Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

One Love 18

Eu não sabia quanto tempo havia se passado. Horas? Minutos? Segundos? Minha sensação de ser era a mesma da transição brusca de um sonho para a consciência quando temos a impressão de estar caindo de um precipício. Aquele precipício em especial terminava num grande e adocicado pote de mel. De fato, eu não me importava nem um pouco de afogar ali.
Não o experimentava mais limitadamente com a visão. Agraciada pela concessão da audição, os sentidos restantes foram aguçados. O tato me permitia aperceber sua pele escondida por camadas de roupa, seu joelho encontrava o meu, bem como uma parte da coxa e da barriga; enquanto a manobra de me prender pelos pulsos proporcionava o choque dos nossos braços. O paladar e o olfato se fundamentavam em minhas memórias; na brisa leve daquela tarde misturava-se a essência que ele sempre usara; e na ponta da minha língua se concentrava o gosto de menta fresca que a maioria dos seus beijos tinha —  Justin sempre levava Altoids no carro.
— Justin? — Caitlin gaguejou, o som de sua voz se limitava a um sussurro desagradável.
Uma tempestade de gelo me envolveu e eu parei de respirar. Por que Caitlin pronunciava seu nome naquele momento e com tanto assombro? Fiquei com medo de perguntar. Aquele voo me levara alto demais, cair para a realidade agora podia ser fatal.
Não pergunte, não pergunte, não pergunte....
— Você também o vê?
A idealização de Justin travou o maxilar, um ato que me afundou um pouco mais na nostalgia. Aquela era a sua mania ao se deparar com algo que ele não podia controlar, um problema além de suas habilidades. Geralmente, eu e minha carga de emoções caótica.
— Como que...? Você está... Bem? —  Caitlin questionou perturbada para ele, me ignorando.
— Sei que precisamos conversar, mas podemos adiar um pouco? Precisamos sair daqui.
Sim, aquela definitivamente era a voz de Justin. A pressão da atmosfera se concentrou toda no campo.
Na ausência de resposta por ambas as partes, ele incentivou outra vez:
— Temos que ir, não sabemos se Maya trabalha sozinha. Da mesma forma, ela é alvo de George, ele pode ter mandado alguém atrás dela.
O nó em minha cabeça se apertou mais um pouco. Annelise não estava do lado de George? E o homem à minha frente não estava do lado de Annelise?
— Onde Maya está? — ele indagou, sua ansiedade era contida por um receio que o fazia me estudar.
— Amarrei numa árvore — Caitlin respondeu no automático, finalmente conquistando a atenção dos olhos hipnotizantes. Um sorriso cômico pequeno puxou seu lábio para a esquerda.
— Você da conta dela? Leve-a para a cabana. Rafael está desmaiado por aí, pode encontrá-lo e levá-lo para a casa dele?
Cabana? Ele se referia à cabana de Ryan? Como poderia saber disso? Se Annelise também sabia da cabana, estávamos perdidos.
Caitlin não respondeu. Ele continuou:
— Eu levo Faith de volta. Ryan nos encontrará lá.
Tive vontade de bater minha cabeça no chão repetidas vezes, aquela ficção já estava confusa demais para o meu gosto. Quanto mais eu ficasse naquela fantasia, maiores seriam minhas sequelas se saísse.
Coragem, Faith. Diga.
— Quem é você?
Ele apertou a boca numa linha fina, sinal de que não me diria nada do que eu queria saber.
— Vamos, por favor? — a persuasão transbordou de seu olhar, um dom especifico de Justin.
Eu não queria brinca mais. Funcione cérebro. Agora.
— Você... Só pode estar delirando se pensa que vou deixá-la sozinha com você — Caitlin rebateu, uma pitada de raiva se diluiu em seu choque.
— Você sabe que eu não faria nada para machucá-la — o falso Justin afirmou, aparentemente ofendido com a desconfiança.
— Sei? É exatamente o que está fazendo agora.
A expressão dele endureceu, escondendo qualquer resquício de emoção.
— O que importa agora é a segurança dela. Sei que devo explicações, mas me deixe tirá-la daqui primeiro.
— Se você não tirar suas mãos de formol daí eu vou acertar isso na sua cabeça decomposta.
— Caitlin, eu sei que está com raiva, e tem direito, mas, podemos elencar prioridades?
— Acho que você não entendeu direito. Eu vou abrir seu cérebro em dois se não se afastar agora.
Vagamente, tive noção de que deveria me pronunciar, era sobre mim que estavam falando, decidindo como se eu fosse uma criança de cinco anos.
Minha ilusão se fixou em meu rosto com cautela, soltou meu pulso e fez menção de dar um passo para trás. Com um reflexo, fechei minha mão em torno de seu macacão na direção do peito, impedindo que fosse para longe de mim. Eu deveria saber, não tinha força suficiente para mandá-lo embora, por mais que tivesse consciência do que era mais saudável para mim.
— Faith? — Caitlin indagou —  Vamos embora.
Titubeei antes de colocar em palavras, adiando a concretização daquele deslize.
— É minha decisão. Eu vou com ele.
A voz no fundo da minha mente me desafiou: Isso é coragem de enfrentar uma incógnita mental ou covardia de não se desfazer de uma projeção de Justin?
— Nós não sabemos o que ele quer, nem quem ele é — ela argumentou, evidentemente perturbada.
Notei a surpresa melancólica atravessar o rosto da minha projeção perfeita segundos antes que ele a escondesse dali.
— É isso que vou descobrir.
Caitlin arfou.
— Olha pra mim!
Como eu poderia explicar à Caitlin que não podia desviar meus olhos dele? Tinha a impressão de que nem mesmo uma bomba conseguiria roubar minha atenção. Annelise devia estar usando feitiçaria para me atrair. E se isto fosse, eu apenas tinha a opção de lhe parabenizar, além de secretamente lhe agradecer por aquela visão. 
— Desculpa, Cait.
Fiz um sinal positivo com a cabeça para ele, um incentivo para que me levasse, ou um atestado de óbito para mim mesma. Ele me levaria de volta à Annelise, mas a única coisa que eu enxergava era o homem que me virou de cabeça para baixo desde que o vi pela primeira vez.
— Nos vemos daqui a pouco —  ele disse à Caitlin, tirando delicadamente o enrosco que eu havia feito em sua roupa.
Despreparada para o efeito que teria sua mão na minha, desfrutei da corrente elétrica que passou pelas terminações nervosas da ponta dos meus dedos até o restante do corpo, dando solavancos em meu coração. O fato se consolidara, depois daquele dia, eu teria que ser internada num manicômio.
Entornei meus dedos em sua palma, de qualquer maneira eu precisava de ajuda para caminhar. Então, com uma olhada significativa para mim, ele seguiu o caminho, deixando Caitlin para trás. A tontura me acompanhou durante a pequena caminhada, fissurada em seu rosto, tropecei incontáveis vezes. Acrescente a isso meus olhos embaçados e teremos uma completa desvairada ambulante. Se eu tivesse ingerido alguma gota de álcool aquele dia, juraria estar bêbada. 
Aquele Justin, por outro lado, não colocou os olhos em mim, e mesmo assim eu diria que estava me observando. Ele me firmou sem nada dizer todas as vezes em que quase caí no chão, os músculos do rosto tensos. Não consegui combinar as letras para expressar alguma coisa em palavras, altamente concentrada em não tocar seu rosto. Primeiro, eu precisava conter o caos dentro de mim para depois pensar em fazer alguma coisa. 
— Viu? Eu disse que seria mais fácil se contasse à ela — cedo demais, ouvi a voz vitoriosa de Annelise.
Minha projeção lhe lançou um olhar violento.
Espera... O quê?
— Podemos ir agora ou vocês querem discutir a relação primeiro? Sei que tem muito a ser dito.
Quis lhe explicar que eu não tinha nenhuma relação para discutir com um estranho representando meu sonho mais vívido, porém, Annelise não valia o esforço. E até onde eu sabia, não era psicóloga também.
— Ok, vamos indo.
Ela tomou a frente outra vez, nos guiando pelas árvores até que chegássemos à cerca que nos separava da estrada.
Pelo amor de Deus, até o jeito de caminhar se assemelhava. Meticulosamente ereto, mostrava-se superior ao que quer que fosse. Nada lhe colocava medo. E só estava mais lento para acompanhar meu ritmo inconstante. 
Com certa destreza, Annelise levantou o arame, mostrando o corte em forma de U invertido no material. Não dava para saber se ela mesma fizera aquele buraco. Em seguida, apontou animadamente para que passássemos na frente. Sua intenção podia ser me apunhalar pelas costas, mas segui cegamente minha projeção, encurvando um pouco as costas. Ali, no meio fio, algum carro, e não me pergunte a cor ou o modelo, estava estacionado.
Minha projeção abriu a porta traseira para mim e, pacientemente, me esperou entrar.  Fiquei parada feito uma doente mental, lhe encarando, incerta do que fazer.
— Pode entrar — me incentivou.
Por que ele se parece com o Justin? Por que ele tem a voz do Justin? Por que? Por que?
Utilizei seu apoio até que estivesse sentada no banco de couro, dentro da cova de leões — com aroma de carro novo. Annelise se sentou no banco passageiro da frente e ele foi para o volante, uma coisa que levei como intimidade. Mesmo que ele não fosse real, não foi agradável. Só me tranquilizava que ela não estivesse no controle do nosso destino manualmente.
— Eu te avisei, não foi, Faith? — ela quase cantarolou, cheia de razão. Razão do quê eu não fazia ideia.
— Por que não liga o rádio e fecha a matraca, Annelise?
A grosseria dele quase me fez sorrir. Bem na sua cara, vagabunda. Eu e ele até poderíamos se amigos se não me matasse.
The Weeknd tomou conta do rádio, aparentemente, até ele sentia que meu surto final estava vindo. Minha projeção estalou a língua em reprovação e mudou de estação. A vibe R&B foi substituída por uma guitarra furiosa. Outra coincidência maldita, Justin também preferia rock.
Deixamos todo o clima natural para trás, o que significava que a cabana também ficara. Aquele homem prometera à Caitlin que me levaria de volta, só não disse quando, em que estado, e onde. Muito inteligente. Pensei que eu havia superado a vontade de me entregar de bandeja para morte, mas, na verdade, eu só havia me agarrado a ela. Ninguém havia me avisado que viria vestida em um material tão deslumbrante.
Minha língua ainda se encontrava em um sono pesado enquanto eu me conservava no estado de contemplação combinado com um pânico isolado. Todas as teorias se passavam em minha cabeça. Justin podia ter um irmão gêmeo? Ao mesmo tempo, meu controle emocional exigia que não fizesse movimentos bruscos. Eu preferia admirá-lo do que ter um desmaio repentino. Possibilidade esta não muito distante.
De volta à civilização, quando consegui afastar meus olhos úmidos das asas na nuca do motorista, reconheci vagamente as ruas percorridas. Finalmente tive um sentimento lógico, o pesar de ter decidido errado. Não que saber o nosso destino seria mesmo capaz de mudar alguma coisa. Um sonho tão real desses enquanto eu estava acordada não viria de graça.
Eu já conseguia avistar a Companhia Bieber quando o carro foi parado.
— Sério isso? Duas quadras? — Annelise reclamou, indignada. Surpreendia-me que ela conseguisse o feito de ficar quieta por todo o caminho, obediente a ordem expedida.
— Não é como se você não tivesse pernas. Faça como o combinado, conversamos depois.  
Ela respirou fundo, expirando com um chiado irritante. Então, virou-se para trás, o sorrisinho venenoso estampado no rosto.
— Acho que vai precisar deixá-la numa clínica psiquiátrica — murmurou com uma compaixão fingida, se dirigindo a mim em seguida — Até breve.
Juntei minhas mãos e as imobilizei sobre meu colo quando a vi se inclinar para o banco do motorista, olhando-me de maneira provocativa. Logo depositou um beijo na bochecha da minha projeção, a qual permaneceu imóvel. 
Já fora do carro, a cobrinha iniciou seu desfile pela rua. Não dei atenção ao seu show de exibicionismo, os olhos de mel me fitavam pelo espelho retrovisor.
— Você quer vir para frente? — ofereceu ele, a firmeza e autoridade de suas palavras de outrora havia desaparecido.
Apenas o encarei, os lábios bem selados. Ele percebeu que eu não tinha intenção de falar e deu a volta com o carro, novamente atento ao trânsito. Um bônus que eu não esperava. Talvez ele fosse mesmo me levar à cabana no fim das contas. Mas por quê? Sua motivação era, de fato, me ajudar?
Empurrei o medo goela abaixo, cogitando a ideia de que ficaria sem minhas respostas se não o fizesse logo. Brevemente estaríamos na cabana e ele iria embora. Eu precisava enfrentá-lo de uma vez e descobrir o que nele estava jogando com minha cabeça. Juntei as letras uma a uma para pronunciar:
— Encosta o carro.
Peguei-lhe desprevenido e ele me olhou ansioso pelo espelho.
— O que? Algum problema?
— Encosta!
Com uma virada brusca, estacionamos no meio fio outra vez. O motorista não se moveu, os olhos a frente. Se ele não me dissesse por livre e espontânea vontade, eu me saciaria nas unhas.
— Quem é você? —  refiz a pergunta. Pronunciada mais uma vez, aquela sentença me fazia parecer estúpida.
Ele respirou fundo imperceptivelmente.
— Você está bem?
— Essa não foi a pergunta que te fiz.
Com o passar dos segundos, imaginei que ele me mandaria apenas sair do carro. Não estava fazendo um favor para que eu lhe desse como gratidão um acesso de loucura. Se ele não estivesse junto, este meu terceiro encontro com Annelise resultaria em uma marcação funda no meu braço, ou pior. Não havia duvidas de que ela só não me feriu por sua causa.
Repentinamente, ele apoiou os braços nos dois bancos e passou no meio dos dois com uma graciosidade quase impossível, sentando-se ao meu lado. Sua expressão não tinha mais defesas erguidas, visivelmente cansada, um cansaço que teria alguém de 90 anos em seu leito de morte.
— Qual é, Faith.
Ele podia se parecer com o Justin, falar como o Justin, agir como o Justin, mas eu não lhe dava a permissão de pronunciar meu nome.
— Quem é você? — exigi saber, a voz estrangulada nutrida de certa irritação.
Notei suas mãos se fecharem em punho no colo ao passo que uma ruga de preocupação surgia em sua testa.
— Justin Bieber.
A palavra foi sustentada pelas moléculas no ar, reverberando repetidas vezes, fazendo tantos estragos como nenhuma outra fizera, me rasgando ao meio sem piedade.
— Não brinque com uma coisa dessas — eu planejava parecer perigosa, mas aquilo saiu como se eu estivesse implorando.
Eu não podia acreditar naquela besteira. Não podia. Não haveria volta se eu acreditasse, decepcionaria todos a quem eu amava se fosse parar no manicômio. Provavelmente aquilo era mesmo coisa de Annelise, ela queria terminar de me enlouquecer e me trancar num hospício. Aposto que se deleitaria quando me visse numa camisa de força.
— Não estou brincando — com receio, ele tentou alcançar minha mão estática no colo.
Eu deveria ter me afastado, mas não fui esperta o bastante. A ponta de seus dedos tocou lentamente as costas tensas da minha mão esquerda. Acompanhei o movimento com os olhos e praticamente vi os danos internos que aquele pequeno gesto me causava. Uma verdadeira batalha, sem armadura e totalmente desigual, entre minha consciência e a esperança começou. A esperança era a única a empunhar armas.
— Estou sonhando? — adivinhei. O sonho que tive domingo permanecia a espreita, o fenômeno podia estar se repetindo.
Ele balançou a cabeça ligeiramente antes de dizer:
— Não.
Neguei repetidas vezes, me afastando dele até que me encostasse à porta.
— Eu não vou entrar nessa de novo. Você morreu, eu vi a explosão, fui ao seu funeral, me despedacei durante todos esses meses pela sua ausência. Não vou me deixar enganar de novo —  choraminguei, beirando a histeria.
— Eu... Não morri, Faith —  disse ele com tranquilidade demais para parecer genuína.
— É isso o que você diria num sonho meu.
— Não acredita em mim?
— Eu não acredito em mim.
Ele refletiu minha tristeza, se aproximando outra vez, as palmas voltadas para cima, mostrando-se inofensivo. Ele era tudo, menos inofensivo.
— Eu sinto muito por tudo isso.
Meu cérebro começou a racionalizar outra vez, sem que eu permitisse, atualizando-se dos últimos acontecimentos. A reação de Caitlin ao encontrá-lo, as coisas que Annelise disse, sua insistência em me provocar com ele... Os indícios apontavam para uma única conclusão.
— Não faz sentido —  discordei —  Se fosse você, por que teria ficado tanto tempo longe? Por que não entraria em contato? Por que faria isso... Comigo?
Tive a impressão de que ele engoliria em seco, mas não o fez. Apesar de ele endireitar sua postura eu conseguia ver sua apreensão.
— Isso foi um erro. Eu não deveria ter aparecido — não soube identificar se ele falava consigo mesmo ou para mim. De qualquer modo, me doeu. E se doía, alguma parte de mim já começava a crer que era real.
Tentei acalmar as diversas vozes em minha cabeça em vão, a secura na boca já era causa perdida, mas o tremor de cada osso meu parecia exagero. Eu precisava de calma para pensar.
— Por que faria isso? E por que estaria com Annelise? — prossegui com o interrogatório independentemente da constatação de que ele não estava mais empenhado em me convencer.
A suposição da fantasia não me parecia mais tão plausível. Eu me conhecia o suficiente para saber que em todas as projeções rasas do meu cérebro ele estava muito estável, terrivelmente furioso com minhas decisões estúpidas, ou dolorosamente amável para me distrair das agruras da vida. Em contrapartida, o Justin à minha frente exalava sua instabilidade peculiar que sempre me fizera perder a cabeça.
Com meu bombeador de sangue martelando as costelas a ponto de feri-las, me inclinei em sua direção sem planejar, as mãos arruinadas direcionadas devagar aos seus ombros, circundada pelo medo de que quando o tocasse fosse eletrocutada, ou pior, ele desaparecesse. Teoricamente, nada daquilo aconteceu. Assim, deslizei-as para suas costas, ampliando meu nervosismo ao me aproximar mais do seu rosto impassível e petrificado.
Ele não esboçou reação enquanto eu descia o zíper do seu macacão, com exceção de uma leve irregularidade em seu ciclo respiratório. Desci o tecido por seus braços, tendo visão de uma camiseta preta um tanto quanto justa. As tatuagens dançavam em seus braços como sempre fizeram, e tive que me concentrar para não explorá-las antes que fizesse o que era preciso.
Não achei necessário pedir permissão, levantando a barra da sua camiseta com cuidado. Meus batimentos cardíacos se tornaram audíveis quando mais uma parte de sua pele ficava exposta. Subi até onde suas axilas permitiam, mas já era o suficiente. Trêmula, levei a mão para o seu peito, sentindo-o se arrepiar sob meu toque. A alternativa de ser um fantasma também se descartou, fantasmas não se arrepiam.
Não demorei a encostar a ponta dos dedos na pequena cicatriz circular que interrompia sua pele macia, aquela conseguida por um tiro que ele levou “em serviço”. Eu mesma tinha feito os pontos quando os de Ryan estouraram, fui à sua casa para isso, embora estivesse frustrada por descobrir quem ele era de verdade. E agora, ela servia como um meio de comprovação de que ele estava ali, em carne e osso na minha frente, depois de tanto tempo de agonia lancinante, depois do longo caminho que percorri para o calvário, depois de me esfolar e remontar de novo por saber que teria que seguir sem sua presença.
Ele estava ali, tornando insignificante toda e qualquer outra questão, eliminando com um sopro o vazio que ameaçava minha alma, enxugando, literalmente, as lágrimas que molhavam meu rosto, e, ilogicamente, dando sentido às minhas loucuras.
Levantei meus olhos perdidos para seu rosto e sua expressão nebulosa se clareou em uma vulnerabilidade palpável, como alguém pronto a ser julgado.
— Ei.

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