Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

One Life 27

– Você vai engasgar sua anta! – Hanna me repreendeu olhando-me comer.
– Segundo minha mãe, você é a anta – contra argumentei, ainda de boca cheia – E tente ficar sem comer desde o início da tarde do dia anterior para ver se não comeria um boi.
Ela deu risada, depois fez uma varredura com os olhos no refeitório da faculdade, certificando-se de que era seguro. Mesmo assim, disse baixo:
– A anta é você. Não acredito que ousou entrar numa guerra com seus pais outra vez, e inventar que vai mudar de faculdade para atingi-los também não é boa ideia. Você simplesmente assinou seu atestado de óbito.
Apertei os lábios, mantendo os olhos no suco enquanto pensava em uma maneira de explicar.
– Ótimo, já está com ânsia?
Dei uma risadinha, balançando a cabeça e colocando mais um donut de chocolate na boca.
Por mais lenta que fosse dessa vez Hanna fez raciocínio rápido.
– Faith Evans, você realmente está pensando em sair do curso? – sua pergunta era desdobrada em ameaça. Para o meu próprio bem era melhor eu dar a resposta correta, mas se mentisse entraria em outra fria. Era bem como o ditado, “se ficar o bicho pega, se correr o bicho come”.
Olhei para ela com receio, terminando de mastigar, apreciando cada segundo sabendo que provavelmente seria o último da minha vida. Sua expressão estava seria e perigosa.
Engoli e tomei um gole do suco, pronta para o meu funeral.
– Sim? – a afirmação perdeu a convicção no caminho da minha boca.
Han uniu as sobrancelhas, intrigada.
– Como você pode ao menos pensar nisso, Evans?!
– Desculpa! Mas não me identifiquei...
– Você faz mais da metade do curso para descobrir que não se identifica? E como tem a audácia de me deixar aqui sozinha?! – ela cruzou os braços, me acusando pelos olhos.
Eu já era uma Maria mole, não era justo que apelasse desse jeito.
– Han, se eu ficar nesse curso vou desperdiçar um tempo precioso. Vou ficar aqui até o final do ano, então temos bastante tempo até lá. Também não gosto da ideia de ficar sem você, eu sou péssima para me adaptar, mas é minha vida. E não é como se não nos víssemos fora daqui – expus com mansidão na intenção de meu estado de espírito refletir nela.
Seus traços se concentravam firmemente em expressar indignação, mas aos poucos enquanto me olhava foram relaxando com frustração.
– Não é justo que coloque dessa forma! Você me faz parecer egoísta.
Levantei as mãos na defensiva.
– Não te chamei de egoísta, e não acho que seja.
Não me mexi enquanto ela pensava em como reagir aquilo, torcendo para que não ficasse com raiva. Então após um suspiro, Hanna descruzou os braços.
– Você não vai encontrar ninguém melhor que eu nesse cursinho de quinta – embora sua voz demonstrasse irritação, eu sabia que o pior havia passado.
– Sei que não. Não acho provável a existência de alguém mais maluco que você – estendi a mão pela mesa, afagando a sua e oferecendo um sorriso de paz.
Ela tentou não sorrir. Não conseguiu.
– Te odeio.
Ri, aliviada.
– Eu prometo te acompanhar em todos os programas que quiser.
Seus olhos apertaram, desconfiados.
– Você sabe no que está se metendo, né? Isso significa algumas baladas, Tomorrowland, Coachella e derivados.
Fingi exaustão só de pensar.
– Se esse é o preço para salvar algumas vidas, eu pago.
Seu rosto já começou a ficar mais animado. Eu não precisava estar dentro da cabeça dela para saber que já nos imaginava pulando em meio a corpos espremidos e suados alguma batida eletrônica. Se eu tolerara o ambiente uma vez, esperava poder fazer o mesmo mais umas cem vezes. Imaginei se Justin iria conosco, só para lembrar em seguida que Hanna provavelmente não permitiria. Se ela não estivesse com um namorado, eu também não poderia, para não lhe negar um segundo de atenção.
A palavra namorado se fixou em minha cabeça. Algum dia eu poderia utilizá-la para classificar a relação que eu tinha com Justin? No momento não parecia se adequar a nós dois.
– Será que dá pra você parar de pensar nesse menino e viajar comigo? –Hanna estralou o dedo em  frente meus olhos, impaciente.
– Quem te disse que estou pensando nele? – rebati, fazendo uma careta.
Ela deu uma risadinha, confirmando seu palpite.
– Não preciso de muito para adivinhar. Mas me conta, o que ele queria ontem?
Terminei de tomar o suco, levantando as sobrancelhas com o lembrete.
– Isso. Tenho que ligar pra ele agora! Um segundo – pedi e me levantei da mesa, não esperando sua queixa. Não seria uma conversa legal de se presenciar.
Direcionei-me para o fundo do refeitório, perto do banheiro onde não havia mesas. No registro de chamadas estava salvo o número que ele havia me ligado no dia anterior, então apenas retornei.
Quando começou a chamar, repeti as frases já ensaiadas em minha cabeça, resistente para que não me persuadisse ao contrário ou me confundisse dos meus propósitos.
Caiu na caixa postal. Liguei outra vez. A mesma coisa. Liguei mais duas vezes e nada.
Ele poderia estar ocupado, mas também apenas me ignorando por já prever o que eu falaria. Em via das dúvidas, resolvi deixar uma mensagem.
“Se você não atender, farei sem o consultar. Estou de carro, de qualquer forma”.
Aos poucos eu aprendia a lidar com ele, se eu não usasse ameaças não obteria resultados, era até mais eficaz que sentimentalismo.
Já estava voltando para a mesa com a loira devoradora de comida alheia quando o celular vibrou em minha mão. Dei um sorrisinho antes de atender a ligação.
– Bom dia, Justin!
– Faith, eu não gosto das suas ameaças – ele foi incisivo, me repreendendo. Por trás da linha eu podia ouvir o barulho de trânsito. 
– Já está vindo me buscar? Perfeito! 
Ele respirou fundo, irritado.
– Quanto você quer para não se meter nisso?
Fiz uma careta, mesmo que ele não pudesse ver.
– Você está sendo grosseiro outra vez. E não quero nada. Você não pode me comprar. Preciso te lembrar de que sei o caminho? Também prometi que ajudaria Erin. Podemos fazer isso juntos, ou separados. Você é quem decide.
Não me senti muito bem em ameaçá-lo pela segunda vez no dia, mas ele não me dava escolhas. 
A linha ficou muda do outro lado, e eu até podia vê-lo socando o volante e soltando algum palavrão.
 Te amarrar em uma cadeira no fundo do rio está entre as opções também?
– Há há, engraçadinho. Se quiser pode vir agora me buscar, estarei esperando. 
 Isso não foi uma autorização para vir comigo. Você não tem aula agora? – murmurou rabugento.
Ignorei a parte em que ele pensava que mandava em mim.
– Não, estou matando aula com Hanna, botando a conversa em dia. Mas não se preocupe que não foi nada sobre nossa missão secreta de ontem.
– Faith, eu não quero que... – ele começou mal-humorado.
– Bom, em cinco minutos estarei no portão, se você não chegar... Vou ter que ir sozinha. 
Desliguei o celular na cara dele antes que pudesse reclamar. Ele não tinha opção, parecia que me deixar resolver o problema sozinha estava fora de questão, então com certeza viria para me levar ou então mandaria alguém para me sequestrar.
– Hanna, Justin está vindo me buscar outra vez – avisei, pegando minha bolsa. Ela já havia comido os donuts que eu havia deixado ali. Não me importei, eu estava quase explodindo, mas se aquela obra de Deus estivesse na minha frente eu provavelmente não pararia até acabar.
– Aonde vão agora? Seu pai não proibiu de vê-lo?
Fiz cara de tedio, encostando a cadeira na mesa. Hanna também se levantou, colocando a bolsa no ombro.
– Ele não pode fazer isso, e para mim aquilo não era uma proibição, e sim uma ameaça. De qualquer forma, vou dar um jeito de fugir de Willian, e você vai me ajudar.
Ela ficou atônica, me olhando como se eu finalmente estivesse louca.
– Faith, essa brincadeira vai sair muito cara pra você.
Revirei os olhos, já tomando caminho para a porta.
– Qual é Han, até parece que você gosta muito de seguir regras.
Escutei seus passos apressados atrás de mim para que me alcançasse, e ela disse logo em seguida:
– Eu não, mas você prefere ser a que obedece aos pais, não faz coisas erradas... Sabe como é – se eu não conhecesse Hanna, pensaria que estava me julgando.
Olhei pra ela de rabo de olho, tentando entender onde queria chegar.
– Se concorda com a forma que meu pai está me tratando, fique a vontade para dizer. Caso contrário, vamos bolar agora o plano de fuga.
Esperei que ela decidisse, olhando a frente para não pressioná-la. Sua opinião não mudaria meu destino, mas alteraria minha válvula de escape. Seu suspiro veio logo em seguida.
– Tudo bem. O que eu faço?
Não contive meu sorriso conspirador, e iniciamos a organização da retirada.
Primeiro, compramos um café da máquina que adorávamos no campus, depois esperamos Justin chegar para sair no portão. Assim que vi o carro preto parando em frente à faculdade, Hanna foi até meu carro, onde Willian estava, e bateu na janela para lhe entregar o café e pelo menos trocar duas palavras. Corri até o porshe sem olhar para os lados, qualquer coisa eu mesma pisaria no acelerador para fugirmos. Entrei no carro rapidamente sem nem olhar para Justin e joguei minha bolsa aos meus pés, me abaixando para fingir que a arrumava ali.
– Oi, J – cumprimentei para preencher o silêncio estranho, esperando que com isso ele arrancasse com o carro.
Não obtive sucesso. Ele não me disse nada, e não saímos do lugar. 
Respirei fundo e me endireitei no banco, apoiando o cotovelo na janela e colocando o rosto na mão, disfarçadamente me escondendo. Se ele suspeitasse que meu segurança estava ali e não me deixaria ir para lugar algum, ficaria contente em denunciar meus planos para se livrar de mim.
Seu rosto estava serio e acusador em mim. A camisa social era azul escura hoje, dobrada até os cotovelos; a calça preta e o cabelo levemente bagunçado. De cair o queixo.
– Tudo bem, quer discutir alguma coisa enquanto somos multados por estacionar em lugar proibido? – perguntei, aparentando tranquilidade para camuflar o desespero para sairmos de uma vez.
Seus olhos se apertaram, intensificando um pouco mais as criticas que jogava em cima de mim, e depois acelerou.
Contive o suspiro de alivio e só esperei que a rodada de censura começasse.
– Você conhecesse a palavra limite, Evans? – e lá ia ele. 
Não era uma pergunta para responder, então fiquei quieta, apenas olhando seu rosto enrugado de cólera.
– Claramente você os ultrapassa comigo, me deixa de mãos atadas – sua voz era áspera. 
Tive que me defender. 
– Justin, você realmente quer brigar a essa hora? Já estamos indo juntos, não há nada que possa fazer para impedir, então só se acostume com isso e vamos em frente  – discursei com o máximo de positividade que podia, tentando persuadi-lo.
Ele estralou a língua e fixou os olhos a frente, montando uma expressão permanente de raiva, deixando claro que não concordava.
Fingi que estava tudo bem e comecei um assunto.
– Ontem contei ao meu pai que vou mudar para medicina – disse, jogando a isca para que se interessasse. 
 Observei sua expressão remexer, mas ele permaneceu quieto, como se estivesse indiferente. Deixei a curiosidade corroê-lo, ficando quieta e mostrando-me distraída com minhas unhas, como se esquecesse do restante da história.
Não demorou muito para que ele bufasse.
– O que eles disseram?
Contive a risadinha, percebendo o quanto estava manipuladora hoje.
– Eles surtaram. Meu pai quer me matar, minha mãe quer expor meu corpo esquartejado em praça pública. 
Ele me olhou com repreensão.
– Não seja exagerada. 
Dei risada, dando de ombros.
– Foi quase a mesma coisa. Eu fui ameaçada. Não gosto de ser ameaçada – resmunguei.
– Nem me fale sobre isso – comentou com escárnio. 
Ele endureceu a expressão de novo.
Parabéns Fatih.
Estendi minha mão para seu rosto, passando as costas dela em sua bochecha.
– Não fique bravo comigo. Você vai ver que me agradecerá – falei com a voz mais doce que eu podia.
– Aposto que sim – ironizou, mas um pouco mais suave sob meu toque.
Dei um sorrisinho pelo êxito e beijei sua bochecha como a cartada final.
– Obrigada por me deixar participar da sua vida – tentei ser mais elogiosa, experimentando novas formas de acalmá-lo.
Seus traços se suavizaram lentamente, mas ele balançou a cabeça.
– Você é impossível. 
 Alarguei o sorriso e estendi minha mão para ligar o rádio, música sempre tornava um clima melhor. Já estava tocando a faixa de algum CD, não demorei muito para reconhecer.
– Hm, de novo essa? Master of Puppets oficialmente me dá medo.
Ele deu uma risadinha sombria.
– Mude para a próxima, também é incrível.
Prestei atenção na obra. A melodia era boa, a letra também. Eu literalmente gostava dessa coisa de libertar nosso lobo interior.
– Gostei. Mas prefiro o álbum St. Anger.
– Já ouviu o Some Kind Of Monster? Divide o topo com Master os Puppets – ele abriu um sorriso.
Fiquei contente comigo mesma por conseguir desviá-lo de sua ira. 
– Já ouvi, mas também não curto muito. É bem macabra.
Ele me olhou com clara desaprovação.
– Se você não gosta de coisas sombrias, deveria ouvir Popzinho Taylor Swift.
Revirei os olhos para a provocação barata.
– Ei, Taylor Swift é muito boa. Vai me dizer que não gostou de Enchanted?
Sua cabeça meneou enquanto ponderava.
– Bom, não é de todo ruim. 
Fiquei em silêncio enquanto Metallica se apresentava como melhor calmante que eu poderia dar ao Justin. Sua testa estava franzida, mas era de concentração na melodia, ele balançava a cabeça com o ritmo, batia os dedos no volante, parecia estar até dando pulinhos sentado, cantando. Estava adorável de se assistir, então permaneci em silêncio, o observando.
E de repente, o carro já estava parando. Ele desligou o rádio com um expresso pesar e piscou para mim, descendo. Eu estava começando a ficar com ciúmes do efeito que uma banda conseguia ter nele e eu não.
– Você já foi a algum show deles? – desci atrás, alcançando-o na calçada.
– Não. Quer ir comigo quando tivermos oportunidade? – ele me convidou, me olhando com uma pitada de empolgação.
– Por que não? – perguntei retoricamente
Seu sorriso se ampliou e ele se direcionou para a porta da casa de Erin. O momento relaxante e feliz de alguns minutos no carro foi ficando para trás dando lugar a um nervosismo estranho. E se Erin não estivesse em casa? E se estivesse, mas não com o endereço? E se estivesse com o endereço?
Balancei as mãos para expulsar toda a agitação de mim, querendo transparecer calma para confortar Justin, a situação era bem pior para ele. Entretanto, diferentemente de mim, ele estava cantarolando enquanto se aproximava da porta.
– Experimente-me e você verá
Mais é tudo que você precisa
Dedicado para
Como eu estou matando você
Venha rastejando rápido
Obedeça seu mestre!
Seu punho bateu na porta duas vezes e eu me apressei para me mexer, parando ao seu lado, só para estranhar ao ver a porta se abrir com um rangido com a leve pressão.
Olhei para Justin confusa, ele ficou serio de novo.
Tomei o controle da situação.
– Erin? – chamei devagar.
Não houve resposta. Justin permanecia paralisado, parecendo estar tenso, finalmente o nervosismo o pegara também. 
– Erin? – chamei outra vez.
Nada.
Empurrei devagar a porta, com receio, mas ansiosa demais para ficar ali parada.
– Erin? Estamos entrando – avisei para que não se assustasse.
Fiz menção de entrar na casa, mas Justin colocou o braço na minha frente. Já ia perguntar quando ele foi primeiro, andando cautelosamente. 
Fui atrás dele, e por algum motivo, seu braço continuava estendido protetoramente em minha direção. Adentramos até a sala, depois ele parou, sem nada dizer. 
– O que foi? – perguntei.
Ele não respondeu. Os olhos fixos em alguma coisa. Depois comprimiu os lábios e olhou para o lado contrário.
Tentei ver o que o perturbava de onde estava, mas não conseguia enxergar. Desviei então de seu braço, e continuei andando, ele não me impediu. 
Parei quando vi um corpo estendido no chão. Após o choque passar, me aproximei apressada. Era Erin, desacordada no chão, atrás do sofá que eu havia me sentado no dia anterior. Agachei-me perto dela e instintivamente coloquei a mão em seu ombro, empurrando levemente.
– Erin? Erin? – chamei alarmada. 
Ela não reagia. 
Coloquei a mão perto de seu nariz para ver se respirava. Não havia nenhum indício.
– Erin?! Justin chama a ambulância! Erin!
Peguei o pulso para ver se conseguia sentir os batimentos. Eu não sabia se estava fazendo errado ou se estava tão afobada que não percebia seu coração, mas não consegui sentir.
– Justin! Chama a ambulância! – me virei para ele, desesperada. 
Ele permaneceu estático. Era só o que me faltava ter entrado em estado de choque. 
– Erin! Erin!
A chacoalhei mais um pouco. Ela não reagia.
– Faith – Justin me chamou, a voz contrariava a situação de desespero que eu me encontrava.
– Erin! – tentei de novo.
– Faith. Para.
Olhei pra ele com raiva. Por que não se mexia?!
– Você está louco?! Ela precisa de ajuda, Justin! Liga pra droga da ambulância! – me voltei novamente para Erin, sem saber o que fazer, apavorada. Por que raios eu não entrei em medicina desde o começo?!
– Faith. Ela está morta.
– Erin! Erin! – chacoalhei seu corpo com mais força, verifiquei a pulsação, a respiração, inúmeras vezes, como se pudesse ajudar de alguma forma. 
Senti uma mão no meu ombro.
– Faith, ela se suicidou. Nós precisamos sair daqui agora – sua voz grave estava bem atrás de mim.
– Como pode dizer isso?! Pede socorro! – rebati. Minhas mãos começaram a ficar pegajosas e trêmulas.
– Olha pra ela Faith. Essa é a roupa que usava ontem e tem uma linha enrolada no pescoço – ele disse com cuidado, mas ainda assim apressado.
Só quando mencionou reparei a linha de pesca fazendo um nó em seu pescoço, a boca estava mais escura, o rosto pálido. Dizem que em momentos traumáticos, o cérebro automaticamente nega as imagens que vê. Era a única explicação para que eu não visse aquilo. Como reflexo me afastei dela num jato com um grito estranho saindo da minha boca.
Justin estava bem atrás de mim, e me pegou antes que eu pudesse cair sentada.
– Está tudo bem Faith, nós vamos sair daqui – ele falou, mas não parecia estar tão perturbado quanto deveria. Não ao encontrar uma pessoa morta. Uma pessoa que conhecemos no dia anterior.
Eu balbuciei algumas palavras, desnorteada, pasma, paralisada de terror. 
Ele conseguiu me levantar, me arrastando para longe.
– Não! A gente tem que fazer alguma coisa! – retruquei, encontrando minha voz.
Justin não me ouviu, tirando vantagem da minha desorientação enquanto eu tentava assimilar a palavra suicídio à imagem de Erin.
Quando percebi, ele me colocava no carro.
– Justin, a gente tem que fazer alguma coisa, chama a ambulância, a polícia, faz alguma coisa!
Ele segurou meu rosto, olhando fixamente em meus olhos.
– Faith, vai ficar tudo bem, eu vou ligar, só não podemos ficar aqui. 
Não raciocinei rápido o suficiente para rebater antes que ele fechasse a porta e desse a volta no carro, perturbada pela imagem de Erin caída no chão daquela maneira.

sábado, 22 de outubro de 2016

One Life 26

O carro voava pelas ruas enquanto um silêncio mortal o preenchia. Eu podia ver as manchetes no dia seguinte, "Faith Evans e Justin Bieber são encontrados mortos em meio a lataria do porshe preto do conciliador".
Me contive o máximo que pude, mas na terceira vez que quase causou um acidente, fazendo ressoar uma buzina estridente de repreensão, exclamei:
— Justin, encosta o carro.
Ele me deu uma olhada fulgaz, pisando mais fundo no acelerador.
— Justin Bieber, encosta essa porcaria agora!
Eu sabia como dar um escândalo, era melhor que ele não quisesse encarar o meu escândalo.
Arqueei a sobrancelha como ameaça quando seus olhos avaliaram o quão serio eu estava falando. Nos encaramos rapidamente como desafio. Ele expirou e deu uma virada brusca, parando o carro de uma vez em seguida. Meu corpo foi jogado para frente e fiquei grata pelo cinto estar em pleno funcionamento.
Mal me estabilizei e ele já estava fora do veículo, deixando um rastro de fúria que quase marcava o solo enquanto adentrava apressado pelo bosque ao lado da estrada. Choraminguei por ser compelida a segui-lo. Eu nutria uma espécie de pavor por praticamente todas as espécies de animais, desde insetos até meu irmão.
As folhas reclamaram sob meus pés a medida que eu ia atrás dele, deixando o som da globalização cada vez mais longe. Justin acelerou o passo gradualmente, parecendo não ter a mínima noção de onde ia, apenas despejando suas frustrações no caminhar. Contanto que não se machucasse, estava tudo bem para mim, desde que não nos perdêssemos e ou aparecesse algum anfitrião das matas.
— Justin! — o chamei para que pelo menos me esperasse.
Embora minha voz ressoasse livremente entre as árvores, ele não se deteve, não até que encontrasse um tronco caído enorme no meio do seu caminho. Aproveitei a oportunidade para apressar o passo, felizmente o alcançando a tempo de impedir que socasse uma árvore com sua mão já machucada. Segurei seu braço.
— Não é causando dor física que vai se livrar da emocional, Justin — repreendi quando ele me jogou um olhar louco — Você tem que aprender a lidar com suas frustrações.
Ele apertou os olhos, obviamente com raiva de mim. Imaginei que fosse me ofender com palavras, mas se livrou da minha mão com um sorrisinho sádico.
— Tem razão, vou trabalhar.
Ele deu meia volta, retornando de onde viera. O segui outra vez.
— Não, não assim. Você não está em condições.
Quase bati contra seu corpo assim que virou-se bruscamente para mim.
— E o que me sugere então, Faith? Como espera que eu lide com... todas essas coisas que estão acontecendo?!
Senti um pouco de raiva borbulhar em meu estômago pelo seu tom de voz sarcástico. Eu só queria ajudar, não era justo que descontasse em mim. Reprimi todo meu instinto briguento, repetindo para mim mesma que ele só estava fora de si, e com razão.
Amenizei minha expressão, pegando sua mão.
— Converse comigo.
Ele riu com o nariz ironicamente, puxando sua mão para cruzar os braços, como se eu estivesse oferecendo alface para um leão.
— Sobre o que iríamos conversar?
Era meu limite. Também cruzei os braços para não chacoalhá-lo pelos ombros no intuito de ver se seus miolos voltavam ao lugar.
— Por que não sobre o quanto você está sendo um babaca?
Suas sobrancelhas se arquearam de tamanha incredulidade, traçando linhas de expressão profundas em sua testa.
— O que?
— Isso mesmo que você ouviu. Desculpa te lembrar, mas eu não sou um saco de pancadas que você usa na hora que quiser, quando quiser e como quiser! Para de agir como se você tivesse que lidar com toda essa confusão sozinho, porque eu estou aqui com você; e fazer com que eu me sinta um nada não vai tornar melhor!
Ele balançou a cabeça.
— Você não entende.
Bufei.
— Claro que não, você não explica! Se alguma coisa que falou ontem foi verdade, está na hora de demonstrar com ações, sem segredos.
Tudo o que consegui foi aumentar sua raiva.
— Você realmente está questionando a legitimidade dos meus sentimentos?! — ele descruzou os braços, gesticulando com as mãos.
— E não deveria? Eu só quero entender o que está acontecendo e te ajudar com isso, e você me afasta quando deveria ser exatamente o contrário.
Não recuei assim que ele deu um passo em minha direção, encarando o fundo dos meus olhos para me intimidar.
— É justamente por isso que me afasto, porque me importo com você!
— Isso não faz o menor sentido — discordei.
— Eu não vou te envolver nessas coisas Faith, não importa o que você diga. Eles são loucos!
Dessa vez eu que me aproximei, materialmente reforçando o que diria.
— Você que está parecendo louco agora. E é um pouco tarde para não querer me envolver em alguma coisa relacionada a você.
Ele estralou a língua, desviando o rosto.
— Não precisa ter medo de dividir seus problemas com alguém. É para isto que estou aqui — amenizei a voz, esperando pegá-lo pelo sentimentalismo.
— Sempre lidei com tudo sozinho, acho que também posso agora, obrigado.
Joguei-lhe um olhar feio e intenso, me cansando de sua teimosia. Empurrei seu peito com as duas mãos e voltei a andar em direção ao carro.
— Faça o que quiser, mas eu também sei onde Erin mora e posso ajudá-la por conta própria. Ela tem tantas informações quanto você.
— Você não ousaria — sua voz agora mais baixa implicava em uma ameaça direta.
— Me observe! — rebati destemida. 
Não demorou um segundo para que segurasse meu braço com uma força absurda, impedindo que eu prosseguisse.
— Eu juro que se você fizer alguma coisa estúpida... — cada palavra saía violentamente de sua boca, foi demais para que concluísse a frase.
— Vai fazer o que? — desafiei — Ou você me explica ou procuro respostas sozinha.
Ele aproveitou que me segurava pelo braço e me puxou para mais perto de si, me olhando de cima.
— Você não faz ideia no que está se metendo.
Não era outra ameaça, era um aviso, embora irritado, diluído em um pouco de medo.
Não levei tão a serio no momento, me perguntando o que poderiam me fazer de mal. Tirar os filhos que eu não tinha? Abusar da autoridade corretiva familiar inexistente? Em hipóteses mais realistas, me tratar com desdém. Eles não podiam me atingir, e se pretendessem descontar em Justin, entenderiam a influência de um Evans.
— Eu não tenho medo, e você também não deveria ter. Podemos conseguir o que quisermos, você só precisa confiar em mim.
O canto dos pássaros acima de nós era o único som a preencher o vácuo do impasse em que estávamos, fazendo parecer que os habitantes do bosque eram bem mais civilizados que nós dois.
Olhando em seus olhos, pude vislumbrar um pequeno espaço de tempo em que considerou me deixar entrar totalmente em seu mundo, mas logo em seguida eu o perdi por aquele temor que fazia com que se escondesse de mim. Só assim entendi, Justin tinha um medo paranoico de me perder, e na sua mente, apresentar os detalhes sórdidos de sua vida seria a causa disso. Temendo que eu me afastasse, ele próprio já fazia isso. Eu só queria que entendesse que adiantar uma eventualidade distante não o fazia muito esperto. 
Ele abriu a boca numa luta tremenda entre me contar tudo de uma vez ou deixar as coisas como estavam. Seus lábios emitiram um grunhido, e o vi se afastar de mim, passando a mão no cabelo.
— Não sei muito mais coisa que você, como espera que eu te explique? — indagou estressado.
— Primeiro, o que Erin achou que sua família faria a ela? Por que estava com medo de você?
Ele virou de costas para mim, não querendo me olhar nos olhos enquanto dizia. Interpretei como um ato para que tomasse coragem.
— Não sei. Talvez tirar todos os bens dela. Não são poucas as probabilidades de nós termos patrocinado tudo o que ela tem.
É mais fácil lidar com uma situação que se conhece, para que se possa antever as consequências. Considerei a informação.
— Não seria um problema. Eu posso ajudá-la. Nem que tenha que levá-la para morar comigo. Mas o que farão a você se souberem que está ajudando?
Ele deu de ombros, demonstrando ser uma consequência tão ditada que se tornara natural.
— Eu trabalho com eles, sou empregado na companhia. O que acontece com um dos empregados de seu pai se descumpre uma regra? Foi o que Christian recebeu.
Christian deveria ser o amigo sobre o qual falamos mais cedo. Eu presenciara a maneira como aquilo o afetara, então desviei a atenção do assunto:
— Mas você não ocupa o lugar do seu pai agora? Deveria ter alguma representação no conselho, algum credito na sua palavra.
— É uma hierarquia, Faith. Meu avô é o presidente, eu estou abaixo dele. Minha opinião tem alguma força, mas nunca se iguala a absoluta. Se eu me voltar contra os princípios vou ser apenas mais um problema que precisa ser eliminado.
Mesmo que discordasse dos últimos comportamentos da família, Justin dizia aquilo com respeito, como se estivesse errado se voltando contra a injustiça que era tirar os filhos de uma mãe e esconder os irmãos dele mesmo.
— Eles não estarão sendo profissionais se misturarem os negócios com assuntos pessoais — retruquei.
— E você acha que isso importa? Eles detém o poder, fazem o que quiserem com ele.
A esta altura, percebi o quanto éramos parecidos. Presos por uma família controladora e obcecada que se achava dona do mundo.
— Então saía. Deixe que comandem sozinhos este império ilusório. Entendi porque Erin disse que Patricia não queria isso para você, ninguém merece ser escravo dos ideais alheios.
Ele balançou a cabeça, expirando.
— Não é simples assim. É o que eu sou. Não posso ir contra a minha família, não posso sair.
Me aproximei dele, tocando seu braço, salientando que não estava sozinho.
— Você mesmo me disse para lutar pelo que eu quero, me incentivou a ir para medicina. E é isso que vou fazer. Não precisamos viver a sombra de ninguém, J. — eu disse com ternura.
O apelido fez com que ele se virasse para mim, uma bagunça de emoções tomava seu rosto. Justin estava perdido em si mesmo. Levei a palma da mão até sua bochecha na intenção de dissipar o caos.
Não demorou muito, seus traços foram se suavizando, evidenciando uma ou duas emoções, um pesar misturado com arrependimento e adoração.
— Você é real?
Dei um sorrisinho de testa franzida.
— Você é bipolar?
Ele fez uma expressão pensativa, segurando meu queixo.
— Acho que sim. Desculpa se te fiz sentir menosprezada, nunca foi minha intenção. Tenho sorte de te ter ao meu lado, você me mantém são — ele deu um sorrisinho, fazendo círculos com o dedão em meu queixo, me maravilhando — Não queria ser grosso também, mas...
— Está tudo bem. Só controle esse gênio se quer preservar esse rosto bonito — o interrompi.
Ele revirou os olhos.
— Eu só não quero que...
Não deixei que completasse a frase de novo, me inclinando para beijá-lo. Eu planejava apenas um selinho leve, contudo, ele me puxou de volta pelo queixo, colocando a mão na minha cintura. Eu gostava do seu costume de segurar minha cintura.
Recebi seu beijo com pura satisfação, agradecendo a Deus a oportunidade de poder beijar a boca esculpida e doce daquele homem que me dava uma tempestade no estômago. Mesmo sentindo a textura de sua pele sob meus dedos eu me questionava se ele existia, não havia nada de excepcional em mim, nele entretanto, havia uma lista de coisas.
Ele mordeu minha boca ao se afastar, dando um contraste na doçura com que me beijava. Olhei seus olhos com encanto, alheia aos seus planos assim que abriu a boca:
— Ainda não concordo que entre nesse assunto.
Fiz careta pra ele, colocando o dedo indicador na frente da boca para indicar silêncio.
— Você fica muito mais bonito quietinho. 
Sua risadinha foi a resposta que obtive, me aliviando por não iniciarmos outra briga.
— Por que não conversamos sobre outra coisa, por hora? Não temos que conversar sobre isso hoje, Erin disse amanhã. Discutimos amanhã.
Seu olhar transmitia alguma seriedade, dizendo por si só que não haveria discussão. Bom, eu discordava, mas não começaríamos com aquilo de novo. 
— Também concordo que você fica mais bonita caladinha. 
Fingi um olhar bravo, dando início a uma sequência de beijos ininterruptos. A sensação era revigoradora. Só parei quando ouvi um barulho estranho próximo a nós nas folhas caídas, dei um pequeno pulo de susto.
Justin deu risada, me olhando como se a reação fosse um exagero. 
— Você ao menos sabe que provavelmente tem animais aqui? Pode haver uma cobra gigante e faminta! — tremi involuntariamente, olhando para os lados com um pouco de paranoia.
— Faith, você está mesmo preocupada com outros animais sendo que o perigo em pessoa te tem nas mãos? — ele pressionou a mão em minha cintura, forjando uma expressão grave. Aquilo me transmitia muitas sensações, nenhuma delas se relacionava ao medo.
— Você não me passa nem um pouco de temor. Literalmente tenho mais medo de uma barata do que de você.
— Há há há. Antes eu tinha dúvidas, mas agora afirmo convicto que você é totalmente sem noção. 
Fingi que estava ofendida, negando com a cabeça.
— Você tenta ofender minha integridade porque sabe que pela lógica perdeu.
Ele arqueou a sobrancelha, aceitando o desafio.
Sem que eu pudesse prever, Justin colocou uma perna atrás das minhas e empurrou meu tronco para trás, me derrubando no chão, mas sem tirar uma das mãos de minhas costas, para que não tivesse um impacto forte. Em seguida, se jogou ao meu lado. Eu não pude evitar o gritinho de surpresa irritante que escapou de minha boca. 
Seu braço direito abraçou meu tronco, e a perna prendeu as minhas, me imobilizando. Com o rosto perto do meu, ele deu um sorriso vitorioso. 
— O que dizia mesmo, senhorita Evans?
— Que você é um louco predador descontrolado! — respondi ofegando um pouco.
Ele abriu um sorriso largo enfeitado de superioridade. Esperei que inflasse seu ego para completar:
— Mas não tenho medo de você. 
Observei a afronta desmanchar seu ar superior, mas seu próximo ataque foi igualmente imprevisível, e mais injusto. Sua mão atacou minha barriga, me fazendo cócegas. Eu odiava cócegas, Deus, cócegas são desnecessárias. Não contive os espasmos e o riso convulso que vieram em seguida. Ele me torturou por infinitos segundos, rindo da minha desgraça, até que eu admitisse em voz alta.
— TUDO BEM! EU MORRO DE MEDO DE VOCÊ!
O ataque cessou, mas ele ficou de sobreaviso, me esperando completar com algum desaforo. Eu mal conseguia respirar, não estava em condições de arquitetar alguma virada de jogo no momento.
— Gosto assim, e se lembre disso da próxima vez. 
 Apertei os olhos de indignação com a infantilidade, mas acabei rindo, e ele me acompanhou. 
Aguardei que saísse de cima de mim quando paramos de rir, mas seu olhar estava perdido em alguma coisa no meu rosto, fazendo com que desse um sorrisinho bobo.
— Alguém deveria ter me avisado que é uma missão impossível não me apaixonar por você — murmurou, como que para si mesmo.
Meu coração bateu um pouco mais forte, espalhando aquela alegria contagiosa e maléfica por todo o meu corpo, cravando mais profundamente a dependência irracional que eu tinha por ele. 
Consegui reagir com um sorriso, provavelmente o mais idiota já visto na face da terra, e segurei sua nuca, puxando-o para mais um beijo repleto de volúpia. Ele deixou o peso no braço esquerdo que se apoiava ao chão, utilizando a mão direita para afagar meu corpo, meu rosto, meu braço, meu pescoço, minha barriga, causando um grande transtorno de gelo nesta quando traçou o caminho por ali. 
Quando se afastou, olhei em seus olhos, transmitindo tudo o que eu estava sentindo. Entrei em júbilo ao descobrir em minha análise que ele sentia o mesmo. Me ergui um pouco para que pudesse beijar seu pescoço, quase delirando por seu perfume ser tão cheiroso e único, não tive outra alternativa a não ser deixar mais uma porção de beijos ali. Vi quando ele se arrepiou, e isso me fez sorrir.
Afastei-me para olhá-lo de novo nos olhos.
— Como consegue ser tão cheiroso?
Ele riu, deitando-se de costas, provavelmente sentindo o braço esquerdo formigar.
— Faço a mesma pergunta a você.
Rolei um pouco para cima dele, deitando em seu peito, deixando o nariz em direção ao seu pescoço.
— Pode me responder outra pergunta?
Seu corpo ficou levemente rígido embaixo de mim, já prevendo variados assuntos desagradáveis.
— Hm, depende.  
Não ensaiei uma forma de questionar para que ele não tivesse tempo de formular respostas para todas minhas prováveis dúvidas.
— O que você disse para a Nicole?
Seu silêncio foi breve, não era tão ruim quanto ele havia pensado.
— Você viu isso, huh? 
— Tenho olhos em todos os lugares. 
— Tenho certeza que sim.
Aguardei que dissesse, mas nada.
— E então? — incentivei.
Ele suspirou, me abraçando.
— Apenas disse que era melhor que ela segurasse aquela língua sozinha ou eu seria obrigado a grampear em seus lábios — explicou com tranquilidade
Arregalei meus olhos, me afastando para olhar em seu rosto. Seu olhar foi inocente. 
— O que?
Comecei a rir.
— Você é louco?! Isso vai acabar com sua moral. Vou ser obrigada a discursar todas as noites sobre suas qualidades e inventar uma psicose que gera transtorno bipolar eventual.
Ele fez um muxoxo.
— Sorte que tenho infinitas qualidades, se quiser te faço uma lista. 
Dei um tapinha em seu peito, recostando minha cabeça novamente.
— Modesto — ironizei.
— Minha vez de fazer uma pergunta. 
—  Siga em frente.
Imaginei que fosse demorar para que inventasse uma, entretanto estava na ponta de sua língua, como se fosse uma música irritante que estivesse em sua cabeça há muito tempo.
— Como foi seu primeiro beijo?
Estranhei o teor de sua curiosidade, mas desfiei minhas memórias para resgatar aquele dia um tanto desagradável.
— Não foi lá uma coisa deleitosa, na verdade, me esforcei para esquecer — o acusei indiretamente — Eu estava brincando de pique esconde com meu irmão e um amigo dele, que sugeriu a brincadeira para resgatarmos nosso espírito infantil e nunca esquecermos de nossa pureza — revirei os olhos com a ironia — Acho que eu tinha uns doze anos. Caleb havia se escondido muito bem, mas eu sempre fui péssima, então assim que fui vista, saí correndo para que pudesse me salvar primeiro, o estranho foi que ele veio na minha direção, e me encurralou numa parede, alegando a intenção de me impedir de chegar na árvore. Em algum momento totalmente estranho sua boca veio parar na minha, como sempre o achei bonitinho, retribui, mas eu não estava preparada para aquilo, então estava mascando um chiclete. Moral da história, de algum jeito o chiclete foi parar no meu cabelo e levei uma bronca de Eleanor por ter que cortar até os ombros. Só confessei o ocorrido para Caleb, que ficou sem falar com o menino por umas duas semanas.  
Ele deu uma risadinha.
— E o que você achou do beijo em si?
Foi resposta imediata:
— Terrível. Eu sei que eu era a mais jovem ali, mas quando ele tentava abrir a boca para libertar sua língua, seus dentes arranhavam meus lábios. Foi totalmente nojento e doloroso. Não conseguia mais olhar na cara dele depois.
Sua risada fluiu mais naturalmente, provavelmente apreciando o fracasso de Adrien.
— E você ainda o vê?
— Não, Caleb e ele pararam de se falar no ensino médio. 
— Desculpe por te fazer reviver essa memória terrível. 
Dei de ombros, sem realmente me importar.
— Agora me diga, e como foi o seu?
— O que você acha? Totalmente magnífico, eu sou um beijador nato.
Gargalhei de sua empáfia, incapaz de discordar. 
— Claro, acredito.
Ele se afastou um pouco, olhando meu rosto.
— E como estou me sentindo muito generoso hoje, posso te fazer esquecer qualquer beijo que tenha experimentado que não foi o meu. 
— Não duvido.
Quando ele me beijava, era lucro se eu lembrasse meu próprio nome, e desta vez não foi diferente. Desta forma, o dia que havia começado tão mal, parecia tornar distante qualquer pensamento negativo. Demoramos para nos levantar do chão, motivados apenas pela fome natural do meio dia. Justin me levou para almoçar em um restaurante ali perto, previamente pedindo uma porção de batata frita como entrada. Se Deus não havia me enviado esse homem, eu não sabia quem mais poderia ter enviado. Ele fazia parecer com que as conversas mais banais fossem cruciais, criando uma realidade em que só existia nós dois. Era questão de lógica que o tempo passasse rápido demais, e de repente já era o fim da tarde. Eu havia mesmo passado horas em um restaurante?
— Seria inapropriado — ele discordou outra vez, me repreendendo com os olhos.
— Não, está na minha lista de coisas a fazer antes de morrer, e agora que você sabe dela, vai ter que me acompanhar em participar de um casamento de algum estranho, e depois ir para a festa — persuadi.
Sua expressão foi estranha.
— O que? Vai me dizer que ter uma lista também é inapropriado?
— Depende do que estiver nela. Vai me deixar dar uma olhada?
Semicerrei os olhos, dramatizando.
— Isso seria um alto nível de intimidade, tem certeza que está pronto para isso?
Ele deu um sorrisinho de lado sugestivo.
— Qualquer intimidade com você me parece ótima.
Senti as bochechas corarem, e lhe dei um tapa na cabeça, fazendo com que risse. Eu nunca mais poderia reclamar na vida, ouvira sua risada quase o tempo todo do dia, e era completamente adorável e viciante, como uma coisa que sempre lhe faria sorrir junto, como ver o amanhecer depois de uma longa noite. 
— Bom, Evans, não acho que posso te monopolizar muito mais agora, você deveria entrar — sua cabeça levemente apontou para minha casa.
— Para alguém que vai ver minha lista, você não deveria me chamar de Evans — repreendi — Mas já que está tão desesperado para se livrar de mim, te farei esse favor — brinquei.
Abri a porta do carro, fazendo menção de sair. 
Rapidamente sua mão segurou a minha, me detendo. Me virei para ele com um sorrisinho, já esperando o beijo que viria em seguida. Ele beijou minha boca, minha bochecha e minha testa, deixando um leve formigamento nos lugares que seus lábios tocavam.
— Durma bem Faith, sonhe com anjos, ou comigo.
Ri e empurrei sua testa, acenando após fechar a porta do carro.
Eu praticamente cantarolava e saltitava no pequeno caminho até a porta, me sentindo mais leve do que quando ia no spa e tiravam toda camada de sujeira de minha pele. Ele não saiu com o carro até que eu estivesse dentro de casa, e isso me fez sorrir mais. O destino emocional de nosso dia só provava a teoria de que nós somos os responsáveis por fazer nosso dia feliz.
Eu estava tão acomodada nas nuvens que o sobressalto pela voz grossa de meu pai foi maior do que teria sido em um dia normal.
— Faith. Angel. Evans!!!
Virei-me para ele já na defensiva, vasculhando na minha mente o que eu poderia ter feito irritá-lo, realmente não era preciso muito.
Foi quando vi Willian com quase a mesma expressão transtornada ao seu lado que o gelo de fiz-alguma-coisa-errada-e-não-dá-mais-para-consertar desceu por minha espinha.
Coloquei as mãos na boca, pasma com minha imprudência. Eu me esquecera completamente de que deveria voltar a faculdade para encontrar Willian.
— Perdão! Eu...
— Onde você estava??? — Bryan estava bufando, vindo em minha direção com as mãos inquietas para me enforcar.
Por puro instinto, coloquei as mãos no pescoço primeiro.
— Eu saí com Justin e me esqueci completamente de...
— Com quem? — ele interrompeu num grito.
Oh-Oh.
— Bieber? — falei devagar.
— Graças a seu decuidozinho, deveria ter previsto que seu surto de irresponsabilidade tinha a ver com esse rapaz!
Não gostei do seu tom. Deduzi que ele havia resolvido ler justamente hoje a revista de fofoca do momento. 
Acho que Justin não será mais bem vindo no natal.
—  Sim, eu estou falando da sua revista. Por um acaso ele não se incomoda em seguir regras? A primeira dessa família é não nos expor.
Antes que eu pudesse pensar, as palavras saíram da minha boca:
— Claro, você quer esse privilegio apenas para você.
O olhar de Bryan quase me transformou em uma barata, e achei que ele fosse me dar um tapa na cara, até Eleanor descer as escadas as pressas. 
— Onde você estava?!
Eu apanharia em dose dupla, ótimo.
— Vocês pensaram em perguntar para a Hanna? Sei que não foi certo desaparecer dessa forma, mas ela sabia onde eu estava, então se estavam tão desesperados assim...
— Eu já cansei de dizer que você e essa anta de cabelo não usam o celular para o que foi feito, atender e fazer ligações!
Eleanor provavelmente havia passado a tarde com Diana para uma linguagem assim, e por um momento eu não fui alvo do olhar de repreensão de Bryan.
— Eu já pedi desculpas, se não quiserem aceitar, não posso fazer nada — lhes dei as costas, me direcionando para a escada. 
— Eu já cansei de dizer o quanto você tem que tomar cuidado com a sua imagem e com sua segurança, mas parece que estou falando com uma parede!
Parei antes de subir a escada, olhando para meu pai.
— Você nem ao menos me explica para que preciso de um segurança, por que espera que eu não me esqueça da mais nova futilidade de vocês?!
Definitivamente, eu estava ferrada.
— Você não faz ideia do que eu faço para zelar por essa família. Você não faz a menor ideia do que está acontecendo — ele estava falando perigosamente baixo.
Grunhi, batendo o pé.
— Por que vocês não entendem que é simplesmente mais fácil me incluir no que está acontecendo então? Eu não sou uma droga de marionete! 
Era extremamente frustrante ter duas discussões no dia para que me contassem as coisas, eu sempre era deixada de fora, como um ser extremamente frágil e delicado. 
Os dois se prepararam para rebater a esta afronta, mas fui mais rápida. 
— Para não ser contraditória, já vou avisando que vou largar artes para fazer medicina — joguei a bomba e recomecei a subir os degraus, sabendo que os pedaços dos corpos de meus pais voariam longe. 
— Do que você está falando?! — Eleanor foi a primeira a reagir.
— Isso mesmo que eu disse!
— Você não ouse, Faith! Eu te proíbo de ver esse Bieber! — Bryan esbravejou.
Joguei um olhar feio para ele já do topo da escada, combinado com um desafio. Esses homens tinham que entender que não podiam me controlar. 
Marchei decidida até meu quarto e bati a porta, deixando um recado claro: Faith Evans não abaixa a cabeça para ninguém.