóvel imediatamente. Atrás deles, entraram Flê, Raul — seu esposo — e Etienne que os pegara no aeroporto.
Flê estava linda, o cabelo solto emoldurava seu rosto delicadamente, escovado como ela gostava; um vestido preto de renda lhe caía até os joelhos. A filha, com cachos assumidos de dar inveja que puxara do pai, escolhera um vestido amarelo de alça rodado que mal lhe cobria a bunda — mas quem era eu para falar sobre vestidos escandalosos essa noite. Me senti feliz por não ter escolhido um vestido amarelo conforme Maya recomendara. Paralisei bem onde estava, dividida entre a vontade de correr e abraçar minha mãe de criação ou me varrer da face da terra para fugir da filha dela. Conforme os anos passavam, nossa inimizade aumentava, embora esperava-se o contrário.
Pela visão periférica, vi Justin, numa expressão quase endemoneada, fazer menção de se dirigir ao meu lado. Neguei com fervor em sua direção, imaginando o alvoroço que Nicole faria se o visse, e quando voltei a encará-los, Eleanor apontava para mim animadamente — do jeito que mostrava ao Bryan bolsas novas de Louis Vuitton nas vitrines. Assim que vi a fisionomia emocionada de Flê ao colocar os olhos em mim, quase me esqueci de tudo mais. No próximo segundo eu estava avançando para encurtar nossa distância.
— Minha querida — saudou-me trêmula em seu afeto maternal — Feliz aniversário!
Me afastar de Flê foi um dano colateral o qual eu desejava nunca ter imposto. Nos falamos raras vezes pelo telefone nesses seis meses. Ficar longe dela doía mais do que de qualquer um. Quando consegui me desvencilhar de seus braços miúdos, ela limpou a umidade dos meus olhos, deixando sua mão repousar em minha bochecha enquanto trocávamos aquele olhar exclusivo de ternura. Flê nunca me pressionava por explicações, portanto, essa era sua forma de se comunicar comigo. Queria dizer que independentemente do que eu passara ela me amava e nada, nunca, seria capaz de mudar esse sentimento. Lembrei-me vagamente da parábola bíblica do filho pródigo, olhar para Flê me fazia enxergar minuciosamente meus erros, mas que apesar deles, eu tinha um lar para voltar muito maior e concreto do que aqueles construídos por tijolos, um lar cercado pelas paredes do seu coração.
Flê cedeu espaço para que eu cumprimentasse Raul e logo em seguida Etienne. Ele também já tinha que enxugar o rosto com as costas das mãos.
— Você levou todo o brilho dessa casa, menina.
Etienne era o segundo anjo que Deus me concedera. Embora eu passasse mais tempo com Flê e consequentemente conversasse mais com ela, Etienne sempre cuidou de mim, justificando a ligação emocional que tínhamos.
— Feliz aniversário! Barbara não pode vir porque Rosie não estava muito bem. Não se preocupe, é apenas dor no estômago. Ela pediu para te passar os cumprimentos.
Barbara, sua filha, e Rosie, sua neta de quase um ano, eram praticamente tudo o que Etienne tinha. Depois que sua esposa faleceu, pensamos que ele pediria demissão para cuidar das duas, mas, bem como Flê, seu carinho por nós também era grande demais para que abrisse mão.
Jean foi o próximo, me pegando num abraço apertado que me ergueu do chão.
— E como vai minha maninha mais nova? Feliz aniversário!
Dei risada de sua festa.
— Muito bem, e você?
— Eu não acredito que trouxeram Rihanna aqui. Faith, vocês se superam.
Meu espírito tão em paz por conta daqueles poucos minutos se preparou para toda a faísca de Nicole. Nossa última experiência juntas se resumia em humilhação pública e ameaças, então eu não esperava que ela mantivesse a fachada fina de fingir que nos gostávamos com um abraço apertado tão genuíno quanto a morte dos meus sentimentos por Justin.
— Você está deslumbrante! — ela vibrou antes de me envolver com sua pele de cascavel.
— Você também, Nick — entrei na onda.
Seus olhos me avaliaram de cima a baixo pretensiosamente deslumbrados.
— Posso pedir que dê uma voltinha? Por favor! Que vestido espetacular! Aposto que seus pais adoraram.
Passei um pé na frente do outro e rodopiei, satisfeita pelos segundos que evitaria de olhar sua cara.
— Escandalosamente divina. Se inspirou em Rihanna? — com a presença de Justin, meu humor extraordinário não se afetava diante do seu deboche mascarado.
— Fico feliz que tenha vindo, Nicole.
— Não conseguimos chegar para a hora da surpresa — Flê lamentou — O voo deles atrasou.
— Não tem problema.
— Você está bem mesmo, não é, Faith? — Nicole puxou a atenção de novo, aparentemente preocupada com meu bem-estar. Preferi interpretar que sua intenção não fosse me cutucar por tudo o que eu passara nos últimos meses. Nem Nicole seria capaz de brincar com uma dor daquelas. Certo?
— Graças a Deus, Nick, e você?
Ela chacoalhou os ombros.
— Ansiosa para umas voltinhas por aqui. Me diz, você ainda tem amigos gatos? — ela recebeu alguns olhares de repreensão.
Senti a simpatia perder a força em meus traços conforme reavaliava seu senso para brincadeiras.
— Descubra por si mesma — apontei para a sala, me contendo para não apontar o chão, onde ela poderia cavar sorridente até o inferno. Acho que nem lá o fogo tinha o calor sufocante de Nicole.
Ela fingiu uma reverência, deu um meio tchauzinho para Caitlin e saiu em sua busca por macho. A última coisa que eu precisava era o nariz bisbilhoteiro de Nicole por aí.
— Precisa de alguma coisa, Angel? — Flê me perguntou prestativa com as mãos juntas.
— Flê — peguei sua mão — preciso que aproveite a festa, sim?
Ela abriu um sorriso e beijou minha mão antes de dar o braço para Raul e se afastar para o canto dos adultos responsáveis. Etienne os seguiu, iniciando uma conversa com Raul.
Jean passou o braço sobre meus ombros.
— Você parece muito bem, Faith, fico feliz por isso. Desculpa não ter conseguido vir no... no.... em novembro — ele deu um meio sorriso tristonho.
Abracei sua cintura, escondendo meu rosto para que não visse a culpa que o moldaria em razão da omissão em informar que já estava tudo — quase — como era antes.
— Não se preocupe. Eu estou mesmo bem.
— Posso ver — falou contente, me apertando contra si — Está cada dia mais linda também.
— Obrigada, Jean. E o que me conta? Traz novidades?
— A mesma monotonia de sempre. Onde está Caleb? Ainda não o cumprimentei.
Apontei para meu irmão na entrada da cozinha. Hanna estava falando com um dos garçons.
— Já volto — ele foi em direção ao meu irmão, fazendo um toque de mão.
Bisbilhotei o bar outra vez, Justin não estava mais lá. Essa coisa de deixá-lo nas sombras não era agradável para mim.
— Ali, perto da janela — Caitlin mostrou.
Do outro lado da sala, Justin estendeu o copo pra mim, como se brindasse. Fiz uma careta pra ele, o que resultou em um sorrisinho de lado em seu rosto. Eu comecei a abrir e fechar as mãos, numa forma de controlar a inquietação que me dominava para ir até ele. Fiquei tão dispersa que Caitlin teve que me cutucar quando a porta de entrada foi aberta mais uma vez. Meu coração parou.
As batidas recomeçaram conforme eu via os sujeitos a passarem pela porta. Eu tive que piscar algumas vezes para ter certeza de que não era uma miragem. Fazendo o barulho desordenado que sempre emitiam, surgiam Edith e Edward, Judy e Frank, meus avós maternos e paternos nessa ordem, os dois filhos dos primeiros e minha tia por parte de pai. Para completar o circo, os sete primos. Edith e Edward geraram respectivamente Eleanor, Katie e Edgar. Katie tivera Cloe — dezoito anos —, Jared — dezesseis — e Kevin — quatorze —. Edgar perpetuava a linha de sucessão com os gêmeos Mark e Mike, ambos com dez anos. Judy e Frank deram origem à Bryan e Eveline. Eveline gerara Priam — quinze anos — e James — nove —. Como resultado, a junção de toda a nossa família geralmente causava certo tipo de dano, se não material, ao menos para os ouvidos. Caleb não suportava toda a gritaria e bagunça. Eu, como uma pessoa inquieta, me divertia.
Mark e Mike imediatamente me flagraram na sala, gritaram meu nome e correram até mim. James os imitou. Eu quase caí de bunda no chão com aquele abraço coletivo. O restante dos primos se portou conforme as regras de etiqueta exigiam — ou nossas mães —, dando apenas uma corridinha disfarçada quase já perto de mim. Cloe se demorou mais no abraço. Devido a proximidade de nossa idade, tínhamos uma espécie de conexão especial que sempre nos juntava nas reuniões de família; Jared, Kevin e Priam se uniam para infernizar a vida das crianças, James, Mark e Mike devolviam o favor. Ficávamos Caleb, Cloe e eu como juízes da briga. Embora Cloe fosse apenas dois anos mais velha que Jared, ele conseguia ser terrivelmente mais infantil. Para ser justa, às vezes Priam debandava para o nosso lado. 
Recebi comentários dos meus familiares em como crescera de estatura e beleza desde a última vez em que nos vimos. Eles não comentaram sobre minha escolha de vestuário, mas não pude deixar de notar alguns olhares um pouco tortos para meu vestido. Eu levava a opinião deles a sério demais para conseguir impedir o rubor em minhas bochechas. Judy, a avó mais moderna, bateu palmas pra mim pelo bom gosto musical, e saiu com suas plásticas e silicones para o meio da pista. Edith segredou que me trouxera uma vasilha com suas panquecas dentro da bolsa, avisando que deixaria na geladeira para que eu pudesse comer no dia seguinte. Tal gesto me encheu os olhos, não só porque suas panquecas eram as melhores que eu experimentara na vida, mas pelo significado que aquilo tinha. Eu julgava que adquirira sua característica genética de não me importar em fazer e ser quem queria independentemente de onde estivesse. Eleanor, pelo contrário, teria um treco se suspeitasse que ela estava com uma vasilha de comida na bolsa.
Assim que todos eles debandaram, Caitlin segurou meu cotovelo, sussurrando em meu ouvido.
— Eles já estão aqui.
Abruptamente, fui puxada do meu clima reencontro familiar, enrijecendo meus músculos. Definitivamente, a coisa não podia ficar feia por aqui, eu não queria nenhum dos meus feridos. Corri os olhos pelo cômodo, sentindo certa dificuldade de respirar. Isso não queria dizer que eu acreditava no que estava escrito naquele contrato, apenas estava tensa pela reação de Caleb e Justin. Não significava ao menos que eu considerava a possibilidade, certo? Certo?
— Onde? — murmurei através dos dentes travados — Também não vejo o Justin em lugar algum.
Foi uma péssima ideia, foi uma péssima ideia, foi uma...
Caitlin paralisou ao meu lado, e antes mesmo que eu pudesse perguntar, ouvi a saudação:
— Faith Angel Evans, é realmente você? — a irreconhecível voz de Clark Peter me pegou desprevenida.
Só foi preciso me voltar trinta graus à esquerda para visualizar a família mais adorada por Bryan e Eleanor. Os três tinham sorrisos enormes para mim. Analisando um pouco melhor, eu podia afirmar que Elizabeth se esforçava muito para não olhar para baixo e deixar sua opinião sobre mim cair alguns degraus. Em tempos como aquele, moral era mesmo uma coisa em risco.
— Sentimos muito a sua falta, querida! — Eliza completou, me puxando para um abraço impulsivo — Wren que o diga! Eu estava mesmo prestes a pedi-lo para lhe implorar nos fazer uma singela visitinha. Feliz aniversário!
Depois de um aperto de mão com Clark, Wren foi praticamente empurrado por Eliza para mim. Ele quase caiu, mas transformou o movimento num abraço, seguido de um sorriso genuíno.
— Feliz aniversário, Angel! Olá, Caitlin.
— Wren quis entregar seu presente pessoalmente — Eliza contou toda orgulhosa, dando uma leve cotovelada no filho — Entregue a ela, Wren.
Ele levantou as sobrancelhas pra mim com uma discreta revirada de olho. Contive uma risada e só então reparei na caixa de veludo retangular em sua mão, agora estendida em minha direção. Hesitei alguns segundos antes de pegá-la, mas expulsei o sentimento imediatamente ao detectá-lo. Wren não me faria mal algum, eu sabia que não.
Abri o fecho delicado e deslumbrei um colar de ouro de pingente com formato de cupcake.
— Oh! Wren...
— Coloque nela, filho, acho que vai até mesmo combinar com a gargantilha como se fossem uma joia só.
Permiti que o fizesse, virando de costas pra ele, ignorando o olhar de alerta de Caitlin. Wren foi bastante ágil, e logo pude analisar o pingente pendendo em meu pescoço. Segurei-o na ponta dos dedos com um aperto repentino no coração. Desde que vira o nome de Clark Peter em meu contrato, eu soube que havia algum engano. Mas naquele momento, não só sabia que era um engano, eu precisava que fosse um.
— É perfeito, Wren — balbuciei.
Elizabeth unia as mãos como se presenciasse um acontecimento divino. Clark manteve-se em um sorriso discreto. Wren exalava doçura.
— Acho que agora podemos nos juntar onde pertencemos — Elizabeth riu — Se nos dá licença, querida...
— Claro — respondi sem pensar.
— Festa surpresa, hein? — Wren puxou o assunto assim que eles nos deixaram — Pensei que você não fosse aparecer. Se soubesse, teria voltado mais cedo da Califórnia.
Assenti vagarosamente.
— Hanna e Caleb se desgastaram em argumentação para que eu viesse no aniversário de Eleanor, e então me deparo com isso — falei, já me sentindo culpada pela pequena mentira.
— Pelo menos creio que está a sua cara, não é? Até seus parentes vieram. Fico feliz por você.
Em agonia plena, apelei:
— Wren, acha que pode pegar um Cosmopolitan pra mim? — indiquei o bar — Eles fazem realmente um bom trabalho, recomendo que pegue um pra você também.
Prestativo como sempre, ele foi sem questionar. Sem me preocupar com a linguagem corporal como deveria, me apoiei nas minhas coxas e respirei fundo.
— Caitlin, eu não posso fazer isso.
— O que você está dizendo? Está tudo bem? — ela colocou a mão nas minhas costas.
— Não posso fazer um joguinho com Wren. Não posso. Ele parece suspeito pra você? — perguntei retoricamente.
— Não sei, Faith, mas conheço alguém que vai conseguir mais do que isso. E se você continuar com essa postura de quem está passando mal, ele vai vir arrancar esse colar de você alegando que está envenenado.
Endireitei imediatamente minha postura, seguindo a direção que ela olhava. Justin — mais próximo do que deveria de mim —, nem a um metro à minha esquerda, dividia seu olhar entre Wren, seus pais e eu. Não conseguiria interpretar aquela expressão ainda que fosse meio dia ensolarado. Só uma dedução era lógica: não parecia muito boa.
— Eu vou vomitar — engoli em seco.
— Você diz de verdade ou...?
— Cadê o Ryan?
— Ele, Caleb e Hanna já saíram.
— Ah! — sufoquei — Eu quero abortar o plano, eles não podem vasculhar a casa dos Peters.
— Se eles forem inocentes como você diz, não será encontrado nada. Respire fundo, Faith, está tudo conforme planejado.
Meus ossos esfarelaram.
— Cait, eles não podem...
Ela me pegou pelos braços, me voltando diretamente em sua direção.
— Faith, preste atenção. Você precisa ficar calma, vai jogar tudo pelo ralo, se demonstrar o mínimo de fraqueza Justin vai tomar a frente da situação, e acho que não é isso que você quer.
Concordei com a cabeça, expirando lentamente. Um ataque de pânico não seria nada útil, Caitlin tinha razão. Meu organismo só não conseguia entender isso tão facilmente.
Antes que eu terminasse meu processo calmante, Wren já estava voltando com um Cosmopolitan. Tomei da mão dele e praticamente sequei o copo.
— Wow — ele riu — Está com sede?
— Mais ou menos isso — forcei uma risadinha. Me arrependi, imaginando se estava na cara que eu abusaria da falsidade — Eu só estava me lembrando do dia em que conheci Justin.
Wren não seria capaz de forjar uma compaixão tão gritante daquela. Ninguém podia. Seus olhos murcharam enquanto disfarçadamente mordia a boca, ele se esforçava para encontrar palavras que me reconfortassem de uma dor agora inexistente. Eu já podia, definitivamente, ser incluída na lista de piores amigos do mundo.
Prossegui antes que perdesse a coragem:
— Falando nisso, pesquisei sobre ele na internet esses dias — repuxei um sorriso amargo. Meu estômago embrulhava só de simular que aquela era minha realidade de novo.
Wren segurou minha mão.
— Acho que não foi uma boa ideia, certo?
Dei de ombros.
— Falava sobre nosso relacionamento... — respirei. Seus dedos se firmaram nos meus — e o incêndio em meu quarto... depois que ironicamente ele faleceu numa explosão. Me salvou do fogo para padecer ele mesmo dessa fatalidade.
Não me diga que os olhos dele estavam mesmo umedecidos. Porcaria, Faith. Chega de sentimentalismo.
— Mas também consegui mais informações sobre a empresa em que ele trabalhava, um negócio de família.
A expressão dele não oscilou, compreensivamente dolorosa, bem como eu esperava que ficasse. Wren não demonstrava ao menos um traço de nervosismo com a possibilidade de ter sido descoberto.
— Você precisa de outros hobbies, Faith. Podia ter te levado para a Califórnia conosco. Acha que consegue uma autorização da galeria para descansar? Você merece. Podíamos dar uma passada na Disney.
Acrescentar um pouco de verdade na investigação não faria mal, concluí.
— Não preciso de autorização. Pedi demissão essa manhã por telefone. Hazel pareceu chocada, primeira vez que a flagrei sem palavras. Quase até recebi um elogio dela quando finalizou com “tem certeza? Eu achava que você tinha futuro nessa área”. Sou oficialmente uma desocupada.
— Sério? Bom... Aquela mulher parecia mesmo te escravizar, então fico feliz por você. Podemos ir amanhã mesmo se quiser.
— Na verdade, eu queria visitar alguns parentes do Justin. Acredita que muitos deles estão em Minneapolis?
Ele deitou um pouco a cabeça, estreitando os olhos. Não de forma defensiva, apenas mascarava sua desaprovação.
— Tem certeza disso? Se quiser mesmo, posso ir junto.
Atuação não era seu forte, Wren só queria ser meu ponto de conforto como um bom amigo. Meu veredicto permanecia o mesmo: ele era inocente.
— Obrigada, Wren. Qualquer coisa eu te aviso. Preciso dar atenção a outros convidados, se não se importa.
Enrosquei-me no braço de Caitlin e nos enfiei no meio dos corpos dançantes, o mais longe dele quanto possível. Só me lembrei depois que Maya ficara para trás. De qualquer forma, ela parecia mesmo ocupada demais com Kurt.
— Você viu? Ele está limpo — argumentei, parcialmente aliviada.
Cait mexeu nos cabelos, jogando-os para o outro lado. Homens num raio de cinco metros sofreram as consequências desse gesto despreocupado. Se soubessem com quem Cait se comprometia, não ousariam olhar pra ela.
— Para mim também pareceu, mas — ela se adiantou antes que pipocasse esperança em meu rosto — não podemos dar por certeza. E talvez o pai dele tenha requerido o serviço sem que soubesse. Continuamos com o próximo passo.
Choraminguei.
Encontrei Justin mais próximo da porta em que entramos, a postos. Dei-me generosamente dez segundos para contemplá-lo. Toda aquela encenação me deixara com o gosto amargo da sua falta. Precisava me convencer de que ele de fato estava aqui outra vez. Ele semicerrou os olhos, tentando me interpretar.
— Faith, onde você está? — Rihanna disse depois de cantar Bitch Better Have My Money.
É isso, sociedade, Rihanna sabe meu nome. Só não em bom momento.
Levantei a mão com um sorriso-farol minimamente forçado.
— Chegue mais aqui na frente... Isso. Nós sabemos que valsa é coisa de adolescentes de dezesseis anos*, mas essa adaptação sei que não vai recusar. Com quem dançaria coladinho Love on the brain?
Houve certa agitação por parte dos convidados e um pouco de receio vindo de mim. Cogitei maneiras das quais eles poderiam ter descoberto que Justin estava entre nós. Não precisei me esforçar muito, esconder-se a vista de todos podia ser um talento real dele, porém, não funcionaria sempre. Vi-me procurando saídas para aquele impasse superveniente, trocando um olhar nervoso com Caitlin a alguns centímetros de mim.
Repentinamente, as pessoas abriram um caminho na minha frente — com gritinhos animados por parte das garotas — enquanto a batida da música anunciada começava a tocar. Desfilando no corredor improvisado, Chris Evans entrava em meu campo de visão vestindo um terno azul elegante e gravata borboleta preta, no rosto um sorriso e um buque de rosas da cor de seu terno em mãos. E.... pronto, esqueci outra vez meus propósitos.
Cobri a boca com as duas mãos. Porra, Hanna Marin, eu vou cortar em pedaços!
Chris fodidamente Evans me estendeu o buque sem deixar de olhar nos meus olhos com aquele ar sedutor parte de seu papel essa noite. Peguei o presente devagar, certa de que o derrubaria no chão em questão de segundos. Atenta ao que aconteceria, Caitlin se adiantou ao meu pedido e o segurou para mim enquanto eu aceitava a mão do homem dos olhos azuis hipnotizantes me tirando para dançar. O delírio foi certo — não disse para quem — quando Chis me puxou bruscamente contra seu corpo, exalando uma colônia masculina cara.
— And you got me like… Oh — sim, com certeza.
— Boa noite, Faith Evans. Prazer, Chris Evans — ele me cumprimentou risonho perto do ouvido. Sua barba rala fez cócegas em minha bochecha.
CHRIS EVANS SABE MEU NOME!!!!!!!!!!!
Pigarreei antes de me pronunciar.
— O prazer é todo meu, Chris Evans.
— Eu tenho certas dúvidas quanto a isso — segurou minha mão, me afastando para que eu desse um giro no círculo de seus braços. Ouvi uivos de aprovação.
Ruborizei completamente antes mesmo que ele se alinhasse em meu pescoço de novo. Deus.
— Ouvi dizer que é minha fã há algum tempo. Não poderia deixar de vir em seu aniversário verificar se temos algum parentesco. Você sabe que também sou de Boston, não é? Ou essa seria apenas uma coincidência e você já adiantou os processos do casamento acrescentando por si mesma meu sobrenome?
Eu ri, lembrando-me das conversas que tinha com Caleb sobre meu futuro casamento com Chris. Inclusive, a última vez que mencionei isso foi o dia em que Justin apareceu, e sem perceber, assinei um contrato de nunca me interessar por mais ninguém.
A menção de seu nome em minha mente me fez varrer a sala atrás dele outra vez durante as voltas que dávamos. Não o encontrei.
 — Já tenho até meu vestido de noiva desenhado numa loja de Paris.
— Gosto de pessoas que se programam — ele aprovou — A cerimônia ocorrerá embaixo da Torre Eiffel?
— Não — desdenhei — Cliché demais. Pensei numa pirâmide do Egito, o que acha?
— Casar na tumba de alguém? Foi sempre meu plano de vida!
Nós rimos.
Agora Caitlin também desaparecera. Hanna me encheu de distrações justo no dia em que eu precisava ficar mais atenta. Tudo bem. Morreríamos todos naquela noite estrelada. Eu já vivera o bastante mesmo.
— No matter what I do I’m no good without you…
— Só há um problema. Apenas posso me casar com você se responder corretamente uma pergunta.
— Manda.
— Capitão América ou Homem de ferro?
Ri.
— Capitão América — respondi como se fosse óbvio, e absolutamente é. Capitão América tem o coração mais maravilhoso de todos aqueles heróis juntos, que dirá de Tony Stark, o mesquinho, pretensioso, insuportável — que no fundo, bem atrás do osso, também é boa pessoa —.
 — Só marcar a data agora.
— Está livre no final de semana que vem?
— Pra você? Claro.
Homem. Não brinque com corações, homem.
— Se eu sobreviver até lá — literalmente, acrescentei mentalmente — está marcado.
 — Por favor, sobreviva.
Finalizamos a dança e eu estava inteiramente trêmula feito bambu. Tirei as mãos dos ombros aveludados — por conta do tecido — de Chris, recebendo uma reverência sua e palmas dos nossos espectadores. Quando Deus desenhou o sorriso daquele homem com certeza tinha acabado de apontar o lápis.
— Aproveite a festa, por favor, espero que não tenha que ir embora agora.
— Posso ficar mais um pouco — concordou.
Assenti animadamente. Ou dividida entre animação e pesar. Mais alguém que quis conhecer a vida toda e seria obrigada a me privar do prazer de desfrutar da presença. Desde que o vi no filme Celular me apaixonei, e então nunca mais perdi uma atuação sua.
— Só tenho que falar com algumas pessoas, já volto.
E simplesmente assim, dei as costas para a beleza que exaltei desde os meus oito anos de idade. De soslaio, já podia ver Nick se esgueirando cobiçosa para chegar até ele. Eu daria meia volta se não tivesse acabado de descobrir Kurt perto de Sam outra vez. Também perdera Maya de vista. Visualizei a cereja da desgraça sendo colocada no meu bolo de tragédia.
Cortei o primeiro pedaço e me preparei para engoli-lo a força quando a identifiquei conversando com Clark Peter perto do bar. Os mais velhos se aproximaram para ver a dança, mas enquanto voltavam ao seu devido lugar, o pai de Wren parecia ter encontrado motivação contrária. Elizabeth já consumia Eleanor na sala de entrada, mal notando o marido interagindo com a morena perigosamente escultural. Mil cenas desastrosas passaram pela minha cabeça. Aquela pequena reunião não se limitaria a comentar como fora encantadora minha valsa contemporânea com Chris Evans. Clark se mostrava reservado; por outro lado, Maya se desdobrava em insinuação.
Já dava os primeiros passos furiosos quando notei Caitlin próxima a Maya, o queixo elevado só podia ser sua demonstração de responsabilidade; já a cabeça ligeiramente movendo-se de um lado para o outro não se encaixava à conjuntura. Parei onde estava até que ela me olhasse fixamente e repetisse o movimento. Antes que eu pudesse perguntar, desviava a cabeça para Clark novamente.
Eu nunca havia planejado que Maya chegasse perto de Clark, e se Caitlin acobertava aquilo, só podia ser obra de Justin Bieber. Sua culpa emanava tão intensamente que meu instinto direcionou meus olhos exatamente para onde ele me encarava enigmaticamente no canto inferior direito. Bom, o encontrei. Indiquei com minha cabeça para a porta que nos levaria à área da piscina e mal esperei que ele saísse para segui-lo.
— Você pode me explicar o que Maya e Caitlin estão fazendo com ele? — fechei a porta atrás de mim, já disparando a pergunta. Mal reparei em como era bom me ver desprendida do bolo de gente para estar ao ar livre. Talvez eu tivesse fobia à seres humanos.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça, tentando conter sua própria irritação.
— Você parecia ocupada demais para dar seguimento ao plano, tivemos que fazê-lo por conta própria.
Ignorei seu plural. Cruzei os braços.
— Não sei se você percebeu que fui coagida a parar, mas foram apenas três minutos. E desde quando o plano envolvia a Maya?
— Eu não sabia que duraria apenas três minutos. Então desde que fui obrigado a tomar as rédeas da situação.
— E qual foi a decisão genial que você tomou? — ironizei.
— Maya e Caitlin disfarçadamente se apresentaram como membros da Companhia. Na primeira oportunidade vão colocar a escuta nele, isso se ele já não se entregar na conversa delas.
Bati a mão na testa, grunhindo.
— Você percebe o quão arriscado é isso? E que acabou de entregar o jogo à Maya? Depois sou eu que não penso?!
— E quem disse que ela ainda vai ter língua depois que perder a utilidade? — murmurou frio.
— Você não pode tomar essas decisões sozinho! — gritei num sussurro, se é que isso é possível.
— Eu precisei.
Revirei os olhos.
— Você só estava me esperando dar um espaço pra me passar a perna!
— Me preocupar com você não é te passar a perna. Agora você pode voltar a dançar com Chris Evans em paz que os adultos resolvem os problemas.
Fiz a melhor expressão de tédio já feita em toda a minha existência.
— O que diabos você está querendo dizer com isso?
— Eu não estou querendo dizer nada. Só precisávamos agir de uma vez, não sabemos que horas eles vão ir embora. E já sei que sua investigação com o Peterzinho foi infrutífera.
— E a parte em que me prometeu não fazer nada antes de me consultar? Quer saber, nem sei porque me surpreendo mais com suas promessas quebradas. Mas só pra você saber, eu não quebro as minhas! — semicerrei os olhos como ameaça.
— Faith, cortar genitálias não vai adiantar em nada. Podemos ser mais práticos e seguir? — apontou para a porta.
— É fácil dizer quando não é você a ser descartado a todo momento!
— Essa nunca foi minha intenção — enfatizou — Só quis te dar o seu tempo com Chris Evans.
— Argh! Tira o Chris da conversa e foca no real problema!
— Você estava ocupada, o que queria que eu fizesse?!
— Não passasse por cima de mim, porra! Por uma vez na vida, me respeitasse como um ser vivo pensante!
— Você pensa demais, esse é o problema.
Ri com sarcasmo.
— Pelo menos eu tenho sentimentos!
— E eu não tenho? — arqueou a sobrancelha.
— Não é o que parece! Se tivesse não teria sido tão fácil me... — alerta de humilhação garantida. Calei-me imediatamente, bufando.
— Não teria sido tão fácil o quê? — incentivou, quase me desafiando a completar a sentença.
Cerrei os lábios, encarando-o.
— Não teria sido tão fácil o quê, Faith? — insistiu, imperceptivelmente se aproximando.
Travei os dentes também.
— Merda — xingou, olhando rápido para os dois lados.
Achei que estava esperando um carro voador fazer o favor de me atingir, mas, no instante seguinte, ele naturalmente mergulhou dentro da piscina.
O quê?! Então preferia morrer afogado a me encarar?!
Guardei o grito que eu daria pelo seu nome de volta na minha boca quando a porta abriu atrás de mim.