Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

One Time 8

Concentrei-me no barulho do motor, tentando deixar com que o som me acalmasse os nervos, o grave constante que subia por meus pés e ricocheteava pelos ossos. Não estava funcionando, a cada segundo meus olhos relampejavam para o retrovisor, a busca de perseguidores em potencial, para ser mais exata, Roger e o Cavanagh-empregado. 
Eu dirigia para a casa de Justin em meu Nissan Micra chumbo, recapitulando os acontecimentos da noite para lhe passar em detalhes. Não havia muita coisa, para ser sincera, isso sem contar a tensão perene em meus ombros. Roger se comportara muito bem como um cliente ordinário, bem simpático, diga-se de passagem, e até deixara uma gorjete generosa. Cada vez que eu me dirigia à sua mesa ele arranjava um jeito de conversar, atitude bem comum em pessoas carentes de atenção que procuravam o restaurante. Às vezes eu tinha a impressão de que alguns estavam ali mais pela interação com os garçons do que pela comida. E, bem, o coleguinha de Justin não me dirigiu mais a palavra, apenas direcionava olhares fugazes em direção a Roger e uma vez ou outra nossos olhos se encontravam. "Estou aqui", ele dizia. Mas não de um jeito tranquilo, de forma que eu tinha certeza de preferir quando os abutres permaneciam invisíveis.
Não tive incidentes no trajeto, contudo, e cheguei em segurança ao meu destino. Estacionei no meio fio e descartei a ideia de bater na porta enquanto me aproximava da mesma. Embora Justin não houvesse me respondido, eu havia mandado a mensagem avisando que estava indo, afinal. Usei minha chave para destrancar a porta e paralisei na entrada. A luz da sala estava acesa, sim, mas não havia ninguém ali, além do som perturbador descendo as escadas escuras.
— Cego por mim, você não vê nada
Apenas chame meu nome, pois eu ouvirei seu grito 
Mestre!
As guitarras choravam nas caixinhas de som espalhadas pela sala, bem como nos andares de cima. Justin havia instalado um ótimo sistema sonoro por toda a casa, como o bom amador de música. O que gelava meu estômago naquele momento era a escolha da música, a qual eu tinha quase certeza de que ele não ouvia desde.... Bom, desde antes de me revelar ser um assassino. Quando eu ainda era um de seus alvos e seu apreço por vida humana não passava do valor de uma barata.
— Me experimente e você verá
Você só precisa de mais
Você está dedicado a 
Como eu estou matando você!
Além da música, extremamente alta, eu ouvia algo mais. Apurei meus ouvidos, distinguindo ruídos de objetos se chocando contra algo sólido, despedaçando-se logo em seguida.  Alguém havia invadido a casa e estava lutando com Justin? Quantas pessoas? Com o coração agitado, a ponto de martelar nos ouvidos, pensei rapidamente o que eu deveria fazer. Eu não ficaria parada, embora meu corpo desejasse muito bem essa opção, deveria ajudá-lo.  Por outro lado, sabia que não era tão competente assim para o trabalho, então seria preferível que tivesse reforços.
Digitei o número de Ryan com os dedos trêmulos, rezando baixinho para que me atendesse durante os quatro infinitos toques.
— Oi, Fai.... — Ele começou e eu o interrompi logo:
— Ryan, estou na casa do Justin, tem alguma coisa errada. Acho que ele está lutando contra alguém muito feio lá em cima. Estou indo, venha o mais rápido que puder! — Atropelei as palavras e desliguei antes do seu protesto se verbalizar.
Atravessei a sala e apanhei o atiçador da lareira, correndo e ao mesmo tempo tentando suavizar meus passos para não ser ouvida. A altura da música camuflava grande parte dos outros sons, mas eu não os subestimaria.
— Venha rastejando rápido 
Obedeça seu mestre
Sua vida queima rápido 
Obedeça seu mestre 
Mestre!
A adrenalina já corria por meu sangue de súbito gelado quando percebi a luta emanar do segundo andar, última porta. Alguma lembrança centelhou num canto a parte da minha mente, mas foi incapaz de vir a tona diante da situação emergencial a minha frente. A luz do quarto estava acesa, e já ansiosa o bastante com o bem estar dele para me conter, me esgueirei para a entrada do cômodo aberto e vislumbrei pelos olhos arregalados o caos.
Os móveis estavam revirados e quebrados, espalhados em clara desordem violenta. De fato, Justin ainda desferia golpes em alguns deles enquanto eu observava, acabava de chutar a estrutura da cama do avesso, partindo a madeira em vários pedaços. Eu já havia visto aquela performance uma vez em Boston, quando ele destruiu o restaurante de Patricia após a morte de Chris, o irmão de Caitlin, seu amigo, assassinado pela própria Companhia Bieber por tentar livrar-se do ofício. Mas não deixava de ser assustadora, a raiva se esvaindo de seus poros e transfigurando-se para o mundo físico de modo palpável.
Sua visão periférica identificou a minha presença, e me vi alvo de um par de olhos desvairados, injetados de fúria. Prendi a respiração.
— O que você está fazendo aqui, Faith? — Indagou baixo, a voz rouca de intensidade.
Abri a boca para responder algumas vezes, esquecendo-me por um momento até de quem eu era, impactada como estava. Ele desceu os olhos para as minhas mãos, agarrando bravamente o atiçador como se fosse um taco de beisebol e arqueou a sobrancelha.
Pigarreei.
— Eu achei que você... achei que estava.... lutando contra alguém. — Respondi tão baixo quanto ele.
Um sorrisinho irônico surgiu em sua expressão impenetrável.
— Pode-se dizer que sim. — Comprimiu os lábios.
Inicialmente pensei que ele fosse começar a bater nas coisas de novo, que estavam quase tão prejudicadas a ponto de não valer mais a pena. Mas a respiração ofegante subindo por seu peito parecia exalar o grande cansaço. Antes que ele pudesse decidir, contudo, deixei o atiçador no chão e encurtei o espaço entre nós para abraçá-lo, recolhendo seus pedacinhos no meu coração. Ele estava rígido, mas aos poucos relaxou o corpo contra o meu, abraçando-me de volta.
— Está tudo bem, J. Eu estou aqui com você.
Suas mãos se fecharam em torno da minha blusa, me agarrando como se eu fosse sua âncora na terra. Eu precisava saber o que ele tinha, mas estava com receio de saber. Pela resposta que me dera imaginava que fosse alguma coisa consigo mesmo. Mas o quê? Ele tinha feito alguma coisa ruim? Alguém tinha lhe feito alguma coisa? De qualquer forma, esperei um pouco, até que sua respiração se regularizasse pelo menos, não queria retardar seu progresso em se acalmar.
Justin não fez menção de me soltar, entalhando-se a mim de maneira vulnerável. Embora me satisfizesse sentir-me útil em sua vida, eu não gostava de vê-lo daquele jeito, a ponto de recorrer a mim. Ele tinha uma necessidade visível de ser forte o tempo inteiro, uma rocha inabalável, qualquer fragilidade aparente já era motivo de alerta. A coisa não deveria estar muito boa para que explodisse.
Acariciei seus cabelos na nuca desnuda, sentindo a leve umidade pelo esforço que fizera.
— Quer me contar? — Tentei com a entonação mansa.
Não houve resposta e me perguntei se ele havia me ouvido ou se simplesmente não queria dizer nada. Passou-se alguns segundos até que expirasse, então se afastou, as duas mãos na cabeça e os olhos fechados.
— Eu não aguento mais. — Percebi o que disse mais por leitura labial, sua voz quase inaudível.
— O quê? — Perguntei com delicadeza, com medo de pressioná-lo demais.
Seu cenho se franziu cada vez mais ao passo que balançava a cabeça. Eu queria tocá-lo de novo, mas me contive, esperando que encontrasse o eixo, podia perceber que lutava dentro de si mesmo e não sabia bem o que poderia fazer. Nesse meio tempo, com o silêncio proporcionado notei que Master of Puppets havia chegado ao fim, e quase suspirei aliviada por isso, mas ao apurar meus ouvidos para identificar a próxima música fiquei ainda mais tensa.
— Faltando alguém dentro de mim 
Mortalmente perdido, isso não pode ser real 
Não posso suportar esse inferno que sinto 
O vazio está me preenchendo
Fade to black não parecia ser uma música muito mais animadora para o momento, a última coisa que eu queria eram aquelas palavras ecoando em seus ouvidos e desejei mudar a faixa, ou melhor, simplesmente desligar. Entretanto, o controle não estava a vista.
— Eu não sei mais quem eu sou, Faith. — Agora eu podia ouvi-lo, mas ainda muito baixo. Gostaria de não ter ouvido, não aquilo.
As palavras se retorceram em minhas entranhas, eu odiava vê-lo sofrendo. Dane-se, pensei, e me aproximei de novo, tomando sua mão com propriedade, um incentivo para que olhasse em meus olhos, ansiosa.
— Eu sei quem você é. Me diz o que está acontecendo, por favor.
— Ao ponto da agonia 
As trevas crescem tomando a aurora 
Eu era eu mesmo, mas agora se foi 
Ninguém além de mim pode me salvar, mas já é tarde demais 
Agora eu não consigo pensar, penso por que eu deveria tentar
Ele me olhou, relutante e apertou minha mão.
— Eu me sinto.... — Procurou as palavras — perdido. Não posso ser as duas coisas.
Cheguei mais perto dele, abaixando um pouco a cabeça para manter seus olhos nos meus, já que sua tendência era abaixá-los.
— O que aconteceu?
Ele desviou a cabeça para o lado, me evitando, ainda indeciso de compartilhar comigo.
— Não aconteceu nada. Eu só... — respirou fundo — está cada vez mais difícil fazer o que eu faço. Eu me sinto... mal? Alguma coisa, sim, por algumas das pessoas que tenho que... você sabe. E era tão simples antes... — encarou seus pés — George estava certo, afinal, não dá para ter um bom desempenho com sentimentos. — soou amargo, reproduzindo uma careta.
Senti um arrepio descer a coluna ao ouvir o nome de seu avô e pelas suas palavras me lembrar de uma noite extremamente desagradável, em alguns pontos. No dia anterior a sua suposta morte fomos a um baile encontrar George para conseguir o meu contrato. Aquele velho asqueroso sugeriu que Justin me entregasse a ele como uma prova de que não haveria mais problemas sentimentais o atrapalhando no trabalho. Constatei muito aliviada que haveriam esses problemas sim.
Agora, conseguia entender um pouco do que ele falava, cada vez mais consciente da vida humana, naturalmente encontrava dificuldades em realizar as atividades exigidas. As tatuagens em seu corpo já eram um indício de sua humanidade antes mesmo de nos conhecermos, ele costumava tatuar suas vítimas que haviam lhe marcado, para que tivessem suas histórias contadas de alguma forma. Encontrava-se preso naquele limbo, um assassino, mas também um amado filho, irmão, neto e namorado. Justin parecia viver duas vidas diferentes ao mesmo tempo, não era estranho que tivesse uma crise existencial.
— Você vai conseguir sair disso, não falta muito. — Eu disse, mas não fazia ideia de como e quando aquilo seria possível, era mais um desejo.
— Eu não sei, Faith. Ao menos estou certo por querer as duas coisas? Não devia simplesmente me render à minha natureza e acabar com tudo isso de uma vez? — Sua íris clara me encarou, e praticamente vi a escuridão se aproximando para eclipsar aquele brilho de vida que ele adquirira com o tempo.
Aquilo me deixou sem fôlego e agarrei sua outra mão com vigor, como se pudesse fazê-lo ficar pela força.
— Não, você sabe que há muitas implicações nisso. Não seria a solução para nada.
Terrivelmente sério, a ponto de me preocupar, ele fez menção de responder, mas foi interrompido quando o alarme da casa disparou. Uma invasão. Meu instinto foi arregalar os olhos de terror e me esconder atrás dele, enquanto o mesmo xingava e resgatava o celular do bolso para acessar o dispositivo de segurança instalado ali.
— Estão vindo da porta de entrada. Não saia daqui! — Me instruiu e num segundo desapareceu.
Assim que o perdi de vista, contudo, me lembrei. Ryan. A conclusão lógica era de que fosse ele, já que eu mesma o havia chamado minutos atrás para nos resgatar de um ataque. E se não fosse.... Bem, abafei a voz paranoica.
— Justin! — Chamei para avisar, mas ele com certeza já estava longe, então corri para fora antes que os dois se matassem.
No topo da escada, me deparei com uma cena um tanto curiosa. Ryan estava no chão, preso entre as pernas de um Justin intrigado e irritado, interrompendo um soco no meio. Caitlin estava logo atrás com o outro atiçador da lareira erguido acima da cabeça, confusa, abaixava o instrumento com cautela. Eu tinha certeza de que ela não se importaria de golpear Justin sem dó se ele agredisse Ryan, embora não fosse o alvo que estivesse esperando.
— ..... foi.... — Ryan olhou para os lados e me identificou parada feito idiota — ela! — Apontou para mim, quase acusador — Faith me disse que alguém havia invadido sua casa e eu vim ajudar.
Três pares de olhos me encararam, Justin franziu o cenho, entendendo de pronto minha motivação e reprovando mesmo assim. O que ele esperava que eu fizesse? Deixasse que nós dois morrêssemos se de fato estivéssemos sendo atacados? Eu disse isso a ele sem palavras.
— Eu achei que...
— Eu só estava fazendo uma reforma lá em cima. — Justin disse, vago, e se levantou, estendendo a mão para o amigo.
Nossos salvadores lançaram olhares desconfiados para mim, não acreditando na história. Estava claro que Justin não queria tornar público sua descarga emocional então só dei de ombros.
— Entendi.
— Obrigada, Ryan, mesmo assim. — Eu agradeci, subitamente envergonhada.
— E você trouxe a Caitlin para um suposto combate? — Justin censurou, medindo o amigo.
Caitlin bufou.
— Como assim ele me trouxe? Eu simplesmente vim. Você está se esquecendo que sou faixa preta?
Ryan assentiu, impotente.
— Você já tentou contrariar ela? É impossível, Justin, vá por mim.
Eu já havia descido as escadas e me portei atrás dele, passando a mão em seus ombros duros para tentar relaxá-lo. Foi revigorador sentir os músculos arrefecerem um pouco sob meu toque.
— Bom, vocês já viram que estamos seguros. Obrigado. — Disse, resignado, e gesticulou com a mão em direção a porta arrombada, um sinal evidente para os dois irem embora.
— Ah tá. — Ryan pegou o atiçador das mãos de Caitlin, guardando em seguida na lareira — Vamos ficar para jantar. Quem sabe assistir alguma coisa, não é, gatinha?
Caitlin levantou um ombro e foi até ele, os dois afundaram no sofá confortavelmente. Eu devia admitir que combinavam, a atitude despreocupada e ousada estava presente nos dois. Uma dupla e tanto para tirar Justin do sério. Prevendo as reações possíveis da bomba relógio em minhas mãos, me inclinei e beijei sua bochecha macia, recebendo sua carranca por cima do ombro.
Talvez fosse bom, Justin precisava estar rodeado dos amigos para se lembrar de quem era. Seriam mais provas para apresentar a ele quando pudéssemos retomar nossa conversa.
— Eles já estão aqui, não? Mal não fará. — Argumentei.
Ryan já estava ligando a televisão, apoiando os pés na mesa do centro.
Justin suspirou em rendição, revirando os olhos.
— Creio que você já jantou no restaurante com Patricia.
— Sim, mas posso me esforçar a comer se vocês pedirem pizza. — Respondi animada.
Ele deu um sorrisinho, achando graça em meu apetite infinito.
— Imagino que sim. O que vocês acham, pizza então?
— Claro! Pizza napolitana. — Ryan votou e Caitlin concordou com a cabeça.
— E porção de batata frita. — Acrescentei, ampliando seu sorriso.
Justin ligou para a pizzaria do seu próprio celular e eu fiquei ao seu lado, como leal escudeira, acariciando seu rosto, braço, pescoço, cabelos com movimentos circulares, sua textura agradável contra meus dedos. Pela força do pensamento, tentei extrair dele todos os pensamentos negativos, todo o sofrimento que se abatia sobre seu espírito sempre tão preocupado. Eu tinha um medo absurdo de perdê-lo e não permitiria que suas teorias o afastassem de mim.
Ele desligou o telefone.
— Hmmm, você estava tentando fazer com que eu me atrapalhasse? — Pegou meus dedos no meio de uma carícia, beijando os nós.
— Se você interpretou assim.... — Eu ri. 
Ele beijou minha testa rapidamente e nos juntamos aos outros dois no sofá. Justin já havia vestido sua compostura imperecível de novo, recolhendo depressa seus estilhaços para não virem a público. Mas eu sabia que estavam ali, espetando suas entranhas de modo bem incômodo, e o toquei em cada oportunidade possível para que soubesse que eu não o deixaria. 
— Bem, eu preciso contar a vocês uma coisa. — Eu comecei quando Ryan terminou de contar orgulhoso como se controlara para não socar o rosto de um colega sabichão naquele dia. — Hoje Roger foi jantar no restaurante. — Todos pareceram confusos, revirando as gavetas de memórias para designar um rosto àquele nome. Ryan foi o primeiro a demonstrar traços de compreensão — O "salvador" de Jazzy. — Imediatamente Justin apertou os olhos — Ele não fez nada! — Adiantei depressa, antes que iniciassem uma caçada — Foi extremamente simpático, na verdade, me contou que se mudou para aquelas redondezas recentemente. Só achei que deveria comentar que o vi — uma olhadela incisava para Justin —. E também aconteceu uma coisa estranha.... Um funcionário dos Cavanagh veio falar comigo.
— Além do Justin, você diz? — Ryan inquiriu, confuso. 
— É claro que não foi o Justin, se fosse, por qual motivo eu estaria contando? — Questionei a lógica de Ryan, impaciente. 
Ele levantou uma mão em rendição. 
— Era exatamente esse meu pensamento. 
Nós três o encaramos e eu dei uma risadinha do absurdo. 
— Não foi o Justin, Ryan. Foi um grandalhão de aparentemente 30 anos, olhos cinzentos, cabelos espetados.... — Descrevi na esperança de Justin identificá-lo. 
Ele pensou um pouco, então completou, atento:
— Kilian. 
— Kilian? — Ryan repetiu, zombeteiro — Com esse nome, ele não pode mesmo ser boa pessoa. 
Caitlin lhe deu um peteleco pela piadinha fora de hora e eu segurei o riso. Justin o ignorou, me instigando a continuar com um gesto do queixo. 
— Então, ele se apresentou como um membro dos Cavanagh e perguntou se algo estava me incomodando, Roger, particularmente. Depois que eu neguei, me mostrou a mesa que estava sentado caso precisasse de alguma coisa. Não foi nada tão estranho, a não ser o fato de ser sim estranho. Digo, eles nunca falaram comigo, nem se deixaram notar, então fiquei me perguntando o que motivou a mudança. Pode não ser nada também, mas... — estalei os dedos, pensativa. O cleck em sequência me fez lembrar de que isso engrossava as juntas, então parei. 
Justin alisou o queixo depilado, os olhos vidrados enquanto refletia. 
— Eu realmente pedi para que estivessem mais atentos, depois de sermos seguidos na segunda feira, mas... Não entendi o motivo da aproximação notável. 
— Você acha que isso pode significar alguma coisa? Tipo, eles estão querendo demonstrar que estão mesmo observando? Para te agradar ou deixar claro para quem quer que queira se aproximar? — Caitlin questionou, amarrando habilmente seu cabelo em um coque.
— Me agradar não. Eu posso ser um troféu nas mãos deles, mas ainda sou um Bieber, então não tão bem visto assim. 
Todos nos ocupamos de acordar os neurônios para as reflexões, olhando para o nada de modo a nos voltarmos para nós mesmos e chegarmos a conclusões de modo efetivo. Ryan bateu a mão na coxa de Caitlin após alguns segundos, quebrando o transe.
— Pode ser que não seja por algum motivo em especial. E mesmo que seja, provavelmente não é maléfico pra gente. Então, eu voto para escolhermos o filme agora. 
Acatamos a ideia com certa relutância antes de relaxarmos no programa atual. Por outro lado, Justin nunca estava relaxado, e eu o vi arquivar o assunto num canto da mente. Qualquer detalhe era suficiente para deixá-lo inquieto, e esse não seria diferente.
A pizza chegou quase ao mesmo tempo em que foi decidido o filme, Ryan adorava comédia de terror, o que pensando bem era exatamente sua cara, rir enquanto membros são mutilados, e não vimos muitos motivos para rebater. Zumbilândia, ele selecionou com um sorriso de empolgação sinistro, e foi totalmente inadequado misturar aquele tema com a refeição. Sangue, miolos e ferimentos graves não são visões que estimulam mastigar e engolir alimentos. 
Justin e Ryan não pareciam ter problema algum, enquanto Caitlin e eu perdemos totalmente o apetite. A parte boa foram as risadas tão genuínas e quase infantis de ambos. Agradeci Ryan mentalmente por ter decidido ficar e cogitei a possibilidade do mesmo ter adivinhado que Justin precisava daquilo. Ryan era seu amigo há anos e o conhecia tão bem quanto eu, então provavelmente identificara que havia alguma coisa de errado. 
Justin ainda estava com o ar risonho quando o filme acabou e os dois decidiram ir embora. Eu não fiz menção de aproveitar a deixa, e Justin também não mencionou o fato. Pelo contrário, quando a porta foi fechada, tomou minha mão e foi me puxando escada acima. 
— Faz algum tempinho que não treinamos juntos, o que acha? — Sugeriu, já abrindo a porta de sua sala de treino, muito semelhante àquela que tinha em Boston. 
Era mesmo a sua cara recorrer à violência ao invés de uma boa e velha conversa sobre sentimentos. Mas se aquela era sua porta, eu passaria pacientemente até chegarmos de volta ao ponto que paramos.
Subi no tatame depois de tirar meus sapatos, decidindo ficar de meia embora a casa tivesse o aquecedor em funcionamento. Ele ignorou a prateleira com os itens para um treino mais esportivo — aparador e luvas, por exemplo — e também passou reto pelo saco de pancadas. Usava uma calça moletom cinza e camiseta regata preta, então parecia pronto para o exercício. Eu estava em desvantagem, com uma calça leggin por baixo da calça jeans e minha blusa de manga longa rendada branca. Para ser mais justo, amarrei os cabelos com o elástico em meu bolso e tirei a calça jeans sob suas espiadas maliciosas. 
— Parece que nunca viu uma mulher tirar as calças, hein? — Comentei no impulso, envergonhada de ser observada. Quando me ouvi, me arrependi. Que escolha infeliz de palavras!
Ele ampliou o sorriso e passou a língua pelo lábio inferior. 
— Não tanto quanto eu gostaria, senhorita Evans.
Safado! Fechei a cara para ele, assaltada pela recordação de sua confissão das diversas mulheres que passaram pela sua vida — ou melhor, cama. Levantei o braço para lhe dar um tapa, o qual ele segurou com habilidade, fitando meus olhos com diversão. 
— Você esqueceu a primeira lição? Não parta para o ataque óbvio movida por fortes emoções.  
Fiz careta e tentei socar seu estômago, sem sucesso também, já que agarrou meu punho. Arqueou uma sobrancelha, "só isso, mesmo?". Impulsionei meus braços para trás, puxando-o na minha direção e levantei meu joelho par acertá-lo nas partes baixas sem dó — meu golpe preferido e um dos mais eficazes. Porém, quase sem perceber como havia feito aquilo, ele afastou o quadril a tempo e me girou de costas no mesmo movimento, cruzando meus braços sobre meu peito. Senti sua respiração em meu pescoço e na ponta da orelha e meus hormônios imediatamente se apresentaram muito prestativos em arrepiar a pele e gelar o estômago. 
— Quase bom, Faith, eu sei que você pode dar mais. — Falou em meu ouvido. 
Resisti ao impulso de me derreter em seus braços e clareei a mente. Levantei o joelho e mirei um chute no seu, deixei o pé na horizontal e o plantei a dois dedos acima, sem me preocupar muito se lesionaria seus ligamentos. Quando lutava contra ele, eu deveria fazer na força do ódio ou seria aniquilada. E, a bem da verdade, ódio era o que não faltava para ele e suas mulheres sem calças. 
Por estar com a perna esticada, ele se afastou e deu mais um passo para trás antes que eu pudesse chutar seu estômago. Em contrapartida, agarrou meu tornozelo no ar e o girou para baixo. 
Sujeita a lei da gravidade, eu perdi o equilíbrio e caí de costas no tatame, repentinamente sem ar. Arquejei para respirar e quando dei por mim, ele estava entre minhas pernas com a mão em meu pescoço. Apesar do choque de adrenalina iminente, senti meu tronco reclamar da dor do impacto. Justin inclinou a cabeça, crítico e convencido. 
— A única mulher que eu quero ver tirar as calças é você. — Enfatizou, espreitando meus quadris para demonstrar. 
Agradeci por já estar vermelha de esforço. Tirei proveito de sua distração, girei o quadril para o lado ao passo que tirava sua mão do meu pescoço e chutava sua barriga. Ele recuou mais por espontânea vontade ao perceber meu punho pronto para lhe socar a garganta, quase deitado no chão. Avancei sobre ele, sentando em cima de sua barriga e levando as duas mãos para seu próprio pescoço, muito satisfeita com meu desempenho. 
Ele sorriu, apreciando o desafio. 
— Você só se esqueceu de uma coisa, Angel. Se está com vantagem, permaneça nela — ele apertou minha barriga e eu a contraí, momento em que levou o braço para baixo da minha axila e levantou o tronco para o lado, girando-me de volta para o chão — e se afaste o mais rápido possível para pedir ajuda. 
Mais preparado dessa vez, ele segurou meus punhos acima da minha cabeça, seu aperto parecia uma barra de ferro, e eu me contorci feito uma minhoca para me libertar, já que dessa vez ele também decidira sentar em cima da minha barriga. Ele me observou lutar em silêncio, com aquele sorrisinho irritante na boca. Meus cabelos estavam desgranhados, eu sabia, vários fios acariciavam minha face em pura desordem e começavam a grudar na transpiração escapulindo por meus poros. Minha linda blusa de renda não deveria estar muito limpa e bonita agora, então eu provavelmente só estava pagando mico. 
Desisti por um momento, cansada e ele me encarou, descrente. 
— Desistiu? — Estalou a língua repetidas vezes, em som de desaprovação — Você precisa estar pronta, Faith. — O tom de seriedade espreitou sua expressão. 
— Pronta para o quê?
Ele quase voltou a sorrir de novo ao me ouvir ofegante e se inclinou para beijar a ponta do meu nariz. 
— Pronta. — Repetiu, descendo para mordiscar meu lábio. 
Tentei me libertar outra vez e assim ele permitiu, rolei por cima dele e segurei seu rosto com as duas mãos, firmando sua atenção inteira em mim. 
— Você precisa estar pronto, Justin. Porque eu vou lutar por você até não ter mais forças para nada. É uma promessa. Eu sei quem você é e o que você pode ser, e vou te mostrar isso. 
E sem lhe dar tempo de reagir, me abaixei para beijá-lo. Sua mão na base das minhas costas me puxando para baixo a fim de unir nosso corpo reforçou minhas palavras. Se fosse para afundar, afundaríamos juntos. 

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