Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 17 de abril de 2018

One Love 37

— Tem certeza disso? — sussurrei angustiada, tropeçando em meus próprios pés atrás de Justin. Ele me firmava com a mão forte na minha, parecendo não sofrer pela ausência de luz. Era muito fácil me esquecer de que fora ensinado desde o nascimento a andar nas sombras como se fosse parte delas.
Justin argumentara que Maya deveria ficar no quarto, afirmando que seria mais seguro para ela. Resolveríamos nosso problema com Annelise e voltaríamos para buscá-la no máximo em uma hora, previu. Suspeitei de que sua verdadeira motivação fosse nos livrar do atraso que ela representaria a nossa fuga, mas surpreendentemente, Maya concordou com ele, e assim meus protestos foram interrompidos ao meio. Todos nós sabíamos que Maya também era considerada uma traidora da Companhia agora, mesmo que não tivesse mencionado palavra alguma sobre os segredos de George, portanto, facilmente se enquadrava na lista de alvos da loura sanguinária.
— Depois que nos encontrar, Annelise não terá oportunidade de procurar mais coisa alguma — respondeu no tom mais baixo possível, o qual me esforcei para ouvir.
— Ela vai nos encontrar? — a surpresa me fez esquecer de falar baixo. Justin paralisou instantaneamente e eu me choquei contra suas costas, um arfar surpreso escapando dos meus lábios. Ele me segurou pelos braços para me equilibrar.
— Shh — repreendeu, próximo ao meu ouvido. Quis dizer que eu não tinha culpa de ser uma criatura diurna, mas mordi a língua.
— Confia em mim, já te explico.
Continuamos o caminho em silêncio absoluto, nos tornando parte do murmúrio de um hotel adormecido, o ronronar suave dos hospedes em mais uma noite de sono, alheios ao demônio que circulava pelos corredores, envoltos em lençóis acalentadores; uma respiração mais forte aqui e ali e... ah meu Deus. Apressei meus passos para sair da frente daquela porta, instigando Justin a também fazê-lo. Tive a impressão de que seus ombros se sacudiam numa risadinha enquanto eu corava. Encontramos a escada e ele diminuiu o ritmo de suas passadas, era melhor que nos atrasássemos devido ao meu progresso lento e eficaz do que se saísse rolando degrau a baixo.
Ainda subíamos quando o visor do meu celular acendeu em decorrência de outra mensagem. Parecia impossível que Annelise já conseguira meu novo chip, mas sua segunda ameaça era prova da capacidade assombrosa.
“Estou quente ou fria?”
 Paramos para varrer os olhos a nossa volta e constatar seu estado mais frio possível. Para mim não adiantava muita coisa, mal podia enxergar os contornos do corpo de Justin bem a minha frente, por mais que a essa altura meus olhos já se acostumassem a escuridão, Annelise podia muito bem estar atrás de mim e eu não veria. Mais e mais degraus e ficou complicado de respirar sem produzir som algum, o coração acelerado de adrenalina dobrou seu ritmo por esforço correspondendo a transpiração que deslizava minha mão na de Justin. O prédio tinha uns quinze andares, presumi, e pelo que me constava, Justin planejava nos levar até o telhado. Levando em conta que nos hospedamos no terceiro andar, ainda me restavam muitos lances de escadas para subir. Provavelmente teríamos que lidar com um desmaio de exaustão dali alguns segundos. Repudiei Annelise e sua disposição para fazer joguinhos. Arrumara homens mal-humorados para guardar as saídas enquanto brincava de gato e rato conosco. Aquela mentezinha diabólica inconveniente.
— Ok — expirei — apoiando-me nos joelhos com a língua de fora — Preciso de um tempo. A respiração de Justin estava levemente alterada, mas, a minha, uma pessoa sedentária de vinte e dois anos, assemelhava-se a um conjunto constante de últimos suspiros.
Tateei para sentar no degrau, sentindo a ardência muscular latejante em minhas coxas e panturrilhas. Passei a mão no rosto, limpando a umidade e segui para uma organização superficial dos meus cabelos.
“Vocês saíram do quarto, certo? Ou vou mesmo precisar colocar fogo em cada um para saber?”
Resgatei meu celular das mãos de Justin antes que ele o jogasse na parede. Me coloquei em pé e o tomei pela mão, esquecendo meu estado de exaustão ansiosa para colocarmos o plano (seja ele qual fosse) em ação. Superamos mais um lance de escada e recebi outra mensagem.
“Será que não dedetizaram o hotel? Acho que ouço ratos na escada”
Estagnamos. Ela viria por baixo ou por cima? Passou-se um segundo e Justin decidiu continuar a subida. Uma vez que ela já sabia onde estávamos, meus pés perderam o cuidado excessivo por conta própria, produzindo um “plaft” ligeiramente alto.
“Estou quente, Faith”.
Virei a cabeça para trás, iluminando com o visor do meu celular. Vi apenas um pouco até o terceiro degrau atrás de mim, assustadoramente vazios. Justin me puxou para continuar. Após alguns minutos, ofegante, recostei na parede enquanto ele ligava a lanterna do celular para procurar pelo corredor a entrada que nos daria acesso ao terraço. Resisti ao impulso de me jogar no chão para relaxar os músculos exaustos das minhas pernas e desejei ter trazido uma garrafa de água para reconfortar minha garganta seca. Eu preferia que Annelise me matasse de uma vez a fazer mais algum esforço físico.
— Vamos — Justin me chamou, direcionando a luz para o meu rosto. Semicerrei os olhos e choraminguei, tentando argumentar com meu corpo para que ativasse de imediato meu instinto de sobrevivência e assim recobrasse forças do além. Não fui convincente a tempo, então Justin enlaçou o braço no meu, me puxando, apoiei grande parte do meu peso nele.
Entramos por uma porta vermelha no fim do corredor e eu gemi com a visão de mais um lance de escadas, um pouco mais apertado que a sequência anterior.
— Vamos ter que procurar uma academia para você — debochou de mim, espalmando a mão esquerda na base das minhas costas e segurando minha mão com a sua direita.
— A gente... vai morrer agora... e você se preocupa... com meu condicionamento... físico?! — retruquei, arquejante.
— Por que você sempre acha que vamos morrer?
— Porque sempre estamos prestes... a morrer!
Ele balançou a cabeça e empurrou a porta da liberdade — que resistiu um pouco devido à falta de uso. Justin olhou para trás, garantindo que não levaríamos uma facada nas costas, me soltou e se preparou — feito os personagens do CSI, mãos firmes em torno da arma e passos meticulosos — para estudar o terraço, desconfiado que alguém nos esperasse ali. Cambaleei para fora, escondida atrás de suas costas largas e acendi a lanterna do meu próprio celular. Relaxei quando constatamos estar sozinhos e finalmente me joguei no chão, sentando-me, aproveitando o ar puro e a sensação revigoradora da brisa resfriando em minha pele úmida. Justin franziu a testa numa reprovação cômica, mas não fez comentários.
— Agora você fica aqui, eu volto em alguns minutos — instruiu, já se voltando para a porta.
Deixei para segundo plano o fato de estar com falência generalizada de órgãos e saltei, agarrando seu braço.
— Você quer me deixar sozinha aqui?! — grasnei, olhando teatralmente para os lados. A luz da lua em conjunto com a iluminação artificial da cidade não me deixaria totalmente desamparada nas sombras, mas o vento que esvoaçava meus cabelos e atravessava minhas roupas entregava a ausência de qualquer corpo para me proteger.
— Não vou sair da ponta do corredor, eles não alcançarão a porta, Faith — garantiu-me.
— Eu vou com você — decidi, empertigando-me.
— Faith, não vai acontecer nada... de ruim — acrescentou ao ver minha expressão de descrença — para nós dois. Vamos ficar bem. Por favor, colabore.
Neguei veementemente.
— Você não pode me deixar sozinha outra vez. Isso não está em discussão.
Ele expirou e segurou minhas mãos, olhando diretamente em meus olhos.
— Faith, como um homem desesperadamente apaixonado, prostrado à sua presença, e extremamente dependente de você, te dou minha palavra de que não vou te deixar aqui sozinha por mais que meia hora. Voltarei intacto.
Olhei a sinceridade em seus olhos e expirei devagar pela boca. Para a cartada final, beijou as costas das minhas mãos. Tive certeza de que me arrependeria daquilo, mas me lembrava de como minha presença havia o atrapalhado quando ele foi me resgatar na Companhia Bieber em Boston.
— Toma cuidado, por favor.
Ele sorriu pra mim no intuito de banalizar qualquer preocupação. Beijou-me levemente nos lábios tão depressa que eu podia ter inventado aquilo, e me deu as costas, abandonando a postura derretida de persuasão para sua melhor forma empoderada. Bastou que eu sentisse sua ausência me rondar para me arrepender. Numa fração de segundos eu podia elencar cinquenta possibilidades daquilo dar errado.
Estava pronta para correr atrás dele, só não o fiz porque o vi paralisar ao abrir a porta.
— Para trás — a voz terrivelmente conhecida ordenou, inflexível.
Passou-se um segundo tenso, eu vi seu queixo se abaixar daquela forma que não podia dizer boa coisa. Seus neurônios corriam livres em busca de alternativas, e em nenhuma delas ele deixaria com que Annelise tivesse visão de mim. Foi então que ouvi um gemido de protesto muito semelhante ao de Maya.
— Que pena, Maya, eles não te querem participando da conversa — Maya ganiu um pouco mais alto.
Prendi a respiração.
— Justin — pedi, dando um passo à frente.
Seus olhos se apertaram de raiva para, supus, Annelise enquanto travava o maxilar. Eu podia imaginá-la sorrindo vitoriosamente para ele.
— Justin — repeti, tensa. Temia que se ousasse me aproximar mais motivasse Annelise a um gesto precipitado, era totalmente incômodo ser privada de ver o que acontecia.
Ele não olhou para mim, recuando, contrariado, um passo de cada vez, atento a distância e movimentos dos nossos inimigos. Annelise estava acompanhada de mais um homem, além dos outros dois que guardavam as saídas lá embaixo, previsivelmente segurava Maya pelo pescoço, apontando uma lamina afiada para sua barriga já perfurada na manhã anterior, ao passo que aquele mirava uma arma para a cabeça de Justin. Imediatamente perdi o ar que armazenava nos pulmões, sentindo um tremor vigoroso se direcionar às minhas pernas. Maya mesmo não parecia estar muito melhor do que eu, provavelmente mantinha-se em pé exclusivamente devido ao aperto de Annelise, o rosto pálido e brilhante a luz da lua entregava que alguma coisa estava errada, então notei o vestido empapado no abdômen. Se ela havia subido todos aqueles lances de escada nos últimos minutos, não era surpresa que seu ponto estivesse estourado.
— Eu sou uma pessoa de sorte, tenho que admitir — Annelise me disse, seguindo meu olhar no corpo quase morto que ela apoiava — Se ela não tivesse saído no corredor por conta própria, acho que eu não me daria ao trabalho de procurá-la mesmo.
Ela realmente esteve o tempo todo atrás da gente na escada. Só não sabia dizer como o fizera tão silenciosamente para não constatarmos de pronto, ainda mais com Maya naquele estado.
— Desculpa — li nos lábios trêmulos de Maya antes que Justin se posicionasse calculadamente na minha frente a alguns passos de mim.
Xinguei-me mentalmente, eu deveria saber que sua fachada de corajosa não duraria muito tempo, Maya não conseguiria ficar trancada num quarto escuro e sozinha, a espera de que o pior passasse. Ela era uma sobrevivente, e lutaria por conta própria para se ver livre de situações arriscadas. Não que isso tenha lhe sido benéfico naquele momento.
— Armas no chão, Justin. Por favor, sejamos civilizados — Annelise pediu educadamente.
— Suponho que a mesma regra não se aplicará a vocês dois — respondeu com desdém.
— Sabe como é, os adultos não precisam muito de regras.
Eles travaram uma batalha de poder pelo olhar, até que Annelise inclinou ligeiramente a cabeça para o lado e ameaçou fincar a lâmina em Maya, dando uma olhadinha de soslaio para mim. Soltei algo parecido com uma lamúria pela garganta. Assim, Justin praguejou baixo e cedeu, colocando meticulosamente sua arma no chão e chutando para longe.
— O que você quer, Annelise? — perguntei entredentes, cansada, irritada e assustada. Maya precisava voltar ao médico imediatamente.
— Ah, minha querida, muito mais do que eu posso contar. Felizmente conseguirei tudo.
— Eu vou te dar duas alternativas, e você pense muito bem em escolhê-las — Justin interrompeu, falando suavemente — Você não vai sair com vida daqui hoje, te garanto. Mas se não nos desgastar com sua voz nauseante, prometo ser o mais rápido que possível para cortar sua garganta. O que vai ser?
O riso infantil enjoativo preencheu a noite. Percebi Maya enrijecer, com medo de que a faca em sua barriga acidentalmente perfurasse a pele. De fato, Annelise não parecia nem um pouco preocupada que seus movimentos bruscos pudessem ferir a ex colega de trabalho.
— Sabe, Faith — inclinou-se ligeiramente para o lado, a fim de me ver —, as ameaças dele são uma das minhas coisas preferidas a saírem de sua boca, só perdem para... Bom... Acha que é adequado sua ex contar esse tipo de coisa para a atual? — ela sussurrou, cheia de pudor de repente, mas não esperou resposta — Se bem que eu poderia mesmo dar umas dicas de como te satisfazer, ela não parece ser muito experiente.
— O que você quer, Annelise? — repeti, um pouco mais forte dessa vez.
Ela deu de ombros.
— Para falar a verdade, gostaria de ver vocês tentarem. Juro. Não sei o que você espera se envolvendo com uma pessoa como ele, com certeza já bateu o record de experiências de quase morte por conta disso. Da mesma forma, não sei o que ele pretende estando com você também. O que é, J? Se cansou das mulheres audaciosas e resolveu tentar com as moscas mortas? — balançou a cabeça — Não. Você não vai conseguir satisfazê-lo. Ele não é um homem de uma mulher só, sabia? Depois que perder a graça, o que não vai demorar, vai te largar como o cachorrinho de rua que você parece.
— Eu juro que se você não calar a boca vou arrancar sua língua — Justin ameaçou, forjando uma expressão estranhamente agradável.
Maya parecia piscar mais longamente agora.
Annelise abriu um sorriso contente, como se assistisse sua série preferida.
— Seria mesmo muito interessante — e então forçou uma fisionomia de pena — Mas George insiste em ver o problema resolvido para ontem. É até engraçado que ele te odeie tanto assim, Faith, na verdade, me dá um pouco de dó que nem o homem que mais ama mulheres no mundo consiga te suportar — seu tom de voz avançava para um ponto final.
— Sim, claro, e ele te adora tanto que te mandou para o Canadá, certo? É ótimo que tenha te avisado de que a Companhia Bieber não pode mais pisar aqui devido a um tratado com outra Companhia canadense — Justin alfinetou.
Annelise bufou.
— Essa é a mentira mais criativa que você já inventou, J.
— Pensando bem, eu deveria te amarrar e deixar como um presente para os Cavanagh, eles adoram os empregados dos Biebers como as cobras tem extrema afeição por ratos.
Ele conseguiu, ela fechou a cara. Até seu comparsa corria os olhos entre os dois desconfiado.
— Você espera que eu vá correndo embora e te deixe viver com essa medíocre, não é?
— Não. Quero que saiba que vai morrer sem ninguém que se preocupe com você de verdade, muito menos te ame. Você vai ser só mais uma cova que farei questão de cavar.
Annelise o encarou.
— Pode até ser, Justin, mas sabe o que vai ser mais engraçado? Ver sua expressão quando sua adorável mascote não estiver mais aqui — ela fez um sinal afirmativo com a cabeça, o qual foi captado pelo homem que a acompanhava. Ele não era muito diferente fisicamente de todo o estereotipo da Companhia Bieber.
Seus olhos pequenos relampejaram para os meus, frios como o gelo, e o queixo pontudo não se deu ao menos ao trabalho de enrijecer quando o aviso li em sua testa “Oi, prazer em te conhecer, vou atirar em você agora”. Então era isso, Annelise não ia nem ao menos se despedir de mim? Senti as batidas contadas do meu coração doerem em meu peito quando saltaram com força demais nas costelas, travei os músculos de uma vez e apenas esperei. Eu sabia que não podia correr de uma bala, não teoricamente, mas o que me manteve paralisada talvez foi o choque da morte iminente. Pensei que veria minha vida passar rapidamente pelos meus olhos, mas só havia um vazio gritante em minha mente. Quis dar ao menos uma última olhada em Justin, mas estava presa naquele par de íris castanhas mortíferas.
Apenas por essa razão notei que o ambiente a nossa volta havia mudado, meu coveiro desviou o rosto por uma fração de segundos à sua mandante e eu fiz o mesmo. Na frente de Annelise, Maya se curvava sobre a mão de ambas que agarrava o cabo da faca enorme dilacerante; perplexa, aquela soltou imediatamente o objeto e se afastou do corpo desmoronando a dois passos de seus pés. Aproveitando a distração, Justin se lançava em direção ao homem que estivera prestes a me eximir da face da terra, e em seguida, Annelise pulava o corpo estranhamente retorcido de Maya para chegar a mim.
Tudo ficou muito confuso depois disso. Houve uma luta corporal patética entre mim e Annelise, cambaleei para trás quando seu peso se chocou contra minha estrutura óssea mediana, e quando entendi que me empurrava para a beira do telhado, girei para a esquerda, livrando-me de sua mão em meu pescoço. Seguiu-se uma sequência de socos desferidos em meu estômago e rosto no intuito de me desnortear o suficiente para acabar com minha resistência em ser jogada de aproximadamente quarenta e cinco metros de altura. Dançamos em passos mortais em volta de nós mesmas. Desnorteada, não conseguia fazer mais do que tentar me defender e firmar bem os pés no chão, a confusão dos meus cabelos soltos em meu rosto pouco me deixava enxergar e perdi a noção da distância em que estava de uma queda fatal.
Ao longe, ouvi Justin gritar em plena agonia por meu nome e depois houve um estouro no ar. Consegui espiar entre os fios desordenados na frente dos meus olhos e constatei o óbvio, eu estava perdendo a luta, conduzida decididamente para a beira, não devia faltar mais do que dois passos agora. Em meio a um frio de terror em meu estômago, decidi um movimento arriscado, esmoreci nas mãos furiosas de Annelise, recolhendo qualquer resistência aparente. Enfim, chegamos à borda quase insignificante, na altura do meu pé, Annelise me segurava pela gola da camiseta de pijama e me soltou bruscamente, um arrepio medonho correu pelo meu corpo quando perdi o equilibro, mas assim que ela tomou impulso com a perna para me chutar no estômago, me joguei freneticamente no chão, confiando no meu senso de direção em não estar apenas adiantando seu serviço. Milésimos depois me choquei contra o concreto do telhado a tempo de ver Annelise na metade do golpe, sem oportunidade de recolher a perna, o que resultou num chute rijo no ar. Enterrei a planta do meu pé no joelho que sustentava seu único apoio em terra firme, e quase numa cambalhota, Annelise despencou na escuridão. Sua voz esganiçada arrancada de súbito pela garganta foi sumindo conforme eu tentava respirar e me sentava.
Não precisei procurar por Justin, seus braços sólidos me envolveram quase imediatamente, apertando-me contra ele sem delicadeza alguma.
— Meu Deus, meu Deus, Meu Deus.... — balbuciava numa voz estranha, incansável, embalando-me como se eu fosse um bebê — Você está bem? — perguntou-me, atrapalhando as palavras na pressa. Afastando-se para me olhar, tomou meu rosto nas mãos, tirando meus cabelos da frente apressadamente.
Focalizei seu rosto desfigurado em pavor, esforcei-me para encontrar minha voz e o tranquilizar, mas a mão de Annelise ainda apertava minha garganta, embargando minha fala. Senti meus olhos umedecerem e antes que pudesse me derramar em lágrimas, ele me abraçou de novo. Dessa vez, agarrei sua camiseta com uma força de aço, acostumando-me com a ideia de que eu e ele estávamos inteiros e juntos. Respirei o aroma quente de sua pele ligeiramente suada sob a colônia masculina que ele usava no encaixe de seu pescoço e assim desobstrui um pouco o nó que bloqueava meu sistema respiratório.
— Está tudo bem, meu amor. Está tudo bem. Eu estou aqui, Faith. Eu estou aqui — repetiu inúmeras vezes, quase como se afirmasse para si mesmo. Depois beijou cada centímetro do meu rosto, não se importando com o fato de estar ligeiramente molhado. Tive a impressão de que o seu também estava.
Comecei a finalmente relaxar, desenervando meus músculos. A névoa em meu cérebro começou a dissipar, então me lembrei.
— Maya — murmurei.
Ele me apoiou quando tentei me levantar, tendo quase tanta dificuldade quanto eu para acertar os passos. Deixei-me cair ajoelhada ao lado dela, chamando seu nome compulsivamente ao notar seus olhos fechados. Outra vez, Maya deitava-se estendida no meio de uma poça de sangue, mas esta era consideravelmente maior. O objeto que a ferira encontrava-se em sua mão direita ensanguentada. Sentei-me próxima a sua cabeça e coloquei esta em meu colo, tocando seu rosto enquanto a chamava para a consciência.
— Eu deixei meu celular cair por aqui, ligue para a emergência — ordenei, observando o peito de Maya subir e descer irregularmente.
— Sim. Eu já volto — disse-me. Dessa vez, não tive oportunidade de me opor, ocupada em lembrar-me alguma coisa que pudesse ajudar Maya.
Peguei a lâmina em sua mão e rasguei seu vestido para mensurar o tamanho da lesão. O sangue esguichava de um corte grande que englobava o furo por onde fora baleada na barriga, uma voz no canto da minha mente avisava que uma artéria havia sido perfurada. Tentando controlar o pânico, cortei um pedaço do vestido com a mão trêmula e pressionei contra a ferida.
— Maya, por favor — tentei de novo, tendo a impressão de que era estrangulada outra vez.
As pálpebras tremeram antes que seus olhos castanhos injetados parassem em mim. Respirei com um pouco de alívio.
— Não se preocupe, o socorro está chegando — garanti, notando uma gota de água pingar do meu rosto sobre o dela. Depois dessa mais algumas a seguiram.
Maya piscou, a boca pálida tremendo enquanto ela tentava dizer alguma coisa.
— Você não pode querer falar agora. Daqui a pouco, sim? Ah, o que estava pensando para fazer isso, hein? — tentei sorrir com desaprovação, mas o esforço apenas me deu vontade de chorar mais.
Embora numa cor mais adequada a folha de papel, ela se saiu melhor do que eu, repuxando imperceptivelmente o canto dos lábios. Apesar de fraco, aquele parecia o sorriso mais sincero que eu já vira nela. Alcancei sua mão ligeiramente inquieta no chão, entendendo o significado. Apesar de tudo, Maya estava, na medida do possível, feliz por ter alguém que finalmente se importava com ela. E eu também. Aquela mulher se sacrificara para me salvar, o mínimo que eu podia fazer era segurar sua mão enquanto cada resquício de vida esvaia-se de suas células.
— Sim, eu sou sua amiga. E amo você — desengasguei.
Duas gotas grossas caíram dos seus olhos e tive a impressão de que ela sorriria de novo se não tivesse sido levada antes. 

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