Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 6 de março de 2018

One love 34

Minha casa se tornara sede de uma carnificina em baixa escala; corpos como cascas vazias espalhavam-se da cozinha à parte externa, na entrada e nos fundos, como descobri depois. A traição por parte da segurança particular de Bryan estendia-se também aos responsáveis pela guarda de todo o perímetro de nossa residência. Por este motivo, Justin atrasara-se, ocupado em descartar os sujeitos propensos a lutar por Clark Peter.
Num primeiro momento, este pensamento não me ocorreu, preocupei-me em agachar-me ao lado do meu irmão desacordado com uma ansiedade crescente. Hanna já estava lá, inclinando a bochecha para perto do nariz dele a fim de checar sua respiração. Negligentemente, chacoalhara seus ombros em seguida emitira um grito entalado por seu nome. Felizmente, ele se sentou imediatamente, quase trombando com a cabeça na dela, olhando ferozmente a sua volta para terminar sua luta de onde parara. Soltei o ar que prendia e levantei-me desnorteada em busca de mais vítimas conhecidas. Ryan pairava ao lado de Justin como um cão leal, impressionantemente portando apenas um corte singelo no lábio. Eleanor e Bryan correram para examinar suas crias, revezando-se para tomar nossos rostos e virá-los rapidamente para uma análise clinica grosseira. Retribui a gentileza, constatando alguns hematomas espalhados por todo o rosto do meu pai, eu mal conseguia identificar de onde saía o sangue. Eleanor, tendo recebido um destino menos pior, exibia alguns arranhões pelo rosto e pescoço, o contorno bem delineado da mão de Elizabeth em sua face e uma marca vermelha no pescoço, resultado de uma tentativa de sufocamento. Depois de nos abraçar, balbuciando palavras quase ininteligíveis, pegou o próprio lenço de Bryan para limpar seu rosto, num gesto de cuidado frenético.
Livre das mãos ansiosas, procurei por Caitlin, encontrando-a dobrada nos joelhos, os ombros tensos arqueados acima de Maya. Lancei-me ao lado da morena retorcida junto a uma pequena poça escura alarmantemente semelhante a vinho espesso. Sua mão apoiava-se firmemente no abdômen, local onde identifiquei a origem da ferida, a respiração pesada e entrecortada. Xinguei baixo antes de gritar por cima do ombro.
— Alguém chame uma ambulância imediatamente!
Espantada demais para se preocupar com a mão suja de sangue, Maya agarrou meu pulso, sibilando com esforço:
— Hospital não — negou veementemente.
Os funcionários de George não confiavam em hospitais, muito menos em riscos tão grandes. Grunhi e fitei seus olhos teimosos com uma determinação superior.
— Eu não estou te consultado — rebati.
Repentinamente, Justin estava ao meu lado, ignorando completamente Maya e seu sangue manchando o chão.
— Faith, ela tem razão, não podemos leva-la ao hospital. A não ser que tenha reconsiderado minha opinião. Seria entrega-la de bandeja para Annelise — ponderou friamente.
Lancei meu olhar fulminante a ele antes de me voltar desesperada para Caitlin, em busca de apoio. Ela expirou, os dentes travados, aparentemente cedendo ao meu pedido por ajuda com certo desgosto, mas no fundo, tão perturbada quanto eu a imagem de uma conhecida definhando na frente de nossos olhos.
— Fiz algumas suturas em Chris quando precisou, talvez possa ajuda-la. Ryan, me arrume as ferramentas — ordenou, exigente.
Bryan finalmente atentou-se para a urgência.
— O que estão dizendo? Planejam deixa-la aqui? — questionou chocado. E então, direcionou-se para Justin — E vocês podem me explicar o que...? — constatando o bem-estar físico de sua família, substituía suas prioridades lógicas.
Praticamente todos os olhos fixavam-se em meu pequeno milagre posicionado atrás de mim, fatalmente esquecendo-se da mulher que morria em nossa sala de jantar. Pensei que ver um fantasma confundia as faculdades mentais só de personagens grotescos em filmes de terror.
Ryan e Caitlin se entreolharam quando este arrumou um guardanapo branco de Eleanor para estancar o sangue. Aproveitando-se da distração, Ryan removeu Maya do chão com cuidado, não conseguindo, porém, impedir que ela exprimisse um gemido de dor antes de se esgueirarem para fora do campo de conflito com Caitlin atrás. O som não distraiu os quatro rostos pálidos e confusos e eu olhei indecisa entre eles e a trilha preocupante que Maya deixava pela casa.
Decidi que Ryan e Caitlin cuidariam bem de Maya, eu seria mais útil acalmando os corações ansiosos da minha família e amiga para que pudéssemos prosseguir para assuntos mais importantes. Não dava para ignorar o fato de que nosso lar se transformara num cemitério. Eu podia ver os guarda costas que Bryan contratara como amigos de Maya presos num destino pior do que o dela — ou igual, se Caitlin não pudesse ajuda-la. Estremeci diante de toda a situação e coloquei-me em pé, posicionando-me defensivamente entre eles e Justin. Pigarreei e busquei em sua expressão impassível alguma inspiração. Estava totalmente sob minha responsabilidade, dizia. Inspirei antes de soltar a primeira coisa que se passou em minha cabeça.
— Presumo que devam conhecer Justin — gesticulei debilmente. Minha introdução patética não surtiu efeito algum, então numa descarga repentina de coragem provocada pela necessidade, despejei — Ele não morreu, afinal. Teve que se afastar para resolver todos os problemas causados por sua família — só uma parte pequena em comparação a desgraça que causavam no mundo diariamente, pensei —. Conseguiu o nosso contrato e retornou para nos guiar. Agora meio que está sendo perseguido por isso, então, podemos seguir? — respirei para recuperar o ar perdido.
Meus interlocutores entreolharam-se, testando um consenso comum a informação superficial que eu despejara, seus cérebros trabalhando devagar diante da urgência que tínhamos. Não era uma coisa que pudesse ser engolida e aceita em um minuto, eu compreendia, mas tempo se resumia a uma regalia que não possuíamos.
— Tudo bem. O que faremos agora? Ligamos para a polícia?
Como se eu tivesse aberto uma deixa bizarra, o som de sirenes enlouquecidas rastejou pela rua. Tudo havia acontecido rápido demais, mas foi suficiente para alertar nossos vizinhos a buscarem o conforto da segurança pública utópica oferecida através do 911. Atendendo ao chamado, Bryan e Eleanor voaram para a porta de entrada, afoitos em conter o escândalo. Não tive a mesma sorte em me ver livre do julgamento de Caleb e Hanna, paralisados lado a lado.
O impasse durou menos de um segundo, um movimento quase imperceptível próximo aos nossos pés roubou toda a cena. Wren tentava se sentar, piscando forte para desanuviar a mente. Seu progresso foi mínimo já que a planta do pé de Justin derrubou-o de volta ao chão com uma pressão sufocante na garganta, apontando uma de suas armas para a cabeça dele, e, se eu piscasse, tinha certeza que perderia seu próximo ato fatal.
— Não! — reagi, agarrando seu braço com uma energia inumana, porém, incapaz de impedi-lo — Justin, ele não estava envolvido! — protestei apressada — Pelo contrário, tentou me proteger!
Os olhos esbugalhados de Wren destacavam-se no rosto adquirindo o tom asfixiante de vermelho enquanto as mãos agarravam instintivamente o pé que privava a entrada de oxigênio em seu corpo.
— E como pode ter certeza de que não era uma atuação? — perguntou-me sem emoção, vidrado em sua presa.
Passos pesados e autoritários passaram pela porta de entrada e meu coração errou a batida de imaginar policiais armados flagrarem Justin naquele estado.
— Por favor — implorei com a voz distorcida.
Sofri por mais um instante de plena tortura antes dele ameaçar entre dentes.
— Se você chegar a um metro dela eu estouro seus miolos, ouviu bem?
Numa cor próxima a roxa, Wren fez um gesto parecido com um concordar, e eu duvidava que pudesse ter ao menos ouvido direito o que acabara de consentir, perdendo os sentidos como estava. Quase ao mesmo tempo, Justin libertou sua garganta e policiais invadiram nossa sala de estar.
Lembrei-me de que forjar a própria morte era crime apenas segundos depois, e meus joelhos tremeram quando o responsável por coletar as informações pediu nossa identificação enquanto Bryan explanava o ocorrido. Pensei que ficar nervosa diante de autoridades não pudesse ser um bom sinal. Eu finalmente fora sugada pela ilegalidade? Tranquilizei-me um pouco quando Justin apresentou-se como Jesse Mallette — sobrenome este que sabia ser de sua mãe — e ninguém ousou atestar o contrário, por mais que lançassem olhares duvidosos em nossa direção. Principalmente por parte de Hanna, que, entretanto, não fez questão alguma de se aproximar de mim.
Wren empoleirara-se ao lado do que uma vez fora Elizabeth Peter, Justin sussurrara em meu ouvido que Caitlin quebrou o pescoço dela depois de se livrar do segurança que a atacava. Os olhos vazios do filho de sua vítima pareciam demais para o que eu conseguia suportar, e pontos pretos brilharam em minha vista. Como Justin previra, citar a Companhia Bieber tornou as perguntas mais supérfluas para nós, excluindo apenas Wren daquela regalia. A família dele fora o epicentro do ataque, portanto, precisavam investigar seu nível de envolvimento. Eu suspeitava que se constatassem sua participação, discariam a chamada rápida que continha o número de George para negociar sua liberdade, então, o anúncio de que o levariam em tutela podia ser mais uma medida de proteção a um dos clientes da Companhia do que o poder de polícia exercendo sua função. Ofereci mais resistência de que o levassem do que ele em si, atordoado com as revelações horrendas do caráter dos pais e sua perda logo em seguida, Wren não parecia se importar com seu destino, alheio as palavras que flutuavam no ar pesado daquela manhã infeliz.
Concluindo que as fotos da cena do incidente não eram mais necessárias após o nome Bieber vazar dos lábios de Bryan, foi necessária uma ligação para ambulâncias estacionarem no meio fio e sacos pretos fechados e cheios saírem um atrás do outro pela porta. Certamente, oferecíamos um show e tanto para nossos vizinhos, esgueirando-se precariamente pelas janelas, ou os mais ousados, arrumando motivos banais para transitarem pela calçada. As fofocas não demorariam para sair nos tabloides, mas até lá, o nome dos Evans adoçaria as línguas venenosas dos moradores de E Broadway.
Tornei-me parte da decoração da casa, encostada na parede — quase me fundindo a ela —, agarrando os braços cruzados para manter-me firme, as unhas cravando minha carne, trocando o peso nos pés ritmicamente. O movimento constante a minha frente empurrava a bile minha garganta acima e cerrei os lábios com força para não fazer uma cena desnecessária. Inexplicavelmente, o toque delicado de Justin em meu queixo para voltar-me a ele amenizou o mal-estar. Era a primeira vez que me tocava desde que saí do quarto. E assim que nossos olhos se encontraram, fui abraçada por uma bolha de tranquilidade anestesiante praticamente insana.
Limitamo-nos aquela troca de olhar por segundos intensos e simultaneamente lentos, Justin utilizava-se de uma forma menos escandalosa — porque qualquer contato que tivéssemos seria visto com assombro — para me acalentar. Por outro lado, meu corpo experimentou uma agitação diferente, deixando-me alheia ao ambiente a nossa volta. Despertei do transe prazeroso de contemplar seu rosto quando notei uma ruga quase imperceptível vincar-se entre suas sobrancelhas. Se eu não estivesse tão concentrada nos desenhos minuciosos de seus traços poderia não ter notado. Retesei-me, franzindo levemente o cenho numa indagação silenciosa. Em tréplica, sua sobrancelha direita se arqueou, eu lhe devia uma resposta, e a linha firme da sua boca já se desculpava por ter de exigi-la naquele momento.
Gemi baixo, detestando-me imediatamente por deixar minha família lidar sozinha com toda aquela confusão — isso sem contar Wren, meu melhor amigo, perdido na delegacia. Aquele era o pior dos meus pesadelos. O cerne da minha escolha lembrou-me de que se eu ficasse, tornaria aquela marola um maremoto. Fiz uma última análise dos estragos a minha volta — masoquistamente — e acabei me deparando com uma Hanna ressentida fuzilando minha bolha um pouco corrompida. Ela com certeza me odiava por ter lhe escondido uma coisa tão séria, e a situação se agravaria quando descobrisse minha intenção imediata de partir.
Segurei a mão firme e grande que Justin enfiara no bolso da frente de sua calça, trazendo-a para junto de meu peito como uma forma de salientar o que diria.
— Vou com você — sussurrei, mal abrindo os lábios. Eu sabia que ele havia entendido. Assentiu numa expressão grave, e uma centelha indecifrável permeou sua íris meia âmbar.
Deixei-o ali, dirigindo-me decidida para Hanna e Caleb, incapaz de separar-me deles com desavenças entre nós. Minha velha amiga fechou mais a cara ao perceber minha intenção, levantando o queixo orgulhosamente quando me detive a sua frente.
— Então... — comecei sem jeito.
— Desde quando soube? Ou você sempre soube? — Caleb foi direto, mais controlado emocionalmente.
— Nessa quarta-feira — disse, meu tom de voz assemelhava-se mais a uma súplica.
Agora Caleb já decidira qual seria seu alvo de desaprovação, olhando por cima do meu ombro para julgar Justin. Adiantei-me para desviar sua atenção dele.
— Não podia dizer nada para que não se comprometessem também — continuei a meia voz, certificando-me de que pessoas indesejáveis não ouvissem — Temia que a Companhia os procurasse em busca de informações e você precisavam ser absolutamente sinceros em afirmar que Justin estava morto para que não se machucassem — eu queria parar de tremer toda vez que ao menos pensava nessa sentença.
Hanna suspirou, numa luta interna para relevar ou aplicar-me uma bronca.
— Você sabe que sei mentir muito bem — protestou ela quase como se brincasse — E ao menos planejava nos dizer?
Essa era uma pergunta que eu levaria algum tempo para pensar na resposta, então descartei-a com um gesto de mão.
— Bom, não importa mais, eles já sabem. Por isso... — desviei os olhos para dois homens uniformizados que passavam perto de nós carregando o último saco preto, sem conseguir evitar um arrepio ruim descendo por minha espinha — precisamos partir.
— Precisamos o quê? — a voz de Hanna subiu uma oitava e eu olhei alarmada para verificar se não atraíra atenção indesejada. Bryan, embalando o ombro de Eleanor, conversava com o oficial na entrada da sala de jantar. Este acompanhou brevemente a trilha de sangue parcialmente apagada de Maya que terminava bem onde ele pisava, semicerrou um pouco os olhos e logo descartou a linha de pensamento investigativa. Tantos corpos haviam passado por ali, rastro de sangue seria o mais lógico de se encontrar.
— Precisamos ir embora. A Companhia me colocou como suspeita na explosão do ano passado e... — vacilei, repensando em contar-lhes sobre os irmãos de Justin aquela hora, quanto mais informação, mais tempo eu demoraria para escapar — por si só já não gostam de mim, portanto, meio que estão atrás de mim também, de modo que eu e Justin vamos para o Canadá — terminei a sentença num sopro diante de suas expressões desencorajadoras.
— Você o quê? — Hanna arfou.
Não me aguentei e dei-lhe um tapa no braço.
— Dá pra falar mais baixo? — grunhi. O oficial espalmava as costas do meu pai e conduzia-o para fora, insistindo em recomendar-lhe cuidados médicos em uma das ambulâncias.
— Também estão feridos? — perguntou profissionalmente em sua voz grossa. Os olhos castanhos concentraram-se em meu braço manchado pela mão ensanguentada de Maya.
— Não é meu — justifiquei, esfregando a palma da mão contrária na mancha. Foi uma ideia péssima, percebi.
 Ele não insistiu, acompanhando meus genitores, ansioso demais para ver-se livre de nós. Hanna e Caleb ainda esperavam minha resposta, e este me passou seu lenço.
— Vou para o Canadá — repeti, sentindo que explicava matemática básica para o ensino fundamental. Enxuguei minha mão no lenço branco com certa piedade do tecido, depois fiz o melhor que pude para limpar o braço. O sangue estava quase secando.
Caleb desvencilhou-se de nós duas, partindo em direção ao Justin.
— Que história é essa? — exigiu saber, encarando-o de cima. Os dois tinham praticamente a mesma altura, mas meu irmão esticou-se o máximo possível para passar uma imagem de superioridade.
Justin obviamente ouvia a conversa, portanto, não ficou confuso.
— É a melhor saída — respondeu simplesmente, não se deixando intimidar, mas também não planejava competir para ver quem tinha mais razão.
— Deixa eu ver se entendi — Caleb esticou a boca num sorriso sarcástico — você espera que eu assista você se mudar de país com um assassino, que ainda por cima te meteu em toda essa confusão e te machucou ao fingir que estava morto? — a pergunta era para mim, não restava duvidas, mas ele não me olhou enquanto falava.
Posicionei-me como intermediadora entre os dois sem deixar de reparar nos punhos fechados do meu irmão.
— Caleb, se não formos imediatamente, a Companhia virá para casa e o que acabou de acontecer parecerá piada perto do que pretendem. Eles só estavam esperando que nos livrássemos dos Peters para agirem — senti meus nervos se agitarem quando tomei consciência das minhas próprias palavras. Choraminguei internamente por perceber que teria de enfrentar mais algumas emoções antes do dia terminar — Logo estarei de volta — acrescentei — Assim que resolvermos de vez essa questão. Eles não vão nos procurar lá — prometi. Nunca fui a favor de promessas vazias. A verdade era que eu não sabia ao certo quanto tempo isso levaria, e se algum dia chegaria a ter fim, mas precisava dizer alguma coisa para que Caleb me deixasse ir.
— Caitlin e Ryan ficarão com vocês por precaução pelo menos até chegarmos efetivamente ao Canadá — Justin olhou para mim — E como a cabeça de Maya também está a prêmio, ela não pode ficar aqui.
— Não podemos viajar com ela no estado em que está — retruquei, perplexa.
— Eu não disse que a levaríamos conosco.
Coloquei as mãos na cintura, obstinada.
— Ela vai com a gente — disse como uma condição, secretamente blefando. Se Maya não fosse, eu não também não iria. Esqueci-me momentaneamente do seu ferimento para impor minha opinião.
— Ninguém vai a lugar algum — Caleb intrometeu-se na conversa outra vez.
Justin já começava a coçar o queixo aborrecido. Ele não era o rei da paciência, e meu ultimato não ajudava em nada. Sendo assim, ignorou Caleb.
— Vou verificar se já fizeram o curativo de Maya, e então partiremos de pronto — avisou.
Conseguiu dar um passo em direção a porta e Caleb impediu-o num aperto firme em seu braço. Faíscas espalharam-se advindas dos dois e Hanna moveu-se sob meu olhar tenso, abraçando o outro braço de Caleb como se fosse o mastro de um navio que afundava.
— Caleb — repreendi, tendendo a implorar de joelhos.
Ele demorou a me olhar, mas não soltou o braço do cão raivoso prestes a um ataque.
— Não vou permitir isso, Faith — disse firmemente.
Passei por baixo de seu braço e joguei os meus em volta de suas costas, enterrando a cabeça em seu peito, levando ao pé da letra o conselho de que se combate a raiva com o amor.
— Por favor, você precisa entender — murmurei contra sua camisa.
Senti seus músculos enrijecerem junto aos meus num primeiro momento, depois, pareceu relaxar.
— Não posso — negou, mas o modo sutilmente vencido como o dissera, inspirava uma chama de esperança.
Permaneci ali, quieta, esperando. Cheguei a pensar que era pura estupidez antes que retribuísse meu abraço, embalando-me como a um recém-nascido mutante de um metro e sessenta e três.
— Sou seu irmão mais velho, Angel. Deve entender que me comprometi a protegê-la desde que nossos pais a trouxeram para casa embalada num cobertor rosa. Eleanor quebrou a cara quando você cresceu um pouquinho e já queria trocar todas as suas coisas para azul — emitiu um som na garganta parecido com uma risada, mas do tipo que expressaríamos se alguém contasse piada em um funeral. Sorri fracamente, embora ele não pudesse ver — O que eu quero dizer é que não tenho conseguido cumprir com minha função ultimamente, e ficará ainda mais difícil se você se afastar tantas milhas assim de mim. Preciso te guardar aqui em meus braços para ao menos ter a ilusão de estar te isolando de todos os perigos do mundo.
Eu não queria pensar naquilo como uma despedida, e Caleb se esforçava para pintar justamente esse cenário. É fato que senti saudades dele como se houvesse deixado uma parte de mim para trás — efetivamente eu deixara — nos últimos meses, entretanto, não havia outro jeito. Pensei o que lhe responder sem ficar toda emotiva. Ele foi mais rápido, falando junto ao meu ouvido com certa rispidez:
— Como se já não fosse ruim por si só, ainda tem a questão da péssima companhia a que vai se sujeitar. Diga-me, irmã, está mesmo disposta a confiar nele dessa forma depois de tudo isso?
O resultado de suas palavras me fez desejar ter abraçado o lado emotivo da coisa. Se eu tinha alguma certeza na vida já era muito. Pensar demais sobre uma decisão como aquela daria um nó eterno no meu cérebro. Não. Bati o pé imaginário em minha mente, não havia tempo para pensar em outra estratégia. Ter Justin comigo em todo o tempo era apenas um bônus um tanto quanto agradável.
Afastei-me para olhá-lo nos olhos quando pensei estar firme o suficiente.
— Não tenho outra alternativa, Caleb. Sei que vai ficar tudo bem.
A rigidez de sua postura cedeu um pouco, Caleb via que eu estava decidida e sabia que não poderia lutar contra minha teimosia. Isso não o impedia de sofrer; com a cabeça inclinada ligeiramente para o lado, aprofundava as rugas no canto da boca, em sua pior expressão de desaprovação.
— Caleb, pode vir aqui um instante? — Eleanor repentinamente o chamou da porta de correr que estivera trancada durante o desastroso brunch. O tom de sua voz indicava um cansaço crônico e confirmei o julgamento prévio com uma olhadela para seu rosto. Porém, ao encontrar meus olhos ansiosos, esboçou um sorriso materno de lado que prometia conforto e estabilidade.
Engoli o nó na garganta depois de vê-la desaparecer casa a fora outra vez. Antes que eu pudesse ver, Caleb fechava minha mão em concha em algum objeto retangular que colocara ali.
— Depois me diga onde está e eu buscarei — levantou meu rosto para encarar seus olhos determinados — Ligarei daqui a pouco para que me explique, vamos resolver isso juntos. Se acha que o primeiro passo é ir para o Canadá, não vou te acorrentar. Te seguirei depois, primeiro tenho que ajudá-los por aqui. Por favor, tome cuidado. Eu amo você — beijou amavelmente minha testa, finalizando com um olhar sincero o bastante para recobrar-me as forças.
Hanna não permitiu que eu me acostumasse ao sabor amargo de nossa separação, grudando os braços ao redor do meu pescoço.
— Você tem certeza do que está fazendo? — questionou baixo entre meus cabelos, parecendo uma criancinha assustada revelando seus maiores medos — Ah, Faith, acabamos de te ganhar de volta! — choramingou, adiantando-se a minha resposta.
Acariciei suas costas, resmungando mentalmente contra o fato de ter que apresentar-me como uma rocha segura quando eu estava mais amedrontada do que todos.
— Vocês nunca me perderam — retruquei, limpando imediatamente o sentimentalismo que ousava escorrer delicadamente de seus olhos, temendo que aquilo encorajasse minhas próprias glândulas lacrimais.
Hanna fungou, recolhendo todos seus traços de tristeza de uma vez para transparecer uma ira forçada.
— Eu juro que se ele te machucar dessa vez eu quebro cada um daqueles dentes e enfio um por um no rabo dele!
Explodimos em gargalhadas histéricas, em parte por imaginar uma cena pitoresca como aquela, em parte devido aos nossos ânimos aflorados na pele.
— Não preciso nem perguntar para saber que já ficou com ele de novo e planeja repetir a dose — murmurou quando se recuperou, olhando-me com sua superioridade de especialista em Faith Evans. Controlei o rubor que ameaçava subir para minhas bochechas e revirei os olhos dramaticamente — Só peço que tome cuidado, Faith, por favor — acrescentou afavelmente, franzindo todo o rosto tal qual estudava as tendências para as próximas estações de moda e previa o fracasso iminente da temporada.
— Faith — ouvimos o sussurro apressado chamando-me da porta que conduzia aos fundos da casa, encontrando Justin segurando Maya nos braços. Trajando um vestido preto leve desconhecido, ela mordia o lábio inferior nervosamente, quer fosse por estar à mercê de um homem que a odiava ou devido a dor do ferimento. Justin a mantinha calculadamente afastada do corpo dele sem vacilar com seu peso todo concentrado nos braços, dando a impressão de que carregava uma carcaça em decomposição.
Apressei-me em dar um último abraço em Hanna e correr na direção deles, privada de dar ao menos uma última olhada em minha melhor amiga graças a pressa que me consumia para livra-los daquele desconforto. Partimos para a garagem pelo acesso da sala de estar, e temi que Justin jogasse Maya no banco traseiro da caminhonete de Caleb de qualquer jeito quando encontramos seu carro, mas eu tinha de lhe dar os créditos de ter sido essencialmente cuidadoso. Combinamos brevemente de que ele me seguiria com a moto que viera para minha casa — a qual eu não sabia da existência — afirmando a quem perguntasse de que precisava voltar para casa e tranquilizar sua mãe já informada do incidente. Minha desculpa ficou por minha conta, então foi mais patética, por óbvio. “Preciso dar uma volta para espairecer”, foi tudo o que consegui pensar.
No início, chateei-me por não ter a oportunidade de me despedir dos meus pais. Depois, enxerguei o infortúnio como uma benção. Bryan certamente refutaria todos os meus argumentos para fugir, afirmando que éramos uma família e resolveríamos o problema juntos. Esse parecia ser nosso lema agora. Eu concordaria, se não tivesse me metido nisso tudo sozinha porque me apaixonei pelo homem que aparecera em nossa casa com a missão de nos extorquir e eventualmente me estripar.
Estive presa nesses pensamentos e suas bifurcações enquanto seguia as instruções de Justin para seguir infinitamente ao sul. Não tive tempo de questionar, revivendo o olhar confuso e desconfiado de Bryan sentado numa ambulância, amparado por Eleanor, quando os deixei para trás. Endureci o queixo para não me desmanchar em gelatina. Por mais positiva que tendesse a ser, alguma coisa me dizia que meu tempo no Canadá se estenderia indefinidamente. Justin precisou dar luz alta no retrovisor ao menos umas quatro vezes até que eu prestasse atenção. Encostei no acostamento e obedeci ao seu sinal para aguardar ao tempo que ele fazia o balão adiante e estacionava em frente a um hotel alto o bastante para alcançar as nuvens do ângulo que eu via.
Virei-me sobre o banco no intuito de ser útil e livrar-me da minha mente engenhosa.
— Está tudo bem? — perguntei a Maya. Sem esperar sua resposta, eu mesma fiz uma rápida leitura de seu corpo estendido no banco de trás, os joelhos dobrados para que pudesse manter o tronco todo apoiado no estofamento de couro.
Ela deixou o olhar fixado no teto do carro para responder:
— Conquanto que eu continue viva, sigo firme — identifiquei a leve alfinetada por trás de seu humor. Se eu fosse ela, também estaria desconfiada.
Planejava reforçar que não queria lhe fazer mal algum e não pretendia deixar Justin fazê-lo, no momento em que o dito cujo abriu a porta de carona e saltou para o banco.
— Annelise tem o conhecimento da moto, e se planeja rastreá-la, é melhor que não estejamos junto — esclareceu, meticulosamente colocando seu cinto de segurança. Esperava que aquilo não simbolizasse sua falta de confiança na minha habilidade de dirigir — Pode continuar seguindo reto — instruiu.
Mesmo sem olha-lo diretamente eu podia notar que alguma coisa o incomodava. Digo, além de estarmos fugindo de nosso próprio país como refugiados em tempos de guerra. Embora o conhecesse, geralmente não apostaria tão alto em adivinhar seu estado de espírito, e a capacidade de fazê-lo me deixava, no mínimo, inquieta. Justin apoiava o cotovelo na porta e segurava o queixo como se fosse a própria inspiração de Rodin ao esculpir sua famosa arte O Pensador. Os olhos a frente, sem piscar, não viam a estrada, pelo contrário, representavam o próprio pavimento movimentado de sua cabeça e milhares de ideias que por ali trafegavam. Pensei em lhe perguntar, mas lembrei-me de Maya com os ouvidos em pleno funcionamento a alguns centímetros de distância. Isso provavelmente o inibiria a ser sincero.
A oportunidade das minhas paranoias fazerem uma festa em meus miolos foi lançada e foi usada com muito gosto. Batuquei desordenadamente no volante até que ele pedisse mais uma vez para que eu encostasse no acostamento, dessa vez, de uma rua sem saída. Ao que parece, o tema da festa em meu cérebro era Frozen, e as bailarinas irrequietas decidiram espalhar-se por toda a minha espinha. Houve um silencio fúnebre apenas quando ele abriu a boca para falar:
— Veja, Faith — começou em seu tom diplomático, lançando um olhar para Maya que a desafiava a prestar atenção em nós dois. Não podia ser um bom presságio. Instintivamente me encolhi — Para mim é extremamente gratificante que tenha aderido à... essa ideia — reformulou as palavras, aparentemente indisposto a liberar informações para nossa paciente do destino que tomávamos. Receosa, esperei o “mas” — Independentemente de... qualquer coisa — acrescentou, deixando claro que ainda não sabia qual era minha resposta, para mim óbvia, a sua oferta recente de comprometimento — Entretanto... — e aí estava. Tomou mais um segundo para repensar se era o momento certo de me dizer, então, encontrando-se sem saída estreitou minimamente os olhos — preciso que entenda completamente no que está se metendo para diminuir suas chances de arrependimento posterior. Deixe-me contar sucintamente minhas atividades enquanto estivemos separados. 

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