Esperei que
ele se acalmasse com a esperança de que me contasse o que estava acontecendo.
Justin havia me tirado no meio da aula – tecnicamente – para falar comigo, não
era possível que não quisesse me dizer nada.
No mesmo
instante percebi que era completamente possível, Justin Bieber não era lá muito
previsível.
Ele se
soltou do meu abraço, e se sentou no chão, deixando a cabeça nas mãos; a
esquerda, com a qual havia socado a parede, estava sangrando.
Meu
primeiro pensamento foi em consertar o que eu podia ver, então corri para o
carro, torcendo para que estivesse aberto. Agradeci quando a porta se abriu com
facilidade e peguei minha garrafa de água dentro da minha bolsa, juntamente com
o lenço branco que eu sempre carregava ali. Voltando, Justin não havia se
movido um centímetro, imóvel como uma estátua.
Agachei-me
junto a ele e deixei a garrafa de água no chão, puxando delicadamente sua mão. Ele me olhou para identificar minhas
intenções, mas não deixei que isso me atrapalhasse. Joguei um pouco da água nos
ferimentos e passei o lenço para limpar, fazendo isso com cuidado.
– Pensei
que tivesse ido embora – sua voz disse baixo.
– Eu não te
deixaria aqui – discordei, jogando mais um pouco de água.
Era uma
sorte o chão ainda ser de concreto.
– Seria
mais inteligente ir.
Amarrei o
mesmo lenço em sua mão e olhei para ele.
– Eu não
queria assustar você – lamentou.
– Não me
assustou – menti.
Ele fez uma
careta, sabendo que eu estava mentindo. Eu deveria saber que não acreditaria.
Sentei-me
ao seu lado, segurando sua mão boa na minha e olhando fixamente em seus olhos.
– O que
aconteceu?
Justin
olhou para frente para que eu não o influenciasse diretamente. Não era justo se
ele usava justamente dessa artimanha comigo. Por isso, coloquei a mão em seu
rosto, virando para que olhasse em meus olhos.
Ele franziu
a testa, distraindo-se por um instante do que o perturbava por causa da minha
fisionomia, depois balançou a cabeça.
–
Dispensaram um amigo meu do trabalho hoje.
Joguei-lhe
um olhar desconfiado. Não poderia ser isso. Era uma reação e tanto para uma
demissão.
– É serio
Faith. Ele tem uma... Família. Por que eles não se importam? – seus olhos se
fecharam, se acalmando para que não perdesse o controle outra vez.
Talvez
fosse mais complicado do que eu estava imaginando. Ele podia ter uns quinhentos
filhos e não ter a quem pedir ajuda, talvez não soubesse fazer outra coisa
também.
– Eu posso
ajudar. Posso dar algum dinheiro para ele e falar com meu pai para que o empregue
em algo que queira – propus.
Ele abriu
os olhos, me fitando com uma emoção desconhecida.
– Não creio
que possa ajudar. Não tem o que fazer. Ele já voltou para o lugar de onde veio.
Sua mão
escapou da minha para que cobrisse o rosto outra vez, apertando as têmporas.
– Me conte
alguma coisa. Por favor, me distraia – pediu com pressa.
Revirei meu
cérebro para pensar em algo que não fosse preocupação com seu estado no
momento.
– Descodifiquei
o livro de registros – contei ao me lembrar.
– Como? – sua curiosidade mal era genuína.
– Pesquisei
códigos, encontrei o clássico que sempre usavam; principalmente César. Encaixou-se
em algumas das letras, intercalando havia alguns números e símbolos que
correspondiam com o teclado do celular. Descobri ontem quando mandaria mensagem
para a Hanna. A pessoa que o criou foi bem inteligente. Eu tive sorte. Imagino se
inventaram um nome para esse código em questão. Será que já existe? –
tagarelei.
– Você é
inteligente, Faith. Como o nomearia? – sua atenção estava mais presente na
conversa.
Pensei
rápido em um nome.
– Bom, o de
César chama Cifra de César ou Cifra de troca. Então ficaria Cifone, Trocafone,
Ciflado, Teci. Acho que gosto mais de Teci, te de teclado e ci de cifra.
Estava para
nascer alguém mais idiota do que eu. Mas com isso, consegui que um fantasma de
sorrisinho aparecesse em seu rosto. Sendo assim, eu gostava de ser idiota.
– Também
gostei.
Justin
respirou fundo, abaixando a mão. Ele passou os olhos pelo cômodo, avaliando os
estragos que fizera.
– Desculpa
te fazer presenciar isso. Eu só precisava... – ele lutou com as palavras, não
conseguindo terminar a frase.
Neguei.
– Não vejo
problema nisso. Não posso dizer o mesmo do proprietário – brinquei, esperando
que o sorrisinho viesse para seu rosto.
Não
funcionou.
– Sou eu.
– Você...?
– o incentivei a esclarecer, não conseguindo dar sentido para a frase sozinha.
– O
proprietário. O restaurante é meu.
Passei um
tempo tentando digerir a informação. Ele estava construindo um restaurante e
acabava de retardar seu progresso. O que seria adequado para se dizer num
momento desses?
Meu
silêncio fez com que ele me olhasse, e ao ver minha expressão, esclareceu:
– Isso
geralmente acontece. Descobri que minha mãe sonhava em ter um restaurante. Fiz
um para que quando a encontrasse pudesse presenteá-la – seu sorrisinho foi
diferente do que eu queria, foi triste e irônico, como se ele próprio caçoasse
de suas esperanças.
– E agora
você... Destruiu por que... – comecei hesitante, chegando a uma conclusão nada
boa.
Ele deu de
ombros, desviando os olhos.
– Porque
aos poucos vou perdendo a fé. Sempre que alguma coisa... – percebi que editava
as palavras – sai do controle, venho aqui.
Tentei
fazer outra piada.
– Mas eu
ainda estou aqui.
– Acho que
é exatamente por isso que te chamei – confessou – Foi totalmente impulsivo, me
perdoe.
Fiz uma
careta, tentando novamente segurar sua mão, olhando para ela enquanto a
acariciava.
– Fico
feliz que tenha confiado em mim para isso, gosto da proximidade que nos traz.
Espero que saiba que pode me contar qualquer coisa.
Eu queria
que ele dissesse alguma coisa, mas não obtive uma resposta. Sendo assim,
desviei o assunto:
– O nome da
sua mãe que está lá é Erin.
Olhei para
ele depois de dizer, sua testa se franzia minimamente.
– Erin?
– Sim. E eu
consegui o endereço. Não fica muito
longe daqui, pensei que poderíamos dar uma passada lá hoje. É em Somerville.
Ele
respirou fundo, olhando para o além enquanto pensava.
– Agradeço
pelo esforço Faith, mas... Não tenho certeza de que deveríamos ir. Não acho que
seja ela. Não tem como saber também se é o endereço correto – seu receio era
claro nos olhos.
Eu não
sabia dizer se era pelos acontecimentos recentes ou por medo de finalmente
conhecer sua mãe, então não insisti, me concentrando em apenas fazer com que
ele se sentisse melhor no momento. Mas o que seria melhor do que o carinho
materno?
Ficamos em
silêncio até ele me olhar nos olhos.
– Tudo bem.
Nós vamos.
– Tem
certeza? – questionei hesitante. Ele já estava sensível, não deveria ser muito
bom lidar com outro assunto delicado.
– Vamos de
uma vez encarar meus fantasmas do passado – ele sorriu para mostrar que estava
bem e se levantou me dando a mão direita para que eu também o fizesse.
Estando na
sua frente, olhei no fundo de seus olhos, pronta para convencê-lo do contrário
dependendo do que eu visse ali.
– Eu estou
bem – ele garantiu.
Obviamente,
não era verdade, então o repreendi com o olhar. Eu só queria que ele ficasse
bem.
Passei as
costas da mão em sua bochecha e desci até segurar seu queixo, dando um
sorrisinho de reconforto. Limitei-me a dizer com o olhar, conseguindo um
sorriso mínimo seu por isso. Devagar puxei seu rosto, levemente pressionando a
boca na sua, simbolizando que sendo suficiente ou não, ele me tinha.
Seu sorriso
estava um pouco maior e verdadeiro quando me afastei.
– Vamos lá –
me disse, puxando-me para fora do restaurante.
– Hmm... E
quanto ao... – apontei para as ruínas atrás de nós.
Ele fez um
muxoxo, pegando o celular no bolso.
– Não vai
ser um problema.
Seus dedos
digitaram uma mensagem rápida, provavelmente para alguém que se
responsabilizava por organizar o estabelecimento, e em seguida guardou o
aparelho.
Assim que
entramos no carro, abri meu notebook, localizando o endereço.
– Você não
quer que eu dirija?
Ele fez um
muxoxo, colocando o cinto.
– Já dirigi
em estados piores.
Não entendi
como ele podia achar que isso era reconfortante, mas deixei estar.
– Eu tenho
que passar na faculdade para me encontrar com Willian. Se eu não estiver lá
arrumarei uma grande encrenca – me lembrei, com pesar.
– Que horas
ele vai aparecer por lá?
– Onze e
meia mais ou menos.
Nós dois
olhamos no relógio do celular que marcava dez e quarenta.
– Não acho
que vamos demorar muito, seria muito incômodo pra você irmos sem ele?
Para mim
não, para Bryan seria o fim dos tempos, mas eu não queria deixar Justin se
correndo por uma hora de ansiedade. Era capaz de Erin também não estar em casa,
então...
– Acho que
não.
Ele anotou
o endereço no GPS de seu celular e acelerou, só então percebi que sim, eu
estava me metendo em problemas. Uma fugitiva. Não tinha como retornarmos em
menos de uma hora. Minha única opção era mandar uma mensagem quando o horário
se aproximasse.
Justin
manteve os olhos na estrada, mas parecia distante.
– Você sabe
que não precisamos ir hoje... – insisti.
– Acho
melhor acabar com isso logo – argumentou, mas tampouco me convenceu, não
tirando os olhos da estrada.
Procurei um
assunto rápido na mente, para que continuasse falando e se distraísse.
– E
então... Você já viu alguma foto dela?
– Hm, sim,
apenas uma. Ela está sorrindo e me segurando em seu colo.
Eu tinha a
impressão de que ele poderia me descrever qualquer detalhe da foto. Imaginei
quantas vezes parara tudo o que fazia para apenas encarar aquele retrato,
talvez após um dia ruim na escola, quando teve medo de monstros embaixo de sua
cama ou até mesmo de uma bronca que levaria de seu pai. Provavelmente o papel
estava marcado com suas lágrimas e surrado de tantas vezes que o levou no bolso
para se sentir seguro em algum lugar.
– Está tão
concentrada em que? – ele perguntou curioso, percebendo que eu o encarava.
– Para ser
sincera, estou tentando te imaginar como um bebê.
Seu rosto
se contraiu em uma expressão engraçada e indescritivelmente fofa. Na verdade,
no momento ele se assemelhava a um bebê.
– Bom, meus
olhos eram mais claros, e eu era mais gordinho...
– Mais
adorável também, aposto.
Ele me
fuzilou com o olhar, fazendo graça.
– Ei, eu
sou mais do que adorável agora.
Dei risada
junto com ele, secretamente concordando e pensando em elogios que não poderiam
ser feitos a uma criança.
– Vai me
mostrar algum dia a sua foto de criança?
– Se você
me mostrar uma sua – barganhou.
Revirei os
olhos, concordando.
– Você
mostra a sua primeiro.
Ele deu uma
risadinha.
O humor foi
sumindo de seus traços lentamente.
– Não tive
uma infância muito boa para uma criança. Fico imaginando se minha mãe estivesse
lá seria melhor.
– Seu pai
te maltratava? – minha voz quase não saiu, e logo em seguida preferi que não
tivesse saído.
Surpreendentemente,
ele respondeu com facilidade, indiferente.
– Ele só
tentou me criar do jeito que achava que deveria ser – foi sua resposta, evasiva
demais para que tranquilizasse meu coração.
– Você se
tornou quem ele queria?
Seus olhos
lampejaram para mim. Por essa pergunta ele não esperava, fazendo com que
franzisse um pouco a testa.
–
Basicamente sim.
– E você
gosta de quem você é?
Essa o
incomodou mais, e eu recebi uma careta.
– Não é uma
pergunta justa. Aliás, já pensou em fazer psicologia ou filosofia? Você é
fascinada por perguntas complicadas.
Balancei a
cabeça, discordando.
– Se você
não puder fazer um juízo de valor de si mesmo, como espera fazer das outras
pessoas?
– Simples,
não fazendo de ambos.
– Então
você não tem nenhuma ideia sobre mim? Lembro-me muito bem do dia em que me
chamou de fútil.
– Não disse
isso – negou imediatamente.
– Mas
sugeriu quando te disse onde eu estudava.
– Por que
mulheres são tão rancorosas? – reclamou, tentando me provocar.
Dei um tapa
em seu ombro como punição.
– Você
ainda não me encarou rancorosa.
Ele riu,
fazendo o sinal da cruz com a mão.
– Então
Deus permita que eu não conheça.
Revirei os
olhos para seu exagero, retomando o rumo inicial da conversa.
– Se quer
saber, eu gosto de quem você é hoje, independente da opinião alheia.
Ele não
disse nada, e a mudança em sua expressão fora quase imperceptível, mas eu podia
ver o maxilar travado. Justin não concordava comigo.
– Eu queria
que você não fosse tão exigente consigo mesmo, você é uma pessoa maravilhosa,
Justin.
Seu
sorrisinho foi de escárnio.
– Você diz
isso agora, mesmo depois do que acabei de fazer.
Quase
invisível, eu pude ver a máscara por onde se escondia aparecendo novamente em
seu rosto, aquela que raramente ele usava comigo agora. Desagradou-me que ainda
tivesse a necessidade de esconder alguma coisa de mim.
– Aquilo
não foi nada, Justin. Todos têm seus momentos de raiva.
Ele olhou
para o celular e pela janela, como se eu não tivesse falado.
– Chegamos.
Respirei
fundo, descendo atrás dele. Eu não queria que ficasse se culpando por uma
reação para sempre.
A casa
diante dos meus olhos não era das mais sofisticadas, mas também não tão
simples. A fachada apresentava um só andar, as paredes de textura rústica
branca, um jardim florido e bem cuidado convidativo, porta e janelas de madeira
e o telhado aparente.
Justin nem
ao menos ensaiou uma entrada, indo diretamente bater na porta, demonstrando impaciência
para acabar logo com aquilo. Ele não parecia estar empolgado para conhecer sua
mãe, ou então não acreditava que era ela mesma que vivia ali.
– Está
preparado? – indaguei, analisando bem sua expressão.
Ele não me
olhou, fingindo um sorriso.
– Claro.
Na
esperança de reconforta-lo, segurei sua mão, entrelaçando os dedos nos seus. Se
o efeito que tinha em mim fosse pelo menos metade do mesmo nele, seria
suficiente para que enfrentasse uma batalha.
Seu olhar
caiu em nossas mãos unidas, e sua postura defensiva cedeu um pouco, fazendo com
que me desse olhar carinhoso.
– Pois não?
– a voz feminina nos saudou ao mesmo tempo em que a porta se abria.
Meu coração
parou por um segundo, e ele soltou minha mão. Olhei para a mulher que nos
atendia, seu cabelo preto estava cortado em chanel com uma franja falsa, contrastando
com seus olhos verdes. No exato momento me lembrei da cor em que os olhos de
Justin ficavam dependendo da iluminação recebida.
O fitei
alarmada. Ele estava com a fisionomia calculadamente agradável, mas seria.
– Bom dia,
senhorita. Gostaríamos de fazer algumas perguntas.
– Justin
Bieber? – ela gaguejou, pela voz parecia estar assustada.
Confirmei o
veredito quando voltei a olhá-la. Seus olhos estavam arregalados e
disfarçadamente ela recuou, posicionando a mão na porta para fechá-la. Prevendo
o movimento, Justin colocou o pé no vão e mão na porta, impedindo. Embora
estivesse sorrindo, sua fachada agradável não estava mais ali.
– Não
planejamos demorar muito, temos outro compromisso.
Vendo que
não havia escapatória, ela deu um passo para trás, frustrada e espantada, como
se visse um fantasma. A probabilidade de
ser sua mãe estava mais alta.
Justin
virou para mim, apontando para que eu entrasse na casa. Obedeci receosa. Entrar
a força na casa de alguém não era minha coisa preferida a se fazer e eu não
deveria estar surpresa com a naturalidade que era para ele, visto que invadia
minha casa em qualquer momento. Entretanto, este comportamento não era adequado
para uma mulher desconhecida, mesmo que fosse sua mãe. E tendo em vista os últimos
acontecimentos, suas emoções não estavam estáveis.
– Com
licença – dei um sorriso tímido para a mulher recolhida no canto. Seus olhos
estavam desconfiados em mim. Por que eu tinha a impressão de que a provável Erin
esperava que fizéssemos algum mal a ela?
Justin me
seguiu e fechou a porta em seguida.
– Podemos? –
ele apontou para o sofá na sala à nossa direita, o primeiro cômodo a vista.
A mulher
foi na frente, mantendo os olhos em nós.
Puxei o
braço de Justin disfarçadamente.
– É mesmo a
sua mãe? – cochichei.
Ele só me
olhou com a sobrancelha arqueada, indicando com a mão que eu me sentasse no
sofá de dois lugares bege.
Para não
assustar mais a dona da casa, contive minha língua, indo me sentar do lado
oposto ao dela. Justin se sentou ao meu lado, apoiando os cotovelos nas pernas
e cruzando as mãos, seus olhos fixos na figura a nossa frente, um sorrisinho de
lado enfeitava seu rosto.
– Erin
Bieber? – ele começou.
– Wagner –
ela corrigiu entredentes, parecendo se ofender com o sobrenome inofensivo.
Se essa era
mesma a mãe dele, além de não se importar com o filho, desprezava sua família.
Meu estômago se contorceu.
Justin
ampliou o sorriso, achando graça da resposta recebida.
Isso não
era um bom sinal.
– Claro. Agora
devo perguntar, como sabe quem eu sou, querida? Sua existência não consta em
minhas memórias.
Ela se
remexeu na poltrona, tomando ar para o que diria.
– Vamos
direto ao ponto do que você quer aqui.
Surpreendi-me
com tamanha grosseria, o que me deixou irritada. Fiz menção de rebater, mas
Justin colocou a mão em minha perna, um pedido para que eu ficasse de fora.
– Veja, não
estou no meu melhor dia para ter paciência, infelizmente alguém já atingiu a
quota de hoje. Devo pedir para que se limite a responder ao que eu perguntar,
Erin. Pode ser?
Sua
educação teve um efeito contrário nela, notei assim que engoliu em seco. Ela
expirou.
– Eu fui
casada com Jeremy Bieber por sete anos. Não cheguei a te conhecer pessoalmente,
mas claramente você já deve ter ouvido sobre mim nos discursos de sua família –
ela deu um sorriso irônico.
– Não costumamos perder nosso tempo falando
dos casos do meu pai, deve entender que temos coisas mais importantes para
fazer.
O encarei, desaprovando
seu comportamento ofensivo. Isso não o incomodou.
– Claro,
sei o que vocês fazem nesse tempo precioso. E agora você foi enviado para
terminar o trabalho que sempre quiseram fazer. Não vamos fingir que sou de
alguma utilidade para sua família. Já me tiraram tudo o que eu tinha, vamos de
uma vez com isso – a frieza em sua voz era dolorosa de ouvir.
O que ela
estava sugerindo?
Justin
balançou a cabeça.
– Pedi para
que se limitasse às minhas perguntas, Erin. Insisto para que não ultrapasse os
limites.
Erin se
levantou, transtornada, os olhos úmidos.
– Vocês me
tiraram tudo! Eu não me importo mais, sabia que esse dia chegaria! Como
puderam?! Eram apenas crianças! Eles precisam da mãe deles! – ela berrou,
gesticulando com as mãos, caindo em lágrimas.
Meus olhos
arregalados se voltaram para Justin, eu não esperaria mais para pedir
explicações.
Ele se
levantou também antes que eu pudesse abrir minha boca.
– Do que
você está falando? Que crianças? – ele estava confuso, mas também impaciente.
Pus-me em
pé atrás dele, pronta para intervir caso aquilo saísse mais do controle, me
maldizendo por não ter impedido aquele encontro enquanto podia.
– Eles não
te incluíram nesse assunto, não é? – percebeu aliviada, então se jogou aos seus
pés – Vocês tem que me ajudar, por favor, eu faço qualquer coisa!
– Faith,
saia daqui – Justin instruiu apressado.
Erin me
olhou com olhos desesperados, implorando compaixão.
– Não – falei
decidida, depois me dirigi a ela – Nós vamos te ajudar, mas precisamos entender
do que está falando.
– Eu não
estou brincando, Evans. Saia agora – Justin ordenou, me olhando serio.
De maneira
alguma eu o deixaria sozinho com aquela mulher naquele nível de estresse. Andei
até Erin, segurando suas mãos trêmulas e pegajosas para que se levantasse. A
conduzi até o sofá novamente e me ajoelhei a sua frente, olhando seus olhos.
– O que
foi, Erin?
Justin
bufou irritado atrás de mim.
– Eu tenho
dois filhos. Eles tiraram meus pequenos de mim, eu não sei onde estão... – ela
tentou dizer, soluçando.
– Filhos?! –
Justin questionou perplexo, se aproximando.
Erin
assentiu freneticamente.
– Quando me
separei de Jeremy por saber no meio que eles cresceriam, tomaram eles de mim.
Desde então venho tentando localizá-los, pensei que poderiam estar com sua mãe,
consegui o endereço e logo em seguida você vem, achei que haviam descoberto.
Olhei para
ele, sem entender com o que estávamos lidando. Qual era o meio a que ela se
referia? Justin tinha irmãos e não sabia? E onde eles estavam? Ela tinha o
endereço de Patrícia? Por que estava tão assustada? O que a família faria com
ela se descobrissem que estava tentando achar os filhos?
Justin
ignorou meu olhar, transbordando em fúria. Eu só não sabia dizer se era por
achar que ela estava mentindo ou por sua família lhe esconder isso todo esse
tempo.
– Eu quero
provas de que está falando a verdade – ele exigiu, insensível.
– Primeira
gaveta – ela apontou para a escrivaninha no canto da parede, passando a mão no
rosto de estresse.
O observei
marchar até lá e abrir a gaveta, tirando duas fotos. Ele encarou Erin
violentamente.
– Se você
estiver mentindo... – ameaçou.
Ela negou
com a cabeça, cansada.
– Não
estou.
Ele
considerou por um segundo, então jogou as fotos de novo na gaveta.
– E onde
está o endereço da minha mãe?
– Não está
aqui. Deixei com uma amiga, por precaução – antes que ele proferisse a outra
ordem, adiantou – Ela não vai me passar por mensagem, só me vendo pessoalmente,
e mora em Washington. Já tenho passagens
para ir hoje à noite para lá.
Justin
olhou para cima irritado, pensando.
– Se vocês
voltarem amanhã podemos ir juntos até a Patrícia.
– E por que
você acha que ela está com suas crianças?
Seu real
interesse era em saber se a mãe aderira a uma coisa tão desumana como tirar os
filhos de outra. Ela perderia mais pontos com ele se fosse verdade. Justin
ficaria mais desiludido. Esperei a resposta de Erin com o coração na mão.
– Eu não
sei, ela é minha última esperança. Pode ser que trabalhe para eles também ou
tenha se compadecido das crianças. Não acredito que ela queria essa vida para
você, Justin...
Ele apertou
os olhos.
– Voltarei
aqui amanhã, espero que o endereço esteja aqui também. Faith, vamos – seus
passos foram rápidos até a porta.
Não deixei
de perceber o singular em sua primeira frase, e isso me incomodou. Olhei para
Erin, com receio de deixa-la nesse estado. Dei-lhe um sorrisinho condolente.
– Não se
preocupe. Vamos fazer o que pudermos.
Seus olhos
ficaram confusos em mim, com minha postura diante da situação.
– Você é
boa, por que...
– Faith,
agora – Justin repetiu impaciente.
Contive
minha teimosia, me lembrando de que também não deveria estar sendo fácil para
ele.
Levantei e
dei uma última olhada para ela, seguindo para a porta aberta. Fechei assim que
saí, vendo Justin chutar o pneu do carro.
Não estava
sendo um dia bom, era fato. Se a demissão de seu amigo lhe tinha tirado do
serio, isso faria com que explodisse. E a culpa era minha.
Ele entrou
no carro bruscamente, e eu não fiquei para trás. Me auto indagando até que
ponto poderia lhe pedir explicações.
– Você quer
que eu dirija? – ofereci outra vez.
Sua cabeça
balançou rápido como negação e ele ligou o carro.
– Justin...
– comecei.
– Por favor
Faith, não fale nada – pediu, usando o que lhe restava de paciência.
Recostei-me
no banco do carro com agonia, sem saber o que dizer para que ele se sentisse
melhor ou para que aquietasse a pulga que saltava atrás de minha orelha.
Qual era o
segredo de sua família que ele tanto escondia?
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