Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 26 de maio de 2020

One Time 7


Ele estava furioso, eu podia sentir aquela vibração ser transmitida através de seu corpo para o meu onde nos tocávamos. No caso, eu me grudava às suas costas para suportar a viagem de volta a casa, ainda lidando eu mesma com os efeitos do nosso embate.

Conseguia distinguir um pouco da minha própria raiva entre as emoções no fundo do estômago. Estávamos encerrando aquele dia impecável com perfeição, e sem aquela interrupção inconveniente eu tinha certeza de que passaríamos boas horas admirando as estrelas entre caricias e trivialidades. Xinguei o grupo mais uma vez em minha mente.
Por outro lado, também havia aquela sensação gelada correndo nas veias. Desde que chegamos no Canadá não havíamos sido importunados por prováveis inimigos de Justin. Isso se devia ao nome dos Cavanagh e sua própria reputação. Eu me perguntava o que havia mudado para que homens tão despreparados ousassem enfrentá-lo. E se aquilo viraria um costume. Apertei sua cintura com mais força ao relembrar um dos homens me chamar pelo nome.
Visto que o clima não estava dos melhores e a ausência de palavras que me indicassem o contrário, eu esperava — deprimida —que Justin estivesse me levando de volta para a casa da sua família. Então fiquei bastante surpresa quando parou em frente à sua porta.
Segurei sua mão para descer, alongando o corpo rígido a ponto de estalar os ossos. Comecei a rodar a cabeça em meia lua para alongar o pescoço, mas parei logo no início, tonta. O amiguinho de Justin provavelmente chutara minha cabeça e ela ainda latejava por isso. Justin, encostado na moto, me observava muito sério, imerso em seus pensamentos enquanto passava a ponta do dedão no lábio distraidamente.
— Vou colocar Jazmyn e Jaxon em alguma modalidade de artes marciais. — Anunciou, perscrutando minha reação.
Eu massageei meus ombros, pensando. A decisão por óbvio devia ser motivada pelo último acontecimento. Eu só queria garantir que com o intuito certo.
— Hmm... Por que? Não acha melhor perguntar a eles se desejam?
Ele balançou a cabeça em negativa de modo breve.
— Não é um assunto que admita interferência infantil.
Estreitei os olhos.
— Não foi por isso que tirou eles de Boston? Para que tivessem escolha?
Minhas palavras aprofundaram sua carranca.
— São coisas diferentes, Faith. Quero que eles aprendam a se defender. Se você está aprendendo por que eles não poderiam? — Arqueou uma sobrancelha incisiva — Não é como se eu fosse treiná-los para virarem o que eu sou. — A repulsa ficou evidente em sua entonação.
Não gostei do tom que falara de si mesmo e me aproximei, tomando sua mão. Ele desviou o rosto.
— Como assim “o que você é”?
Ele bufou pelo nariz, deixando evidente que não achava ser um fato contestável, e que se eu me atrevesse a sugerir o contrário estaria mentindo. Apesar disso, protestaria se antes não tivesse visto o leve hematoma em sua bochecha esquerda minimamente inchada.
— Você está bem? — Perguntei ansiosa, afagando o local com delicadeza. Percebi que não havia parado para lhe perguntar isso ou checar seu estado físico. Meu subconsciente devia mesmo considerá-lo imortal.
Ele afastou minha mão de sua bochecha, tomando-a outra vez na sua. Enfim devolveu meu olhar, mas não foi nada tranquilizador. Bem visível em sua íris estava aquele lençol impenetrável que o protegia do mundo exterior.
Tive medo, a ponto de parar de respirar. Ele não se isolava daquela forma de mim. Não desde... Desde que havíamos reatado.
— Estou. — Disse inflexível — E você? — Analisou-me dos pés a cabeça pela segunda vez na noite, um vinco sutil surgindo entre as sobrancelhas quando parou o olhar em meu pescoço.
Assenti, incapaz de falar alguma coisa por não saber como minha voz soaria. Não queria que ele percebesse meu temor, covarde o bastante para não desejar concretizar as palavras. Queria segurar a névoa do dia mais um pouco enquanto ainda restava alguma coisa dela.
Não queria aceitar que depois de todos os nossos esforços retornávamos aquele ponto. Talvez até mesmo um pouco mais atrás. Mas no fundo, eu sabia que havia alguma coisa suspeita acontecendo por baixo daqueles fios castanhos. E, pior, que escolhera esconder de mim.

Eu recuei o máximo que podia, protegendo Jazmyn e Jaxon com meu corpo a ponto de esmagá-los atrás de mim contra o fim do beco. Estávamos cercados por dois grupos, cinco pessoas à direita lideradas por Elliot Cavanagh, o diretor da empregadora atual de Justin; e cinco pessoas à esquerda comandadas por ninguém mais ninguém menos que George Bieber, meu maior pesadelo. Um passo à frente deles, porém, e bem no centro, estava Justin.
— Faith. — Chamou-me com doçura ao extremo — Venha. — Estendeu-me a mão.
O efeito foi contrário ao desejo do meu corpo - com o impulso de encurtar a distância entre nós. Meu cérebro disparou o alarme para que eu fugisse. Bem, para onde? Jaxon se remexeu atrás de mim, tentando chegar até o irmão. Firmei meu braço ao redor de seu corpinho, com a sensação de que ouvia meus batimentos cardíacos.
— Mas mamãe, é o papai! — Ele protestou.
Tentei entender o cenário. Por que ele não estava ao nosso lado? Aliás, por que eu hesitava em atender seu chamado? Meu corpo estava travado, alguma coisa na postura dele não estava certa. O fato de estar mais próximo deles e totalmente confortável em lhes dar as costas contribuía para o julgamento, uma vez que é princípio básico de sobrevivência não dar as costas ao inimigo.
Mas era, principalmente, seu olhar. Revestia-se de uma máscara inalcançável, lembrava-me muito de sua fachada profissional, a quilômetros de distância de seus sentimentos, apresentando naquele momento uma persuasão nociva. 
Justin sorriu diante da voz de Jaxon, satisfeito. A meia luz de um poste próximo deixava uma sombra sinistra em seu rosto. Seus olhos dourados, por outro lado, pareciam atravessar meus ossos, penetrantes e perigosos. Qualquer respiração que eu desse seria captada por ele.
Engoli em seco, estreitando os olhos para os lados e ao mesmo tempo tentando não deixá-los fora do meu campo de visão. Não havia uma arma possível a vista. Nada. Decidi que eu poderia até cair, mas o faria lutando. Encarei George, Elliot e por fim Justin, feroz feito galinha defendendo seus ovos. Eu não conseguia distinguir para qual lado estava sua lealdade. Tinha a impressão de que não pertencia a ninguém. Nem a ele mesmo.
Tremendo igual vara verde, o suor gotejando em minha testa e axilas, os observei darem passos decididos à frente. E, como se fosse atingida por uma facada no estômago, reconheci que era Justin quem conduzia os dois grupos.
Acordei arquejante, os lençóis úmidos do suor pegajoso que cobria minha pele. Apesar de estar transpirando às bicas, eu sentia frio, que vinha de dentro para fora. Não precisei pensar muito para saber que isso se devia ao sonho e me esforcei para expulsar a sensação terrível.
 "Bom dia, J. Está tudo bem?" Mandei a mensagem, desejando ardentemente que ele ajudasse a aplacar minha angústia.
Acabei me atentando bem mais às tarefas universitárias de prestar atenção no professor, fazer anotações e responder aos exercícios, sedenta pela distração. Em certo ponto, as aulas serem de período integral era até uma benção.
Também significava lidar com o drama Ava, Ethan e Lucas, mas nada insuportável. Ava me contara no dia anterior, entre suspiros de deleite, sobre o beijo que recebera de Ethan no cinema, e desde então ambos se cumprimentavam com muito mais carinho, mal tirando os olhos um do outro. Sairiam novamente na sexta feira, dessa vez só os dois. Como consequência, o humor de Lucas não estava dos melhores, isso quando ele fazia o sacrifício de estar ao nosso lado. Coloquei na minha lista de afazeres uma forma de animá-lo.
— Você pode refogar as cebolas, querida? — Pattie pediu com gentileza quando cheguei na cozinha para ajudar depois da aula. Bruce ficara em casa, responsável pelos nossos pestinhas.
— Claro. — Terminei de amarrar meu avental e ajustei a touca, pegando as três cebolas que me estendia.
Além de nós duas estavam seus dois auxiliares contratados: Ariana, uma canadense de aproximadamente trinta anos, alta e esguia, preta, cabelos crespos escondidos pela touca branca e traços largos magníficos no rosto; e Dilan, em seus quarenta anos, branco como uma folha de papel, corpulento e meio carrancudo. Ariana era uma ótima colega de trabalho, solícita e paciente, por outro lado, Dilan era um pouco mais complicado de lidar, levava a arte de cozinhar tão a sério que não aprovava a presença de leigos no ofício. A minha, no caso. Embora não me dissesse nada, eu percebia suas caretas de reprovação às minhas tentativas patéticas — mas esforçadas — de ajudar.
A maior dificuldade em picotar cebolas está na ardência inevitável provocada em nossos olhos. Eu piscava com força para conter as lágrimas, mas em minutos estas corriam teimosas por minha bochecha. Enxuguei o rosto na minha manga constantemente, arrancando risos de Pattie, pairando ao meu lado enquanto misturava alguns ingredientes, de aroma bem apetitoso, na panela.
— Justin não está sendo bonzinho com você? — Provocou-me, brincalhona.
Eu ri, balançando a cabeça.
— Está precisando de uma bronca da mãe. — Entrei na brincadeira.
Passamos alguns segundos imersas na sensação agradável de descontração, ao passo que eu imaginava com um prazer maldoso, Justin cabisbaixo levando uma bronca de Pattie, que apontava um dedo rijo acusatório em sua direção.
— As crianças estão até que animadas com à aula de Krav Maga. — Pattie comentou casualmente, mas identifiquei o leve incômodo na sua voz.
— É mesmo? — Disse de modo vago. Justin não perdera tempo em anunciar a intenção no jantar daquele mesmo dia, recebendo gritinhos empolgados dos irmãos e olhares hesitantes do restante da família.
— Eles se espelham muito em vocês, e sabem que você, Justin, Caitlin e Ryan sabem lutar.
Era verdade — ainda que eu parecesse uma criança de dois anos perto dos profissionais que eles eram —, já havíamos feito demonstrações gratuitas e despretensiosas na frente deles. Principalmente quando Justin me provocava o lado animal.
— De qualquer forma, qualquer coisa que Justin dissesse seria levado como lei absoluta. Eles o adoram.
Nós entendíamos muito bem o motivo, até onde eles sabiam, Justin era seu único parente de sangue, e para crianças que cresceram em um orfanato, era um privilégio e tanto conviver com uma figura como ele. Seu irmão mais velho do mesmo pai.
— Você acha que.... — ela lutou com as palavras — ele... hm... ele sabe disso?
— Ah, creio que sim. Os dois deixam muito claro seus sentimentos. — Jaxon literalmente se pendurava na perna de Justin quando ele tinha que ir embora algumas vezes. Eu gostaria de poder fazer o mesmo.
— Hm, bem, creio que sim. — Falou, resignada.
Estreitei os olhos para ela, sabia que ainda não chegara ao ponto que queria. Com um suspiro final, se rendeu.
— Você acha que ele gostaria que eles se tornassem como ele?
Neguei imediatamente, depois de entender o que queria dizer.
— Eu sei que não. Justin só sabe que não vai conseguir protegê-los para sempre, e, além de todos os perigos naturais, eles tem o — destaquei  sobrenome. Ironicamente, é o que os protege hoje, então ainda não dá pra mudar. Mas pode ser um risco amanhã. — Me perguntei se deixara transparecer o desânimo que sentia quando concluí a frase. Funguei, banhada em lágrimas involuntárias.
— Você sabe se... Não acha que ele desistiu, não é? — Sua voz mal passava de um sussurro.
Justin amava e confiava em Patricia, mas tinha dificuldades em se expressar para as pessoas. Por toda nossa história normalmente ele se abria mais comigo, Ryan e Caitlin logo atrás. Não era incomum então que Patricia me procurasse para tentar entender um pouco mais do que se passava na cabeça do filho. Para ser justa, eu mesma cheguei a ter aquela dúvida.
— Não. Ele não desistiu. Disse que está complicado fazer alguma coisa muito brusca sem colocar o próprio pescoço numa corda. — Apesar do meu tom casual, um breve arrepio desceu por minha espinha. Eu sabia bem como as coisas poderiam dar errado, e se pensasse muito naquilo não viveria em paz.
Senti o peso leve do meu celular no bolso de trás da calça, repentinamente inquieta com sua ausência de resposta à minha mensagem. Justin era péssimo com o celular, o que dava para entender, mas não a ponto de melhorar muito as coisas.
— Eu temo por ele todos os dias. — Agora ela tampava a panela e passava ao balcão para picar agilmente pimentão.
Passei as cebolas para uma panela grande com óleo, liguei uma das bocas do fogão e mexi com a grande colher de pau, os olhos bem atentos no trabalho para deixá-la confortável em falar.
— A sensação é horrível, um pouco diferente de quando o perdi, mas não tanto assim. Agora ele está aqui, próximo, e corre os mesmo perigos de quando não me conhecia. — Arrisquei uma espiada em sua direção, dotada de compaixão.
Eu mal podia imaginar como ela devia se sentir sendo sua mãe, aquela que o gerara no próprio ventre e era assaltada por fortes instintos de proteção à ele. A sensação de impotência devia ser praticamente insuportável. Pattie mantinha o olhar no pimentão, embora eu soubesse que não o via. Ariana e Dilan estavam a todo vapor atrás de nós, eu ouvia os talheres batendo, o fogo do outro fogão e demais sons comuns numa cozinha. 
— Me diga uma coisa querida... Eu nunca cheguei a lhe perguntar, mas sei que aconteceu e gostaria de saber de você. — Inspirou fundo, num gesto encorajador e interrompeu o trabalho para concentrar a atenção em mim. Seus traços delicados formando um pedido de desculpa — Como foi achar que... que ele havia falecido?
De início estava apenas surpresa com a pergunta, em seguida fui tomada por um misto de emoções oriundos do fundo do estômago. Eu não me esquecia daqueles meses em Minnesota, mas fazia um esforço considerável para esquecê-los. Lembrava-me claramente da grande sensação de vazio que parecia engolir todos os meus órgãos, me transformando numa versão de mim mesma completamente perturbadora. Eu me refugiava em álcool e qualquer outra coisa que pudesse me distrair, me afastara dos meus pais por culpá-los, e o pior de todos: me distanciara do Único de quem eu realmente precisava para viver, Deus. Praticamente paralisada num estupor, não tinha ao menos a capacidade de chorar para me aliviar, e a noite em que o choro veio a tona, na cabana de Ryan e Justin, pensei que morreria de desidratação, já que não conseguia fazer cessar o pranto.
Pattie notou meu braço arrepiado, e quando dei por mim, ela já havia lavado as mãos e passado um braço ao redor da minha cintura. Estremeci e forcei um sorrisinho. Vi minha dor refletir em sua própria expressão.
— Não precisa dizer. Posso imaginar. — Beijou meu braço e esfregou o outro, confortando-me — Eu daria tudo para protegê-lo — Sua voz soou trêmula e ela pigarreou — Deveria ter fugido de Jeremy antes. Devia saber o que aquilo significava, mas eu estava tão convencida de que poderia mudá-lo e viveríamos como uma família feliz... — Murmurou com amargura, arqueando as sobrancelhas e repuxando o lábio como se zombasse de si mesma.
— Não foi culpa sua. — retruquei depois de engolir em seco, mesmo assim minha voz saiu baixinha.
Ainda sob o efeito das lembranças que sua pergunta havia arrastado para mim, consegui me identificar um pouco com sua história. Tive que abrir mão de várias coisas para estar com Justin e continuava lutando, com a ideia de que conseguiríamos nos estabilizar algum dia, assim como o próprio. Negar "sua natureza", a princípio, foi o que gerara toda aquela confusão. Mas Justin não era como Jeremy, e já havia provado diversas vezes o coração bom que tinha. Ele não merecia e nem queria viver naquele meio sanguinário.
 Uma voz fraca e inconveniente em minha mente soprou: você não conheceu Jeremy e o que a faz pensar ser mais esperta do que Pattie?
— Bom, eu estava apaixonada. — Deu de ombros, naquela aceitação relutante de que o passado não pode ser mudado — E quando abri os olhos já era tarde demais. O pobrezinho teve que pagar por isso, então não sei até que ponto é bom que Justin seja diferente dos Biebers. Porque você sabe, ele é diferente. — Concluiu com certo orgulho permeado na tristeza.
Relaxei um pouco, aliviada que tivesse lido meus pensamentos. Então não era somente fruto da minha vontade. Pattie conhecia os Biebers, ela podia fazer aquela afirmação.
— E ele tem você. — Jogou a mim seus olhos azuis cheios de carinho. — Você detém uma ótima influência sobre ele, Faith. Sou muito grata por isso. Não poderia pensar em uma nora melhor.
Os efeitos da cebola voltaram a atacar minhas glândulas lacrimais. Engoli com certo esforço o nó na garganta, devolvendo seu sorriso terno. Percebendo a cebola refogada, Pattie pegou a vasilha grande e redonda de frango cortado e jogou na panela, assumindo meu lugar para mexer a colher enquanto me pedia para fatiar o bacon.
— Eu sei que é egoísta da minha parte... — ela estava mais séria agora, a testa vincando. Evitou momentaneamente meus olhos — mas eu gostaria de pedir para que não desistisse dele. Eu sei que também deve levar em conta seu próprio bem, e não duvide de que também prezo muito por ele — garantiu de modo enfático —, eu só quero dizer que... Enquanto você puder, sem nunca se anular por isso, fique, por favor? — O apelo ficou claro quando se voltou para mim a voz baixa não diminuía em nada sua força, o rosto todo se franzia como complemento.
— Eu não planejo ir para lugar algum. — Garanti e desfrutei do alívio desanuviando sua expressão.
Depois daquela surra de fortes emoções, voltamos a uma conversa um pouco mais tranquila sobre CSI — eu me orgulhava do feito de convencer Pattie a assistir a série, e estava sendo uma boa guia aos tramas emblemáticos, sem spoiler, claro. Assim que terminamos os preparativos iniciais, escapuli da cozinha, eu não me atrevia a fazer experimentos com os pratos dos clientes, e assumi meu posto como garçonete. Troquei de avental vagamente imaginando a cara de Eleanor se me visse servindo mesas e sorri ao visualizar seus olhos pularem fora das órbitas, ela com certeza gritaria que não havia me gerado para aquilo.
Só para garantir, conferi meu celular a procura de mensagens do meu namorado desaparecido. Lembrar-me dos tempos em Minneapolis redobrara minha inquietação. Como não havia nada, respirei fundo, guardei-o novamente no bolso e peguei o celular do restaurante para anotar pedidos.
— Eu vou na dois e você na quatro? — Liam, um dos garçons de Pattie chegara ao meu lado já equipado com seus instrumentos de trabalho, sempre muito dedicado. Pele bronzeada, nariz longo e reto, barba aparada, cabelos castanhos meticulosamente penteados para trás e o sorriso branco discreto faziam o sucesso da clientela feminina.
— Claro!
Saí logo atrás dele, seguindo para a mesa destinada. Identifiquei os olhos de jabuticaba antes mesmo que ele acenasse para mim, a barba e o bigode tão característicos ainda estavam ali, como se eu precisasse de mais para reconhecê-lo. Ergui uma sobrancelha.
— Roger? — Cumprimentei com cortesia, já dando olá para a minha paranoia também. 
— Senhorita-do-parque! Acho que ainda não sei seu nome. — Murmurou com sua voz grave, quase um trovão produzido por cordas vocais. 
Pensei um pouco antes de fornecer a informação. Mas, bem, se fosse alguém me seguindo, já saberia meu nome, certo?
— Faith. Faith Evans. 
— É um prazer, Faith Evans. — Inclinou a cabeça em minha direção, tirando um chapéu cinza da cabeça. 
— Igualmente. O senhor deve morar aqui perto, então? Segundo encontro em poucos dias.... Se bem que não me lembro de tê-lo visto antes. — Investiguei, astuta.
— Ah — Abanou com a mão — Acabei de me mudar, moro duas ruas para trás. E como está a garotinha? Jazzy? — Indagou em dúvida. 
— Bem, obrigada. — Agucei meu olhar. Então ele se lembrava do nome dela, huh? Estaria ali para vê-la? Um empregado de George? — O senhor já decidiu o pedido?
— Hm, sim! — Esquadrinhou o cardápio em suas mãos, passando um dedo sobre ele para ser específico — Pode ser salmão BC e BloodyCaesar? — Notei o brilho curioso e ansioso em seu rosto tão comum entre os clientes ao solicitarem um prato, naquela expectativa para experimentar e a fome para aplacar. 
— Claro. — Anotei o pedido, mal tirando os olhos dele — Volto já. 
— Obrigado. — Fechou o cardápio, satisfeito, e acomodou-se na cadeira.  
Afastei-me refletindo se deveria informar Justin daquela aparição. Ele me parecera menos suspeito, não fora agressivo nem nada, e eu planejava manter a atenção nele no resto da noite obviamente, mas, da última vez que pensei sozinha sobre uma situação daquela, Justin dera um breve surto. Sem mais clientes para atender, escondi-me atrás do balcão e fiz a ligação. Aguardei a chamada 1.... 2.... 3.... 4 .... 5 .... toques até que caísse. Ele não me deixava exatamente uma escolha então, olhei de esguelha para nosso cliente do outro lado do recinto, parecendo bem inocente enquanto mexia distraidamente no aparelho celular, se Justin não me retornasse até o fim do expediente, eu iria para sua casa. E.... tudo bem, para não haver dúvidas de que eu tentara, lhe mandaria uma mensagem avisando que estava indo. 
— Faith? — Virei-me para Liam, corando instantaneamente de vergonha por ser flagrada usando o celular no meio do trabalho, mas ele não parecia aborrecido. Apontou para o homem atrás de si que só então reparei — Esse senhor quer falar com você. — Passado o recado, nos deu privacidade para atender o cliente que havia acabado de chegar. 
Usando um terno fino grafite que combinava com seus olhos cinzentos, o homem de semblante tranquilo, cabelos curtos espetados, praticamente o dobro da minha altura, assentiu para mim. 
— Sou membro dos Cavanagh. Alguma coisa está lhe incomodando? Aquele senhor? — Ele gesticulou disfarçadamente com a cabeça em direção a Roger, demonstrando com a postura clara aptidão para o resultado da minha resposta. 
Engasguei. Eu nunca havia falado com um dos colegas de Justin, os seguranças que eles mandavam — que até aquele momento eu não sabia se era lenda — não se deixavam notar, e eu muito menos tentava com afinco encontrá-los. A novidade me deixou em um momento de choque, até perceber que, embora Justin houvesse desaparecido como sempre, deixara os Cavanagh mais atentos quanto a nossa segurança pelo pequeno incidente da semana. 
Meu instinto imediato foi negar. Aquele homem, que não me dissera ao menos seu nome, tinha uma calma quase aterrorizadora. Eu conhecia muito bem aquele tipo de tranquilidade, do tipo de quem não teme seu destino e planeja assassinatos com a mesma naturalidade que eu preparava meu café da manhã.
— Não... é um... conhecido. Eu estava — levantei o celular, sentindo que o sangue fugira do meu rosto — ligando para o Justin só pra avisar que o vi. 
— Tem certeza? — Ele olhou com desconfiança por sobre o ombro para a mesa de um Roger entretido. 
— Sim, tenho. — Procurei ser mais firme. Realmente não estava com medo de Roger, e pelo menos, se ele tentasse me fazer mal o grandalhão estaria por perto. Se minha resposta fosse diferente, entretanto, eu não podia prever o que ele faria. 
Ele assentiu e apontou para uma mesa próxima à cozinha. 
— Estarei ali, caso precisar. 
Quase no automático, concordei com a cabeça, ansiosa para que ele se afastasse de mim com seus braços e pernas enormes. Assim que foi feito, soltei a respiração que nem percebia que prendia. Fechei e abri as mãos trêmulas, e me ocorreu que o que me deixava mais nervosa era topar com um assassino depois de tanto tempo sem lidar com a raça. 
Bem, Justin não contava. Franzi o cenho para o pensamento. 
Virei as costas para a mesa, preocupando-me com outro ponto: será que ele podia perceber em minha postura que eu e Justin estávamos tramando para acabar com o contrato? A mentira não era bem meu forte. 
Inspirei, seria uma noite e tanto.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que achou do capítulo? Conte pra mim, eu não mordo ><