Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

sábado, 20 de junho de 2020

One Time 9

— ... então por isso concluímos que a provável patologia que acomete o entrevistado é Transtorno bipolar com ansiedade — concluí com um gesto derradeiro.
— Muito bem, meninas, suponho que tenham aconselhado a procura de um profissional para investigar e tratar o caso... ? — Sr. Wright nos olhou por cima dos óculos, a preocupação inevitável de um profissional da área evidente.
Ava e eu trocamos um breve olhar.
— Claro. — Eu respondi.
Ryan praticamente se gabou do diagnóstico inexperiente e achou muito engraçada a minha sugestão de consultar um médico. Na verdade, riu até chorar, literalmente.
— Você é hilária, Faith — deu tapinhas em meu ombro.
Eu pensei em conversar com a Caitlin para que ela o convencesse, mas ainda não tivera oportunidade. 
— Parabéns, então — o professor puxou as palmas, nos dispensando do encargo de encarar em pé a turma.
Respirei aliviada, sentindo um peso ser tirado dos meus ombros como sempre acontecia depois de apresentações de trabalho. Eu admito que me desenvolvo bem na hora de falar, mas a pressão e a falta de confiança em minha capacidade de memorização me deixa de mãos geladas.
Mal havíamos nos sentado e o Sr. Wright já dispensava a turma. Éramos a última dupla do último período, então meus colegas mal conseguiam manter a atenção por mais de alguns segundos, o que me ajudou muito e ao mesmo tempo me irritou — já que se sou obrigada a falar eles deveriam ouvir —, o fim das aulas na sexta feira trazia a bem vinda névoa de júbilo.
— Então, tem esse barzinho novo em frente ao High Park e Ethan me chamou para ir.
Fiquei satisfeita que Lucas ainda não tivesse se juntado a nós.
— Que ótimo, aposto que se divertirão bastante. — As coisas entre os dois parecia cada vez melhores, para a desgraça de Lucas.
— Sim, mas, ele pediu para estender o convite. É a inauguração e o estabelecimento é de um amigo dele, então quanto mais gente, melhor. Você aceita?
Cocei a cabeça, pensando em uma maneira educada de recusar a oferta. Eu planejava passar a noite com Justin, e depois de presenciar sua crise na quarta feira, achava bom ficarmos mais a vontade possível juntos — ou seja, sozinhos em casa.
— Não faça essa cara! Me dê uma força, eu não sei o que será de mim sozinha no meio dos amigos dele. Você sabe, é a primeira vez. — Apressou-me em me convencer.
— Bem, Ava...
— E eu não sei se consigo convencer o Lucas — olhou para os lados antes de cochichar —, ele anda bem estranho e já deixou claro o que pensa de Ethan.
— Hmmm... — Cega.
Estávamos passando pela porta, eu podia ver Lucas se dirigindo para mesma enquanto conversava com Taylor, nosso colega de pele acobreada e dentes pequenos, enquanto Ethan ainda estava sentado na última fileira em uma rodinha, provavelmente espalhando o convite.
— Você deve convidar seu namorado. E se quiser o... — hesitou — Ryan.
Tive que segurar o riso. A menção de Ryan fora pura educação, percebi. Ela não parecia muito confortável com a ideia de dividir a mesa com um provável psicótico.
— Ei, Lucas! Por favor? — Ela piscou amavelmente quando ele nos alcançou, o que o deixou de imediato desconfiado.
— Por favor o quê? — Disparou os olhos para mim, buscando uma pista.
— Vamos num barzinho agora a noite?
— Vamos quem? — Olhadela fugaz em direção à Ethan que começava a se levantar.
Os ombros de Ava arriaram um pouco.
— Bem, eu, você, Faith... acho que o Justin... Ethan...
— Hm, bom, tenho outros planos para hoje a noite.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Tipo o quê? Jogar Call of duty?
Lucas admitia sua paixão por jogos abertamente, era sua coisa preferida para fazer. Ele não tinha uma vida social muito agitada.
— Prioridades — piscou pra ela.
— Qual é, Lucas, vai ser legal. É inauguração, o dono precisa daquela moral. Diga a ele, Faith.
Levantei as mãos, impotente. Eu mesma não estava querendo ir.
— De quem é o bar? — Ele perguntou com curiosidade. Ava não era tão caridosa assim a ponto de sair apoiando todos os comerciantes locais no começo dos negócios tão ativamente.
— Um amigo — descartou a questão, abanando a mão. Sabiamente, pensou que especificar de quem era o amigo não ajudaria em nada.
— Então vocês vão, hein? Será bem divertido mesmo. — Ethan brotou na conversa, passando o braço naturalmente sobre os ombros de Ava — que corou na mesma hora — Fico devendo essa para vocês.
Eu e Lucas nos entreolhamos, decidindo quem protestaria primeiro. Ethan foi mais rápido.
— Nos encontramos aqui na frente daqui uma hora e meia, combinado? — Beijou a bochecha de Ava e correu para alcançar Seth.
Ava deu de ombros, as bochechas muito rosadas.
— Vocês tem que vir comigo. Querem que eu me ajoelhe? — Suplicou, e o desespero no fundo de seus olhos me fez perceber que falava sério.
Contive um suspiro, olhei para a carranca de Lucas e assenti.
— O que você não pede sorrindo que não fazemos chorando?
Seu rosto se iluminou e ela entrelaçou um braço no meu e o outro no Lucas.
— Por isso eu amo vocês.
Lucas me lançou um olhar questionador. Mas, talvez, fosse bom para ele, deveria aceitar de uma vez que Ava era um caso perdido e se entregar a novas experiências com novas pessoas. Um barzinho com universitários podia ser o lugar perfeito. Ficar em casa se lamentando não adiantaria muita coisa. 
Quanto ao Justin... também podia ser benéfico fazer com que saísse um pouco e se distraísse de todas as nossa preocupações. Interagir com gente de fora, adentrar as frivolidades do ambiente jovem.
E claro, Ava parecia mesmo precisar de mim, eu não poderia abandoná-la daquele jeito.
— Faith? — Fiquei extremamente surpresa quando Justin me atendeu no primeiro toque, sua voz atenciosa ecoando do som do meu carro.
Dei a ré no estacionamento da faculdade, seguindo para a fila de carros em direção à saída.
— J, oi... ér, onde você está? — Falei com o máximo de doçura possível. Convencê-lo pessoalmente já era um parto, por ligação, quase impossível.
— Está tudo bem? — Questionou com cautela, ignorando minha pergunta.
— Bom, veja, preciso de você — comecei, hesitante.
— Onde você está, Faith? — Ele assumiu aquele tom de voz firme e meticulosamente concentrado, pronto para correr ao meu socorro.
Pensei em tranquilizá-lo imediatamente, mas deixá-lo no suspense poderia mesmo ser benéfico para mim.
— Estou saindo da faculdade agora. Pode me encontrar na casa da sua mãe?
Ouvi alguns ruídos do outro lado da linha e uma porta sendo fechada.
— Estou indo. — Assegurou-me, sério e ao mesmo tempo tranquilizador.
Mesmo que não estivesse em perigo, senti-me absolutamente segura, um calorzinho agradável no peito.
Mordi o lábio, contendo um riso histérico, ele me mataria. Quer dizer, no sentido figurado da palavra, eu esperava. A culpa não era inteiramente minha, de fato. Eu só havia dito que precisava dele, e era verdade. Precisava que me acompanhasse essa noite. Se ele assumiu a questão em outros termos, era sua responsabilidade.
Repeti a mesma coisa para mim mesma durante o caminho, e não fiquei bem surpresa quando cheguei e percebi que seu carro já estava estacionado em frente à casa. Justin dirigia feito louco, principalmente se estivesse com pressa. Desci do carro tentando controlar minha cara de culpada, mas assim que ele desceu ao meu encontro transmutou a ansiedade para a suspeita. Joguei-me em seus braços e lhe dei um selinho rápido, esperando amansar a fera.
— Preciso de você essa noite.
— Sim, estou aqui. O que houve? Você tomou algum passo impensado? Esqueceu de me contar alguma coisa?
— Não exatamente — aceitar o pedido de Ava poderia ser considerado um passo impensado, talvez —, nós precisamos ir a um lugar.
— Aonde? — Estreitou os olhos.
— Você se lembra de Ava, certo? Ela precisa de um apoio hoje, num estabelecimento. Eu prometi que ia, vamos nos encontrar daqui a uma hora mais ou menos. E, bem, você vai comigo. — Pensei que seria melhor não lhe dar uma escolha.
Ele arqueou a sobrancelha, me encarando incrédulo, um sentimento reservado na sua íris que não consegui identificar.
— Faith...
— Justin, você disse que estava aqui por mim, e é isso que preciso que faça. Então, você quer tomar um banho antes de irmos ou está pronto? Eu mesma preciso de um banho. E para não fugir de mim, vai tomar banho no seu quarto aqui, se quiser um.
Justin me censurou de olhos apertados.
— Desde quando você é tão autoritária assim?
Peguei sua mão e fui puxando em direção à porta da casa.
— Só você pode? Direitos iguais.
Ele resmungou alguma coisa e eu fingi não ouvir, me sentindo bem triunfante com a falta de sua resistência implacável. Se ele resolvesse ser teimoso, nenhum show que eu desse poderia convencê-lo de me acompanhar. Respirei aliviada pelo êxito do meu plano patético — não tanto assim porque ainda esperava o surto de negação. 
Não encontramos ninguém no início da casa, mas os sons denunciaram a presença das crianças com Bruce na sala de jogos. Alvos de gritinhos felizes e sorrisos sedutores, fomos convencidos a jogar algumas partidas de pebolim, Jazzy e eu contra Justin e Jaxon e eu fiquei muito tentada a cancelar nossos planos ao ver o brilho leve nos meus olhos caramelos preferidos. Mas o desespero de Ava estava bem fresco em minha memória.
— J, vou subir para tomar um banho, não acho que você precise, fique mais um pouco aqui com eles. — Sugeri. Ele exalava seu aroma penetrante de colônia, como sempre, e estava magnífico na calça social clássica e camisa vinho slim sem a gravata, os dois primeiros botões desabotoados lhe davam um ar despojado de tirar o fôlego — eu esperava que seu casaco estivesse no carro, além de ser um atentado a minha saúde mental, era à sua saúde física.
Ele concordou e eu acelerei o passo ao perceber que só tinha quarenta minutos para chegar ao ponto de encontro. O frio de novembro estava cada vez pior, então selecionei meus trajes de inverno, os primeiros que encontrei, e tomei um banho quase negligente. Descobri que eu estava animada com a programação, se eu não estava enganada, aquela era a primeira vez que Justin sairia comigo e meus amigos na faculdade. Para ser sincera, além de Ryan e Caitlin, Hanna e Caleb, não saíamos para socializar com mais ninguém juntos. Não percebi que aquilo seria tão importante para mim.
Cheguei à sala de jogos faltando vinte minutos para o horário combinado. Agora os três jogavam guitar hero, Justin assumia a guitarra, Jaxon a bateria e Jazzy o microfone, Bruce assistia de braços cruzados e sorriso no rosto. Justin me viu pela visão periférica e interrompeu o jogo no mesmo instante. Houveram diversos protestos, mas ele prometeu que retornaria no dia seguinte para continuarem. Bruce e eu o fitamos a fim de identificar a veracidade da afirmação.
— Agora você poder me dizer do que se trata e quem estará lá? — Ele questionou assim que fechamos a porta do carro ao mesmo tempo.
— Ava, Ethan, eu espero que Lucas, e uma galera da faculdade. É um barzinho em inauguração de um amigo de Ethan. Vamos nos encontrar com eles na frente da faculdade.
— Hmm.... E por quê preciso estar presente? — Ele parecia mesmo intrigado, na verdade, levemente reprovava, que fosse solicitado para o evento.
— Bom, você é meu namorado, não meu guarda costas, então é meio compreensível que eu queira que esteja comigo. — Diversas vezes eu tinha mais impressão de que era um dos seguranças contratados por Bryan, oscilando em suas posturas comigo. E eu não planejava deixar as coisas afundarem daquela forma.
Ele não rebateu, franzindo o cenho enquanto encarava a estrada.
— E como foi seu dia hoje? — Puxei o assunto, sabendo que ele não faria muita coisa para matar o silêncio.
— Hm, o mesmo de sempre. E o seu?
— Apresentei o trabalho de psicopatologia hoje. O professor quis saber se recomendei Ryan a procurar um médico. Eu tentei, mas ele não me escuta. — Dei de ombros.
O canto do seu lábio se ergueu minimamente.
— Eu imagino que não. Ele está bem, de qualquer forma.
Justin tinha a mesma opinião de Ryan em procurar um médico, eles não confiavam muito em hospitais e consultórios, mesmo naqueles que eram "conveniados" com as Companhias. Na verdade, não confiavam em praticamente ninguém. Seria muito benéfico que eu me especializasse na profissão para poder cuidar dos dois cabeças duras. E ainda assim sentia que teria dificuldade, já que as antas eram mais irredutíveis do que portas.
— Vocês dois são muito teimosos. — Me queixei.
Já estávamos em frente à faculdade, alguns carros se acumulavam no meio fio, alguns jovens se equilibravam em pé nas portas para conversar uns com os outros aos gritos e risos, a atmosfera preenchida pela descontração. Eu não podia ver o carro de Lucas e Ava, mas até onde eu sabia Ava devia estar no carro de Ethan, já mais para frente. Liguei para Lucas, a fim de usar meu tom autoritário.
— Oi, Faith. — Atendeu desanimado.
— Onde você está? — Perguntei, risonha.
— Oi, Faith! — Ouvi a voz vibrante de Ava ao fundo.
— Ava te fez buscá-la para garantir que fosse, não é?
Ela não costumava ser tão obstinada assim, devia estar bem aflita.
 Sim, daqui alguns minutos estaremos na faculdade. Você já chegou?
No fundo eu sabia que ele estava se sentindo muito por ela ter escolhido pegar carona com ele do que com Ethan, pelo menos começaria a noite bem.
— Sim, até daqui a pouco então.
— Isso não vai dar muito certo. — Justin comentou depois que desliguei o telefone, olhando distraído para fora.
— O quê?
— Vai ser uma noite bem dramática para o seu amigo. Provavelmente eu não serei muito útil ali.
— Pelo contrário, você pode dar alguns conselhos para ele, sobre como seguir em frente, ser desapegado, essas coisas. Você é ótimo nisso.
Ele disparou os olhos para mim, cético.
— Isso é algum tipo de acusação? Por que estou te sentindo tão inquisidora essa noite?
— Porque você está devendo, vou te manter na linha.
Justin soltou uma risadinha, balançando a cabeça.
— Você é absurda às vezes.
Eu me sentia realizada quando ele ria, e dessa vez não foi diferente. Justin estava mais leve e suscetível hoje, eu não sabia o motivo, mas aproveitaria o máximo.
A meia dúzia de carros seguiu em procissão logo em seguida, o carro de Lucas bem atrás de nós e eu liguei o rádio para lotar o ambiente o máximo possível da exultação do lazer. Escolhi uma rádio Pop, como a pessoa eclética que era e notei a careta que ele fez. Eu ri.
— Não seja tão julgador, não gosta de The script? — Fiz um microfone com a mão e cantei inclinada na direção dele:
— Como entramos nessa confusão, é um teste de Deus
Alguém nos ajude porque estamos fazendo de tudo
Tentando fazer dar certo
Mas, cara, estes tempos estão difíceis
— Muito melodramático. — Desdenhou, mas sua expressão estava meio peculiar. Ele me olhou de rabo de olho e deu um sorrisinho — Mas você é afinada.
Dei um tapinha em seu braço e continuei. 
— Estamos sorrindo, mas estamos prestes a chorar 
Mesmo depois de todos esses anos...
— Está ótimo já. — Ele mudou de rádio. 
— Ei!
— Através da hora mais escura
 Sua graça não brilhou sobre mim
 Sinto bastante frio, muito frio
 Ninguém se importa comigo
Ele cantou Megadeath, fechando os olhos por segundos para enfatizar. Embora eu adorasse o som de sua voz e particularmente também fosse fã de Rock, ele estava em um período bem sensível para ouvir coisas como aquela letra. Apertei os olhos para ele. 
— Aham, e o Pop que é melodramático, né?
O canto da sua boca se contraiu, contendo um sorrisinho.
Mas fiquei realmente saturada com o outro verso:
— As coisas estarão melhores quando eu estiver morto
 Não tente entender, conhecendo você, eu provavelmente estou errado
— Tá bom, já chega. — Mudei de volta para a outra estação. 
Recebi um olhar zangado, mas era minha vez de cantar, estava no final de For the first time, bem conveniente:
— Oh, esses tempos estão difíceis 
Yeah, eles estão nos deixando malucos 
Não desista de mim, amor
Ele moveu a cabeça só para atestar que estava ouvindo minha serenata, a expressão complacente resignada enquanto estacionava no meio fio. Havíamos chegado. Expulsei a inquietação por ele não ter me olhado nos olhos para afirmar que "imagine, Faith, eu nunca desistiria de você", aliás, era só uma música.
Ava e Lucas vieram de imediato para o nosso lado quando desceram do carro, ambos retraídos pela presença de Justin. Ele devia mesmo começar a socializar com meus amigos. Depois dos cumprimentos todos ficaram em silêncio, eu teria que ser a cola. Pensei em um assunto para jogar na roda, mas antes que abrisse a boca para comentar sobre o tempo, Ethan acenou a dois metros de nós. 
— Cara, é um prazer te ter aqui. — Ele estendeu a mão para Justin, totalmente a vontade.
Justin deu um sorriso contido cortês. 
— Igualmente, Ethan. 
Ethan olhou pra mim, levemente surpreso pela familiaridade de seu interlocutor com o nome e eu levantei um ombro de indiferença. Justin prestava muita atenção em tudo e todos que nos rondavam, sempre compelido a estar um passo a frente. 
— Então, vamos lá. — Colocou o braço em volta da cintura de Ava, de modo que Lucas se recolheu para o meu lado instintivamente. 
Contive um suspiro e seguimos para o estabelecimento com paredes de tijolos artesanais. A fachada apresentava uma placa preta retangular, luzes de neon vermelha anunciavam o: BarView, a placa grande no cavalete lembrava em letras garrafais: INAUGURAÇÃO. O ambiente lá dentro se iluminava a meia luz, as paredes rústicas cobertas por discos de vinil e prateleiras cheias de frascos de bebidas alcoólicas. Mesas redondas e pequenas se espalhavam com bancos altos todos revestidos de madeira, nos cantos sofás esparsos pretos prometiam maior comodidade, os quais já estavam em grande parte ocupados. 
De frente para a porta, no fundo do estabelecimento, depois do balcão de bar, estava um palco de tamanho razoável, no momento, um cara barbudo de óculos escuros, guitarra na mão, solava The Jack - Ac Dc. A cabeça de Justin balançou no ritmo, e eu praticamente senti seu humor melhorar em 100%. Nós trocamos um olhar de aprovação quando o cidadão começou a cantar em sua voz rasgante e manhosa. 
— Ethan! — Um homem de ombros largos, rabo de cavalo nas madeixas lisas, calças justas e jaqueta de couro se aproximou do amigo, o sorriso orgulhoso no rosto não deixava dúvidas de que era o dono do lugar. 
Eles deram um aperto de mão ruidoso e tapinhas nas costas naquele cumprimento masculino de empolgação. Depois seus olhos brilharam para a turba que Ethan trazia. Em media uma dúzia de pessoas. Lucas poderia enumerar diversas razões pelas quais não gostava de Ethan, mas nunca poderia dizer que ele não era um bom amigo. 
— Nossa, cara, valeu! Sejam bem vindos, se acomodem! 
As pessoas já se esgueiravam para a mesa, com ruídos de contentamento. 
— Essa é sua namorada? — O amigo de Ethan olhou para Ava com curiosidade e simpatia. 
Ainda que a pouca luz, eu podia ver Ava se tornar um pimentão ao passo que Lucas fechou mais a cara. 
— Ava. — Ethan se limitou a dizer, colocando uma mão nas costas dela como um incentivo para cumprimentá-lo.
Em seguida, o homem nos conduziu ao sofá mais perto do palco. Seth e Liam vieram junto, como bons seguidores de Ethan, e eu fiquei agradecida por Lucas não ser o único sem companhia romântica. Ele se sentou no canto do sofá, ao meu lado, Ava estava do outro lado da mesa redonda baixa no sofá em meia lua, entre Ethan e Seth. Justin parecia um pouco incomodado por estar espremido entre mim e Ethan, ele gostava de bastante espaço. Coloquei a mão em seu joelho e lhe dei um sorriso incentivador. 
Logo uma garçonete esteriotipada baixou um balde cheio de gelo e bebidas diversas dentro, afirmando que era cortesia do "Sr. Rickman", a mesa reagiu a uivos. Justin prontamente solicitou uma porção de batata frita e eu lhe dei um beijo na bochecha de agradecimento. 
— Ah, ele pediu para avisar também que quer Ethan no palco assim que possível para cantar Another Brick In the Wall ou ele vai vir te buscar. — Ela piscou para Ethan e ele revirou os olhos para a provocação do amigo. 
Vi Ava contrair a mandíbula de leve e escondi o sorriso passando a mão disfarçadamente no queixo. 
— Claro que ele canta. — Lucas resmungou tão baixinho ao meu lado que eu não tive certeza se estava inventando aquilo. 
— E quem mais quiser também pode ser aventurar na experiência. — A garçonete ofereceu com um aceno de cabeça sugestivo para o palco antes de se retirar. 
Lancei para Justin meu olhar pidoncho e de imediato as palavras saltaram em sua testa: Nem pensar. Mas eu sabia mesmo ser impertinente — ali estava ele como prova viva disto —, e encheria seu saco até arrastar seu talento ao palco e deixar todos de queixo caído.
Justin pegou duas latas de Canada dry, a bebida tônica a base de gengibre e me passou uma, em seguida, gesticulou com os olhos e sobrancelhas para Lucas. Meu amigo estava definitivamente amuado, o rosto todo virado para o barbudo que entoava mais um canto de Ac Dc
— Me ajuda. — Falei sem emitir som, esperando que ele lesse meus lábios. 
Depois de franzir os lábios em resistência, ele pegou outra latinha e estendeu na direção do carrancudo. Lucas pareceu surpreso com a oferta, mas não recusou. 
— E então, você gosta de Ac Dc?
Se antes ele parecia surpreso, quase gaguejou com a novidade da interação. 
— Ah, sim, eles são um clássico. 
Justin tomou um gole da bebida antes de prosseguir o assunto, passou um braço em volta dos meus ombros e se inclinou sobre mim para não ter que gritar tanto. Tenho que confessar que fiquei ligeiramente sem ar, sua perfeição estampada bem ali na minha cara, tive que me conter severamente para não segurar seu queixo e virar em direção a mim, momento em que encostaria minha boca na sua e... 
— E você toca algum instrumento?
Expirei, eu não podia ficar pensando aquelas coisas ou perderia o controle. Mas ele tinha um perfume tão bom...
— Ah, não. Sempre quis, mas não tive muita paciência e tempo. Você toca?
— Um pouco. — Justin respondeu com modéstia. 
Fazia algum tempo que ele não me agraciava com seu dom, eu estava sedenta para vê-lo interagir ativamente com a música de novo. 
— Você não acha que ele deveria se apresentar lá em cima? — Perguntei para Lucas, buscando um pouco de apoio. 
— Ah, com certeza! Eu gostaria de ver isso. — Embora mais motivado por educação e lealdade a mim, havia um pouco de curiosidade em sua voz. 
Justin fez uma careta para mim enquanto lambia o lábio inferior para resgatar alguma gota da tônica, imaginei, mas meus batimentos cardíacos sofreram um ataque muito injusto por isso. 
— Vamos garantir que ele seja o primeiro então. — Dei uma piscadela para meu deus grego e bebi o refrigerante, precisando me refrescar. 
A fim de nos distrair da ideia, Justin resgatou o assunto, disparando bandas de rock para Lucas e comparando seus gostos. Descobrimos que ele já havia visto um show do Metallica ao vivo e sonhava em ver um do Megadeath. Seguimos destrinchando letras, álbuns e os integrantes conforme os minutos avançavam, Lucas foi o próximo a fornecer a bebida, nos passando uma rodada de Molson Canadian, a cerveja canadense "oficial". Naquele tempo morando no país, descobri que os canadenses eram tão patriotas quando os estadunidenses. 
Pelo rabo de olho investiguei o desempenho de Ava com o grupinho que ela tanto temia, mas se saía muito bem na interação, Ethan não a deixava de fora e soube introduzi-la nas conversas. Quando a batata frita chegou e todos se concentraram mais na mesa de centro, viramos uma grande roda de conversa sobre trivialidades, rindo sobre uma piada muito idiota que Seth contara e repreendendo Liam com caretas enojadas por sua descrição minuciosa da vez que derrubou cerveja no chão, escorregou no líquido e acabou rasgando o ânus — sangrou copiosamente e levou diversos pontos. 
As conversas também eram gritadas de uma mesa para a outra enquanto outras pessoas se embalavam nas canções concomitantemente. Uma confusão de profundo deleite. Quando dei por mim, Lucas estava em outra rodinha, em uma conversa muito animada com Taylor e Ava passeava com Ethan pelo recinto conforme os assuntos surgiam entre os colegas. Liam, já um pouco passado no álcool, contava para Justin suas melhores visitas ao hospital enquanto eu acariciava diligentemente a nuca deste. Observei satisfeita suas bochechas coradas de riso e bebida, contente comigo mesma pela minha ideia brilhante. Parecia insano que ele estivesse ali, desfrutando do mesmo ambiente despreocupado dos meus colegas, embora se destacasse visivelmente deles pela postura sempre ereta demais que demonstrava extrema responsabilidade e experiência, além de um fascínio sobrenatural em seus olhos misteriosos. Aos poucos, contudo, eu via suas amarras de seriedade se dissipando para dar lugar àquela áurea tranquila e divertida que ele tinha raras vezes — principalmente ultimamente — e eu tanto amava. Seus risos fáceis eram os mais sinceros e lindos, um tanto ingênuos e maliciosos. 
Então quando o cantor barbudo anunciou que precisava molhar a garganta e pediu um substituto, Ethan estava no banheiro. Dei um salto, acenei freneticamente e o denunciei:
— Ele canta também!
Lucas emitiu um urro de concordância e logo nossos convivas incentivavam com murmúrios. Justin me fuzilou com os olhos, mas não resistiu ao meu puxão até que estivesse no palco. Eu mal acreditei quando ele passou a correia da guitarra pelos ombros, contentíssima com o show iminente. Aquela noite parecia mais um delírio coletivo. Ele franziu a testa de concentração e por um momento senti um frio na barriga imaginando que ele começaria a cantar Master of Puppets
Na verdade, ele começou com um solo lento que logo identifiquei como Nothing Else Matters - Metallica. Dessa eu gostava mais. Fiquei parada na frente do palco abobada vendo a expressão compenetrada e os dedos ágeis pressionando as cordas, seu corpo se movimentando ligeiramente de acordo com a melodia, como se fizesse parte dela. E quando o maldito abriu a boca para cantar, seu público foi a loucura, e eu literalmente me derreti com a tonalidade rouca e pegajosa. Ele viu isso e me deu uma piscadela. Tive que buscar meu coração no chão. 
— Para sempre confiando em quem nós somos
 E nada mais importa
 Eu nunca me abri deste jeito
 A vida é nossa, nós a vivemos do nosso jeito
Eu definitivamente preferia que ele cantasse aquela. Quase me assustei quando Ava apareceu de repente em meu cotovelo. 
— Uau, Faith, você nunca me disse que ele era um cantor. — Falou alto em meu ouvido. 
Não consegui desviar os olhos do meu guitarrista reluzente, mas fiz meu melhor para responder:
— Não há nada que esse homem não possa fazer. 
Ela deu uma risadinha do meu delírio. 
— Ah sim, aposto que nossas coleguinhas concordam. 
Seu tom de voz me alertou e a imitei na varredura a nossa volta. Realmente, praticamente todo o sexo feminino se concentrava muito compenetradamente no palco, trocando risinhos luxuriantes umas com as outras. 
De repente não achei mais minha ideia recente tão genial. É claro, nenhuma delas era cega, eu deveria ter imaginado. 
— Relaxa, ele só tem olhos para você. 
Mas quando voltamos nossa direção para o palco ele estava encarando fixamente um ponto acima do meu ombro. Segui seu olhar já elaborando uma carranca furiosa quando localizei Roger numa das mesas do fundo, sorrindo despreocupadamente, desavisado, com incentivo para minha arma mortal particular.

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