Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

One Love 4

Caminhei desnorteada até o homem de costas. Seu físico era do tamanho certo. O modo de se vestir era certo. Mas quando toquei seu ombro, incerta de que minha mão não atravessaria seu corpo — imaginando que seria mais um fruto de minha imaginação —, os traços do rosto não eram.
O homem aparentando uns trinta anos arqueou a sobrancelha para mim, me esperando falar alguma coisa útil. Entretanto, eu estava engasgada com frustração e a toxina que meu coração liberava a cada vez que sofria um ataque.
— Pois não? — ele me incentivou.
Me forcei a engolir tudo, sabendo da importância que era essa noite para Hazel. Consequentemente, para o meu emprego e o cumprimento da minha promessa.
Mentalizei um sorriso profissional e proferi minhas desculpas mais convincentes.
— Gostaríamos de saber se está aproveitando a noite. O que achou de Rafael Mendez?
Um ar de compreensão limpou sua expressão, deixando apenas alguns resquícios em seus olhos castanho escuros. Não claros.
— Ele é um grande pintor, vocês tiraram a sorte grande. Até me sinto inspirado a comprar um quadro.  
Suas palavras não fizeram o menor sentido ao passarem por meu ouvido, eu estava ocupada demais em listar as diferenças da simetria de sua boca e um coração.
— Claro. Se eu puder lhe ajudar me procure.
Me afastei sem muita cerimônia, encontrando uma taça de champanhe e tomando o conteúdo de uma vez para sobreviver ao menos até o fim da música idiota. Maldita seja Taylor Swift.


O tiquetaquear do relógio da galeria machucava meu cérebro. Qual era o problema de Hazel para manter aquela merda? Estávamos na era digital! Me senti totalmente confortável em odiá-la também por me obrigar a trabalhar de ressaca. Depois do sucesso do evento da noite anterior eu deveria ter uma folga, mas a sede daquela mulher por dinheiro não morria. A única coisa que aliviava seu lado era ter me proporcionado a oportunidade de sair com Maya. Empurrando champanhe o suficiente pra ela, consegui finalmente um “sim” para a noite de amigas de hoje. Isso e mais a árdua tarefa de conseguir-lhe um encontro com Rafael.
Meio segundo depois o próprio entrava na galeria, como se estivesse conectado com meus pensamentos. Ele levantou uma garrafa que segurava na mão direita e um sorriso ao receber meu olhar.
— A melhor vendedora de todas!
— O melhor surrealista de todos! — devolvi o elogio.
— Vladimir acaba de se revirar no túmulo — murmurou com uma expressão convencida.
Não me dei ao trabalho de levantar da cadeira assim que ele se aproximou do balcão, colocando a garrafa ali em cima.
— Trouxe para comemorar o sucesso de ontem com você.
Li o rótulo do Whisky Bourbon um pouco impressionada. Eu bebia raramente whisky já que custava o meu rim. Por que gastar tanto dinheiro em uma bebida se eu podia comprar dez de outra com qualidade inferior e o mesmo efeito?
— Caramba, acho que você quer minha demissão.
Ele riu, apresentando dois copos na mão escondida atrás das costas.
— Hazel está aqui?
— Não, mas se ela chegar e ver uma coisa dessas...
Ele já estava enchendo um dos copos.
— Se está comigo, está com Deus — me empurrou o líquido.
Não recusei, embora ainda sentisse o gosto amargo na boca de ressaca da noite anterior.
— Como sabia que eu bebia?
Brindamos assim que ele terminou de encher o seu, e recebi uma piscada de olho presunçosa antes que tomasse o primeiro gole.
— Uma suposição.
Comecei com uma dose generosa e aquilo desceu rasgando pela minha garganta. Um hábito, no momento, não muito conveniente. Eu não podia ficar bêbada no trabalho, muito menos com a noite importante que teria hoje.
— Qual é o fim do seu expediente? — Rafael perguntou, checando o relógio.
— Às dez — lamentei, finalizando o conteúdo do copo.
Ele me olhou com aprovação antes de me servir novamente.
— Parece que encontrei uma parceira que me acompanhe.
Rafael era do tipo de pessoa que pegava intimidade rápido, percebi. Mas eu não sabia dizer se era sua forma de agir naturalmente com todo mundo ou se eu acabara, enfim, me enfiando em um problema.
— Vamos explorar estes dotes quando sair? Aliás, será que não pode dar uma escapadinha mais cedo?
É, tinha cheiro de problema.
— Hazel me comeria viva — eu disse.
Ele passou a mão entre seus cachos como que para clarear suas ideias.
— Eu digo que te requisitei para uma reunião urgente.
Eu quase ri de seu esforço, intrigada.
— De qualquer forma, eu já tenho que encontrar alguém hoje. Quem sabe numa próxima vez?
Hoje eu precisava estar com Maya sozinha para que pudesse estudá-la um pouco mais. Essa disposição de Rafael poderia ser usada para encontrá-la mais uma vez.
Ele semicerrou os olhos, tentando ver através da minha superfície.
— Se eu fosse inseguro, pensaria que você está fugindo de mim.
Dei uma risadinha nervosa.
— Você só me pegou num dia ruim.
E se ele estivesse mesmo investindo em mim? Não pareceria que eu o estava incentivando?
Ele meneou a cabeça, enchendo nossos copos de novo.
— Então vou te fazer companhia até acabar seu expediente — ele baixou a garrafa do balcão à minha mesa, uma forma de esconder a bebida de possíveis clientes, pressupus.
O observei puxar a cadeira de Hazel para se sentar ao meu lado.
— Se eu ficar bêbada e não conseguir atender ninguém também será prejuízo para você — avisei.
Ele fez um muxoxo, se inclinando na cadeira e usando o atrito dos pés com o chão para que se balançasse de um lado para o outro.
— Confie em mim. Sua prioridade agora é me provar que acertei em designar a você o trabalho de vender minhas obras.
Rafael estava totalmente relaxado, a vontade, uma característica um tanto peculiar para alguém que acabara de entrar em um espaço novo. Se uma noite havia sido o suficiente para que a galeria o transmitisse segurança, imaginei em quantas eu o faria fugir aos gritos se ele persistisse na ideia de se tornar meu amigo.

— Você não está falando sério.
— Quem me dera eu não estivesse! Imagina a cena! Competição nacional de dança e minhas calças no chão! Como se não fosse o suficiente, Marina tropeçou nelas e caiu de cara. Tinha televisão e tudo. Dios mio, foi tão constrangedor! — seu rosto todo se enrugou numa repulsa à memória pintada em sua mente.
Houve apenas um instante de pausa, foi só seu olhar se esbarrar no meu que aconteceu o improvável, eu explodi em uma gargalhada genuína. Possivelmente a garrafa vazia de whisky tinha uma parcela grande de responsabilidade por isso. A cena toda dançava em minha cabeça, fazendo cócegas em meu estômago.
— Ei, do que você está achando tanta graça? — ele me repreendeu, brincando em meio aos seus próprios risos.
 E da mesma forma repentina que eu havia começado a rir, parei. Não exatamente por causa de suas palavras. Sua brincadeira fora apreendida por mim como uma seria cobrança da razão por eu me permitir rir. Eu não podia sair por aí dando risada quando era responsável por enterrar os meus melhores sorrisos. Felicidade não era uma coisa que estivesse ao meu alcance. Pelo menos não deveria estar.
— Faith? Tá tudo bem? — ele percebeu a mudança repentina em meu humor.
Assenti, endireitando minha postura.
— Só estou cansada — verifiquei o relógio mais uma vez. Faltavam dez minutos para que eu pudesse escapar.
— Bom, então agora você sabe porque larguei o tango e investi nos quadros — prosseguiu. Eu sabia que ele não havia caído na minha desculpa, mas sabiamente havia optado por desviar o assunto.
— É uma boa razão — concordei, começando a tamborilar os dedos na mesa. Quando faltasse cinco eu poderia fechar a galeria.
— E você? Tem algum hobby ou habilidade surpreendente?
Alucinações contavam como habilidade?
Neguei com um breve movimento da cabeça, decidindo ser benevolente comigo mesma. Eu podia me liberar agora da função de ficar de estátua dentro da galeria, assim Rafael teria que ir embora e eu estaria em paz novamente.
— Não dança? Ou toca algum instrumento? Já tentou pintar alguma tela?
— Não sirvo pra essas coisas — levantei da cadeira, peguei as chaves e minha bolsa — Obrigada pela companhia Rafael, pelo Whisky também, me diverti muito.
Ele levantou em seguida, me olhando um pouco confuso, tentando entender o que havia acontecido comigo em questão de segundos. Quando concluiu que eu estava mesmo o dispensando, pegou a garrafa e os copos.
— Tudo bem, também me diverti. Você não quer companhia pra casa? Está sóbria o suficiente?
— O que posso dizer? É preciso mais do que uma garrafa para me derrubar.
— Você é mesmo minha mais nova parceira de bebida.
Fingi um meio sorriso e apaguei as luzes as pressas, indo até a porta e enfiando as chaves nela. Esperei que ele saísse primeiro, e não olhei quando o fez.
— Boa noite, Faith — disse hesitante.  
— Até mais.
Me voltei totalmente para o trinco, demasiadamente concentrada na função de trancar a galeria. Enrolei até que ouvisse seus passos se distanciarem e respirei fundo. Que vida de merda.
— Pensei que havia desistido — identifiquei a voz de Maya num tom estranho bem ao meu lado.
Me dei apenas um segundo para forjar uma expressão agradável. Após insistir tanto com ela para que aceitasse meu convite, eu não podia estar com uma cara de merda. Vamos lá Faith, seja profissional.
Lhe dei o melhor sorriso que consegui.
— Claro que não! Fico feliz que esteja aqui! Está pronta para a melhor noite de sua vida?
Ela estava com os olhos semicerrados, eu podia sentir uma acusação vindo no ar. 
— A placa dizia que estava fechado, então fiquei pensando se deveria ir embora, e aí te vi com Rafael.
— Eu acabei de virar para fechado — argumentei, mas eu realmente não me lembrava de ter tocado na plaquinha pendurada na porta. 
— Não virou não, eu estava aqui, você que não me viu. Espero que todas aquelas risadas fossem sua forma de me arrumar um encontro com ele.
Se eu não havia virado, podia Rafael ter o feito, sem que eu percebesse, ao entrar? Isso explicaria a falta de clientes. Não que fosse um horário movimentado, mas geralmente pelo menos alguns gatos pingados. A questão era, por que ele faria aquilo?
— Ah sim, claro. Não havia percebido isso, mas eu estava mesmo arranjando o encontro pra você.
Eu apenas queria dar um soco na cara dela. Não estava satisfeita em atrapalhar o casamento de George? Não precisava arrumar confusão por causa de outro homem.
Ela não quis dar o braço a torcer da sua marra, mas pelo menos não discutiu mais.
Seria uma noite e tanto.
Entramos em seu conversível preto e Maya contou orgulhosa que seu chefe lhe havia comprado o veículo que desejasse, a única condição era a cor escura. Então fez o comentário do quanto aquela família tinha certa fissura pelas sombras pensando que eu não entenderia. Me fiz de inocente, mas se havia uma coisa que definia os Biebers era o caráter lúgubre. Só de olhar para seus rostos era possível supor que nada de bom poderia vir daquele ar de superioridade. E pior, não era tanto um ato de egocentrismo, e sim uma representação da realidade em si.
A levei ao Lyon’s Pub, um lugar que eu costumava frequentar quando estava acompanhada de Caitlin e Ryan. Pensei que talvez eu pudesse assustá-la se a levasse às minhas baladas costumeiras. Se bem que se convivia com assassinos, o que mais poderia lhe causar repulsa? Depois de deixarmos a fachada de paredes vermelhas e janelas quadradas para trás — e Maya fazer um comentário do quanto era engraçado colocar a figura de um leão fumando cachimbo e tomando cerveja como apresentação do espaço —, fomos recebidas por uma onda de marrom, já que quase tudo o que podíamos ver era de madeira, desde o chão, as mesas, cadeiras e nosso atendente de cara quadrada.
Como de costume, estava lotado até mesmo no segundo andar, então não tivemos escolha a não ser as cadeiras de frente para o balcão, com aquele tanto de copo pendurado a frente e algumas televisões espalhadas transmitindo um jogo de baseball, embora as caixinhas de som bem escondidas reproduzissem músicas de alguma banda de rock. Bandeiras e garrafas se espalhavam por todo canto como parte da decoração. Era quase informação demais para os meus olhos.
— Não que eu já tenha estado em uma taverna, mas me lembra muito uma — Maya analisou ao se acomodar na cadeira.
Dois cardápios foram baixados a nossa frente e corremos os olhos por eles.
— Hm, eu gosto, não gostou? — eu precisava que ela gostasse para ficar tempo o suficiente de esgotar minhas perguntas. Eu já havia perdido tempo demais. Estava na hora de agir.
Maya agitou os cabelos ondulados, jogando para um lado enquanto cruzava a perna, uma posição clara de atrai-macho. Seu vestido preto tinha uma abertura na perna esquerda e o decote deixava que seus seios dissessem um “olá” para o mundo. Exatamente o tipo de pessoa que eu preferia manter a trezentos metros de distância. Ela já estava atraindo a atenção de quase todos os homens num raio de dois metros quadrados.
— Preciso analisar. O que costuma comer aqui?
— Bacon e frango suíço em pão de cebola torrado.
Ela deu um sorriso animado.
— Adorei! E o que acha dessas batatas fritas cortadas a mão?
— Não como batata frita.
Percebi seu olhar de assombro direcionado a mim.
— Você é mais estranha do que eu pensava. Então vou ter que comer sozinha essa porção.
É claro que ela tinha que pedir batata frita. Não era, de fato, uma peculiaridade, mas isso fez com que eu criasse um pouco mais de desgosto pela sua pessoa.
Fizemos nossos pedidos para o homem com a caneta atrás da orelha suando como um condenado, e em um instante recebemos nossas cervejas. Eu não era muito fã de cerveja. Para receber o efeito desejado eu precisava de altas doses, e aquele gosto não era nada agradável. Parecia urina gelada. Não que eu já tivesse bebido urina.
— Tudo bem, hora da análise — Maya correu os olhos por todo o espaço, e não tive ao menos tempo de pensar que valorava a decoração, eu podia muito bem perceber que perscrutava as mesas, ou seja, as pessoas nas mesas. Ela recebeu alguns olhares de volta e chegou a dar uma piscada para o cara de jaqueta de couro — Gostei — concluiu, me dando um sorriso de conspiração.
Engoli a vontade de vomitar e arquei as sobrancelhas duas vezes.
— Eu disse.
Ela bebeu sua cerveja satisfeita e ajeitou sua postura, propositalmente de um jeito mais sensual. Maya adorava atenção, anotei.
— E então, qual é a sua? — me perguntou, deitando a cabeça na mão sustentada pelo cotovelo no balcão.
— Como?
— Tipo, o que você quer de mim?
Fiquei paralisada, sem esboçar reação alguma.
— Com tamanha insistência para sair comigo só pode querer alguma coisa — eu podia sentir todo meu plano escapulindo das minhas mãos e em um segundo cogitei inúmeras maneiras de fugir antes que me fizesse revelar minhas verdadeiras intenções, como apagá-la e jogar em um beco qualquer — Num geral, as pessoas não gostam da minha companhia. Digo, não mulheres. Nem homem sem interesse nesse corpinho — sua mão indicou o corpo como se fosse um produto da TV — Como foi que consegui alguém que queira ser minha amiga? — ela deu uma risadinha amarga.
Quase me senti mal por estar aliviada que aquilo fosse apenas uma exteriorização de sua baixa autoestima e não indícios de que havia me descoberto. Algo no fundo do meu estômago me avisava que eu não deveria encontrar conforto na dor de alguém. Por outro lado, se ela não tinha amigos, a culpa não era minha. O que ela esperava? Com as companhias e atitudes que tinha, não era nada surpreendente.
— Você parece ser alguém legal. Me identifiquei com você.
Quando foi que eu havia me tornado uma ótima mentirosa?
Para não testar mais minha habilidade nova, tomei um gole de cerveja quando ela me olhou para averiguar minha veracidade. Sua insegurança era tão grande que ela pensava ser uma piada.
— Você já está meio bêbada, não? — falou risonha.
Sendo mais uma forma sua de se menosprezar ou uma verdadeira constatação do meu estado, assenti.
— Confesso que bebi enquanto te esperava com Rafael. Mas não se preocupe, são só negócios.
Ela suspirou dando de ombros.
— Quer saber? Se o quiser para você também, não me importo em dividir, só garanta que vou ter minha chance.
Dei uma risada nervosa.
— Ah não, você pode tê-lo inteiramente, acredite. Agora me conte, sempre te vejo tão perturbada com seu trabalho que fico intrigada. O que você disse que seu chefe vende mesmo? — eu já havia cuidado do seu ego ao afirmar que ela era agradável, agora era sua vez de me pagar.
Sua cabeça balançou de um lado para o outro, inquieta.
— Se tem uma coisa que preciso me focar é na perfeição. Você não tem ideia de como cada detalhe importa.
Beberiquei um pouco mais o copo enquanto ela já terminava o seu. Eu já estava alta, se não fosse devagar seria bem capaz de esquecer alguns detalhes importantes no dia seguinte, e todo aquele meu esforço teria sido em vão.
— Ou eu estou com muita sede ou você é uma péssima companheira de bar — me julgou, ao pedir mais cerveja e perceber meu copo praticamente cheio.
— Você tem que estar no mesmo nível que eu primeiro, já estou com umas doses a mais. Mas voltando ao assunto, por que tem que ser tudo perfeito? Ele vende vacinas ou algo assim?
Ela quase gargalhou.
— Vacinas salvam vidas. George salvando vidas seria uma coisa engraçada de se ver.
Então ela percebeu o que havia dito e me olhou para dimensionar o nível do estrago. Permaneci com a expressão leve. Na verdade, não era mesmo uma novidade para mim, e eu poderia até estar rindo com ela.
— Mas isso não importa, não queremos falar de trabalho agora. Hoje é dia de relaxar — ela chacoalhou os ombros, dando um sorriso quando seu copo chegou cheio novamente, batendo palminhas. Em seguida me olhou de testa franzida — Ah meu Deus, eu não sei puxar assunto, sobre o que as pessoas conversam para serem amigas?
Maya estava realmente empolgada com a aparente chance do universo para acabar com o possível vazio que a vida fútil lhe dava. Solitária e carente entraram para as notas. Ela já estava aberta a uma manipulação. Fora quase impossível conseguir com que saísse comigo, mas depois desse êxito, eu não duvidava que estava apenas a um passo de me tornar um dos números mais importantes de seus contatos, e assim conquistar sua confiança. E se para isso eu precisava adquirir alta concentração de falsidade, não me preocupava nem um pouco.  
Era uma promessa, eu não sairia daquele pub sem ter alguma pista. 

quinta-feira, 22 de junho de 2017

One Love 3

— Onde você disse que está indo mesmo? — a voz de Hanna soou estridente do notebook de Caitlin, posicionado em cima da minha cama de frente para o guarda roupa enquanto conversávamos por Skype. Era mais uma vídeo conferência sobre moda do que qualquer outra coisa.
— É uma festa de Hazel para inaugurar os trabalhos de nosso novo artista na galeria.
— Alguma chance de ser você?
— Tanto quanto meu talento para me vestir.
— A propósito, ew, essa não, de onde tirou isso? Do lixo do vizinho?
Ergui a blusa estampada de várias cores, um babado enfeitava a gola para uma essência mais casual. Descartei-a na pilha cada vez maior atrás do notebook, não conseguindo deixar de relacionar o evento com a festa que fizemos na minha casa ano passado para apresentar meus quadros. Foi a primeira vez que vi Justin Bieber.
— Você frequentou vários eventos formais, seu senso de moda está decaindo! Minnesota não está te fazendo bem, melhor voltar para Boston — Hanna graciosamente me puxou da tortura psicológica.
Forjei uma risada irônica e me enfiei no guarda roupa, resmungando.
— Eu devia ter comprado alguma coisa, sabia disso. Vou ter que usar uma roupa de Caitlin de novo.
— Você subestima o poder da reciclagem. O que estou vendo ali? Perfeito! Aquele vestido preto de alças no canto!
— Eu já usei ele umas quarenta vezes — contra argumentei.
— Apenas pegue um cinto preto e hm... Aquela camiseta vermelha sangue de seda.
Já enfadada de procurar combinações, a obedeci, embora não fizesse sentido, e vesti conforme ordenara. A camiseta de mangas longas e um laço grande no pescoço vinha por cima do vestido, simulando ser a parte superior do tecido. Para camuflar a junção, o cinto grosso ia um pouco acima da cintura, cobrindo o final da camiseta.
Me olhei no espelho enquanto Hanna batia palmas.
— Espetacular! Uma estilista pessoal nata!
Eu devia admitir que a ideia era boa, mas...
— E se o tecido pular para fora? Vai ficar deselegantemente na cara nossa tramoia.
— Pois aperte bem esse cinto que não vai soltar. Agora me diz que tem um salto vermelho.
— Caitlin tem. Mas vou passar a noite toda de salto?
— Sim! Também quero ver a maquiagem, então se apresse!
Apertei o cinto flexível até o penúltimo buraco, eu quase não conseguia respirar. Levei o notebook e a nécessaire até o banheiro, apoiando aquele na tampa fechada da privada para que eu pudesse me olhar no espelho.
— Não me diga que estou no vaso — Hanna pediu com uma voz enojada.
— Não direi — prometi, pegando um rímel.
— Não! Primeiro a base!
O devolvi no lugar e peguei a base da minha cor, espalhando com a mão pelo rosto.
— Você não tem uma esponjinha?
— Hanna, me conte sobre como estão as coisas em casa — pedi para distraí-la.
Ela adorava falar, então logo disparou:
— Bom, continua a mesma coisa. Seu pai não abre mão dos seguranças, aliás, Willian está com saudade.
Eu duvidava muito disso. Eu fui a pior pessoa que ele pudesse querer para guardar. Will subestimou muito minhas habilidades de fuga. Mas eu sentia falta das nossas conversas e da sua presença segura, embora quase invisível.
— Mesmo seu pai tendo contratado todos os investigadores possíveis, e inclusive, ido a polícia, não conseguiram resposta sobre quem os ameaçava. E Caleb continua numa relação difícil com Bryan. Ele queria ir atrás de você, mas não quer abandonar Eleanor, não confia que seu pai possa cuidar dela, você sabe.
Eu estava ouvindo e cumprindo a tarefa impossível de passar delineador com uma careta que me fazia parecer ter deformidade em decorrência de paralisia. Eu odiava que nunca conseguisse deixar os dois lados iguais logo de primeira mão. E a segunda. E a terceira. Como sempre, me arrependi amargamente a ideia de passar aquela droga.
— Mas continuam sem ameaças desde o ano passado. Você continua segura também, certo?
Parei para que pudesse analisar a obra e respondi:
— Ilesa.
Estava mais grosso do lado esquerdo. 
Aaaah!
Peguei o cotonete para tentar arrumar.
— A recomendação mais ousada que tiveram foi que conversassem com a Companhia de assassinos para conseguir um acordo. Um bolo de dinheiro em troca de informação. Eles iriam para a sede, só não sei onde fica isso.
Secretamente entrei em pânico.
— Eles não podem fazer isso! A Companhia nunca cederia informação de seus contratos. Além do mais, só resgataria uma merda fenomenal, já que nosso contrato se desfez na... Explosão.
Hanna ficou em silêncio, esperando alguma crise minha ou coisa parecida. Eu soltei o ar pela boca, usando uma concentração desnecessária na maquiagem. Decidi que o delineador não ficaria melhor, então parti para o rímel.
— Vou falar para Caleb. Mas, você não acha que quem os contratou já não fez o pedido novamente? — ela falou devagar.
— Não acho. Devido a ineficácia ano passado, creio que contratariam outra empresa. Até porque não tem mais uma sede em Boston. Mas se tivessem mesmo contratado alguém, já teríamos ouvido alguma coisa.
— Tudo bem, então só podemos esperar que resolvam atacar novamente — concluiu frustrada.
— Não se preocupe com essas coisas. Não é atrás de você que estão.
— Querida, aprenda, se estão atrás de você, estão atrás de mim.
Dei um sorrisinho, grata pelo carinho. Então lhe mostrei quatro cores diferentes de batom.
— E aí?
— Com toda certeza esse vinho.
Depois de passá-lo, conclui ser o suficiente de “beleza” artificial, então lhe apresentei o acabamento.
— Aprovado! Mas você não quer mesmo passar uma sombra e dar uma pintadinha na sobrancelha?
— Odeio sombra, você sabe. E minha sobrancelha não é falhada. Não tanto. Então está tudo certo.
Guardei tudo de volta no nécessaire e nos voltei para meu quarto.
— A vida aí continua boa? É tão injusto que agora que não estamos juntas você decida ir às baladas.
Eu balancei a cabeça.
— Você não acompanharia meu ritmo.
Ela gargalhou.
— Ah tá, quando você está indo eu já estou voltando, chuchu.
Revirei os olhos.
— E o bafafá na faculdade acabou?
Hanna deu uma risadinha.
— Depois que Bryan deu aquela declaração de sua nobre jornada para aprender valores por si mesma — ela soou patriota com sarcasmo — todos te colocaram num pedestal, mas algumas fotos suas em Minneapolis rodaram por aqui, então temos várias teorias. Entre elas, acham que você ficou louca, que está passando pela fase de Miley Cyrus, outros compreendem, devido ao que aconteceu. Estão todos muito divididos.
— E as matérias da faculdade de todo mundo, está em dia?
— Nem a minha está. E você já achou uma faculdade boa de medicina por aí?
Olhei a hora no notebook. Eu não estava atrasada, demorava meia hora para que chegasse à galeria, e eu tinha mais uns vinte minutos de folga. De qualquer forma, resolvi que já estava bom de conversa por hoje.
— Tenho que ir Hanna. Obrigada pela ajuda. Se cuida, manda um beijo para Caleb.
Antes que ela pudesse reclamar eu já havia fechado a tampa do notebook. Eu achava formidável que Caleb e Hanna mantivessem uma amizade na minha ausência. Alguém precisava cuidar da loira desmiolada, e Caleb cumpriria muito bem a tarefa.
— Caitlin, você pode me emprestar seu salto vermelho? — coloquei metade do corpo na sua porta. Ela estava deitada na cama lendo uma revista de nutrição com os pés apoiados na parede
— Está no guarda roupa — apontou sem olhar, concentrada em como manter seu corpo nas curvas exigidas pelo mundo da moda.
Estando descalça, coloquei o salto ali mesmo em seu quarto. Então seus olhos caíram sobre mim. A boca se arqueou para baixo.
— Caraca, Faith, arrasou. É vestido novo?
Dei um sorriso conspirador, agradecendo a Hanna mentalmente mais uma vez.
— Não posso te contar meus segredos. Te vejo lá?
— Com certeza, você disse champanhe de graça, certo?
Eu ri, afirmando.
— Se quiser, peça para Ryan te levar com meu carro.
— Ele não trabalha hoje?
Era meio previsível que Ryan trabalhasse como barman. Ele tinha o porte físico necessário. E quando conversávamos sobre futuro, ele divagava sobre ser advogado. “As mulheres amam advogados”, ele dissera. Sua meta de vida se baseava nisso, mulheres. Caitlin era a mais ajuizada de nós dois, realmente preocupada com uma carreira.
— Acho que não — ela pensou, confusa.
— De qualquer forma, não precisa. Obrigada Cait.
Corri para fora do apartamento antes que ela pudesse oferecer novamente. Eu odiava ser um incômodo. Com apenas um ônibus eu chegava na galeria. Mas a experiência era sempre uma merda. Muitas pessoas num mesmo lugar, pessoas indiferentes e ao mesmo tempo intrometidas. Toda vez que eu tentava mexer no celular, algum pescoço de girafa idiota se esticava para bisbilhotar. E pessoas enxeridas nunca foram meu forte.
Cheguei adiantada na galeria, previsivelmente antes de Hazel. O evento começaria às sete e meia, e lá estava eu às cinco e meia. Passamos o dia inteiro ali, apenas indo embora para tomar um banho, então tudo já estava arrumado. Todos os quadros haviam sido substituídos pelos de Rafael. Na minha humilde opinião, ele era muito bom, suas obras eram inspiradas na estética surrealista. E eu tive um bom tempo para me acostumar com elas. Até que os músicos e garçons chegassem, fiquei apenas eu e todo aquele talento expressivo.
Repassei a playlist com Meghan e John que tocavam, respectivamente, piano e violoncelo; dei as últimas instruções para os cinco garçons contratados e seu chefe que serviria Spinach Dip, Chip e Guacamole, Jalapeno Popper Wonton Cups e mais alguns aperitivos de seu cardápio. E, graças aos Céus, Hazel já havia chegado quando Rafael entrou para que pudesse fazer todo o meio de campo e bajulação. Seu cabelo enrolado preto e a barba rala davam um contraste interessante com sua camisa social cinza. Ele fazia jus ao México, seu país nativo.
— Faith, passe com Rafael novamente a explicação dos quadros! Faltam apenas cinco minutos, daqui a pouco nossos convidados chegam. Vou conversar com o chefe e já volto.
Rafael se aproximou de mim com um sorriso aberto.
— Para ser sincero, não acho que você precise de um ensaio. Muito menos dois.
Ele passou uma mão na outra, como se estivesse se aquecendo. Mas eu sabia que era apenas nervosismo.
— E para ser sincera, não acho que você precise ficar nervoso. Seus quadros são realmente impressionantes.
— Você gosta? — perguntou com insegurança.
— Acho genial essa junção de realidade abstrata com o ilógico.
Ele balançou a cabeça uma vez, olhando a sua volta, um pouco aliviado.  
— Me inspiro em Vladimir Kush, não se já ouviu falar. Ele tem uma obra de nuvens formando...
— Uma boca no pôr do sol. Farewell Kiss — completei. Essa era uma das mais belas.
Ele me olhou impressionado.
— Eu tatuaria isso na minha testa.
Quase ri.
— As pessoas tem algumas motivações estranhas para tatuagens — como uma lista corporal de vítimas.
— Nesse ponto, devemos concordar. Eu não acho que precise de uma tatuagem para marcar coisas importantes. Elas são o suficiente na memória. Tentar trazer isso para um desenho incerto no corpo apaga toda a beleza.
Meneei a cabeça.
— Acho que você deveria defender a exteriorização da arte. Acaso não é o que faz aqui?  
Ele coçou o queixo, franzindo a testa com uma sombra de sorriso.
— Não acho que é a mesma coisa. A tatuagem gera dor física e vai se desgastando com o tempo...
— Alguns artistas pintam em meio a dor psicológica, para exteriorizar sua angústia, e isso é muito pior que dor física. Quadros também se desgastam — argumentei.
Após pensar um pouco, Rafael deu uma risadinha.
— Acho que tenho algum preconceito com tatuagem então.
Eu sorri.
— Provável. E embora eu também não seja muito fã de tatuagens, não devemos desmerecer arte alheia.
Rafael cruzou os braços nas costas, me olhando com uma curiosidade humorada. Talvez não fosse mesmo uma boa estar "corrigindo" um contrato importante de Hazel. E isso me ocorreu apenas um segundo mais tarde, não antes que pudéssemos notar algumas pessoas entrando na galeria.
Me apressei para chegar a porta, eu deveria estar cuidando da recepção.
Com a divulgação pesada que fizemos, mandando convites especiais para nossos clientes mais fiéis, não era surpresa que a galeria estivesse cheia. Ademais, Rafael fazia muito sucesso vendendo seus quadros por conta própria, então tinha nome para atrair mais pessoas. Eu acreditava que o bastante para que ele abrisse sozinho uma galeria, mas não seria eu a perguntar-lhe porque não o fizera e provocar acidentalmente a perda de um cliente de Hazel.
Para ser sincera, eu não estava muito confiante que George apareceria. Ele nunca vinha pessoalmente comprar os quadros, que dirá frequentar nossas festas. Mas uma hora após o evento ter começado, o destino sorria pra mim, fazendo com que Kathy Bieber entrasse acompanhada de Maya.
Maya flagrou meu olhar e eu fingi um sorriso animado — não tão fingido assim — por sua presença, me dirigindo à direção das duas.
— Boa noite, senhora Bieber. Ficamos imensamente felizes com a presença de vocês esta noite.
Ela me deu um sorriso mínimo, mexendo em seu cabelo castanho.
— Sei que é. E devo confessar que é um alívio estar aqui, embora não na melhor companhia.
Pensei que ela estivesse falando de mim, até que vi seu olhar atravessado para Maya. Ok. Então minha teoria sobre seu relacionamento íntimo com George devia estar certa. Kathy tinha conhecimento de que o marido a traía, mas não era como se ela pudesse aceitar numa boa.
Maya fingiu não perceber nada.
— Gostaria que eu lhe apresentasse as obras? Rafael já falou um pouco do trabalho dele, então...
— Você pode mostrar para Maya. George não pode vir, então mandou sua assistente. Eu posso olhar por mim mesma.
E dito isso, adentrou a galeria, se distanciando de nós duas. Senti minhas células tremerem de irritação, ainda mais ao pensar que essa era provavelmente sua forma de tratamento com Justin anteriormente.
— Um amor de pessoa, como você pode ver — Maya resmungou, cruzando os braços.
Forcei uma risada.
— É a esposa de seu chefe? — perguntei, como se já não soubesse aquela história de cor.
Ela assentiu, bufando.
— Eu nem sei porque eles mantem esse relacionamento. Mas quem sou eu para dizer alguma coisa — aquilo era uma pontada de inveja/ciúme? Com certeza era.
Maya era jovem, se estivesse enciumada por estar apaixonada por George era pura burrice sua. Ela pegou um Spinach quando um dos garçons passou em sua frente, e em seguida um champanhe, tomando um gole considerável como se fosse água.
— Dia ruim? — adivinhei.
Ela balançou a cabeça, indecisa.
— Apenas fique cinco minutos perto dessa vaca pra ver se aguenta. Não suporto essa mulher.
Sua agenda preta estava entre o braço e o lado do corpo para que pudesse comer tudo o que passava na sua frente e beber o champanhe ao mesmo tempo, e aí eu vi a oportunidade.
— Quer que eu segure pra você? — estendi a mão, prestativa.
Provavelmente não conteria todos os segredos que eu precisava descobrir, mas podia ser um início.
Ela negou, se retraindo um pouco.
Sim, havia algum segredo ali.
— Dou conta.
Não por muito tempo, querida.
— Claro — esperei um tempo para que parecesse ser uma ideia espontânea e não premeditada há meses — Ah! O que acha darmos aquela relaxada hoje?
Ela me olhou como se eu fosse doida.
— Você sabe que hoje é quinta, não é?
— E amanhã é sexta — dei de ombros.
Esperei que sua risadinha fosse um bom presságio.
— Você é meio louca. Mas hoje realmente não posso.
Segurei o palavrão na boca.
— O que tem a perder?
— Um emprego — respondeu como se fosse óbvio.
A olhei desconfiada.
— Vai trabalhar hoje à noite?
Um sorrisinho malicioso brincou na ponta de seus lábios.
— Sou muito dedicada. Só por isso vou aguentar essa chata da Kathy no começo da noite.
Argh. ARGH. UGH. COM GEORGE?
Camuflei minha expressão de nojo e fingi uma expressão orgulhosa.
— Essa é a minha garota — forcei a intimidade.
Ela fez uma dancinha comemorativa.
Piranha.
Então virou seu champanhe e colocou no prato vazio do garçom que passava.
— Vamos ao trabalho, tenho que apresentar produção essa noite. Pode fazer sua mágica.
A conduzi pela galeria, apontando.
— Rafael se inspira nas obras surrealistas, sabe? Aquele movimento artístico e literário que conhecemos no ensino médio.
Ela negou, a ruga de confusão e esforço mental vincando sua testa.
— Desconheço.
Além de piranha era burra.
— Foi um período após a primeira guerra mundial, surgido na França, como a exteriorização dos pensamentos sem controle da razão, marcando tempo, memória, angústia...
— Se me entende, estou concentrada em outros movimentos agora — me interrompeu com uma voz manhosa.
Me voltei para ela a fim de saber do que estava falando e seu olhar atravessava a galeria.
— Quem é aquele homem que está te encarando? — perguntou.
Segui a direção, dando diretamente em Rafael. Ele conversava com quatro moças em frente a um de seus quadros, mas sua atenção estava em mim. Ao flagrar meu olhar, me deu um sorriso.
Ah, não. Me diga que não.
Devolvi um sorriso por mera educação, e voltei a andar.
— É nosso artista, o autor desses quadros, Rafael.
Ela deu uma risadinha estranha.
— Entendi como foi que conseguiram o contrato.
Não demorei para entender sua insinuação e contive a vontade de estrangulá-la, me permitindo apenas um olhar sério.
— Não, Maya, o conheci hoje. Na verdade, Hazel cuidou de todo o processo burocrático, então não sei o que está sugerindo.
— Hm, acho que interpretei mal então. Me apresente a ele?
Será que ela conseguia ser mais piranha?
Invoquei toda a paciência em meu corpo, unindo as mãos.
Não sabia que resposta lhe daria até que a música no ambiente mudou. Eu me arriscava a dizer que começava em sol, mudava para si menor, e então dó e sol...
Eu conhecia aquela melodia. E tinha certeza de que não havia colocado no repertório.
Fechei os olhos ao sentir o impacto, sendo levada a força para a transição da aprendizagem desta mesma música, tocada por quase os mesmos instrumentos, ministrados por quase instrumentistas que se envolviam diretamente com aquela letra.
A nostalgia me sufocou, então marchei até os músicos.
— O que estão tocando? — questionei ríspida.
Como profissionais, eles não pararam de tocar, e Meghan me respondeu confusa:
— Um rapaz nos pediu para tocá-la, pensei que não haveria problema.
Todo o restante do mundo ficou em silêncio.
— Que rapaz? — desengasguei.
Ela apontou com a cabeça para a frente e virei rápido demais na direção, estagnando ao ver o cabelo castanho claro penteado para trás.