Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 17 de abril de 2018

One Love 37

— Tem certeza disso? — sussurrei angustiada, tropeçando em meus próprios pés atrás de Justin. Ele me firmava com a mão forte na minha, parecendo não sofrer pela ausência de luz. Era muito fácil me esquecer de que fora ensinado desde o nascimento a andar nas sombras como se fosse parte delas.
Justin argumentara que Maya deveria ficar no quarto, afirmando que seria mais seguro para ela. Resolveríamos nosso problema com Annelise e voltaríamos para buscá-la no máximo em uma hora, previu. Suspeitei de que sua verdadeira motivação fosse nos livrar do atraso que ela representaria a nossa fuga, mas surpreendentemente, Maya concordou com ele, e assim meus protestos foram interrompidos ao meio. Todos nós sabíamos que Maya também era considerada uma traidora da Companhia agora, mesmo que não tivesse mencionado palavra alguma sobre os segredos de George, portanto, facilmente se enquadrava na lista de alvos da loura sanguinária.
— Depois que nos encontrar, Annelise não terá oportunidade de procurar mais coisa alguma — respondeu no tom mais baixo possível, o qual me esforcei para ouvir.
— Ela vai nos encontrar? — a surpresa me fez esquecer de falar baixo. Justin paralisou instantaneamente e eu me choquei contra suas costas, um arfar surpreso escapando dos meus lábios. Ele me segurou pelos braços para me equilibrar.
— Shh — repreendeu, próximo ao meu ouvido. Quis dizer que eu não tinha culpa de ser uma criatura diurna, mas mordi a língua.
— Confia em mim, já te explico.
Continuamos o caminho em silêncio absoluto, nos tornando parte do murmúrio de um hotel adormecido, o ronronar suave dos hospedes em mais uma noite de sono, alheios ao demônio que circulava pelos corredores, envoltos em lençóis acalentadores; uma respiração mais forte aqui e ali e... ah meu Deus. Apressei meus passos para sair da frente daquela porta, instigando Justin a também fazê-lo. Tive a impressão de que seus ombros se sacudiam numa risadinha enquanto eu corava. Encontramos a escada e ele diminuiu o ritmo de suas passadas, era melhor que nos atrasássemos devido ao meu progresso lento e eficaz do que se saísse rolando degrau a baixo.
Ainda subíamos quando o visor do meu celular acendeu em decorrência de outra mensagem. Parecia impossível que Annelise já conseguira meu novo chip, mas sua segunda ameaça era prova da capacidade assombrosa.
“Estou quente ou fria?”
 Paramos para varrer os olhos a nossa volta e constatar seu estado mais frio possível. Para mim não adiantava muita coisa, mal podia enxergar os contornos do corpo de Justin bem a minha frente, por mais que a essa altura meus olhos já se acostumassem a escuridão, Annelise podia muito bem estar atrás de mim e eu não veria. Mais e mais degraus e ficou complicado de respirar sem produzir som algum, o coração acelerado de adrenalina dobrou seu ritmo por esforço correspondendo a transpiração que deslizava minha mão na de Justin. O prédio tinha uns quinze andares, presumi, e pelo que me constava, Justin planejava nos levar até o telhado. Levando em conta que nos hospedamos no terceiro andar, ainda me restavam muitos lances de escadas para subir. Provavelmente teríamos que lidar com um desmaio de exaustão dali alguns segundos. Repudiei Annelise e sua disposição para fazer joguinhos. Arrumara homens mal-humorados para guardar as saídas enquanto brincava de gato e rato conosco. Aquela mentezinha diabólica inconveniente.
— Ok — expirei — apoiando-me nos joelhos com a língua de fora — Preciso de um tempo. A respiração de Justin estava levemente alterada, mas, a minha, uma pessoa sedentária de vinte e dois anos, assemelhava-se a um conjunto constante de últimos suspiros.
Tateei para sentar no degrau, sentindo a ardência muscular latejante em minhas coxas e panturrilhas. Passei a mão no rosto, limpando a umidade e segui para uma organização superficial dos meus cabelos.
“Vocês saíram do quarto, certo? Ou vou mesmo precisar colocar fogo em cada um para saber?”
Resgatei meu celular das mãos de Justin antes que ele o jogasse na parede. Me coloquei em pé e o tomei pela mão, esquecendo meu estado de exaustão ansiosa para colocarmos o plano (seja ele qual fosse) em ação. Superamos mais um lance de escada e recebi outra mensagem.
“Será que não dedetizaram o hotel? Acho que ouço ratos na escada”
Estagnamos. Ela viria por baixo ou por cima? Passou-se um segundo e Justin decidiu continuar a subida. Uma vez que ela já sabia onde estávamos, meus pés perderam o cuidado excessivo por conta própria, produzindo um “plaft” ligeiramente alto.
“Estou quente, Faith”.
Virei a cabeça para trás, iluminando com o visor do meu celular. Vi apenas um pouco até o terceiro degrau atrás de mim, assustadoramente vazios. Justin me puxou para continuar. Após alguns minutos, ofegante, recostei na parede enquanto ele ligava a lanterna do celular para procurar pelo corredor a entrada que nos daria acesso ao terraço. Resisti ao impulso de me jogar no chão para relaxar os músculos exaustos das minhas pernas e desejei ter trazido uma garrafa de água para reconfortar minha garganta seca. Eu preferia que Annelise me matasse de uma vez a fazer mais algum esforço físico.
— Vamos — Justin me chamou, direcionando a luz para o meu rosto. Semicerrei os olhos e choraminguei, tentando argumentar com meu corpo para que ativasse de imediato meu instinto de sobrevivência e assim recobrasse forças do além. Não fui convincente a tempo, então Justin enlaçou o braço no meu, me puxando, apoiei grande parte do meu peso nele.
Entramos por uma porta vermelha no fim do corredor e eu gemi com a visão de mais um lance de escadas, um pouco mais apertado que a sequência anterior.
— Vamos ter que procurar uma academia para você — debochou de mim, espalmando a mão esquerda na base das minhas costas e segurando minha mão com a sua direita.
— A gente... vai morrer agora... e você se preocupa... com meu condicionamento... físico?! — retruquei, arquejante.
— Por que você sempre acha que vamos morrer?
— Porque sempre estamos prestes... a morrer!
Ele balançou a cabeça e empurrou a porta da liberdade — que resistiu um pouco devido à falta de uso. Justin olhou para trás, garantindo que não levaríamos uma facada nas costas, me soltou e se preparou — feito os personagens do CSI, mãos firmes em torno da arma e passos meticulosos — para estudar o terraço, desconfiado que alguém nos esperasse ali. Cambaleei para fora, escondida atrás de suas costas largas e acendi a lanterna do meu próprio celular. Relaxei quando constatamos estar sozinhos e finalmente me joguei no chão, sentando-me, aproveitando o ar puro e a sensação revigoradora da brisa resfriando em minha pele úmida. Justin franziu a testa numa reprovação cômica, mas não fez comentários.
— Agora você fica aqui, eu volto em alguns minutos — instruiu, já se voltando para a porta.
Deixei para segundo plano o fato de estar com falência generalizada de órgãos e saltei, agarrando seu braço.
— Você quer me deixar sozinha aqui?! — grasnei, olhando teatralmente para os lados. A luz da lua em conjunto com a iluminação artificial da cidade não me deixaria totalmente desamparada nas sombras, mas o vento que esvoaçava meus cabelos e atravessava minhas roupas entregava a ausência de qualquer corpo para me proteger.
— Não vou sair da ponta do corredor, eles não alcançarão a porta, Faith — garantiu-me.
— Eu vou com você — decidi, empertigando-me.
— Faith, não vai acontecer nada... de ruim — acrescentou ao ver minha expressão de descrença — para nós dois. Vamos ficar bem. Por favor, colabore.
Neguei veementemente.
— Você não pode me deixar sozinha outra vez. Isso não está em discussão.
Ele expirou e segurou minhas mãos, olhando diretamente em meus olhos.
— Faith, como um homem desesperadamente apaixonado, prostrado à sua presença, e extremamente dependente de você, te dou minha palavra de que não vou te deixar aqui sozinha por mais que meia hora. Voltarei intacto.
Olhei a sinceridade em seus olhos e expirei devagar pela boca. Para a cartada final, beijou as costas das minhas mãos. Tive certeza de que me arrependeria daquilo, mas me lembrava de como minha presença havia o atrapalhado quando ele foi me resgatar na Companhia Bieber em Boston.
— Toma cuidado, por favor.
Ele sorriu pra mim no intuito de banalizar qualquer preocupação. Beijou-me levemente nos lábios tão depressa que eu podia ter inventado aquilo, e me deu as costas, abandonando a postura derretida de persuasão para sua melhor forma empoderada. Bastou que eu sentisse sua ausência me rondar para me arrepender. Numa fração de segundos eu podia elencar cinquenta possibilidades daquilo dar errado.
Estava pronta para correr atrás dele, só não o fiz porque o vi paralisar ao abrir a porta.
— Para trás — a voz terrivelmente conhecida ordenou, inflexível.
Passou-se um segundo tenso, eu vi seu queixo se abaixar daquela forma que não podia dizer boa coisa. Seus neurônios corriam livres em busca de alternativas, e em nenhuma delas ele deixaria com que Annelise tivesse visão de mim. Foi então que ouvi um gemido de protesto muito semelhante ao de Maya.
— Que pena, Maya, eles não te querem participando da conversa — Maya ganiu um pouco mais alto.
Prendi a respiração.
— Justin — pedi, dando um passo à frente.
Seus olhos se apertaram de raiva para, supus, Annelise enquanto travava o maxilar. Eu podia imaginá-la sorrindo vitoriosamente para ele.
— Justin — repeti, tensa. Temia que se ousasse me aproximar mais motivasse Annelise a um gesto precipitado, era totalmente incômodo ser privada de ver o que acontecia.
Ele não olhou para mim, recuando, contrariado, um passo de cada vez, atento a distância e movimentos dos nossos inimigos. Annelise estava acompanhada de mais um homem, além dos outros dois que guardavam as saídas lá embaixo, previsivelmente segurava Maya pelo pescoço, apontando uma lamina afiada para sua barriga já perfurada na manhã anterior, ao passo que aquele mirava uma arma para a cabeça de Justin. Imediatamente perdi o ar que armazenava nos pulmões, sentindo um tremor vigoroso se direcionar às minhas pernas. Maya mesmo não parecia estar muito melhor do que eu, provavelmente mantinha-se em pé exclusivamente devido ao aperto de Annelise, o rosto pálido e brilhante a luz da lua entregava que alguma coisa estava errada, então notei o vestido empapado no abdômen. Se ela havia subido todos aqueles lances de escada nos últimos minutos, não era surpresa que seu ponto estivesse estourado.
— Eu sou uma pessoa de sorte, tenho que admitir — Annelise me disse, seguindo meu olhar no corpo quase morto que ela apoiava — Se ela não tivesse saído no corredor por conta própria, acho que eu não me daria ao trabalho de procurá-la mesmo.
Ela realmente esteve o tempo todo atrás da gente na escada. Só não sabia dizer como o fizera tão silenciosamente para não constatarmos de pronto, ainda mais com Maya naquele estado.
— Desculpa — li nos lábios trêmulos de Maya antes que Justin se posicionasse calculadamente na minha frente a alguns passos de mim.
Xinguei-me mentalmente, eu deveria saber que sua fachada de corajosa não duraria muito tempo, Maya não conseguiria ficar trancada num quarto escuro e sozinha, a espera de que o pior passasse. Ela era uma sobrevivente, e lutaria por conta própria para se ver livre de situações arriscadas. Não que isso tenha lhe sido benéfico naquele momento.
— Armas no chão, Justin. Por favor, sejamos civilizados — Annelise pediu educadamente.
— Suponho que a mesma regra não se aplicará a vocês dois — respondeu com desdém.
— Sabe como é, os adultos não precisam muito de regras.
Eles travaram uma batalha de poder pelo olhar, até que Annelise inclinou ligeiramente a cabeça para o lado e ameaçou fincar a lâmina em Maya, dando uma olhadinha de soslaio para mim. Soltei algo parecido com uma lamúria pela garganta. Assim, Justin praguejou baixo e cedeu, colocando meticulosamente sua arma no chão e chutando para longe.
— O que você quer, Annelise? — perguntei entredentes, cansada, irritada e assustada. Maya precisava voltar ao médico imediatamente.
— Ah, minha querida, muito mais do que eu posso contar. Felizmente conseguirei tudo.
— Eu vou te dar duas alternativas, e você pense muito bem em escolhê-las — Justin interrompeu, falando suavemente — Você não vai sair com vida daqui hoje, te garanto. Mas se não nos desgastar com sua voz nauseante, prometo ser o mais rápido que possível para cortar sua garganta. O que vai ser?
O riso infantil enjoativo preencheu a noite. Percebi Maya enrijecer, com medo de que a faca em sua barriga acidentalmente perfurasse a pele. De fato, Annelise não parecia nem um pouco preocupada que seus movimentos bruscos pudessem ferir a ex colega de trabalho.
— Sabe, Faith — inclinou-se ligeiramente para o lado, a fim de me ver —, as ameaças dele são uma das minhas coisas preferidas a saírem de sua boca, só perdem para... Bom... Acha que é adequado sua ex contar esse tipo de coisa para a atual? — ela sussurrou, cheia de pudor de repente, mas não esperou resposta — Se bem que eu poderia mesmo dar umas dicas de como te satisfazer, ela não parece ser muito experiente.
— O que você quer, Annelise? — repeti, um pouco mais forte dessa vez.
Ela deu de ombros.
— Para falar a verdade, gostaria de ver vocês tentarem. Juro. Não sei o que você espera se envolvendo com uma pessoa como ele, com certeza já bateu o record de experiências de quase morte por conta disso. Da mesma forma, não sei o que ele pretende estando com você também. O que é, J? Se cansou das mulheres audaciosas e resolveu tentar com as moscas mortas? — balançou a cabeça — Não. Você não vai conseguir satisfazê-lo. Ele não é um homem de uma mulher só, sabia? Depois que perder a graça, o que não vai demorar, vai te largar como o cachorrinho de rua que você parece.
— Eu juro que se você não calar a boca vou arrancar sua língua — Justin ameaçou, forjando uma expressão estranhamente agradável.
Maya parecia piscar mais longamente agora.
Annelise abriu um sorriso contente, como se assistisse sua série preferida.
— Seria mesmo muito interessante — e então forçou uma fisionomia de pena — Mas George insiste em ver o problema resolvido para ontem. É até engraçado que ele te odeie tanto assim, Faith, na verdade, me dá um pouco de dó que nem o homem que mais ama mulheres no mundo consiga te suportar — seu tom de voz avançava para um ponto final.
— Sim, claro, e ele te adora tanto que te mandou para o Canadá, certo? É ótimo que tenha te avisado de que a Companhia Bieber não pode mais pisar aqui devido a um tratado com outra Companhia canadense — Justin alfinetou.
Annelise bufou.
— Essa é a mentira mais criativa que você já inventou, J.
— Pensando bem, eu deveria te amarrar e deixar como um presente para os Cavanagh, eles adoram os empregados dos Biebers como as cobras tem extrema afeição por ratos.
Ele conseguiu, ela fechou a cara. Até seu comparsa corria os olhos entre os dois desconfiado.
— Você espera que eu vá correndo embora e te deixe viver com essa medíocre, não é?
— Não. Quero que saiba que vai morrer sem ninguém que se preocupe com você de verdade, muito menos te ame. Você vai ser só mais uma cova que farei questão de cavar.
Annelise o encarou.
— Pode até ser, Justin, mas sabe o que vai ser mais engraçado? Ver sua expressão quando sua adorável mascote não estiver mais aqui — ela fez um sinal afirmativo com a cabeça, o qual foi captado pelo homem que a acompanhava. Ele não era muito diferente fisicamente de todo o estereotipo da Companhia Bieber.
Seus olhos pequenos relampejaram para os meus, frios como o gelo, e o queixo pontudo não se deu ao menos ao trabalho de enrijecer quando o aviso li em sua testa “Oi, prazer em te conhecer, vou atirar em você agora”. Então era isso, Annelise não ia nem ao menos se despedir de mim? Senti as batidas contadas do meu coração doerem em meu peito quando saltaram com força demais nas costelas, travei os músculos de uma vez e apenas esperei. Eu sabia que não podia correr de uma bala, não teoricamente, mas o que me manteve paralisada talvez foi o choque da morte iminente. Pensei que veria minha vida passar rapidamente pelos meus olhos, mas só havia um vazio gritante em minha mente. Quis dar ao menos uma última olhada em Justin, mas estava presa naquele par de íris castanhas mortíferas.
Apenas por essa razão notei que o ambiente a nossa volta havia mudado, meu coveiro desviou o rosto por uma fração de segundos à sua mandante e eu fiz o mesmo. Na frente de Annelise, Maya se curvava sobre a mão de ambas que agarrava o cabo da faca enorme dilacerante; perplexa, aquela soltou imediatamente o objeto e se afastou do corpo desmoronando a dois passos de seus pés. Aproveitando a distração, Justin se lançava em direção ao homem que estivera prestes a me eximir da face da terra, e em seguida, Annelise pulava o corpo estranhamente retorcido de Maya para chegar a mim.
Tudo ficou muito confuso depois disso. Houve uma luta corporal patética entre mim e Annelise, cambaleei para trás quando seu peso se chocou contra minha estrutura óssea mediana, e quando entendi que me empurrava para a beira do telhado, girei para a esquerda, livrando-me de sua mão em meu pescoço. Seguiu-se uma sequência de socos desferidos em meu estômago e rosto no intuito de me desnortear o suficiente para acabar com minha resistência em ser jogada de aproximadamente quarenta e cinco metros de altura. Dançamos em passos mortais em volta de nós mesmas. Desnorteada, não conseguia fazer mais do que tentar me defender e firmar bem os pés no chão, a confusão dos meus cabelos soltos em meu rosto pouco me deixava enxergar e perdi a noção da distância em que estava de uma queda fatal.
Ao longe, ouvi Justin gritar em plena agonia por meu nome e depois houve um estouro no ar. Consegui espiar entre os fios desordenados na frente dos meus olhos e constatei o óbvio, eu estava perdendo a luta, conduzida decididamente para a beira, não devia faltar mais do que dois passos agora. Em meio a um frio de terror em meu estômago, decidi um movimento arriscado, esmoreci nas mãos furiosas de Annelise, recolhendo qualquer resistência aparente. Enfim, chegamos à borda quase insignificante, na altura do meu pé, Annelise me segurava pela gola da camiseta de pijama e me soltou bruscamente, um arrepio medonho correu pelo meu corpo quando perdi o equilibro, mas assim que ela tomou impulso com a perna para me chutar no estômago, me joguei freneticamente no chão, confiando no meu senso de direção em não estar apenas adiantando seu serviço. Milésimos depois me choquei contra o concreto do telhado a tempo de ver Annelise na metade do golpe, sem oportunidade de recolher a perna, o que resultou num chute rijo no ar. Enterrei a planta do meu pé no joelho que sustentava seu único apoio em terra firme, e quase numa cambalhota, Annelise despencou na escuridão. Sua voz esganiçada arrancada de súbito pela garganta foi sumindo conforme eu tentava respirar e me sentava.
Não precisei procurar por Justin, seus braços sólidos me envolveram quase imediatamente, apertando-me contra ele sem delicadeza alguma.
— Meu Deus, meu Deus, Meu Deus.... — balbuciava numa voz estranha, incansável, embalando-me como se eu fosse um bebê — Você está bem? — perguntou-me, atrapalhando as palavras na pressa. Afastando-se para me olhar, tomou meu rosto nas mãos, tirando meus cabelos da frente apressadamente.
Focalizei seu rosto desfigurado em pavor, esforcei-me para encontrar minha voz e o tranquilizar, mas a mão de Annelise ainda apertava minha garganta, embargando minha fala. Senti meus olhos umedecerem e antes que pudesse me derramar em lágrimas, ele me abraçou de novo. Dessa vez, agarrei sua camiseta com uma força de aço, acostumando-me com a ideia de que eu e ele estávamos inteiros e juntos. Respirei o aroma quente de sua pele ligeiramente suada sob a colônia masculina que ele usava no encaixe de seu pescoço e assim desobstrui um pouco o nó que bloqueava meu sistema respiratório.
— Está tudo bem, meu amor. Está tudo bem. Eu estou aqui, Faith. Eu estou aqui — repetiu inúmeras vezes, quase como se afirmasse para si mesmo. Depois beijou cada centímetro do meu rosto, não se importando com o fato de estar ligeiramente molhado. Tive a impressão de que o seu também estava.
Comecei a finalmente relaxar, desenervando meus músculos. A névoa em meu cérebro começou a dissipar, então me lembrei.
— Maya — murmurei.
Ele me apoiou quando tentei me levantar, tendo quase tanta dificuldade quanto eu para acertar os passos. Deixei-me cair ajoelhada ao lado dela, chamando seu nome compulsivamente ao notar seus olhos fechados. Outra vez, Maya deitava-se estendida no meio de uma poça de sangue, mas esta era consideravelmente maior. O objeto que a ferira encontrava-se em sua mão direita ensanguentada. Sentei-me próxima a sua cabeça e coloquei esta em meu colo, tocando seu rosto enquanto a chamava para a consciência.
— Eu deixei meu celular cair por aqui, ligue para a emergência — ordenei, observando o peito de Maya subir e descer irregularmente.
— Sim. Eu já volto — disse-me. Dessa vez, não tive oportunidade de me opor, ocupada em lembrar-me alguma coisa que pudesse ajudar Maya.
Peguei a lâmina em sua mão e rasguei seu vestido para mensurar o tamanho da lesão. O sangue esguichava de um corte grande que englobava o furo por onde fora baleada na barriga, uma voz no canto da minha mente avisava que uma artéria havia sido perfurada. Tentando controlar o pânico, cortei um pedaço do vestido com a mão trêmula e pressionei contra a ferida.
— Maya, por favor — tentei de novo, tendo a impressão de que era estrangulada outra vez.
As pálpebras tremeram antes que seus olhos castanhos injetados parassem em mim. Respirei com um pouco de alívio.
— Não se preocupe, o socorro está chegando — garanti, notando uma gota de água pingar do meu rosto sobre o dela. Depois dessa mais algumas a seguiram.
Maya piscou, a boca pálida tremendo enquanto ela tentava dizer alguma coisa.
— Você não pode querer falar agora. Daqui a pouco, sim? Ah, o que estava pensando para fazer isso, hein? — tentei sorrir com desaprovação, mas o esforço apenas me deu vontade de chorar mais.
Embora numa cor mais adequada a folha de papel, ela se saiu melhor do que eu, repuxando imperceptivelmente o canto dos lábios. Apesar de fraco, aquele parecia o sorriso mais sincero que eu já vira nela. Alcancei sua mão ligeiramente inquieta no chão, entendendo o significado. Apesar de tudo, Maya estava, na medida do possível, feliz por ter alguém que finalmente se importava com ela. E eu também. Aquela mulher se sacrificara para me salvar, o mínimo que eu podia fazer era segurar sua mão enquanto cada resquício de vida esvaia-se de suas células.
— Sim, eu sou sua amiga. E amo você — desengasguei.
Duas gotas grossas caíram dos seus olhos e tive a impressão de que ela sorriria de novo se não tivesse sido levada antes. 

sexta-feira, 6 de abril de 2018

One Love 36


Espreitei pela janela a rua escura e larga em frente ao hotel que nos hospedávamos. Não havia muita movimentação, e isso me deixava inquieta. Tinha certeza que a qualquer momento algum empregado da companhia Bieber — mais precisamente Annelise — escalaria os três andares do prédio para chegar até nós dois e cortar nossas cabeças fora como um prêmio de alto prestígio. Ao mesmo tempo sabia que ainda que a rua estivesse apinhada de gente, eu teria a mesma paranoia.

Os protestos de Bryan ainda ecoavam em meus ouvidos. Quando recebi a chamada de Caleb em meu celular através do facetime, deveria ter previsto a zona que estaria do outro lado. Afinal, meu irmão não prometera segredo dos nossos pais, e eu não me lembrava de ter pedido. Escutei calada o escândalo da minha família, Eleanor estava histérica e provavelmente chorando enquanto Bryan me ordenava voltar imediatamente para casa, a perplexidade quase os impedia de exprimir pensamentos lógicos. Só falei quando me foi concedida a chance, num intervalo de três segundos, repetindo veementemente as mesmas coisas que prometi a Caleb. Não podia espantá-los já com a notícia de que pensava em cursar uma faculdade por aqui mesmo. Notando minha decisão inabalável, afirmou que os três viriam atrás de mim. Gastei ao menos uma hora com meus melhores argumentos para explicar que estava tudo bem, e então desisti, assegurando-lhes que enviaria o endereço que eu estava quando terminasse a viagem. Justin e eu estávamos na estrada, menti. Não, não há nenhum hotel que possamos nos instalar para esperá-los. Sim, estou bem alimentada e ainda me resta algum dinheiro. Aceitei a transferência monetária da conta de Bryan para amenizar a situação, e alegando sinal precário, consegui desligar.
Justin saíra do quarto de duas camas para me dar alguma privacidade, uma vez que ouvia-se tudo da discussão como se eu fosse estúpida o bastante para ligar o viva voz. Recebi a chamada no instante em que deixávamos o hospital com a notícia de que Maya devia ficar em observação, tive tempo de me despedir dela e acordar com Justin que a esperaríamos ter alta antes de nos movermos para Toronto, a cidade em que sua família morava, e a partir de então fiquei incomunicável.
Desatenta aos detalhes quando cheguei, reparei naquele momento a estrutura do quarto. As camas, acolchoadas em tons de vermelho e branco, posicionavam-se paralelamente à porta de entrada; entre elas estava a janela que eu agora observava e um criado mudo bege. Do lado esquerdo estava o banheiro, e ao direito um guarda roupa compacto com portas de correr; a televisão plana fora pregada na parede em frente as camas, e uma chaise lounge marfim acomodava-se bem abaixo desta. Permiti que meus neurônios se preocupassem com a lógica dessa última escolha de posição e recebi agradecimentos do meu cérebro pela pausa de questões complexas. Encontrei aí uma oportunidade de sentir falta da pintura, o movimento gracioso do pincel sob meus dedos parecia desfrouxar o mais apertado dos nós mentais. Igual tratamento me dava as cordas do violino, criando melodias relaxantes próximas ao meu ouvido.
— Eles me odeiam — minha mais nova melodia preferida lamuriou da entrada do quarto.
Justin trazia uma caixa de pizza, dois copos e uma coca cola na outra mão — tanto equilíbrio seria bem-vindo caso decidisse se aventurar como garçom algum dia —, baixou tudo no criado mudo ao meu lado, infestando o quarto, que exalava produtos de limpeza e móveis novos até agora, com o cheiro de cebola, queijo, massa de tomate e bacon?, e se sentou majestosamente na cama contrária a que eu me empoleirava. Sua postura ereta como a de um trono real deixava dúvidas de que algo tão banal quanto o que dissera pudesse lhe preocupar. Mas o humor na ponta de seus lábios não escondia o leve incômodo apertando seus olhos. De qualquer forma, ambos sabíamos que eu não podia contestar aquela verdade.
Dei de ombros.
— Eu também já te odiei. Só lhes dê um pouco de tempo para digerir a ideia.
— Se eu fosse eles também me odiaria. Na verdade, posso muito bem fazê-lo sendo eu mesmo.
O repreendi com o olhar antes de me sentar pesadamente ao seu lado, torcendo para que nossa proximidade pudesse me ajudar a convencê-lo. Uma pessoa como Justin não combinava com auto depreciação. Ele se adiantou às minhas palavras, olhando-me de perto.
— Você também deveria.
— O quê? — perguntei estupidamente, bruscamente distanciada do meu raciocínio rápido diante da necessidade de ajustar meus hormônios a visão de seu rosto angulosamente perfeito tão próximo.
— Me odiar — explicou.
Dei um soquinho fraco em seu braço.
— Se não parar com isso talvez eu odeie.
Consegui arrancar um quase sorriso em resposta, depois olhei para minhas mãos inertes em meu colo, decidindo se podia compartilhar as abelhas que zuniam em minha cabeça com ele. Eu precisava dizer a alguém, e bom, estávamos só nos dois ali.
— Talvez sua família também me odeie, então estaremos quites. Claro, sua família materna, a paterna já deseja literalmente me matar.
Justin também não seria pretensioso para negar o último fato, mas quanto ao primeiro, enlaçou a mão na minha e abraçou as costas dela com sua palma direita, transformando minha mão num recheio de um sanduiche quente e macio.
— Sabemos que a família Bieber é estúpida, mas os Mallette parecem ser um pouco mais inteligentes do que isso. Seriam idiotas se não te recebessem de braços abertos — estudou meu rosto minuciosamente, enxergando algo realmente fascinante em minha pele — Mas entenda, Faith — segurou meu queixo ternamente — não quero estar em nenhum lugar que você não seja bem vinda.
Observei meu coração saltar livremente na palma de sua mão, pulsando de acordo com seu ritmo cardíaco. Eu me sentia uma obra digna de museu quando ele me olhava desse jeito. Me dava nós nas tripas só de imaginar que outra pessoa pudesse desfrutar dessa regalia. Egoísmo, nesse caso, parecia aceitável para mim. Antes que eu pudesse me conter, portanto, já estava falando:
— Durante esses seis meses você disse isso para quantas mulheres?
A perplexidade fez com que me soltasse.
— O quê?
— Eu sei que você não ia ficar sozinho esse tempo todo — justifiquei inocentemente. Não é novidade, então não é grande coisa, dizia meu tom de voz.
— E você ficou? — perguntou retoricamente, arqueando a sobrancelha. Ele já me confessara ter presenciado minhas performances nas baladas de Minneapolis, quando um copo de bebida alcoólica era praticamente uma extensão do meu corpo. Os resultados, dependendo do ponto de vista, não eram bons. 
— Sabemos que não. Mas não foram mais do que envolvimentos de segundos — rubor fresquinho subiu lentamente pelo meu pescoço — Por outro lado, não sabemos sobre sua recente trajetória amorosa.
Embora carrancudo pela menção das minhas aventuras carnais, ele pegou minha mão novamente, dizendo com facilidade:
— Nada demais também, coisas momentâneas e irrelevantes. Mesmo sabendo que era o ideal, eu não queria te esquecer.
Segurei um pouco mais as pontas antes que o beijasse e perdesse todo meu raciocínio, acompanhando o traço fino e delicado de sua boca rosada e convidativa sem precisar tocar. Precisar e querer são coisas diferentes, aliás.
— Pode ter sido momentâneo, mas acho que foi bastante intenso, não?
Olhou-me desconfiado.
— Por que você acha isso?
Balancei meus pés no ar de forma natural, talvez querendo que sua atenção se desviasse do meu rosto.
— Ouvi algumas histórias sobre... — resisti o máximo possível de ir direto ao ponto, entretanto, meus olhos caíram acusadoramente férteis para a cama em que nos sentávamos — sua criatividade.
Lento demais justamente quando não deveria ser, Justin tentou me olhar nos olhos em busca de uma dica do que eu falava.
— Criatividade?
Praguejei contra sua lerdeza e minha necessidade aguda de saber sobre o assunto. Eu tinha a opção de seguir em frente sem pensar no passado, porém, minha mente masoquista possuía outros planos.
— Annelise me contou.
— Annelise? — minha pista genial só o deixou mais confuso.
Explodi em frustração e raiva, uma parte de mim achando que ele já havia entendido e não queria conversar sobre o assunto.
 — Meu Deus do Céu, Justin, você quer que eu desenhe ou soletre pra você?! — cruzei os braços, me afastando de suas mãos — O que duas pessoas, ou mais — acrescentei em tom de acusação —, podem fazer numa cama?!
Ele imediatamente mordeu a boca para não rir, mas as maçãs de suas bochechas se concentravam tão alto que ameaçavam fechar-lhe os olhos.
— Você nem havia mencionado uma cama — defendeu-se, simulando indignação, e acrescentou rápido ao identificar minha ameaça implícita — Elas podem fazer muitas coisas, e não necessariamente...
O interrompi com uma chuva de tapas nos braços, costas e cabeça. Eu não tinha um alvo certo, e não estava preocupada com o que iria acertar. Ultrajada, percebi que seu corpo se contorcia mais em decorrência de sua gargalhada do que para defender-se de mim.
— Exatamente! Exatamente essas várias coisas! E Annelise se gabou de ter recebido todas!
Depois de aguentar meu ataque injustificado por alguns segundos, segurou meus pulsos, ainda convulsionando de rir.
— Annelise só fala merda.
— Mas ela mentiu? — desafiei, erguendo o queixo.
Justin sabiamente escolheu o silêncio, exceto pelas risadinhas que escapavam de seus lábios despropositalmente.
— Quantas? — perguntei, incisiva.
— Quantas coisas ou quantas m... — libertei minha mão direita e dei-lhe um tapa atrás da cabeça no intuito de desempacá-lo — Eu não fico contando! — confessou, levantando as mãos em rendição. Ele estava achando tudo muito engraçado, e admito o quanto a situação era cômica, uma demonstração gratuita de ciúmes de coisas passadas, embora eu não quisesse que parecesse assim.
Deixei o queixo cair ligeiramente de indignação e o fechei com barulho, fuzilando-o com o olhar. Se eu fizesse mais do que isso passaria dos limites do ridículo.
— E por um acaso você ficou contando quantos caras te beijaram em Minneapolis? — devolveu, diminuindo gradativamente o sorriso — Aliás, eles apenas te beijaram, certo? — ficou sério, assumindo minha postura de ataque.
Levantei a cabeça com dignidade, cerrando bem os lábios e evitando seus olhos para fazer suspense. Ou apenas adiando o sentimento incoerente de humilhação que eu sentiria quando lhe dissesse.
— Faith — rosnou, avisando-me do perigo iminente caso não lhe respondesse imediatamente, e a resposta que ele queria ouvir, diga-se de passagem.
Pisquei sem pressa, fazendo-me de desentendida para aproveitar o gosto doce de ciúmes que ele me fornecia através de sua mandíbula tensa, ombros imperceptivelmente curvados, mãos fechadas em punho. Se eu pudesse estenderia sua irritação eternamente, mas soltei uma risadinha.
— Você acha que todo mundo só pensa nisso, é?
— Todos os homens que chegam perto de você sim — retrucou austero.
Revirei os olhos.
— Todos os homens, Justin? — desdenhei.
— Faith, sim ou não? — insistiu, impaciente.
Coloquei a mão na boca quando senti a gargalhada subir pela garganta. Quem ri por último ri melhor, como dizem.
— Sim!
— Sim o quê?! — arregalou os olhos.
Me dobrei nos joelhos ao sentir os músculos da barriga reclamarem das contrações distribuídas em pequenos espasmos.
— Sim, eles só me beijaram! Eu nem ao menos deixava que chegassem perto da minha boca, pra você ter uma noção — respondi entre arquejos.
Justin permaneceu sério e mal humorado por um instante até se deixar convencer por minha risada e deitar-se ao meu lado enquanto esperávamos as cócegas invisíveis desaparecerem. No fim, não tinha tanta graça assim. Devia ser o sentimento de leveza por estar com ele que me deixava tão feliz a ponto de rir de tudo, combinado com a necessidade de expulsar toda a tensão adquirida o dia inteiro. E isso também devia contagiá-lo, porque demorou tanto quanto eu para encontrar o controle.
Assim que já era possível respirar, sentei-me outra vez para deixar o oxigênio fluir livremente e balancei a cabeça.
— Então eu estou em desvantagem — concluí, parcialmente indiferente.
Justin estava sentado em um instante, fazendo careta.
— Nem pensar.
— Ah, agora você entendeu bem fácil, hein? — censurei.
Ele me ignorou.
— Se você acha que estar em vantagem quer dizer diminuir-se a objeto de várias pessoas, temos um problema por aqui.
— Hm, porque eu sou mulher não posso fazer esse tipo de coisa? — murmurei em tom de repreensão.
— Você pode fazer o que bem entender. Apenas me doeria a alma por isso. Sabe por quê? — e de repente seus olhos derretiam como açúcar no fogo, naquele doce hipnotizante e aderente que te prende numa consistência firme depois de ter se certificado que sua aparência causou uma boa impressão — Porque não quero que nenhum homem te toque — acariciou com a ponta dos dedos a base do meu pescoço, causando imediatamente arrepios sobre minha pele — Muito menos descubra os segredos que seu corpo esconde — dedilhou até minha nuca, afastando meus cabelos — Ou experimente o gosto de possuí-la por inteiro — em um segundo ele estava sussurrando perto demais dos meus lábios, pipocando meus hormônios em todas as direções, no outro, me prensava contra o colchão com todo o peso do seu corpo. O ar fugiu dos meus pulmões, em parte devido ao gesto brusco, em parte devido a... bom, sim.
Quente, estava quente o suficiente para eu pensar que estávamos no meio do verão do Rio de Janeiro. Observei muda a análise minuciosa que ele fazia de mim, tarde demais para clamar por sanidade. Quando eu conseguia respirar um pouco, aspirava o perfume masculino forte e agradável que praticamente pulava de seu pescoço para minhas narinas, intoxicando meu sistema já indefeso. Muitos antes de pensar que estava em guerra, meus membros desistiram, amolecendo covardemente diante da sua presença bastante intimidadora. Precisei de muito autocontrole, muito mais do que minha quota permitia, para permanecer imóvel antes que ele voltasse a atenção ao meu rosto, latejando pela vontade de impregná-lo de todas as formas a mim
Justin aproximou os lábios entreabertos dos meus lentamente, roçando-os.
— Nenhum que não seja eu. Quero esse privilégio todo para mim — quando pensei que teria uma parada cardíaca de tanta tentação, ele permitiu que nossa boca se encaixasse, devagar, com uma delicadeza perturbadora. Mal nos separamos e ele voltou a falar — Consegue compreender isso? — beijou-me uma vez mais, como que para se certificar de que minha resposta seria positiva.
Vi a ponta do seu sorriso jubiloso antes que se abaixasse para beijar o canto da minha boca e descesse meticulosamente até meu queixo, e depois por toda a extensão do meu pescoço, deixando para trás um rastro visível do delírio que me provocava. Fechei as mãos em torno do lençol da cama no intuito de prevenir qualquer impulso autodestruitivo. Meu Deus, Justin Abençoado Bieber.
— Eu poderia te mostrar toda a minha criatividade agora — seu hálito quente em meu pescoço acompanhou a voz cortante repentinamente rouca.
Engasguei-me com o ar e a saliva em minha garganta, mas não ousei tossir. Fiz bem, logo seus olhos em brasa alcançaram os meus de novo, tive a impressão de que a veia palpitando em meu pescoço estouraria a qualquer momento. Ele passou um tempo considerável medindo minha expressão — que eu vergonhasamente não fazia a menor ideia de qual era, algo bem diferente da sanidade, supunha —, pensativo. E então vincou a testa, balançando a cabeça com resignação.
— Não. Prefiro te provar que penso com a cabeça certa — e simplesmente saltou de cima de mim.
Fiquei ali sozinha no meio do colchão, ofegante e abatida, imaginei que não possuía mais osso algum entre meus músculos flácidos. Fiz um esforço sobre-humano para levantar-me nos cotovelos e enxergar seu rosto acima do meu na outra cama, certa de que estaria muito orgulhoso de sua provocação barata. Ele se adiantou às minhas acusações, cruzando as mãos sobre o colo, a fisionomia marcada por determinação.
— Recuso-me a me deixar cegar por meus desejos como se você fosse feita para me satisfazer, Faith — murmurou num tom grave, demonstrando em cada palavra o esforço que fazia — Vou te tratar do jeito que merece — prometeu.
Ele se ajoelhou na minha frente e eu me endireitei imediatamente, desconfiada. Tendo assim oportunidade, segurou minha mão e levou aos lábios para dar um beijo singelo.
— Seguirei qualquer regramento social, até o mais banal, por você. Então... — pigarreou e passou a língua nos lábios, preparando-se. As palavras pareciam perdidas em sua cabeça, resistentes em alcançar a ponta da língua — Você aceita namorar comigo? — suas sobrancelhas tremeram de incerteza. Não devido a motivação de sua pergunta, mas em dúvida se aquela seria a ordem das palavras ou se aquela era a melhor maneira de expressá-las.
Paralisei, detendo até mesmo minha respiração patética. Talvez os estragos recentes em meu sistema fossem tantos que eu adquirira algum problema e o interpretara mal ou... ele realmente se dobrava a minha frente para pedir minha mão em... namoro? Liguei os pontos devagar em minha mente, embora pudesse sentir sua ansiedade emanar para mim, sua mão tornando-se pegajosa na minha.
Gaguejei coisas incoerentes até conseguir grasnar.
— O quê?
A ideia de repetir fez com que sua testa se enrugasse um pouco mais.
— Estou te pedindo para se comprometer a mim — respirou — Me dar a certeza de que terei exclusividade em certo departamento do seu coração. Quero que seus sorrisos apaixonados sejam apenas meus, assim como seus beijos e os arrepios involuntários de sua pele quando te toco. Você é tudo o que eu quero, Faith, então, por favor, diga que pode retribuir meu sentimento.
Deliciei-me com aquele momento, deixando que aquelas palavras se solidificassem no mundo exterior para que tudo e todos compreendessem o motivo da emoção que se debatia dentro de mim, ameaçando vir à tona através dos meus olhos embaçados e a boca trêmula.
Atirei-me involuntariamente em seus braços, quase nos derrubando no chão como jacas maduras.
— Você acha que precisa mesmo perguntar?! — ataquei sua boca e Justin riu de surpresa e regozijo antes de retribuir meu beijo, atestando a promessa que fazíamos um para o outro naquele quarto de hotel enfeitado com o aroma de orégano e cebola. Antagonicamente, a fome que sentíamos nada tinha a ver com alimentos.
Para quem começara o dia tão desasatrosamente, eu não podia pensar em forma melhor de encerrá-lo, ainda que nosso futuro fosse uma caixinha de surpresas tenebrosas.

Acordei no meio da noite repentinamente, algumas pessoas costumam subestimar o sexto sentido, mas eu tinha certeza de que ele era a causa do meu despertar. Mal havia movido minha cabeça apoiada no peito de Justin e ele também abriu os olhos. As vezes tinha a impressão de que aquele Bieber desconhecia o significado de sono profundo.
Semelhante a última vez que dormimos num hotel — e eu odiava me lembrar daquele dia — Justin arrastara sua cama para perto da mim depois de afastar o criado-mudo do meio. Não sei por que ainda se dava o trabalho de tentar nos separar se nosso corpo se enlaçava de um jeito ou de outro. Conversamos e nos acariciamos até que o sono vencesse a vontade de aproveitar cada segundo que tínhamos para nós dois, e mesmo assim, consegui trazê-lo para os meus sonhos.
Entreolhamo-nos para mais uma de nossas conversas silenciosas.
“Sente isso?” — eu dizia, ou expressava.
“Sim. Tem alguma coisa errada. Vou averiguar.”
“Não!” — agarrei seu braço.
Não que eu tivesse medo, mas a ausência de luz me deixava um pouco nervosa, pior ainda se fosse no meio de uma madrugada silenciosa. A luz fraca dos postes na rua, refletindo na janela atrás de nós, mal serviam de alguma coisa, já que Justin decidiu fechar as cortinas.
Ele olhou o quarto escuro a nossa volta, procurando formas nas sombras, enquanto eu me escondia covardemente em sua pele quente e nua da cintura para cima. Ouvimos ao mesmo tempo o ruído insistente no trinco da porta. Justin se colocou em pé num pulo gracioso, seus pés tocaram o chão como se fossem duas plumas, sem produzir som algum. Tive um momento de dúvida crucial, decidindo entre me encolher o mais distante possível da porta ou postar-me atrás dele.
Quase cega, demorei a captar seu movimento frenético com a mão para que eu saísse da cama e me encostasse a parede. Tentei, sem sucesso, ser tão silenciosa quanto ele, mas tropecei no lençol enquanto rolava para fora e quase cai de cara com o chão. Justin não se deu ao trabalho de me repreender, apanhando sua arma debaixo do travesseiro e calculando seus passos para mais perto do desconhecido.
Pensei que explodiria em nervos antes que a porta abrisse, apertei bem os lábios para não gritar, cerrando-os com os dentes que ameaçavam dilacerar a pele fina, transpirando em cada centímetro da minha pele. Armei-me do meu tênis largado no chão e esperei.
Mesmo privada da visão do nosso visitante, o clique do trinco foi audível para meus ouvidos aguçados, e vi Justin prestes a apertar o gatilho, os ombros curvados. O estresse abandonou suas costas repentinamente e ele expirou enquanto baixava as mãos, assumindo em seguida uma fachada irritadiça.
— O que você está fazendo aqui? — sibilou.
Caminhei hesitante para perto dele, curiosa, mas seu braço se estendeu em minha direção, detendo-me. A porta se fechou novamente e ouvi os passos arrastados de Maya antes que ela aparecesse em meu campo de visão. Justin levantou a arma novamente para que ela não se aproximasse mais.
— Acho que ela está vindo — agonizou ofegante.
Eu não conseguia ler sua expressão no escuro, portanto, tateei até encontrar o interruptor perto da cama. Todos piscamos incomodados até nossos olhos se acostumarem com a luz ofuscante.
— Do que você está falando? O que está fazendo aqui? — questionei, ainda sobre a influência da adrenalina que corria por minhas veias.
De certa forma, eu sabia o que Maya queria dizer, no fundo apenas torcia para estar errada. Entretanto, dava para ler em sua testa suada o veredicto.
— Eu não podia ficar naquele hospital — engoliu em seco, a mão apertada contra o abdômen coberto outra vez pelo vestido que viera para o Canadá —, sabia que sozinha era um alvo fácil. Então levantei da cama, passei pelas enfermeiras, mas tive que voltar correndo quando fui dobrar o corredor porque vi aquele demônio em forma de mulher — secou a testa com as costas da mão. Finalmente me mexi para conduzi-la à chaise. Justin não pareceu satisfeito com isso, mas depois de ter confirmado sua debilidade, tampouco me impediu de ajudar — Tenho certeza que ela estava lá para me matar, vi isso naquele par de olhos cruéis que ela tem. Esperei que seguisse para o quarto e disparei para fora do hospital sem olhar para trás, consegui uma carona até aqui, mas não sei dizer se escapei sem ser vista. Ela pode ter me seguido.
Justin jogou a cabeça para trás, expirando ruidosamente.
— Eu sabia que não deveríamos ter lhe dado o nome do hotel. Você a atraiu para cá na primeira oportunidade — vociferou, encarando-a mortalmente.
De repente, eu estava atrás de seu corpo.
— Se está a ajudando propositalmente, Baker, eu juro que...
— Você acha que eu correria por vontade própria com a barriga furada?! — ela interrompeu a ameaça, histérica.
Coloquei-me entre os dois outra vez, prevenindo que não se atacassem antes que Annelise tivesse o prazer de o fazer.
— Tudo bem. Justin, você acha que...
— Com certeza ela já está aqui — resmungou antes mesmo que eu terminasse a pergunta, descarregando toda a sua fúria em Maya. Se havia alguma dúvida de que ele a desprezava, já não existia mais.
Eu mesma estava um pouco estressada com a interrupção brusca da minha bolha de felicidade, do mundinho que criei para mim e Justin, solidificado pela pergunta mais fascinante que alguém já me fizera em toda minha vida. Pelo menos naquele momento eu queria ser capaz de aproveitar sua presença.
— Ok. Vamos pensar, o que é melhor fazermos agora? Eu voto para vazarmos imediatamente — falei, sem ter outra alternativa, adiando nossa paz.
Maya assentiu num gesto frenético, concordando comigo.
— Não é o adequado. Essa é a primeira coisa que ela espera. Deixe-me procurar outra alternativa. Não quero um confronto de frente com você por perto.
Sequei as mãos escorregadias no mini short de pijama que eu usava. Os novos empregadores de Justin nos deixaram algumas peças no assento traseiro do carro fornecido a ele, quer fosse por pedido de seu mais novo prodígio ou por conta própria. Não quis nem imaginar o motivo pelo qual escolheram roupas tão curtas ou sensuais demais para o meu gosto. De fato, o mesmo havia ocorrido quando Justin pedira para uma empregada do hotel em que nos hospedamos ano passado me comprar algumas roupas, talvez essas recomendações inadequadas fossem suas.
— O que ela está fazendo aqui? Seus amigos não se gabaram tanto de sua soberania? Onde estão agora? Parece que George não os teme tanto assim, afinal.
Justin espiou atrás das cortinas na janela enquanto vestia sua camiseta abandonada em cima do criado-mudo.
— Eles só escoltaram nossa chegada, então fico por conta própria. Sabem também que não precisam te proteger enquanto eu estiver por perto. De qualquer forma, penso que se algum empregado da Companhia desembarcasse aqui, deveriam saber... Mas quanto a Annelise, ela não sabe sobre eles, assim não os teme. Deve ter avisado a George que viria para o Canadá, mas ele não se importou em lhe contar que este é território inimigo. Suponho que ainda não havíamos chegado quando ela partiu, por isso ele pode afirmar desconhecer a custódia, o documento informativo foi enviado depois que eu assinei o contrato. Portanto, Annelise foi só mais uma de suas jogadas de risco. Se está acompanhada, não passam de três. George não arriscaria tanto assim. Eles estão a própria sorte — praticamente pulou ao assumir uma expressão de reconhecimento — Isso! Não mais de três. Precisamos ir ao telhado.
Acompanhei todo o raciocínio que ele desenhara, mas me perdi nesse último. Não tive tempo de ao menos formar o comando em meu cérebro de abrir a boca para perguntar, ele já estava me puxando em direção à porta. Estendi a mão à Maya para guinchá-la conosco segundos antes que o breu reivindicou seu espaço no quarto, dessa vez com potência total, a iluminação fraca do corredor que outrora rastejava por baixo da porta também sucumbira. Tive a péssima impressão de que se estendesse por todo o hotel. Justin praguejou baixinho. “Previsível”, repudiara.
Quase ao mesmo tempo, meu aparelho celular vibrou em minha mão.
“Saiam para brincar ou tirarei vocês a força.”