Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

One Love 16

Vesti o colete, luvas, joelheiras, o macacão camuflado e a máscara separados em cima da mesa de equipamentos. O atendente me dissera que os jogadores ainda estavam se posicionando e só por isso eu poderia entrar. Caitlin me esperaria sair para vir logo atrás de mim.
Daniels, o atendente, me mostrou onde ficaria guardada a munição em meu colete e colocou a arma gigante em minhas mãos. Um pingo de suor escorreu em minha testa.
— Vocês vistoriam todas as armas e todos os participantes antes de liberarem a entrada, certo? — perguntei à ele enquanto corria meus olhos pelo campo extenso preenchido de barricadas, túneis e árvores. Parecia-se muito com um campo de treinamento do exército.
 — Claro — garantiu-me, mas seu sorriso tendia muito para um deboche — Primeira vez?
Assenti. Em minha defesa quis dizer que meu nervosismo se relacionava mais ao fato de ter uma desvairada me ameaçando para estar ali, só que eu duvidava da capacidade de empatia daquele sujeito despojado.
Ele jogou os cabelos longos e lisos para trás, seus olhos verdes cinzentos riam de mim. 
— Se tiver sorte, depois de uma semana os hematomas somem. Vai ser melhor se conseguir não levar nenhum tiro; o que, aliás, vai fazer seu time vencer. Quando for atingida, abaixe-se e levante as mãos paras anunciar aos outros jogadores a sua saída, assim, você se retira do campo. Só consideramos que foi atingida se a bola de tinta realmente explodir em você. Você está no time amarelo, por isso, sua munição é amarela. Respire apenas pelo nariz para não embaçar a máscara.
De dez coisas aprendi menos uma. Eu já estava me sentindo sufocada com aquela máscara patética de motoboy, os furos para o nariz não pareciam ser grandes o suficiente.
— Sabe segurar o marcador?
Neguei, eu nem sabia o que era um marcador.
Daniels segurou uma risada, com certeza ele pensava que eu seria a primeira a sair, carregada por paramédicos. Eu não duvidava disso, e questionei a estratégia de Maya. O jogo era aberto para outras pessoas, eu estaria fora antes mesmo que ela tivesse a chance de me reconhecer com todo esse figurino de segunda guerra mundial.
— Segure nas duas extremidades, mas com cuidado pra não apertar o gatilho antes da hora. Vê? — ele demonstrou com a outra arma que estava em cima da mesa. Ok, então a arma era um marcador — Como se estivesse caçando; e, na verdade, você estará.
Maya queria me caçar. Eu a deixara ainda mais furiosa com o golpe do dia anterior.
— Ah, sua amiga mandou te avisar que está no time contrário, o vermelho. Eles estão ao lado direito do campo. Boa sorte.
Sorte era para principiantes. Eu precisava mesmo de um milagre.
— Obrigada. Coloque minha amiga Caitlin no time amarelo também, por favor, ela já está vindo para cá.
Daniels resmungou alguma coisa sobre equilíbrio de participantes, mas eu já estava me direcionando ao campo de batalha. A adrenalina pulsando em meu sangue e a arma inofensiva em minhas mãos me faziam sentir como a exterminadora do futuro. Só se fosse do meu próprio futuro.
A medida que eu avançava, conseguia ver algumas cabeças escondidas nos obstáculos em meu lado esquerdo, e presumi ser meu time. Rezei para Rafael estar no time amarelo e me encontrar depressa para irmos embora. Eu não tinha motivos para confiar em Daniels, Maya podia mesmo estar com uma arma de fogo. E, embora não pudesse me ferir de morte, não havia impedimentos com Rafael. Ou em me deixar aleijada, por exemplo.
Eu via o vento balançando com delicadeza as árvores, mas não podia senti-lo, coberta como estava da cabeça aos pés. Por outro lado, o sol, bem posicionado no céu, ainda emanava seus efeitos sobre mim, tornando ainda mais asfixiante respirar pelos três riscos finos demais na máscara aparentando debochar do meu esforço para conseguir oxigênio suficiente.
Fiz, então, a única coisa que estava ao meu alcance para acalmar os nervos, encarando o azul no Céu:
Olá, Deus. Sei que não nos falamos há um tempinho e é completamente minha culpa, peço desculpas por isso. Lembro de todas as vezes em que declarou seu amor por exclusivo por mim, e agora consigo me sentir grata por ter sua presença constante em minha vida. Eu sei que, mesmo quando não posso ver ou sentir, Você está aqui. Não esqueço, também, que lutou grandes batalhas pelo povo de Israel. Então... está disponível a comprar mais essa por mim? 
Que péssima pessoa eu sou, as primeiras palavras que Lhe dirigia, depois de um longo abandono por minha parte, se limitavam a um pedido de socorro. Eu não O culparia se preferisse fazer qualquer outra coisa a me ajudar. Eu mesma não me ajudaria.
Quis inspirar fundo pelo nariz e expirar pela boca. Seria ótimo se não embaçasse minha vista.
Um jogador atrás da barricada de tijolos fez um sinal frenético para mim, uma ordem expressa de que eu deveria me esconder.
— Rafael? — perguntei, já me agachando para ficar ao seu lado.
Seu próximo abano com a mão não foi nada receptivo. Eu tinha que achar outro esconderijo para mim. Com certeza aquele não era Rafael.
Eu não quero jogar isso, sua mula ambulante!
Corri para trás da árvore grossa onde havia mais um jogador.
— Rafael?
— Se esconda! — o homem ordenou abafado impacientemente. 
Minha própria equipe me odiava. Típico. Maya devia estar achando tudo aquilo muito engraçado.
Ultrapassei o túnel, chegando a barricada de concreto.
— Rafael?
— Mulher, você vai nos fazer perder! — a dona da voz agarrou meu braço e me puxou para baixo — O plano é não ser atingida e nos mantermos separados, mas agora espere aqui que a qualquer momento soam o alarme!
Minha parceira de jogo soltou um palavrão no mesmo momento que eu, mas sua motivação provinha da minha habilidade de estragar as coisas, sua fala tão extensa lhe embaçara os óculos da máscara. Tenho certeza de que ela me expulsaria naquele momento se uma sirene potencialmente nociva aos ouvidos não disparasse no ar. Constatei tarde demais que nem ao menos saberia se Caitlin havia entrado.
No próximo segundo, o campo ganhou vida. Graças à minha excursão para achar Rafael, o time contrário sabia a maioria de nossas localizações e mirava impiedosamente, explodindo nossa volta com tinta vermelha. Daniels não havia avisado que economizassem munição?!
Não demorou muito para “reagirmos” — entre aspas porque permaneci no lugar —, “nos” deslocando para novas proteções e devolvendo os tiros. Eu só conseguia pensar em agradecer por não ser soldado na 2ª Guerra Mundial. Se dependesse das minhas habilidades, minha Pátria afundaria mais rápido do que o Titanic. O melhor plano que eu tinha para sair viva dessa era permanecer escondida até o fim do jogo.
Estratégia esta que logo se mostrou ineficaz. Meu sentido animal de autopreservação me obrigou a dar uma espiada quando um soldadinho de faixa amarela enrolada no braço sinalizou com fervor para mim. Meu inimigo se aproximava, já a par da minha posição. Desejei ardentemente que não fosse Maya, também torci que Daniels estivesse brincando sobre os hematomas.
Me estirei no chão e coloquei a cabeça para fora da barricada lentamente. Péssimo movimento. O tiro foi disparado em minha direção, e se eu demorasse um milésimo a mais para me esconder, a explosão seria em meu rosto. Vagamente recordei do cartaz exposto na recepção. Tiros na região da cabeça não eram válidos e aceitáveis. Certamente, Maya não se importaria com isso. Mas se aquele jogador fosse ela mesmo, suas balas eram de tinta.
Engatinhei para o lado contrário no intuito de me esquivar, utilizando a barricada como o empecilho entre nós. Dei um pulo de susto quando ouvi a explosão de tinta perto de mim, e ao procurar a origem do som, vi meu oponente atingido no peito. Meu salvador, agachado junto à sacos que uma vez foram brancos, me mandou correr. Não esperei para ver se era seguro sair ou identificar o jogador eliminado, me arrastando para trás dos tijolos.
Ao se achar em desvantagem, o time vermelho cessou fogo, estudando melhor suas estratégias. O ambiente se silenciou, as pessoas se movendo rápido demais entre as proteções dificultava todo o trabalho. Eu mesma entrei na rotatividade, me lembrando de que Rafael precisava de ajuda. Joguei a covardia para o fundo do estômago e entrei na luta. O jogador atingido deixara o campo ainda de máscara, mas eu sabia que Maya não se daria por vencer daquele jeito.
Agacha, espia, se esconde, se joga no chão, mira, atira, corre. Um ciclo infinito de comandos repetitivos enviados pelo meu cérebro e nada de identificar os que eu procurava. Pensei seriamente que Maya havia me enganado e levado Rafael para outro Paintball, ou pensado que eu demorara muito e por isso havia ido embora, quando adentrei para a mata e avistei ao longe um dos meus parceiros caído no chão. Meu primeiro pensamento foi Rafael.
Disparei entre o verde que subia cada vez mais alto em minha pernas, tirei a máscara idiota e o gritei.
— Rafael!
Me abaixei junto ao corpo sentindo meus músculos se contraírem, preparados para agirem caso ele estivesse ferido. Deixei o marcador ao meu lado e levei minhas mãos para sua máscara no ensejo de confirmar sua identidade e estado de consciência.
Meu coração parou na boca assim que pude ver o rosto da pessoa à minha frente; e em seguida eu estava no chão, presa entre suas pernas esguias.
— Surpresa! — uma Maya com o maxilar inchado me saudou, apontando seu marcador no meu rosto. 
O susto me jogou na defensiva, e como uma pessoa claramente em desvantagem, deixei minhas mãos abertas em frente ao peito como sinal de rendição ao passo que espiava a minha volta à procura de alguma arma que pudesse ser usada contra ela. Meu marcador e minha máscara estavam fora de alcance.
— Você sabia que não podemos tirar a máscara dentro do jogo? Essas bolinhas de tinta podem quebrar os dentes e cegar.
Nenhum objeto disponível a não ser minha lábia. Vamos lá, Faith.
— Aonde está o Rafael? — perguntei, minha voz firme deu a impressão de que eu estava muito corajosa. Eu esperava que estivesse.
— Aonde estão as crianças?
Trinquei os dentes, furiosa com sua falta de empatia. Ela queria mesmo devolver crianças inocentes à um assassino bárbaro e egocêntrico? Houve apenas um breve momento desde que a conheci em que cogitei sentir pena porque eu a usava, mas tudo parecia muito mais do que justo para mim agora.
— Eu não sei de que crianças você está falando! — insisti.
Maya começou a rir, e aquela foi a primeira vez na vida em que não achei risadas maléficas engraçadas. Nos filmes, desenhos e séries, o riso grave de um vilão se tornou tão clichê e patético que é impossível despertar medo até mesmo em suas vítimas. Ao vivo e a cores o caso é bem diferente. Principalmente por Maya ter uma espingarda enorme apontada para o meu rosto, ainda que tenha indiretamente revelado terem só bolas de tintas ali dentro. Eu odiava ir ao dentista, não queria reconstruir minha arcada dentária.
— Você está brincando muito com a minha paciência. Está vendo o que fez com meu rosto? George me ensinou que essas coisas nós devolvemos multiplicado em cem vezes, reafirma a soberania do predador.
Enrole até encontrar uma saída viável.
O comando sussurrado em minha mente não tinha o timbre da voz de Justin, e aquilo apertou meu coração. Eu não queria perdê-lo da minha memória. Se superar a dor de sua ausência significasse deixa-lo ir, eu preferia permanecer como estava.
Repentinamente, fibras rápidas alarmaram meu sistema nervoso de uma dor aguda em meu estômago. O ar saiu como uma lufada por minha boca, no fundo da garganta eu podia sentir o gosto de ferro produzido pelo sangue. Maya havia me atingido com o cabo do marcador.
— RESPONDA!
Eu recuperei o ar, arquejando.
— O relógio está girando, Faith, e eu não vou cair sem te derrubar comigo!
— Maya... — eu tossi, me esforçando para empurrar a voz pra fora da garganta — Não sei do que você está falando... Mas se você se meteu em algum problema... eu posso te ajudar.  
Ela apertou os olhos, não acreditando na minha mentira. A fúria em seu rosto, movida pelo instinto de sobrevivência, me avisava que seria melhor se ela me matasse do que concretizasse os planos que se passavam em sua cabeça em busca de uma confissão. Eu não me importava com o que aconteceria comigo, em nenhuma hipótese lhe daria a única dica que eu tinha sobre o paradeiro das crianças.
— Resposta errada.
A ponta gelada do marcador se encostou à minha bochecha. Em um breve instante de reflexão, constatei que não conseguiria empurrá-la de cima de mim rápido o suficiente para que não atirasse, mas também não ficaria sem lutar. 
Na iminência dos meus movimentos, mais uma explosão de tinta soou no ar, perto o suficiente para que eu fechasse os olhos com força, o último e primeiro recurso de defesa de um ser humano. Esperei pela dor lancinante. Em contrapartida, a lamúria não provinha dos meus lábios. Maya estava arqueando as costas, desconcentrando o peso em cima de mim. Mesmo sem compreender, rolei debaixo dela, me libertando.
— Corre! — o grito de Caitlin denunciou sua posição de ataque para cima de Maya.
Analisei suas condições de vitória antes de qualquer movimento. Como eu, Maya estava sem a máscara, mas Caitlin, que empunhava com firmeza o marcador, não. Sendo assim, contornei as duas, correndo em direção aos outros jogadores. Eu planejava entrar no meio do campo e alertar sobre o perigo. O jogo terminaria, Rafael se revelaria, a polícia seria chamada e essa negligência de Maya seria o suficiente para George se resolver com ela sem que eu precisasse levantar minha mão, eliminando um dos meus problemas.
Seria o plano perfeito se a algumas árvores de distância do campo aberto uma parede não se colocasse entre mim e meu êxito. Uma parede loura e escultural.
— Olá, Faith.
Você só pode estar brincando.
Um conselho muito importante para se viver nesse mundo: não importa o quanto as coisas estejam ruins, elas sempre podem piorar.
Estagnei onde estava, desfrutando o arrepio descendo do meu pescoço até os dedões do pé. Praguejei contra Annelise e sua calça de couro à minha frente. O que fazia aqui? Como entrara sem os equipamentos? Estaria ajudando Maya? Por quê faria isso?
As respostas não eram tão difíceis assim de serem encontradas. Annelise entrava onde queria e como queria. Seu sonho de princesa parecia ser me ver na fossa. Mais uma maneira de me ferrar era como lhe dar um bônus no serviço.
A essa altura, parecia bobo me importar que eu me assemelhasse a um saco de lixo no momento enquanto ela simulava estar pronta para um comercial de shampoo. Aquilo só aumentou minha vontade de quebrar a cara dela no meio. Muito inteligente da minha parte ter deixado o marcador para trás. Busquei, visualmente, alguma pedra no chão, melhor seria se fosse grande o suficiente para afundá-la até o inferno.
Deus, esse não era exatamente o resultado que eu esperava da minha oração.
— Tudo bem, sem cumprimentos. Vamos sair daqui? Conheço um atalho para não ter que passar por aquele campo nojento.
Lhe fuzilei com os olhos, recuando. Eu não queria levá-la até a Caitlin, então minha escapatória era seguir pela esquerda.
Annelise viu meus planos.
— Eu não estou nem um pouco a fim de correr hoje, sério, você quer me fazer o favor...
Pensei rápido. Suas mãos estavam vazias, o que significava que de longe não me atingiria. Aproveitei a distância já existente entre nós e me lancei entre as árvores. Annelise estar na jogada não alteraria minha ideia inicial, conseguiríamos tempo para fugir criando um escândalo com os jogadores no campo. Facilitaria muito mais se eles já começassem a ajudar. Enchi o pulmão de ar, ignorando a pontada no meu estômago, e gritei:
— Socorro! Socorro! Socorro!
Eu não conseguia ouvir os passos me perseguindo, e ao invés disso me reconfortar, me deixou mais apavorada. Olhei para trás seguidas vezes, já sem saber para qual direção eu estava indo no campo idiota sem fim. O engenheiro de toda essa estrutura merecia parabenizações, realmente conseguira representar, perfeitamente demais para o meu gosto, o desespero infernal de campos de batalha. Quando voltei minha cabeça para frente outra vez, trombei com um jogador escondido atrás de uma das árvores. Ambos cairíamos no chão se ele não me firmasse pela cintura, soltando seu marcador.
— Faith? — apesar da máscara, reconheci a voz de Rafael.
Parecia bom demais para ser verdade.
Soltei um suspiro rápido de alívio, despejando em seguida:
— Você está bem?! Nós temos que sair imediatamente daqui! — meu estômago doía e o cansaço me rondava, eu não podia reclamar da minha voz falhada.
— O quê? Onde está sua máscara?
Neguei com a cabeça e segurei seu braço, puxando-o comigo. Eu não tinha tempo de lhe explicar tudo, uma vez que era notório sua ignorância no assunto.
— Ei, o que está fazendo? Use a minha — escutei Rafael com mais clareza, vendo sua máscara estendida para mim. Ignorei a oferta e reparei na faixa vermelha em seu braço. Claro que Maya havia nos colocado em times opostos, eu nunca o encontraria se ficasse fugindo dele.
— Escute, o jogo acabou, precisamos sair daqui!
Rafael se recusava a andar mais rápido, hesitante.
— Pode me explicar o que aconteceu? Coloque a máscara, por favor, é perigoso ficar sem ela, Faith — ele soou ansioso.
Olhei para os lados, paranoica. Annelise apareceria a qualquer momento e eu ainda precisava voltar para buscar Caitlin. Ou nos encontraríamos no carro?
— Não dá tempo, só confia em mim.
— Faith, o que...
— Podemos parar de brincar agora? — Annelise interrompeu Rafael com irritação, brotando das árvores como um espírito vingativo.
Imediatamente, passei Rafael para trás de mim, choramingando interiormente pela capacidade física da loura estúpida. Ela não parecia ao menos suada, pelo amor de Deus! Seu cabelo de ouro esvoaçado era o único indicio de que correra.
— Eu estou avisando, se você se aproximar... — deixei a ameaça implícita no ar. Na verdade, minha criatividade não estava muito boa. Ou a minha habilidade de mentir se desgastara.
Ela expirou, avançando para mim.
— Ah, foda-se.
Numa inspiração momentânea reflexiva, movida pela adrenalina, empurrei Rafael para trás pelo abdômen e simplesmente pulei sobre ela com toda a força. Da última vez em que esperei na defensiva com Annelise, terminei com uma marca no braço, e eu não esperaria para ganhar uma segunda. Se ela estivesse com o canivete hoje, não lhe daria tempo para pegá-lo.
— Faith! — Rafael me gritou, sobressaltado.
Nós duas caímos no chão, minhas mãos já direcionadas para o seu pescoço no intuito de enforcá-la. Mais rápido do que eu podia prever, ela usou apenas uma mão para segurar os meus pulsos com uma força de urso, torcendo-os.
— Sua imbecil! — gritou, histérica.
Eu ignorei a dor provocada, e ao mesmo tempo em que tentava me libertar, consegui dar uma cotovelada de raspão em seu peito. Minha vantagem terminou por aí. Annelise usou minha própria estratégia contra mim; sua mão livre agarrou meu pescoço como garras, me deixando instantaneamente sem ar. O sangue latejou em meu rosto.
Menos de um segundo depois, fui afastada dela por dois braços entrelaçados em minha cintura me levantando no ar como se eu fosse uma folha de papel. Com a garganta livre, tomei fôlego pela boca desesperadamente, ainda sentindo uma pressão em volta do meu pescoço. O oxigênio passou como um gelo por todo o sistema respiratório, e estranhamente caiu em minha barriga. Meu corpo todo reagiu, desperto, agitado; provavelmente um protesto pela quase derrota mortal.
Imaginei que fosse Rafael, mas assim que Annelise se pôs de pé como um furacão, ele a segurou pelo braço. Não tive tempo de avisar que era uma má ideia, me recuperando do enforcamento mais rápido e eficaz da história. Ela torceu o braço dele com agilidade, e ele, gemendo, caiu de joelhos. Sua capacidade de derrubar um brutamonte como Rafael no chão sem ao menos se virar para ele deveria ter me alarmado, ainda mais porque ela vinha pra cima de mim; porém, elenquei prioridades, me debatendo contra quem me segurava.
— Se... Você... Não... Me... Soltar...Vou... Arrancar... Seus olhos... Na unha! — esbravejei como um gatinho rouco.
O cerco estava se armando para mim, de modo que eu podia ler no gramado que meus pés não alcançavam: Aqui jaz Faith Evans. 

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