Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

One Love 35

Justin me esperou assentir, incentivando-o a prosseguir, como se eu realmente tivesse a opção de não ouvir aquela história crucial. Refleti momentaneamente o que faria caso fosse demais para minha quota de absurdos diária. Convenhamos, as sobras daquele dia em especial eram escassas, praticamente nulas. Talvez fosse melhor não ouvir, na verdade. Entretanto, não queria me induzir ao erro viajando com alguém que possivelmente pouco sabia — agora. Uma vez no Canadá, estaria limitada em minhas ações. Assim, engoli minha covardia e dei o sinal encorajador.
Ele pegou algumas moedas que Caleb deixara no console do carro, girando-as entre os dedos num gesto de desconforto camuflado, preferindo expressivamente evitar meus olhos.
— Patricia me contou algumas coisas enquanto estive com ela, influenciada por minhas perguntas sobre minha nacionalidade. Eu não sabia que havia nascido por lá — um raio de sol tocou timidamente a penugem em sua cabeça, reluzindo o dourado geralmente disfarçado no castanho claro de seus cabelos. O efeito era ainda mais espetacular meses atrás, e repentinamente senti falta de passar meus dedos entre os fios macios e longos — O fato é que minha família inteira vem do Canadá. A Companhia se distribuía por todo o país, bem como o é aqui nos Estados Unidos agora. Nossa força e tradição se estendeu para fora quando os negócios cresceram e George fundou algumas filiais por aqui.
— Então a matriz era no Canadá? — Perguntei curiosa, observando os rodopios que uma moeda de cinquenta centavos fazia entre seu dedo indicador e o polegar.
— Sim. Isso há 24 anos atrás — empertigou-se, introduzindo um novo capítulo em sua história — Você sabe que não somos os únicos profissionais nesse ramo, e no Canadá não era diferente. Concorrência nunca foi um problema para George, então não deu a atenção necessária a ameaça dos Cavanagh. Daí surgiu uma guerra catastrófica, e para poupar novas baixas, secretamente prevendo nossa derrota, George propôs um trato. Os Cavanagh exigiram que não prestássemos mais serviço no Canadá, então relutantemente, juntamos nossas coisas e nos mudamos para os Estados Unidos. Não foi necessariamente um problema, já que o império estava bem sedimentado aqui. Foi nesse tempo que Jeremy me tirou de Patricia, ela não aceitava a mudança e achava que essa era a chance que tínhamos para recomeçar do zero. Bom, o restante você sabe — deu de ombros.
Reparei que ele ainda usava aquele plural respeitoso para se referir à Companhia, ainda que se tratando de um tempo em que ele não sabia nem seu nome e fora injustamente afastado de sua mãe. Seria preciso mais do que meses para extinguir uma lealdade venerável construída durante toda a sua vida.
Justin franziu o cenho imperceptivelmente durante segundos antes de levantar a cabeça e olhar-me diretamente nos olhos, num surto instantâneo de coragem. Me dava a impressão de um nobre soldado disposto a enfrentar a morte de frente em nome de sua causa. Havia chegado a hora da glória que a verdade proporcionava.
— Eu pensei seriamente antes de recorrer a essa opção. Precisava voltar para cá e encontrar meus irmãos, isso sem mencionar as outras possibilidades que me apareciam. Você ainda corria perigo, eu sabia disso, e posso ter cogitado a ideia de te trazer comigo algumas vezes.... De todo jeito, o dinheiro que eu tinha guardado para emergências não duraria por muito tempo em vista das minhas despesas, e no fim de toda essa reflexão a saída mais plausível era aquela. Veja, Faith — apertou ligeiramente os olhos, concentrando-se totalmente em meus olhos no intuito de atrair minha atenção total —, eu queria de fato mudar de estilo de vida, não só por minha família recém descoberta, mas em sua memória também. Eu queria ser o homem perfeito pra você, mesmo que não pudesse me apresentar como tal. Custou-me fazer isso, mas eu não podia ignorar a celeridade e agilidade daquele plano, assim, fui procurar os Cavanagh. Imagine a surpresa que tiveram quando me ofereci para alguns serviços por um preço justo. Claro, eles não podiam recusar, um Bieber que trabalhasse em seu nome era um dos maiores feitos que podiam pensar. No fim, ficaram completamente satisfeitos com minhas habilidades, e se lhes faltasse mais algum motivo para aquela proposta, eu lhes dera quase gratuitamente — respirou devagar, avistando a conclusão —. Deste modo, ofereceram-me um cargo efetivo na Companhia, e uma vez notificados dos problemas que eu tinha com minha própria família, asseguraram-me proteção absoluta caso eu aceitasse. Pedi algum tempo para pensar e até agora não lhes dei resposta. Mas creio que não há outra escolha. Eles enviarão uma carta aos Biebers notificando que os Evans estão sob sua proteção, bem como seus agregados, e assim resolvem-se seus problemas. Para a tutela ter motivação, você precisa estar ao meu lado para se certificarem que seu valor para mim é real, uma condição meramente formal, disseram-me quando lhes apresentei a questão, deste modo os Biebers não se tentam a colocar as mãos em você.
Estive contraindo meus músculos durante seu discurso, mas não relaxei depois que ele terminou de falar. Desviei os olhos de sua ansiedade contida, vislumbrando os transeuntes caminhando pela calçada ao nosso lado. Uma mulher entretida com seu smartphone, os cabelos pretos como cascatas cobrindo-lhe o rosto abaixado em direção ao aparelho, depois uma criança uniformizada agarrada a mão de sua provável mãe saltitando com seus pés pequenos enquanto relatava os fatos acontecidos em sua manhã escolar, e por fim um casal abstraído de todo o restante do mundo, entretidos na arte de descobrirem as mais variadas reações que podiam causar um no outro com um simples toque na bochecha, na nuca ou um beijo delicado na ponta da orelha. Invejei o semblante relaxado e satisfeito de todos eles, recusando-me momentaneamente a viver meu drama. Parecia injusto que eu alcançasse a superfície para respirar depois de noites soterrada e o ar estar poluído com resíduos intoxicantes.
Inteligentemente, concluí que era melhor do que não respirar coisa alguma. Girei a chave na ignição e desengrenei o carro.
— Para onde agora?


Estacionei o carro de Caleb no hotel cinco estrelas próximo a pista de pouso onde o jatinho particular de Justin aguardava. Descemos atrás dele quando explicou ser outra pista falsa para Annelise, pegaríamos um voo comum no Aeroporto Internacional de Boston Logan, precisávamos dar entrada na recepção e alugar os quartos por ao menos um dia, sem usufruir do serviço para a encenação, depois partiríamos de Uber diretamente para o aeroporto. Nosso voo estava previsto para três e meia da tarde, não haveria muito tempo de sobra. 
Guinchei Maya até o banco estofado numa cor dourada posicionado atrás da mesa redonda, pequena e transparente que continha revistas para os acompanhantes entediados. Pensei que seria mais útil encher as paredes em volta dos bancos de tomadas, a leitura atual é predominante em aparelhos eletrônicos. Maya se sentou ereta uma vez livre dos meus braços e deu um sorriso confiante em minha direção. Isso não foi suficiente para abrandar a preocupação constante que eu tinha com seu estado. Sua mão pousada imperceptivelmente no ventre era um lembrete explícito do tiro que levara. O fato de não ter atingido algum órgão não deixava a situação totalmente reconfortante.
Justin se inclinava sobre o balcão para fazer o check-in, a recepcionista prestativa escondida atrás de um óculos redondo digitava os dados calmamente em seu computador, alheia a pressa do cliente camuflada num sorriso mínimo cortes. Para quem estava fugindo do país, eu até me surpreendia com tamanha calma partindo dele. Eu, por outro lado, caminhava em uma furiosa linha reta como se pretendesse escavar o solo com meus pés. Meus dedos não seriam suficientes para enumerar as preocupações zunindo em minha mente.
Quando toda a burocracia cessou, tive certeza de que deixara um buraco para trás, e o olhar disfarçadamente desaprovador da recepcionista compartilhava minhas suspeitas. Entramos no Uber como verdadeiros foragidos e tive a impressão de que Justin jogaria o motorista para fora para tomar o seu lugar e avançar o velocímetro consideravelmente. Afinal, sua paciência não parecia englobar o seguimento das leis de trânsito.
Chegamos ao aeroporto sem nenhum acidente e apoiamos Maya no banco mais próximo à sala de embarque. Justin e eu permanecemos em pé lado a lado, consumidos por uma adrenalina um pouco mais gritante em um de nós — minha mão batucando na coxa desvairadamente deixava claro em quem.
— Hm, temos uns vinte minutos até abrirem a sala de embarque, não quer se sentar? — ofereceu uma voz controlada e uniforme. Até demais, para o meu gosto.
Devolvi o olhar fixo que ele me dava, reparando através da gentiliza superficial que me sondava, atento a qualquer reação expressa em meus traços.
— Estou bem assim. Pode se sentar você.
Com um mínimo movimento da cabeça, descartou a ideia, voltando a encarar o telão informativo ao lado da sala de embarque, parecendo prever alguma mudança repentina no horário dos voos.  
Não trocávamos mais de cinco palavras há quase uma hora, a névoa de desconforto nos mantinha afastados a uma distância de um braço, quase como dois estranhos. Ao mesmo tempo em que eu agonizava para pôr um fim naquilo, tão pouco sentia vontade de fazer alguma coisa para mudar aquela condição. Justin já dissera tudo o que tinha para dizer, então o monopólio da solução só podia ser meu.
— Você está acabando comigo — o sussurro captado por meus ouvidos foi quase ininteligível. Sem olhar em minha direção, inclinava ligeiramente a cabeça — Precisa me dizer o que está pensando — li as palavras em seus lábios, só assim fui capaz de confirmar que falava comigo.
— Não acho que haja algo que eu possa te dizer — respondi no mesmo tom, também evitando seus olhos.
— Está brava comigo?
Pensei um pouco.
— Não.
— Chateada?
Mais uma pausa.
— Não — essa saiu mais hesitante.
— Decepcionada? — senti seus olhos em mim antes de vê-los.
Engoli em seco diante da apreensão explodindo como pipoca em seu rosto. Recordei-me de um tempo em que eu mal podia ler uma migalha de júbilo em suas feições. A diferença era discrepante.
— Não sei o que pensar — contei num expirar ruidoso — Nem o que esperar. Muito menos sei o que estou fazendo — ele assentiu, a linha firme em sua boca evitava qualquer manifestação que pudesse me contrariar. Completei assim que vi sua intenção de virar o rosto de novo, segurando sua mão num impulso — Mas eu sei que tudo o que eu queria era ter você comigo de novo. E pra isso eu pagaria qualquer preço, Justin. Se a condição for essa, eu me acostumo com ela, desde que você não vá embora outra vez.
Acostumei-me com o calor de sua pele, lambendo a ponta dos meus dedos em contato com os seus e espalhando-se vagarosamente por meu sistema circulatório. A sensação sólida de tê-lo junto a mim ainda me parecia uma ilusão fascinante, e eu não abriria mão daquilo por nada. Contemplei um sorriso contido e sério brincar na ponta de seus lábios, coagido a permanecer sob o refúgio seguro de suas armaduras.
Talvez, por fim, ele não fosse o único com alguns problemas psicológicos ali. Talvez meus ex-colegas da faculdade estivessem certos em afirmar que eu estava louca. Talvez nós fôssemos dois idiotas insistindo em uma condição declaradamente errada.
Não importava. Se assim fosse, eu nunca mais queria me encontrar com a sanidade, muito menos deixar de estar errada.

Fomos recebidos por uma comitiva assim que aterrissamos em Mississauga, Canadá.  O voo de uma hora e vinte minutos foi parcialmente rápido, levando em conta que tive que me sentar ao lado de Maya — sabendo que Justin provavelmente a enforcaria se tomasse o encargo para si —. Assim, minha mente se ocupou em especular o que me esperava no segundo maior país do mundo. Parecia piada pensar que apenas pouco menos de um ano atrás eu tinha toda minha vida planejada com perfeição, seria uma pintora renomada de Boston — sem grandes dificuldades para estender meu nome para os tabloides internacionais; graduada em uma das melhores universidades do mundo, Harvard; e uma mochileira nas horas vagas com minha melhor amiga Hanna. Meus planos não incluíam necessariamente um homem, que dirá deixar que algum modificasse qualquer cláusula dos meus projetos. E agora, eu estava desempregada, trancara a faculdade de artes e me mudava para um país sem perspectiva alguma de crescimento profissional.
Controlei o desespero antes que pudesse causar danos maiores, traçando novas rotas. Obviamente eles tinham faculdade no Canadá, eu podia arrumar um emprego qualquer e me inscrever em alguma faculdade de medicina. Não era como se eu me mudasse para um país que não falasse minha língua e tivesse uma cultura tão diferente. Você vai ficar bem, disse a mim mesma. Só para ser atacada por uma nova onda de ansiedade ao pensar nas pessoas que ali moravam. Maya e Justin eram meus únicos conhecidos. Se Ryan e Caitlin se juntassem a nós, mais dois. Ah, e havia Maxon e Yasmin também, ou Jaxon e Jasmyn, o que já me servia de um ponto de conforto — eu realmente estava com saudade deles, mal podia esperar para vê-los. Porém, a ideia de encarar a família materna de Justin amolecia minhas pernas e palpitava meu coração. Esses eram bons, segundo ele. Mas até que ponto seriam tolerantes com uma intrusa em seu seio familiar recentemente reconstruído? Poderia alguma mãe aprovar uma mulher que dera causa a experiências de quase morte de seu filho? Olhei-me na câmera frontal de meu celular — surpreendentemente um sobrevivente em meio à confusão passada mais cedo — e tive certeza de que alguém como ele merecia mais. Eu não estava a sua altura. Tudo bem, não havíamos exatamente concluído que seríamos namorados, mas depois de tudo o que foi dito, eu esperava que fôssemos.
Devido a toda essa confusão mental, dei graças quando aterrissamos, ansiosa para me ver livre da companhia exclusiva do meu cérebro fértil. Mas tremi na base ao cogitar a ideia de que a família Mallette estivesse em peso no aeroporto para receber Justin e desse de cara com uma desajeitada carregando uma moribunda.
O receio tomou um teor completamente diferente quando percebi quatro homens bem trajados na sala de desembarque segurando uma placa com o nome Bieber gravado em letras garrafais. O primeiro pensamento que se passou em minha cabeça foi que a Companhia Bieber previra todos os nossos passos e nos esperava ali com grande satisfação para uma surpresa desagradável. Entretanto, notei a letra C elegantemente posicionada no canto inferior direito da placa. Segundo o que Justin me contara, supus ser dos Cavanagh.
Um deles tomou a frente à medida que nos aproximávamos, um sorriso reto e raso de pura presunção brilhando no rosto oval barbeado quase albino. O sentimento de arrependimento egoísta permeou minhas emoções, Justin carregava Maya no colo, conforme eu pedira, mas no momento eu só queria ser capaz de segurar sua mão, meu ponto de conforto na terra. Parecendo incomodado com o mesmo pensamento, moveu-se de forma que ficasse na minha frente, entre mim e o desconhecido.
— Bieber — uma voz satisfeita e polida saudou — Seja bem-vindo — os olhos castanhos astutos pousaram atentamente em mim, imperceptivelmente fazendo uma rápida avaliação — Senhorita Evans.
— Obrigado, Cavanagh.
Imitei seu inclinar de cabeça por pura cordialidade, internamente desejando me livrar depressa de sua atenção. Por motivos óbvios, ele não me dava uma boa sensação.
— Tudo foi providenciado, se puder confiar a senhorita Baker nas mãos competentes de Randall ele a levará em segurança para a ambulância esperando lá fora e nós cuidamos do restante da papelada.
Justin devia ter entrado em contato com eles durante o voo, deduzi, enquanto eu me ocupava de questões frívolas. De qualquer modo, não me senti confortável com a ideia de abandonar Maya com aqueles sugadores de vida canadenses. Coloquei a mão disfarçadamente no braço de Justin para chamar sua atenção e ele interpretou corretamente a mensagem em meus olhos.
— Gostaríamos de acompanhá-la ao hospital, se não se importa. Peço apenas que Randall a segure enquanto eu assino, e depois podemos ir todos juntos.
Aquele Cavanagh não devia ser muito mais velho do que a gente, no máximo vinte e sete anos, mas a experiência vasta distorcia toda a sua expressão ardilosa. Não muito diferente dos Biebers, notei. Atento ao menor gesto que fazíamos, prestes a sacar uma arma de qualquer lugar do corpo. Ele quase não moveu a cabeça de cabelos pretos lisos penteados para trás e o homem mal-encarado guardando seu lado direito deu um passo à frente e estendeu os braços. Maya me encarou instantaneamente, os lábios apertados de aflição, eu era a pessoa que mais me importava com ela ali, por outro lado, estava de mãos atadas.
Sem nem ao menos olhar pra ela, com a distância característica de um profissional, segurou-a nos braços que pendiam de suas costas largas como se fosse um travesseiro de penas, nenhum esforço aparente. Troquei de peso nos pés, contendo o batucar nervoso de meus dedos na perna, atraindo a atenção dos quatro homens.
Cavanagh júnior estendeu uma pasta preta fechada para Justin e uma caneta dourada, quase saltando de alegria durante o tracejar fino da tinta no papel rebuscado. Não conseguia ler muita coisa de onde estava, mas esperava que Justin tivesse lido todas as letras pequenas antes daquele pacto infernal. Choraminguei em silêncio, impotente. Eu sabia vagamente o que aquele ato sinalagmático resultaria e não podia fazer nada para impedir. Pensei que não era muito diferente de vender a alma para o demônio e pedi desculpas imediatas a Deus por ser indiretamente corresponsável. Aquilo não era um livramento dos Biebers, apenas uma troca coagida por um inimigo desconhecido.
Justin agarrou minha mão assim que pode, indiferente ao sorriso agora aberto de seu mais novo empregador. Como símbolo de celebração, Cavanagh júnior apanhou duas taças de champanhe de seu empregado de rosto quadrado — as quais eu não notara até o momento em que foram apresentadas —, desculpando-se formalmente por não ter trazido uma terceira para mim. Descartei a preocupação com um gesto, eu não tomaria nada do que aquele homem me oferecesse se pudesse, impressionava-me que Justin tivesse coragem de fazê-lo.
Sem mais delongas, fomos escoltados até a ambulância na frente do aeroporto e nos sentamos na parte de trás com a ferida. Embora pudesse reconhecer um dos empregados sentado no banco da frente ao lado do motorista, Cavanagh enviou mais um para dividir o espaço conosco, inibindo qualquer tipo de interação que pudéssemos ter. Justin manteve-se ao meu lado com as mãos sobre as coxas, completamente ereto. Seu olhar desfocado a frente não me enganava, atentava-se a um montante de coisas ao mesmo tempo, ao empregado fora de forma, ao caminho que tomávamos, ao trânsito, a Maya e a mim. Quis me enlaçar a ele num abraço, mas a tensão de seus ombros avisava que preferia estar livre para qualquer movimento necessário. E quando finalmente chegamos ao hospital particular, Maya foi atendida imediatamente, levada por uma maca porta a dentro. Não precisei de seu olhar assustado para segui-la, desafiando qualquer um a tentar me impedir. Entretanto, todos eles me acompanharam. Terminamos no corredor longo e pálido fora da sala de atendimento prioritário, esperando o veredito. Não é que eu não confiasse nos trabalhos de Caitlin e Ryan, mas precaução nunca é exagerada.
Tratei de me contentar com o silêncio fúnebre que traçava uma linha divisória entre a Companhia Cavanagh e Justin e eu. Escorei-me na parede e cruzei os braços, disfarçadamente analisando os quatro homens do outro lado do corredor. Cavanagh júnior envolvia-se por uma onda de bom humor contagiante, ter um membro da família inimiga trabalhando para eles era um feito e tanto, eu compreendia. Justin era seu mais novo troféu e ele parecia disposto a exibi-lo a quem quer que passasse. Por outro lado, os ócios do ofício não permitiam. Depois de uma olhada carrancuda no relógio, disse:
— Vamos ter que nos despedir por aqui. Precisamos retornar agora, sabe como é. Já mandei dois homens para a sua casa, então não há com o que se preocupar. É capaz de se cuidar, certo? — sua última frase não tinha nada de preocupação, pronunciada somente com uma pitada amistosa de sarcasmo.
— Desde que me entendo por gente — Justin sorriu com acidez.
Cavanagh aprovou com um risinho expelido por seu nariz longo e reto.
— Tem um carro para você aí fora, conforme mencionei — jogou uma chave no ar, e esta foi habilmente apanhada por Justin — Faça bom uso — piscou um olho. Após uma olhadela especulativa e rápida para mim, seguiu para fora.
Respirei, esmaecendo contra a parede, finalmente livre da tensão infligida ao meu corpo desde que coloquei os olhos naquele homem.
— Figura interessante — Justin comentou, indiferente.
Concordei com a cabeça, acompanhando o andar apressado de uma enfermeira que passava a nossa frente, ignorando completamente nossa presença.
— Se com isso você quer dizer bizarro, sim, claro.
Nenhum de nós dois queria de fato comentar o quanto aquele novo contrato era preocupante, estava claro. Assim, respeitamos o espaço do outro para aderir às novas informações durante um curto período de tempo, até a voz de Justin caminhar despreocupada até mim.
— Jaxon é um tanto quanto curioso.
Pestanejei para me acostumar com a mudança de assunto repentina.
— Ah é?
— Sim. Imagine, na manhã de domingo acordei com ele me encarando da porta do quarto. Completamente alheio ao salto que dei da cama por isso, declarou que nós dois até que éramos bem parecidos, eu devia ser apenas um pouco novo demais para se passar por seu pai, mas os ternos que eu usava podiam dar um jeito nisso. Disse que eu parecia bem responsável com eles — não impedi o sorriso fácil que se espalhou por meu rosto, notando o humor tremular em suas sobrancelhas. Ele esperou um segundo para olhar pra mim, uma emoção escondida em suas feições — E por fim acrescentou que embora você não se pareça muito com eles, talvez possa usar roupas combinadas com Jasmyn. Ele ouviu que os pais geralmente gostam de fazer essas coisas.
Derreti como uma manteiga esquecida ao sol. Naquele momento, ser mãe aos vinte e dois anos não parecia uma ideia tão aterrorizante assim. Muito menos se o pai dos meus filhos fosse o dono dos olhos mel mais límpidos da face da terra. Visualizei um futuro aprazível e utópico, Justin e eu na mesma casa, um quarto para Jazmyn e Jaxon no mesmo corredor que o nosso, aquele poderia me ensinar a cozinhar alguns pratos básicos para nossa sobrevivência depois de um dia de trabalho cansativo e honrado com qualquer coisa que não tivesse a ver com tirar vidas e eu deixaria as crianças na escola antes de iniciar meu turno no hospital. Deleitei-me com a imagem por alguns instantes. 
— Te incomoda? A ideia? — Perguntou-me, trazendo-me de volta de meus devaneios. A curiosidade mórbida em seu tom de voz pouco fazia para esconder o leve desassossego.
Encolhi os ombros, fitando meus pés, o rubor delator tomando conta das minhas bochechas.
— Eu sempre gostei deles... A ideia de criá-los não me parece tão ruim.
— Hm, claro — tomou a mecha dos meus cabelos que escondia meu rosto, passando-a para trás da minha orelha — E a ideia de criá-los comigo? — Inquiriu numa voz grave.
Demorei a devolver seu olhar penetrante queimando em minha face e joguei a toalha. Ambos sabíamos, ou ao menos fazíamos uma noção, da profundidade dos sentimentos do outro.
— Eu te disse que pensar que você tinha morrido — estremeci e tomei sua mão novamente para espantar o fantasma do medo sólido e sufocante — praticamente me matou. Não sei se Ryan te contou que — meu rosto ardeu com mais fulgor, mas eu não pararia agora — eu tinha alucinações com você. O principal motivo de me entupir de bebida era porque nessas condições eu conseguia te ver e te ouvir brigando comigo —analisei as linhas de costura de sua camisa com grande interesse — Depois conseguia fazê-lo até sóbria. Mas estar sóbria carregava o fardo maior daquela minha verdade — voltei a olhá-lo nos olhos — Minha verdade era que te deixei levar parte da minha essência contigo e me perdi. Sei que não podia depositar tanto de mim em um ser humano, mas não fez diferença. Mesmo agora eu quero estar ao seu lado até que seja detida. E que Deus proteja aquele que tentar te tirar de mim. Porque do fundo do meu coração... — ele colocou a ponta dos dedos em meus lábios, impedindo-me de completar a frase. Segurou meu rosto em suas mãos fortes e quentes, me deixando de frente com a comoção que distorcia o seu próprio.
— Eu te amo, Faith. Você é a parte de mim que mais faz sentido na minha vida — e sem deixar espaço para qualquer resposta pronta em minha mente, impelido por seus impulsos, puxou-me para junto de si no intuito de selar aquele momento. O champanhe de Cavanagh seria muito mais bem-vindo agora. Apesar de que eu não precisava do álcool para sentir uma letargia se espalhar por meus membros. Seu resultado não traria malefícios a um corpo que aceitava de bom grado a substância particular que Justin produzia em mim.
Eu queria conhecer cada parte dele, desvendando todos os seus mistérios e certezas, o mapearia com a palma da minha mão como se minha vida dependesse daquilo. E de fato dependia, porque pela segunda vez eu havia decido me entregar por inteiro àquele homem, independentemente de nossas condições, mas agora com a certeza de que se tudo acabasse mal, ao menos teria me permitido viver o erro mais bonito que eu já cometera.
Só esperava que isso fosse suficiente para a aprovação dos Mallette.

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