Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

One Life 31

Sua boca estava em uma linha firme, a cabeça elevada, o olhar me sondava. Ele esperava que eu entendesse tudo aquilo sozinha? Parecia que eu estava sendo engolida por uma avalanche de informações era completamente compreensível minha incapacidade de chegar a respostas.
Grunhi de frustração, erguendo as mãos em garra como se pudesse arrancar seu pescoço, então comecei a andar de um lado para o outro, formulando acusações para que se enchesse e confessasse de uma vez. Sua maneira de agir aquela noite me lembrava de filmes da máfia russa que meu pai tanto amava assistir, então relacionei com sua facilidade de invadir lugares, a reação completamente tranquila ao encontrar Erin morta, suas frases que escondiam segredos desde o começo, e cheguei a uma teoria estúpida e absurda. Com essa ofensa, eu faria com que me revelasse a verdade:
— Vai me dizer que é um assassino? — joguei com sarcasmo, ainda olhando o caminho desordenado que eu traçava no quarto.
O contato das minhas sapatilhas com o chão preencheu sua ausência de réplica, mas dessa vez, o silêncio estava mais carregado. Talvez eu tenha exagerado em minha arguição.
Parei em sua direção e cruzei os braços, esperando. Seu rosto se aprofundava na defensiva. Ele também esperava. E esperava o que? Eu não conseguia pensar em nada mais que fosse compatível com as informações que eu tinha.
Então percebi, ele aguardava minha reação como se pudesse se preparar para os meus gritos, julgamentos e protestos. Não fazia sentido, eu não podia responder por uma coisa que não sabia.  A menos que soubesse.
— Você não é um assassino, Justin — neguei veementemente.
Entretanto, sua expressão não mudou. Senti como se o mundo todo suspendesse as atividades apenas para se atentar ao que ele diria, crucial para decidir o rumo da humanidade. Demorei um pouco para entender que aquela sensação se limitava a minha composição interior.
Quando sustentar meu olhar penetrante se tornou insuportável, sua atenção se desviou para a parede ao seu lado esquerdo, enquanto travava o maxilar.
Não. Com certeza não era aquilo. Ele só queria acobertar a verdade. De qualquer forma, não o isentava da suposição, não quando estava me matando por dentro.
Disparei em sua direção dando uma sequência de tapas em seu peito para que sanasse minha angústia. Eu só queria que ele abrisse a maldita boca, era tão difícil assim?! Não era possível que sua reputação piorasse comigo depois daquela visão do inferno na night club.
— Me diz, Justin! Me diz!
Não sei dizer se foi por perder a paciência, for realmente persuadido ou os dois juntos; ele segurou meus pulsos para cessar meus ataques e me encarou com firmeza, derrubando as barreiras que o escondiam de mim.
— O que você quer que eu diga? — a frieza em sua voz não passou despercebida.
Carreguei meu olhar de fúria, indignada com a pergunta imbecil.
— Eu não vou repetir tudo de novo, não sou um maldito papagaio! Para de simular retardo mental e aproveita para me dizer quem era aquela desocupada no seu colo! Isso se você ao menos souber o nome dela! — eu queria que minhas palavras fossem facas, estavam tão afiadas quanto.
Meu desejo era de machucá-lo até que sentisse a dor que eu sentia. Seria uma longa sessão de tortura.
— Você já sabe Faith, o que mais posso esclarecer?! É claro que eu menti pra você, te manipulei e feri seus sentimentos. E você nunca entenderá meus motivos — ele começou a avançar para cima de mim, ainda sem me soltar, então fui obrigada a recuar conforme seus movimentos, mas a sensação era de que pisava em cima de mim — Nunca vai entender que a vida humana alheia é só mais um obstáculo para meus objetivos, não vai entender que eu não me importo em ouvir os gritos de dor e me agrada que implorem para viver. Você nunca saberá lidar com tudo isso, então não me pergunte coisas que não quer saber.
Me desequilibrei, caindo sentada na cama como o saco vazio que eu me sentia. Ele soltou meu braço me deixando digerir aquilo, sua respiração estava rápida. Não importava quanto tempo me desse, eu nunca estaria preparada. Olhei no fundo dos seus olhos me questionando se ele realmente seria capaz daquilo e não gostei do que vi, a emoção que eu sempre percebia escondida em seu olhar estava bem a mostra, e era sombria, desafiadora, por pior que fosse, nada arrependida. As palavras se encaixaram, desmontaram e se remontaram, tentando encontrar um sentido para aquilo tudo, o que não aconteceria diante de seus olhos que davam asas as imagens fantasiosas e perturbadoras em minha mente; pessoas inocentes rastejando pelo chão e implorando para que ele não apertasse o gatilho, para que não se dispusesse a cometer ato tão horrendo como era o de tirar a vida de alguém. Eu nunca imaginaria que aquele mesmo anjo dos olhos cor de mel poderia ser tão cruel, nunca imaginaria que aquelas palavras sairiam daqueles lábios que eu tantas vezes beijei, nunca imaginaria que Justin Bieber era um assassino. Aquilo só poderia ser brincadeira de mau gosto, qualquer coisa, mas não realidade.  Tanta informação sobrecarregou a minha mente e eu percebi a minha respiração dobrar a velocidade enquanto minha cabeça negava automaticamente repetidas vezes. Era tarde demais para perceber que eu não fazia ideia de quem era aquela pessoa que eu havia me apaixonado tão profundamente.
Eu explodi:
— Sai daqui! —  me arrastei pela cama, me afastando o máximo que podia dele —  Sai daqui! —  repeti histérica ao ver que não se mexia, jogando um travesseiro em sua direção, mas errando o alvo.
Sua expressão não demonstrava surpresa, e imaginei quantas vezes havia arquitetado aquela cena. Pior, se nem ao menos havia cogitado a ideia de me contar por prever minha reação.
— Você não queria a verdade? Eis a verdade, então trate agora de lidar com ela! — ele murmurou com um sorriso sarcástico, completamente insensível diante do meu abalo emocional.
Joguei o outro travesseiro em sua direção, dessa vez o acertaria se ele não tivesse segurado antes que atingisse seu rosto.
— Eu mandei sair! —  berrei disposta a arrastá-lo até a porta se fosse preciso.
Seu orgulho impediu que se movesse por um segundo, mas analisando minha expressão, ele bufou e me deu as costas, deixando o quarto e batendo a porta atrás de si.
Escondi o rosto nas mãos, pressionando minhas têmporas com uma força capaz de me dar uma dor de cabeça.
Você é burra Faith Evans, muito burra.
Meu coração estava corrompido por algo tóxico, bombeando por todo o meu corpo aquela incapacidade frustrante, formando um grito incontrolável que subia pela minha garganta. Peguei o travesseiro que ele havia deixado na beira da cama e coloquei contra meu rosto para que não fizesse alarde.
Gritei até perder o fôlego e mesmo assim não encontrei nenhum alívio. Eu havia sido traída, perseguida, sequestrada, presenciado violência extrema e descoberto que meu namorado era um assassino em menos de duas horas, não havia muito a fazer para que encontrasse conforto.
Deitei na cama e abracei meus joelhos, encolhida na tentativa de me remontar. A única coisa que acontecia era aquele choro idiota se intensificando. Chorar não resolveria nada, mas passar por aquilo sem lágrimas também estava fora de questão enquanto meu cérebro fazia o seu melhor para me afundar cada vez mais.
Como eu não percebi quem ele era de verdade após passar tanto tempo sobrevivendo de sua presença? Estava tão envolvida por sua integridade superficial que não me atentei aos sinais claramente presentes. Afinal, Erin estava certa em temer, ele havia me dito que trabalhava num negócio de família, seguindo o legado de seu pai, provavelmente todos eram doentes sugadores de vida tão cruéis a ponto de fazê-la preferir escolher sua própria forma de morrer do que enfrentar o que lhe reservavam. Só não havia pensado que assim deixava seus filhos a sorte do destino tão sem esperança quanto o de Justin.
Justin. Seu nome contraiu todos os músculos do meu corpo, rejeitando a dor iminente. Como ele podia ser um monstro? Com todas as minhas forças eu negava o que estava estampado bem na minha cara, as evidências não estavam a meu favor. Ele deixara claro o que era e que não se arrependia disso. Era irônico que no momento minha segurança dependesse dele.
Eu estava ilhada com a pessoa que em um instante passou de ser uma das minhas preferidas para a última que eu gostaria de ver na terra. O idiota controlador sem alma jogara meu celular pela janela bem quando eu mais precisava de ajuda. Por que aqueles caras estavam atrás de mim? Ele podia ter certeza de que não machucariam minha família? O que Bieber planejava fazer sobre isso? E por que ele me ajudaria se havia demonstrado o suficiente esta noite do quanto se importava comigo?
Eu não ficaria a mercê de um dissimulado imprevisível que me usava para curar sua carência crônica de amor quando queria. Endireitei-me, planejando uma fuga ao tempo que tentava me acalmar para pensar. Olhei a minha volta apenas memorizando que tudo parecia tão claro quanto a entrada do casarão. Eu não sairia pela porta, ele podia muito bem estar atrás dela só para garantir que eu não fugisse então só me restava a janela de correr.
Pulei da cama e limpei meu rosto, andando a passos surdos até minha rota de fuga. A facilidade com que levantei a janela só podia ser um sinal de Deus para o sucesso da missão. Olhei para baixo a fim de calcular o quão lesionada eu ficaria se pulasse dessa altura. Sendo o segundo andar, eu poderia quebrar alguma coisa, então não seria legal. Tentar dar uma de mulher aranha também não era uma alternativa, então me veio a ideia mais idiota que já tive. Eu definitivamente deveria parar de assistir tantos filmes. E como a boa palerma que era, fui logo colocar em prática. Abri o guarda-roupa e encontrei o que procurava, lençóis. Havia três ali, então arranquei o branco que estava na cama, deveria dar para o gasto.
Torci o primeiro e o amarrei na ponta do segundo, fazendo um nó reforçado — tarde demais para me arrepender de não ser escoteira —, repeti com os outros, e em questão de minutos eu tinha a maior catástrofe em minhas mãos, uma corda feita por mim mesma. Enrolei no trinco da janela e joguei minha obra para fora, não chegava exatamente no chão, mas era quase. Testei sua firmeza algumas vezes, decidindo sabiamente que me aguentaria. Fiz o sinal da cruz e me sentei no parapeito da janela, evitando olhar para baixo para não me acovardar. Minha barriga já revirava de nervoso, o botão vermelho de "vai dar muita merda" na minha cabeça já estava ativado, e mesmo assim não desisti. Virei-me lentamente de costas e agarrei o parapeito, estendendo meu corpo o máximo que podia para encurtar o tanto que me apoiaria apenas nos lençóis. Firmei meus pés na parede e respirei fundo algumas vezes antes de segurar com uma mão a corda improvisada, mais uma vez me pareceu seguro, então, hesitante, fechei os olhos e soltei da janela, me segurando inteiramente ali. Esperei que me chocasse contra o chão, não aconteceu. Era abusar da sorte não agir com rapidez — o repuxar alarmante dos lençóis reforçava isto —, logo movi as mãos e os pés um de cada vez para descer, rezando um Pai-Nosso, eu não transpirava apenas por esforço.
Já estava na metade do trajeto, quase feliz por estar obtendo êxito, quando o tecido sob meus dedos reclamou mais intensamente de alto esforço e sem aviso prévio, o nó soltou. Caí com um baque no chão, de costas, exteriorizando um gemido baixo, iniciando um latejar na cabeça, no tronco e braços. Parabéns, Faith.
Expirei ao perceber que segurava o ar para não sentir as dores, o que não estava funcionando, e me apressei em levantar, temendo que alguém pudesse ter ouvido meu pouso elegante. Meu corpo reclamou com o pequeno esforço, mas eu não podia me dar ao luxo de um descanso. Eu estava no campo onde eu e Justin cavalgamos, a lembrança perfurou meu coração. Desviei meus olhos do lugar e me centrei em contornar as extremidades do casarão, passando rápido na frente da porta que dava acesso a recepção. O lago refletia a escuridão da noite, prometendo me afogar se eu experimentasse me aproximar. Era cômico como o rancho mágico e cativante de outrora cedia lugar para um obscuro cativeiro.
A esperança borbulhou em meu sangue quando vi o caminho de pedras da entrada, só para ser esmagada ao notar Justin bem em frente a porta olhando para o céu, a expressão tão preocupada sob o brilho da lua ainda o deixava glorioso, e minha memória masoquista me recordou da primeira vez em que nos vimos, em como fiquei boquiaberta com sua beleza enquanto o acompanhava até seu carro. Fiquei com raiva de mim por me afetar tanto com isso, era como levar um soco no estômago. 
Evidente que sua visão periférica notou minha presença antes que eu pudesse me reorganizar para recuar e reformular minha fuga. Ele arqueou a sobrancelha, implicitamente me questionando e já avisando que eu não poderia medir forças com ele.
Elevei minha cabeça e marchei com dignidade pelo caminho, como se pudesse sair sem que me impedisse.
— Onde você pensa que está indo? — perguntou um pouco irritado.
Selei bem meus lábios, me achando no direito de não responder. Ele foi vindo ao meu encontro e considerei correr, mas seria uma cena ridícula. Então parei onde estava e levantei a palma da mão para que não se aproximasse.
— Eu estou indo para casa, Bieber. Ninguém, muito menos você, vai me impedir disso — alertei sem olhar em sua direção.
Dito isso, experimentei mais um passo, mas ele me imitou. Bufei e olhei para seu rosto.
— Eu não preciso que você finja que se importa. Se não ficou claro, não quero saber de você. Sei me virar muito bem sozinha — esbravejei.
Como costume, nem uma palavra saiu de sua boca, ele parecia inatingível. Eu quase ri de nervoso e tentei andar de novo, mas o mesmo aconteceu.
Justin Bieber estava testando meus limites.
— Escute, eu vou sair daqui, e se pra isso precisar passar por cima de você, eu vou fazer. Então sugiro que saia da minha frente — falei devagar e incisiva, usando o máximo de paciência que eu tinha para fazê-lo entender.
Um traço de humor surgiu em seu rosto, apreciando o desafio. Eu definitivamente o odiava.
— Faith, pare com essa palhaçada e volte pro quarto, ambos sabemos que você não pode passar por mim. Então vamos evitar toda uma cena, sim?
O fuzilei com os olhos e finquei o pé no chão, decidida a não morrer sem lutar, literalmente.
Disfarçadamente procurei alguma coisa com que pudesse acertá-lo para ficar em vantagem, porque eu sabia que ele ganhava com experiência em trucidar pessoas diariamente. Sem contar o fato de que possuía uma arma. Mas não poderia usar contra mim, poderia? Eu não tinha mais certeza de nada. Não encontrei um galho sequer e apostei alto nas minhas aulas de defesa pessoal com Caleb, pelo menos algum trabalho ele teria.
Sua cabeça se inclinou levemente para a direita, descrente que eu insistiria nisso. Avancei novamente, não sem que ele também o fizesse. Apressei os passos, reconsiderando a ideia de correr, talvez não fosse tão ruim se isso me fizesse vencer. Já mais perto dele, disparei, vislumbrando minha única oportunidade. Consegui contorná-lo e corri sem olhar para trás, mas podia ouvi-lo se aproximando de mim cada vez mais, por isso, não fiquei tão surpresa quanto decepcionada quando ele me agarrou.
— Me solta! — protestei, me debatendo.
Seus braços estavam como barras de ferro envolvendo os meus e minha cintura, impossibilitando-me de usar as mãos. Joguei meu corpo para trás, tentando derrubá-lo no chão.
— Faith, pare!
Era um exagero que ele fosse bem mais forte do que aparentava.
Sem desistir, empurrei meus pés contra o solo, tomando impulso para trás. Dessa vez, obtive sucesso e ambos caímos no chão. Eu escutei seu gemido quando caí em cima dele, feliz por fazê-lo pagar pelo tombo que tomei da janela. Aproveitei o momento e me levantei num salto, prestes a correr outra vez se não fosse sua mão agarrando meu pé. Só não bati o rosto porque levei minhas mãos a frente para sustentar o meu peso. Mais rápido do que eu poderia imaginar, eu de repente estava de costas para o chão e ele estava em cima de mim, as mãos como garras agarravam meu pulso que protestou de dor.
— Você quer parar com isso?! — ele grunhiu.
Remexi-me embaixo do seu corpo, longe de me dar por vencida, mas eu quase não saía do lugar. A frustração lacrimejou meus olhos.
— Faith, por favor — insistiu.
Esperneei até estar degastada fisicamente, perdendo as esperanças. O choro vergonhoso de um perdedor fluiu naturalmente em seguida.
— Eu não quero ficar aqui! Você não consegue entender isso?! Eu não confio em você! Eu não sei nem mais quem você é! Me deixa!
Sua testa se franziu levemente com o apelo. Agora ele se compadecia da minha situação?! Oh, graças a Deus, não chamem mais o médico porque os sentimentos do maníaco voltaram.
— Eu não vou deixar que se machuque — ele retrucou firme, franzindo os lábios.
Choraminguei desiludida.
— Seu idiota, você está me machucando!
A mesma fisionomia de angústia de quando ele me viu chorar após a morte de Erin pintava seu rosto. Mas nada mais era igual. Ele não tinha esse direito.
— Se eu te soltar você vai fugir — justificou-se, a voz mais baixa.
Neguei repetidas vezes.
— Isso não é nada comparado ao que você fez no meu interior — cuspi, ressentida.
Ele demorou um pouco para compreender, mas assim que percebeu, desviou os olhos, a expressão fúnebre.
— Desculpa, eu não posso permitir que saia — murmurou com pesar, segurando meus pulsos com uma mão só e levando a mão no bolso de trás da calça.
Num movimento rápido, estava pressionando um pano levemente úmido contra minhas vias respiratórias. Eu me debati, de início não identifiquei sua intenção, depois pensei que me mataria asfixiada — busquei ar desesperadamente —, e só fui entender o que realmente acontecia quando ficar com os olhos abertos se tornou mais difícil do que sair debaixo dele, meus sentidos escapavam de mim lentamente e a última coisa que vi foram seus olhos tristes determinados.

Quando consegui abrir os olhos outra vez foi resultado de um barulho agudo e irritante de alguma coisa sendo serrada. A claridade me cegou e eu já estava desnorteada o suficiente.
— Ótimo, ela está acordada — a voz feminina era debochada.
Pisquei para conseguir enxergar alguma coisa, a primeira coisa que identifiquei foi um sofá marrom. Sentei-me e procurei quem falava para me situar.
A menina do cabelo longo e loiro escuro e olhos azuis estava encostada na cadeira da cozinha, tomando algum líquido verde, eu vi o liquidificador aberto na pia atrás dela, entendendo o barulho que me acordara; suas vestes rosa só poderiam ser de academia, e sua expressão não estava nada feliz, comprovando minha teoria de deboche.
Eu não sabia onde estava e como havia chegado ali, meu corpo estava pesado, igualmente a cabeça que estava tendo dificuldade para raciocinar, mas com certeza eu não era bem vinda.
— É normal que esteja confusa. Bieber disse que tem um espírito um pouco agitado, por isso a concentração química foi maior — ela explicou com tédio, vindo para a sala luxuosa, reparei.
Em pequenos flashes eu fui relembrando a noite louca que tive e por um momento desejei ter continuado com amnésia momentânea, a última lembrança era dele em cima de mim me fazendo respirar através de um pano.
Desgraçado.
Levantei num salto, determinada a continuar com meu plano de fuga, eu me desequilibrei e quase caí. Era ótimo estar grogue. 
Ela revirou os olhos, se sentando no sofá do lado oposto e cruzando as pernas grossas. O corpo era definido, então sua bebida deveria ser nutritiva. Eca.
— Querida, se eu fosse você, sentaria aí e relaxaria você não vai conseguir sair daqui, nem sabe a onde está. 
Semicerrei os olhos, encarando sua expressão convencida.
— E quem vai me impedir de sair? Você? — minha voz rouca não me dava muito credito.
Ela pigarreou e apontou com a cabeça para a parede da sala, onde eu não havia reparado nas fotos. Eu não sabia que existiam tantas modalidades de luta assim, e parecia que ela era faixa preta em todas. Respirei fundo, lamentando a derrota iminente que, como um exemplo de garota orgulhosa, eu não evitaria. 
— E se isso não é suficiente, até parece que Justin Bieber não tomaria o máximo de precaução nos assuntos que lhe interessa. Tenho seguranças em cada mísera entrada de ar que você possa imaginar, então mesmo que você consiga o impossível, que é passar por mim, duvido que vá muito longe da porta.
Ela parecia bem contente com minha desgraça, e isso me irritou. Cruzei os braços com teimosia.
Seu olhar pra mim foi descrente.
— Se preferir pode testar meu nível de aprendizagem, e vou logo avisando que não gosto de jogar limpo, ou você pode sentar aí que eu te dou as respostas que vejo na sua testa que você quer — sua oferta deixava claro que ela não se importava com o que eu fosse escolher, até arriscava dizer que se divertiria mais com a primeira opção.
— Você sabe que minha família pode estar em risco? Eu preciso me certificar de que estão bem e avisar que eu estou pelo menos viva.
Seus olhos se reviraram.
—  Seu pai, sua mãe e seu irmão estão trabalhando, seus empregados continuam bem também. Eles não encostaram um dedo na sua família, não seriam tão loucos para isso, são profissionais. Posso te garantir que nada vai acontecer a eles — ela me olhou fixamente, se certificando de que eu entenderia. Pelo jeito estava a par da situação — Por precaução, Justin também mandou pessoas lá.
A encarei para ver se mentia, não parecia, mas eu não podia confiar nela.
— Profissionais? — questionei.
— Assassinos. Eles tem um alvo, e não são seus pais. Com certeza já avisaram que você está com Justin, então já devem estar dando meia volta no plano que tinham e escolhendo a próxima vítima. Justin só quer se certificar disso. 
Ela achava que dizer que haviam assassinos atrás de mim deveria me tranquilizar?! E por que eles estavam atrás de mim?!
Seus olhos captaram meu pânico.
— Não se preocupe, você não corre perigo. Estou te dizendo, Justin é muito bom no que faz. Ninguém quer ir contra a família dele. 
Neguei com a cabeça.
— Eu não confio nele, até onde eu sei isso é um sequestro. Só quero me certificar de que minha família está bem — eu implorei.
Ela suspirou e enfiou a mão dentro do seu decote, tirando um aparelho celular de lá.
— Podemos fazer assim, vou ligar para algum deles e te mostrar que está tudo bem. Mas se tentar fazer alguma gracinha... — ameaçou.
Concordei com a cabeça rapidamente. Se eu abrisse a boca ela desligaria o telefone e não saberia como eles estavam. Eu havia me metido nessa situação, poderia sair dela sozinha.
Ou não.
Passei o número de Caleb e ela digitou, colocando no viva voz. Chamou algumas vezes e ele atendeu em seguida.
— Alô?
Escutar sua voz deu um nó na minha garganta, a tranquilidade com que falava me deu indícios de que não havia nada fora do normal. Ele sempre fora um refúgio pra mim,  eu só queria abraçá-lo e contar a noite de merda que eu tinha tido. 
— Olá! Aqui é a Brigette amiga da Faith, ela me passou seu número por precaução porque nunca atende aquele celular. De qualquer forma, estamos brigadas agora, e não quero falar com ela. Mas assim que chegar em casa, você pode avisá-la que estou me mudando para o México amanhã? — ela inventou uma história sem pé e nem cabeça e tive certeza que ele me mandaria uma mensagem perguntando sobre.
— Claro. Pode deixar — respondeu hesitante.
— Obrigada. Tchau — ela desligou rapidamente, então me olhou — Satisfeita? Nem perceberam sua ausência.
Assenti, tentando me convencer de que eles ficariam bem. Respirei fundo algumas vezes para me acalmar. Eu estava cansada de elaborar planos de fuga, meu corpo não parecia muito disposto a outro. Eu poderia esperar minha recuperação e arrancar-lhe o máximo de respostas que podia para então fugir.
Ela finalizou o que tomava e colocou o copo na mesinha de centro, passando a língua sobre os lábios para eliminar os resquícios. 
— Bom, primeiramente, não, eu não tenho nenhuma relação amorosa com Justin — começou, dando um sorrisinho malicioso por acertar em cheio a menor das minhas preocupações — Segundo, não estou mentindo. Terceiro, sou Caitlin, essa é a minha casa, e não sou uma assassina. Quarto, Bieber foi resolver tudo isso, e quinto, eu sou a babá. 
— Ele não pode, não sem se machucar, não sozinho — eu estava tremendo, e dessa vez não era apenas por mim e minha família.
Faith, você está mesmo se preocupando com ele depois de tudo??!
Ela quase deu uma risadinha, zombando da minha preocupação.
— Você deveria saber que ele é bem resistente. Os Biebers sempre tiveram uma rixa com esse grupinho, sabem muito bem como botá-los no lugar — ela disse aquilo como se eu fizesse ideia do que falava.
Eu não sabia muito, apenas o que pude desvendar sozinha e um discurso pequeno de ódio de um homem que eu não conhecia.
Caitlin franziu as sobrancelhas ao ver minha expressão, balançando a cabeça em seguida,
— Você não sabe de nada, não é? Isso quer dizer que eu devo manter minha boca fechada — refletiu, e antes que eu pensasse em um ataque, concluiu — Sorte sua que não tenho medo de Justin Bieber — um sorriso quase angelical se abriu em seu rosto, mas eu via que sua intenção era perturbar Justin. Lembrou-me das minhas provocações com Caleb.
Ela se levantou e voltou para a cozinha, colocando o copo na pia e abrindo a geladeira. 
— Suponho que esteja com fome, e ninguém deveria ouvir uma coisa dessas com a barriga vazia. Gosta de salada de frutas? — Caitlin tirou um pote transparente de dentro da geladeira e pegou uma colher na gaveta, me estendendo.
Eu até poderia dar uma de durona, mas estava mesmo com fome, o que me fez indagar que horas eram. Vasculhei com os olhos atrás de um relógio, encontrando um acima da lareira que marcava onze da manhã. Isso significava que passei doze horas apagada. Eu mataria aquele homem.
— Faith, não é? — perguntou, caminhando de novo para a sala — Serio, você vai ganhar muito mais se conversar comigo, me deixa te ajudar — aconselhou, ainda com a salada de frutas estendida para mim.
— Você nem me queria aqui, para início de conversa, que eu sei. Por que devo confiar que quer me ajudar? — perguntei desconfiada.
Ela deu de ombros.
— Não queria mesmo, mas me lembrei de que ainda não fiz minha boa ação do dia.
A encarei para identificar segundas intenções, mas não havia nada.
Eu deveria me alimentar para retomar as forças. Peguei o potinho de suas mãos e ela deu um sorrisinho, voltando a se sentar no sofá. Receosa, fiz o mesmo.
— Tudo bem. Para responder suas perguntas, primeiro preciso entender o que vocês dois tem. Estão juntos? Sei que está apaixonada, e para que esteja disposto a te proteger, você também tem que valer muito pra ele. Eu sei que não é uma assassina também.
Coloquei a primeira colherada na boca, disfarçando o quanto falar de sentimentos de repente era doloroso. Eu tinha um valor alto pra ele? Era difícil de acreditar. Pra mim parecia mais que não queria dividir seu brinquedinho com os colegas do parque.
— O que foi? Tem alguma fruta estragada? — ela percebeu minha fisionomia.
Dei uma risadinha sarcástica.
— Ele não demonstrou esse alto valor que você diz que tenho ontem na night club — disse amarga.
Caitlin pareceu confusa com minha reação.
— Então vocês tem mesmo alguma coisa seria? Justin Bieber num relacionamento?
— Não mais — retruquei, ignorando o latejar em meu peito.
Ela levantou as sobrancelhas, sobressaltada.
— Suspeitei, ele insistiu muito para que eu ficasse com você, e ameaçou cortar minha cabeça se a perdesse de vista. Justin nunca foi bom em pedir favores.
Desviei os olhos para ignorá-la, eu não queria ouvir o quanto ele estava pagando de cavalheiro andante, isso não combinava com seus novos atributos em minha cabeça.
— Ele sempre viveu nesse meio Faith, o que esperava? — me disse, implicitamente reprovando que eu estivesse magoada.
Bufei, fitando seu rosto.
— Que ele me dissesse que vivia nesse meio, eu nem me aproximaria. Só descobri quem ele era ontem, então me desculpe se passei mais de um mês enganada.
A possibilidade de ele estar vendo outras mulheres durante todo o tempo que ficamos juntos passou na minha cabeça, me atormentando. Eu já poderia ganhar o prêmio da mais iludida do ano.
— É lógico que ele não te contaria. Você não percebe? Em vinte e dois anos, pelo que eu saiba, ele nunca teve vontade de se relacionar com pessoas fora do trabalho, te contar seria te perder. Eu não o julgo por preferir ter você por perto.
A fúria borbulhou em meu sangue.
— Claro, devo agora me comover com a situação de um cafajeste que encontrou amor pela primeira vez na vida, que de manhã se sacia com a trouxa e a noite procura outras mulheres para satisfazê-lo.
Ela arqueou a sobrancelha.
— Você está com raiva por ele ter te “traído” — fez aspas com a mão. E isso apagou qualquer estima que eu pudesse ter por ela — ou por ser um assassino?
— Por ele me enganar, em ambos os assuntos.
— E ficaria com ele se te contasse desde o início do que trabalha?
Eu não podia acreditar no quanto ela fazia perguntas óbvias, então me poupei de respondê-la, olhando o horizonte com a cara fechada.
— Está vendo. Não foi bem uma escolha — concluiu satisfeita, como se estivesse certa.
Dei um suspiro irritado.
— Caitlin, ele é doente, eu não gosto de pessoas doentes, fim de papo. Se tivesse me contado desde o início, nos pouparia de todo esse problema agora. Se alguém precisa de um conselho é você, não se aproxime de gente que não valoriza a vida humana.
Ela estalou a língua.
— Você é bem superficial — resmungou.
Imediatamente meus olhos pararam nela, pasma como eu estava.
— Com licença?
Caitlin também estava com raiva.
— Não é só porque as pessoas matam que são doentes.
Eu ri com ironia.
— Você está se ouvindo?
Ela me fuzilou com os olhos, talvez desejando mais agora que eu tivesse decido lutar.
— A realidade que vivemos é bem diferente, Faith Evans. Se você pudesse sair desse seu mundinho de filhinha de papai veria que muitas pessoas não tem a oportunidade de uma escolha, que não tem todas as portas abertas porque tem dinheiro suficiente para comprar um país.
Agora ela estava me julgando?!
— Estou vendo mesmo o quanto sua vida é diferente da minha — ironizei, batendo no seu sofá provavelmente mais caro que uma casa no subúrbio.
— Isso foi construído com muito esforço meu e do meu irmão. Nunca vou apoiar a escolha que ele fez, mas também não serei hipócrita de julgá-lo — ela rebateu.
Sua posição defensiva agora fazia o mínimo dos sentidos, seu irmão também era assassino. Eu queria desesperadamente sair daquele meio insano.
— Christian foi uma boa pessoa, quem o conhecia sabia disso.
Eu não sabia dizer mais se ela falava comigo ou tentava se convencer disso, mas não deixei de reparar na conjugação feita no passado, então recuei.
Ela olhou para uma das fotografias na parede, mordendo a boca. Então o menino ao seu lado nas fotos não era o namorado como pensei.
— Sempre disse a ele que havia outra escolha, mas Bieber estava ali oferecendo a oportunidade de sua vida. Ele entendia os riscos que estava tomando, depois que você entra nesse negócio não da mais pra sair. Eu deveria ter entendido isso e não insistido para que saísse, deveria saber que eles não deixariam barato... — ela parou de falar quando a voz embargou, respirando fundo para se controlar.
Passaram-se alguns segundos até que tivesse certeza que estava bem, então olhou pra mim, se lembrando da minha presença.
— Justin não estava de acordo com a decisão deles, e tem vindo bastante aqui nestas semanas por se sentir responsável. No fundo eu sei que a culpa não é dele, mas não consigo tirar essa sensação de mim. Ainda mais agora, tudo o que tenho é pena, Chris escolheu entrar nesse meio, mas Bieber já nasceu ali. Ele não vai conseguir sair.
Por um instante senti um pouco de compaixão, influenciada por seus olhos tão convincentes. Mas as palavras de Justin deixavam claro que ele não era vítima nessa história.
— Você disse nestas semanas? Ele... Se foi recentemente? — perguntei hesitante, me decepcionando por não conseguir nem perceber o luto de Justin, que dirá seu eu verdadeiro.
Ela assentiu.
A única coisa que me vinha à mente era seu surto quando um amigo foi demitido. Ele havia me dito que eu não poderia ajudar, pois o rapaz já havia voltado do lugar de onde viera. Sua reação me parecera intensa demais na época para uma simples demissão. Então esse amigo só poderia ser Christian.
Quanto mais eu conhecia seu mundo, mais sabia que nunca deveria ter entrado nele.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

One Life 30


A partir do momento que pisei fora daquele estabelecimento fui assaltada por um choro intenso e ressentido, um sentimento mais sombrio que a negritude da noite sem o brilho da lua e das estrelas. Assustei-me com a reação e tentei conter, mas estava longe do meu controle. Eu não podia ser vista assim, e seria pior se tirassem uma foto minha para eternizar esse momento infernal em uma das colunas sociais. E embora fossem muitas desvantagens – como não enxergar um palmo a minha frente por causa das lágrimas estúpidas – a situação apenas se agravava.
Eu precisava de uma pausa e não poderia ser ali, então me dirigi ao espaço vazio ao lado do night club, me escorando na parede e tentando respirar.
Está tudo bem Faith, não precisa de tudo isso, é apenas mais um babaca.
Repeti as palavras para mim umas quinhentas vezes, e não surtia efeito. Eu só queria saber por que, por que eu não havia sido suficiente?
Bati em minha testa algumas vezes, grunhindo de raiva. Raiva por me deixar apaixonar por alguém que sempre foi cheio de segredos, raiva por ele ter insistido em se aproximar de mim, raiva por sentir uma dor tão sufocante e não conseguir fazer parar.
Mas como eu adivinharia que por trás de todas aquelas declarações tão genuínas havia um lixo humano ambulante?
— Ei! — o chamado veio de trás de mim e eu não pude ao menos me enganar pensando ser Justin com uma explicação surrealmente plausível, por saber que aquele não era seu timbre.
Limpei meu rosto antes de olhar para trás, tendo conhecimento de que era impossível disfarçar o quanto eu estava me desafazendo.
Eram dois homens trajando uma roupa social preta, então logo deduzi estar em uma área proibida, por mais que fosse apenas um beco sem saída.
— Você precisa de ajuda? — o mais alto perguntou, analisando minha expressão destruída com cautela.
Neguei com a cabeça, incapaz de dizer que ninguém conseguiria tirar a faca invisível das minhas costas.
Os dois se entreolharam provavelmente me taxando de louca, e o moreno careca deu um passo calculado em minha direção.
— Nós podemos ajudar você.
Recuei um passo para trás instintivamente. Era tarde da noite e eu estava “encurralada” por dois homens em um beco, minha paranoia era mais do que lógica e bem vinda.
Pigarreei para poder falar.
— Não precisa, obrigada — o som não saiu forte e claro, mas era audível.
Eles olharam para os lados antes de dizer a próxima coisa:
— E você está aqui sozinha? — o mais alto perguntou, avançando mais um pouco para mim.
O gelo desceu por minha espinha, reconhecendo enfim o perigo iminente.
Fiquei irritada com o mundo, eu não poderia ao menos sofrer em paz?!
Eu já estava emocionalmente debilitada de tal forma que afetava meu físico, portanto não era bom momento para precisar das minhas pernas.
Fechei a mão em punho, tentando demonstrar força para que não se metessem comigo.
— Por que querem saber? — rebati, me desencostando da parede e ficando seria, enquanto por dentro rezava o rosário inteiro.
Deus me ajuda.
Fiz uma análise da situação, eles eram dois enormes, era lógica que nem de um eu podia dar conta. Mas imaginei a cena, enquanto um me agarrava, eu chutaria o outro, espernearia e gritaria. Estávamos perto do night club, não era possível que pelo menos os três homens na porta não me ouvissem.
A possibilidade de ouvirem e não se importarem com isso passou em minha cabeça, me fazendo suar frio. “Mulheres não pagam, não desse jeito”
Os dois abriram um sorriso desafiador, minha marra era motivo de diversão. Que ótimo.
— Não se preocupe, por enquanto vai ficar tudo bem.
Eles começaram a andar em minha direção, me estudando para saber a hora de empenhar movimentos mais rápidos, como uma cobra prestes a abocanhar um rato. E eu era uma presa fácil, deitada em uma bandeja com uma maçã na boca.
Fui recuando, pela primeira vez sentindo falta de Willian. Era uma grande piada que no único momento em que eu precisava de segurança, não estivesse com nenhum.
Minha garganta estava seca, e temi não conseguir gritar. Respirei fundo, tomando fôlego para uma experiência.
— Se afastem de mim! — tentei. Não foi bom o suficiente, eu soava mais como um gatinho assustado do que com um leão. Isso fez com que rissem, estimulando a investirem.
Dei de costas com o final do beco, ficando oficialmente sem saída. Tomei forças mais uma vez para um grito de socorro ao mesmo tempo em que separei os pés e apertei os punhos ao lado do corpo.
Que o Espírito Santo aumente minhas forças.
Estava prestes a soltar um grito de pantera quando a voz interrompeu:
— Temos algum problema aqui? — a educação enganosamente polida era inconfundível.
Localizei Justin entrando no beco, o rosto exprimia um sorriso que parecia mais ameaçador do que se estivesse serio, as duas mãos escondidas nos bolsos da calça.
As reações dentro de mim foram controvérsias, um complexo de alívio, raiva, ressentimento e desespero ao constatar que ele era um contra dois de porte físico mais elevado.
Depois da noite de hoje, eu deveria querer que levasse uma surra. Entretanto, o monopólio de bater nele era meu, terceiros não deveriam intervir, muito menos quando minha vida dependia de seu êxito.
Os agressores hesitaram, e um deles pronunciou com desdém:
— Bieber.
Como eles poderiam se conhecer? A menos que ambos fossem clientes leais desse lugar. Isso me nauseou, sempre que Justin estava longe de mim era aqui que se encontrava?
O sorrisinho no rosto do traidor se ampliou enquanto ele se colocava agilmente entre mim e a ameaça. Eu queria poder dar uma surra nos três.
— Se me conhecessem deveriam saber estar pisando em terreno proibido.
Por mais absurdo que parecesse, a ameaça implícita teve efeito, eu pude ver um fantasma de temor em seus olhos. Mesmo assim, o careca teve coragem de rebater:
— Não é o que anda parecendo. Você está vacilando, e sabe que estamos logo atrás.
Justin quase riu.
— Vocês com certeza precisam aprender novamente o que é uma hierarquia, para que fique bem claro que estou no topo. E como um gesto excepcional de piedade, vou deixar com que vão embora com o rabinho entre as pernas. Não é uma oferta que perdura no tempo, é única e para agora. Claro, se não quiserem sofrer as consequências, tendo ainda em vista que estão na minha área.
Nada daquilo estava fazendo sentido pra mim, apenas era claro que Justin não estava brincando ou blefando, e isso era loucura. Nós que precisávamos partir naquele exato momento.
Surpreendentemente os dois cogitaram a oferta, e aproveitando essa oportunidade, Justin fez um sinal com a cabeça para mim.
— Faith, vamos. Pela esquerda.
Mesmo que eu sentisse estar sem forças, consegui mover meus pés um na frente do outro, ficando vacilante por ter que me aproximar dos dois armários. Passei quase grudada a parede enquanto Justin ficava me cobrindo, se movendo de acordo com meus passos, o olho fixo na postura deles. Os ultrapassei, chegando a calçada.
— Boa noite senhores, escolha inteligente — Justin elogiou, andando de costas até mim.
Ele segurou meu pulso, me puxando para atravessar a rua apressadamente, tive vontade de puxar de volta, mas enquanto eu não estivesse segura não poderia ceder aos meus caprichos. Chegamos do outro lado da rua, onde estava seu porshe. Tão a vista, ele não fazia questão nem de esconder onde estava?
O alarme foi destravado e meu pulso libertado.
— Entra — ele ordenou, a voz inflexível não deixava aberta discussão.
Quis retrucar, mas nem de carro eu estava, então não tive escolha. Entrei de má vontade, e ele só entrou quando fechei a porta, arrancando com o carro em seguida. Fiquei encolhida no canto, me distanciando o máximo que podia dele. Salvar-me não apagaria seus atos dentro daquele lugar repugnante.
— O que droga você estava fazendo nesse lugar, Evans? — ele exigiu saber, visivelmente irritado.
Hipócrita. A raiva que me tomou encobriu o medo que me paralisava.
— Eu acho que quem deve fazer essa pergunta sou eu — minha voz arranhou minha garganta. Eu necessitava de água, era muita coisa para meu emocional lidar em menos de meia hora.
Ele me olhou, certificando-se de que eu estava bem. Eu não estava e não ficaria até dormir e apagar toda aquela merda da minha cabeça. Seu olhar captou a desgraça que estava meu rosto, então desviei.
Não recebi uma resposta, de repente o trânsito parecia atrair toda a sua atenção, por mais que eu pudesse ver que fervia por dentro por eu não lhe dizer também. A única justificativa para não insistir deveria ser em respeito ao que eu havia acabado de passar. Mas eu não deixaria que escapasse tão fácil.
— Me responde Justin. Eu só quero entender por que — eu disse, sem perceber que tremia, o choro estava retornando.
Eu não poderia exigir de mim mesma que mantivesse as aparências se eu tinha mais de um motivo para chorar. Mas será que não poderia segurar ao menos um pouco?
Seu silêncio parecia doer mais do que uma resposta infundada.
Toda frustração e desespero subiram pela minha garganta, formando um escândalo.
— Droga — ele reclamou, olhando pelo retrovisor e pisando mais fundo no acelerador.
Olhei para trás, tendo visão de uma caminhonete preta atrás de nós.
— Eles estão nos seguindo? — perguntei pasma.
Justin se limitou a assentir, manobrando o carro.
Será que eu não podia lidar com uma coisa de cada vez?!
Minha respiração acelerou, identificando o retorno do pânico.
Era o meu limite, eu não lidaria com aquilo sozinha apenas para não tomar bronca do meu pai. Peguei meu celular, prestes a discar o número.
— O que está fazendo? — questionou intrigado.
— Pedindo ajuda — respondi o óbvio, tentando fazer com minha mão parasse de tremer para discar.
— Faith, não faça isso. Nós vamos sair dessa sozinhos — ele afirmou.
Olhei pra ele como se fosse louco.
— Você perdeu quantos neurônios essa noite?! Isso é serio, Justin!
— E você acha mesmo que eu não sei?! Confia em mim Faith, não vamos envolver ninguém nisso, eles só vão se machucar.
Dei uma risada histérica.
— Confiar em você?! Depois de hoje você quer que eu confie em você? Do que droga você está falando, Justin? O que está acontecendo de verdade?
Ele franziu os lábios, estava claro que não ia contar. Meu sangue estava fervendo, eu não responderia por mim.
— RESPONDE AS MINHAS PERGUNTAS!!! — gritei, batendo as duas mãos no painel do carro.
O olhar que me jogou foi ameaçador, ele não gostava de ser intimado. Mas eu não gostava de mentiras, farsas, coisas escondidas de mim.
Nesse momento senti meu corpo ser jogado para frente, me chocando contra o cinto. O carro havia sido empurrado pelo de trás.
Justin grunhiu furioso e acelerou.
— Se segure — avisou com frieza.
Antes que eu pudesse entender seus planos, ele estava freando bruscamente, fazendo com que a caminhonete batesse contra o porshe em cheio. Foi outro baque contra o cinto e eu escutei a lataria amassando, além de vidro quebrando.
— Não sai do carro — ele ordenou, me olhando serio enquanto me estabilizava outra vez.
Só percebi sua intenção quando ele desceu, fechando a porta com uma força considerável atrás de si.
No que ele estava pensando?!
Eu estava apavorada, não queria olhar para trás, mas eu ouvia sinais de luta que me fazia tremer e temi que o machucassem. Eu sabia que não poderia ser de muita ajuda e que ele havia mandado que eu ficasse onde estava, só que ficar parada enquanto provavelmente matavam o cara que eu infelizmente gostava, também não era uma opção. Discuti comigo mesma as opções até que um estouro oco reverberou sobre qualquer som, me assustando. Se parecia com uma arma.
Olhei para trás angustiada, tentando ver alguma coisa, mas a caminhonete estava bem no meu campo de visão. Uma voz inteligente me avisou para não sair do carro em hipótese alguma, mas a preocupação com Justin falou mais alto, e saltei imediatamente para fora. Dei a volta na frente do carro e tentei acalmar minha respiração, deixando o número do celular do meu pai pronto para que eu apenas apertasse na função “ligar”. Engoli em seco, me preparando para o quer que fosse, enquanto me aproximava.
A sensação agonizante cedeu um pouco assim que vi Justin agachado. Na frente dele, os dois sujeitos estavam deitados no chão, e era impossível ignorar a poça de sangue em volta de um deles. Imediatamente levei a mão à boca, reprimindo meu grito de pavor.
— É um recado. Eu quero que leve ao seu chefe, se tentarem se meter nos meus assuntos de novo, esse é o mínimo que farei com vocês. Você acha que pode avisar? Se quiser, eu o faço de outra forma — Justin falava com a voz firme, embora parecesse divertida.
O homem em sua frente gemeu de dor, e eu não me arrisquei a ver o motivo, sentindo os pelos dos meus braços se arrepiarem, me amedrontando.
— Ótimo. Foi bom conhecer vocês — ele se levantou e colocou atrás da calça uma espécie de arma.
Dei um passo incerto para trás.  Aquilo só poderia ser um pesadelo meu, com toda certeza era um. Justin não era assim, não frequentava lugares com strippers ou matava pessoas, ele era apenas um conciliador amante de tatuagens.
Seus olhos pararam em mim quando virou pra trás, e ele franziu a testa, reprovando minha atitude.
— Eu falei para ficar no carro — murmurou com censura, mas alguma coisa no meu rosto não deixou com que fosse mais incisivo — Vamos, a gente precisa sair daqui.
Não me movi, meu cérebro estava com mau funcionamento.
Ele respirou fundo e se aproximou de mim, fazendo menção de pegar minha mão. Com isso, me afastei dele, e metodicamente caminhei até a porta do carona, pensando algumas vezes antes de entrar.
— Faith, vamos — Justin pediu com a voz branda, já me esperando dentro do carro.
Expirei e entrei, mantendo meus olhos a frente conforme ele ligava o carro. O único som era o zumbido do motor funcionando, além de alguns outros barulhos que o carro fazia por causa do acidente. Eu não me surpreenderia se nos deixasse na mão.
Meu cérebro voltava a mil por hora, digerindo os acontecimentos recentes, fazendo analogias, tentando encontrar pontos lógicos e em comum em cada um deles, organizando tudo novamente na ala “Justin Bieber”, acrescentando informações e suprimindo outras.
— Eu não queria que visse isso — ele disse após alguns minutos de silêncio.
A questão que ficava era, qual das coisas que eu havia visto que o desagradava?
Não respondi e ele não me pressionou. Mantive-me quieta até prestar atenção na estrada que tomávamos.
— Onde estamos indo? — sempre fui péssima em geografia, mas eu tinha certeza que minha casa ficava do lado contrário para onde estávamos indo.
Ele respirou fundo.
— Preciso te tirar daqui, pra ter certeza que está segura.
— Justin, me leva pra casa — retruquei seria. Eu não ficaria com ele em nenhum lugar, muito menos sozinha em outro.
Ele me olhou rapidamente, persuadindo.
— Faith, não posso te deixar lá. Vai ser o primeiro lugar que vão te procurar. Me deixa acertar essas coisas e te levo.
Toda a ordem que eu estava criando em minha mente se rompeu.
— Você está dizendo que mais gente como eles vai me procurar?! E na minha casa?! Minha família está lá, Justin! Dá a volta!
Ele estalou a língua, acelerando.
— Você não entende, não vão fazer mal a eles, só querem te achar, fique tranquila. Aliás, seus pais têm aqueles seguranças. Me deixa só te deixar em segurança que eu volto para conferir.
— A onde raios você está me levando?! Eu não vou deixar eles sozinhos! — protestei, me desesperando outra vez.
— Evans, eu sei o que eu estou fazendo, você é que não faz a mínima ideia do que estamos lidando. Eu te prometo que eles vão ficar bem — sua voz e seu olhar eram nutridos de certeza. Mas eu não me deixaria enganar por essa mesma certeza que me deu quando disse que não tinha olhos para outra mulher.
Grunhi, pegando meu celular para avisar meu pai que eu estava sendo sequestrada e todos corriam riscos. Em questão de um segundo o aparelho não estava mais na minha mão, voando janela a fora.
Eu explodi de raiva.
— QUEM VOCÊ ACHA QUE É?! VOCÊ ESTÁ LOUCO JUSTIN BIEBER?! EU QUERO IR PRA CASA! E AGORA VOCÊ ME DEVE UM CELULAR NOVO! E NUNCA MAIS QUERO OLHAR NA SUA CARA!
Ele nem olhou pra mim, me enfurecendo mais. Eu não me importava se causaria um acidente, eu só precisava bater no rostinho perfeito daquela criatura abominável. Antes que minha mão pudesse atingi-lo, a sua estava segurando e me empurrando contra a porta, para que eu não pudesse tentar com a outra.
— Pelo amor de Deus dá pra você parar?! Assim que a gente chegar eu te explico tudo, mas não posso fazer isso se nós dois acabarmos mortos por um acidente de carro! — ele quase gritou exaltado.
— Então me diz onde estamos indo! — exigi, imbatível.
Justin bufou, e eu apostava alto que estava quase me jogando para fora do carro. Pois o sentimento era recíproco!
— No rancho de Harold. Feliz?! Agora relaxa por tudo o que é mais sagrado!
Fuzilei-o com os olhos, longe de estar satisfeita. Depois de ter certeza que eu não atacaria, enquanto eu me remexia, ele me soltou.
Cruzei os braços com indignação. Esse com certeza era o pior dia de todos.
Foi uma eternidade até chegar naquele rancho, e quando eu abri a porta o carro mal havia parado. Andei como um furacão pela estradinha que conduzia a luz fraca acesa na recepção. Por mais rápida que eu estivesse, Justin me acompanhou com facilidade, e abriu a porta num só tempo, já chamando.
— Harold! Harold! — ele estava agitado, inquieto e perturbado, e eu não me sentia nada culpada por ser a responsável por isso.
O senhor apareceu sobressaltado por uma porta atrás do balcão, andando apressado.
— Senhor Bieber, como posso ajudar?
Ele mal esperou que terminasse, já disparando.
— Eu quero um quarto.
— Dois — intervi.
Harold olhou pra mim com um sorriso hesitante, me reconhecendo, e então seu olhar disparou de Justin a mim, a expressão temerosa.
— Justin, você sabe que os negócios não podem mais ser feitos aqui... — ele começou hesitante.
Justin bateu a mão no balcão, arqueando a sobrancelha.
— Um quarto, Meyer — repetiu e eu expirei — Eu não vou fazer nada.
Ele assentiu devagar, e se abaixou para pegar uma chave, passando em seguida para a mão já estendida de Justin. Assim que a tinha nas mãos, segurou meu pulso, me guinchando pela escada.
— Me solta, idiota — puxei meu braço de volta, subindo na frente dele.
Eu não sabia em qual das portas era, então apenas entrei no andar como se soubesse o que estava fazendo, seguindo a passos firmes até o final do corredor. Por sorte, era bem a porta vermelha a minha esquerda. Não olhei para ele enquanto abria a porta, e Justin me deixou entrar primeiro.
Não reparei na decoração do quarto, apenas me voltei novamente para a porta quando cheguei ao meio dele, um caos de informação voava em minha cabeça, e eu só queria expelir tudo aquilo.
— E então? Será que você pode me dizer o que droga foi essa noite?! Quem eram aqueles dois caras? O que eles queriam comigo? E uma ova que você é apenas um conciliador! Do que Harold estava com medo? Como você sabe matar uma pessoa? Por que tem uma arma? Como sabe o que está fazendo? Que negócio é esse de hierarquia que você está no topo?
Justin não deu um passo, após fechar a porta atrás de si, permaneceu imóvel em frente a ela, o rosto inexpressivo e fixo em mim. Ele não tinha planos nenhum de falar alguma coisa, eu podia ver isso, o que serviu de combustível para minha fúria, que consumia todo meu corpo, se misturando com o estresse pós-traumático, eu tremia, meu coração corria. A qualquer momento eu me sobrecarregaria e não seria muito agradável.
— Quem é você Justin Bieber? E agora não quero mentiras! Não quero que use esse seu dom idiota de convencer as pessoas para me enganar! Você me deve isso! Quem é você e o que quer de mim?!