Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 28 de março de 2017

One Life 47

Minha cabeça devia estar pesando uns dez quilos, e só ficara assim quando Jeremy morreu. Me arrastei para um bar em Miami com Ryan. Eu não sabia se bebia por estar chateado ou aliviado. Na dúvida, bebi pelos dois.
Uma sirene soava perto do meu ouvido, e tateando a cama encontrei o responsável pelo som do inferno. Meu aparelho celular. Eu tentava abrir os olhos enquanto o colocava na orelha.
— Bieber? Cara... Onde você tá?
Reconheci a voz de Ryan conforme acostumava minha vista à claridade vinda da janela, repetindo sua pergunta para mim mesmo. Olhei para os lados, identificando um quarto de hotel.
Num estalo dolorido, recobrei a consciência e vasculhei a cama à procura de Faith. Ela não estava. O sol brilhava muito alto, me levando à suspeita de que nos atrasávamos para o voo.
 Tudo bem, não dá tempo. Talvez você tenha mudado de ideia, mas de qualquer forma...
Saltei da cama depressa para procurá-la no banheiro com um pressentimento ruim.
— Ryan, diga de uma vez.
O banheiro estava vazio. Voltando para o quarto, vislumbrei um papel dobrado no meio da mesa com uma caneta e seu celular novo servindo para segurá-lo no lugar.
O pressentimento ruim subiu na escala, descendo com ímpeto pela minha espinha.
 Faith está aqui na Companhia, ela disse que foram ordens suas.


FAITH.

“Você vai me odiar agora, eu sei. Pelo menos o sentimento é recíproco, huh? Nós sabemos que fugir não é uma escolha inteligente. Como você disse, sou apenas um meio, e comigo longe, podem usar outra pessoa. Isso se não usarem alguém para me atrair de volta. Não dá para proteger todo mundo.
Pense positivo, talvez Bryan dê a eles o que querem e tudo vai ficar bem. Na pior das hipóteses, você se livra de mim. Obrigada por tentar me proteger mesmo que eu não tenha compreendido suas motivações. Por favor, vá procurar seus irmãos. Você disse que mudaria por mim, se era verdade, o faça por eles. Deus vai te ajudar.
Te desejo toda a força do mundo,
Com muita pressa, Faith”
Olá, eu sou seu cérebro e estou aqui para que usufrua de decisões racionais, caso você não tenha notado.
Eu sentia cada célula auto preservativa do meu corpo me reprovar veementemente. Todos os meus músculos estavam rígidos, prontos para a fuga que me cutucava com insistência. Mas eu não ia desistir agora, estava fazendo o certo, rejeitando meu egoísmo. Tinha o conhecimento da escassez em alternativas. O prazo de Justin havia acabado, e eu sabia no fundo do meu estômago que o próximo profissional não seria tão condescendente. Por mais perturbado que fosse, não podia ignorar o fato de Justin nutrir algum sentimento por mim. Ele tinha toda a capacidade de me ferir e não o efetivara. Sendo assim, achei adequado deixar uma carta. Eu apenas lamentava a destruição iminente do quarto.
Mal podia acreditar que conseguira enganá-lo. Era praticamente impossível fugir dele, ainda mais com meu histórico fazendo com que me olhasse em alerta de segundos em segundos. De fato, ele demorou a adormecer, e após algumas tentativas, consegui fazer com que respirasse de sua própria coletânea. Não sabia ao certo a quantidade necessária, então talvez tenha exagerado na concentração colocada na fronha do travesseiro. Eu estava melhorando minha habilidade de fuga, e conjecturei outro potencial profissional. Uma espiã dos Estados Unidos. Cresci assistindo Três espiãs demais, portanto a ideia era muito bem recebida.
Ocupei minha mente em tentar relembrar alguns episódios enquanto descia do táxi, atirando ao taxista as notas que pegara na carteira de Justin — uma ilegalidade que eu esperava ser perdoável devido as circunstâncias —, evitando qualquer pensamento covarde que me fizesse mudar de ideia. O endereço que constava em um dos documentos alienados por Justin me levara a uma mansão. Não cheguei a concretizar a dúvida de que estivesse no lugar errado, alguma coisa no sistema de segurança de última geração e os mal encarados espalhados a minha vista me avisava do contrário. Se eu encarasse tudo como se fosse um dos filmes de ação que costumava assistir com meu pai, talvez não fosse tão ruim. Mas na verdade, eu estava apavorada.  
Me apresentei aos seguranças — que me encaravam fixamente desde o instante em que desci do carro — como Faith Evans, enviada por Justin Bieber. Após uma conversa que não ouvi no comunicador em um dos ouvidos do cara à esquerda e uma revista minuciosa em meu corpo trajado de calças Levis e o moletom cinza que encontrara no guarda roupa, minha entrada foi autorizada. 
O musculoso de expressão fechada que me conduziu à porta não disse uma palavra, mas seus olhos se impregnavam em mim como se eu pudesse ser uma bomba relógio ambulante. Eu não o achava paranoico, minha voz trêmula e instável há segundos atrás não inspirava muita confiança. 
Assim que a porta grande de metal — eu não duvidava que fosse blindada — se abriu, eu troquei de babá. Embora se movimentassem da mesma forma e tivessem o mesmo olhar agressivo, este me dirigiu duas palavras: 
— Me acompanhe — murmurou com a voz hostil. 
Por força do hábito, quase escapuliu um "obrigada" da minha boca, mas até onde eu sabia, ele podia muito bem estar me conduzindo a um matadouro. 
Inibida pela vistoria do segurança, procurei não investigar o lugar a minha volta, reparando apenas que os móveis amadeirados eram clássicos, uma decoração baseada nas décadas passadas, com cores escuras e frias, mas nada desgastadas. O ambiente era mórbido e me dava calafrios, me fazendo duvidar de que eles tinham aquecedor. Subindo as escadas largas revestidas de mármore crema marfil, entendi a soberba de Justin. Estava me sentindo na residência de membros da realeza. As paredes exalavam ego.  
Paramos no segundo andar e ele abriu uma porta duas folhas de madeira após cumprimentar com um aceno os dois projetos de estátua que ali vigiavam. Mesmo que minhas pernas quisessem se enraizar ali, me obriguei a adentrar o cômodo conforme a indicação em sua postura para que eu entrasse primeiro. Meu coração batia tão rápido que pensei estar quebrando minha caixa torácica.  
A sala pequena não portava muitos móveis, apenas três sofás de couro preto e uma mesa de centro transparente. As paredes pintadas em um tom acinzentado estavam lisas, sem nenhum quadro, sem nenhuma prateleira, sem vida. A janela estava escondida pela cortina grossa que combinava com os sofás, o pequeno lustre pendendo no teto servia para iluminar o espaço. Aquele desperdício de energia era como pisar no meu dedinho. 
Escutei a porta se fechando atrás de mim. Minha babá me abandonara. Jurando que chave girara no trinco, imaginei que aquela era a hora que liberariam o gás para me matar asfixiada.  
Lutei para me manter parada nos primeiros minutos, os braços cruzados contra o peito para manter tudo calmo dentro de mim. Em contrapartida, meus olhos lacrimejavam de pânico. Me concentrei no vai e vem da minha respiração, expulsando a sensação das paredes estarem cada vez mais próximas, prometendo me sufocar. O silêncio me engolia, agravando minha inquietação. Acabei me deslocando até a cortina, não sabia se a janela estava trancada e com certeza era péssima ideia mexer em alguma coisa, mas o ar passava com dificuldade em minha garganta. Eu precisava de ar puro. 
Puxando o tecido preto para o lado, fui tomada por uma nova onda de pavor. Não havia janela, a cortina era só aparência. Minhas pernas tremeram, ameaçando me jogar no chão. Corri para o sofá, desabando ali. O aperto em minha garganta aumentou. 
Você está respirando, Faith, tem ar suficiente. 
Repeti as palavras em minha cabeça, inspirando mais rápido para que o oxigênio chegasse a tempo em meus pulmões. Limpei o suor das mãos nas calças, ainda não havia acontecido nada, não tinha por quê surtar. Por outro lado, sempre tive problemas com ansiedade, então era melhor que agissem de uma vez antes que eu enfartasse. 

Já estava rezando meu quinto terço quando ouvi o barulho na porta. Primeiro o alívio relaxou meu pescoço, em seguida apertei as mãos nos joelhos. Era agora. 
O homem de olhos azuis marcantes entrou apressado e cauteloso, se fechando ali comigo. Me perguntei se eles ainda pensavam que eu explodiria em mil pedaços e se aquela era uma sala antibomba.  
Seu queixo quadrado até então elevado, relaxou assim que ficamos sozinhos. Me avaliando agora encolhida no chão gelado, ele se aproximou devagar, aparentando não querer me assustar — o que não era possível.  
— Tudo bem, você é Faith Evans? 
Se agachando a minha frente, apoiou uma das mãos no chão. A minha altura, eu podia ver as entradas que tinha na cabeça. Um indício de que seria calvo quando envelhecesse. 
Eu estava reparando nos mínimos detalhes à minha volta, ciente da possibilidade de serem os últimos que eu veria. 
Assenti uma vez, economizando minha voz para os gritos impendentes. Se eles quisessem me machucar, eu garantiria que me escutassem por dias em suas memórias.  
— Ninguém apareceu por aqui ainda, certo? 
Na velocidade que pronunciava as palavras, suspeitei que não pudesse prosseguir por muito tempo com o diálogo. 
Fiz sinal com a cabeça de novo. Ele deu um suspiro de alívio. 
— Então não te machucaram? 
Aquela conversa já estava ficando estranha. 
— O que você quer? — não me esforcei para fingir não estar intimidada. Era inútil. 
— Temos pouco tempo — ele olhou para cima, atrás de mim — Consigo meus favores, mas não sou milagreiro. Justin já sabe que você está aqui. Ele me contou do seu receio em ficar sozinha, mas vai ter que segurar as pontas mais um pouco — ele havia falado Justin ou eu já estava tendo alucinações de medo? — Sua sorte é que Guilherme está de ressaca, então ainda não apareceu. Brad já entrou em contato com seus pais para fazer ameaças com as filmagens. Eles têm até meio dia para dar uma resposta, ou a coisa vai começar a ficar feia. Claro que Justin não vai permitir chegar a esse ponto... Quer dizer, sabe me dizer o quanto você vale pra ele? 
Se eu tivesse condições, riria. O quanto eu significava para ele? O bastante para que não me matasse, pelo menos. Mas eu não queria que me resgatasse de uma escolha minha. Ele não deveria arrumar confusão, tinha que ir atrás de seus irmãos. A intenção de dizer que ele me ordenara a vir pra cá, era que se livrasse dessa e reconstruísse sua vida, não que visse causar uma revolução que com certeza o exterminaria. Se mataram Christian porque ele quis sair da Companhia, estragar um dos contratos não deveria ter uma punição mais leve.  
A essa altura, Bryan já deveria ter entendido que o risco era real, daria o que queriam e eu sairia antes que chegassem a encostar em mim. Isso se conseguissem realmente contatá-lo, já que há dias não retornava nossas ligações. Para ser mais exata, desde o dia em que Justin confessara querer me matar. Ainda me preocupava que não estivessem bem. Algumas vezes eles desapareciam em suas viagens, mas as circunstâncias eram outras. 
— Ele vai me ligar de novo e contar o plano — seus olhos se tornaram líquidos, tentando me acalmar ao perceber minha perturbação. 
— Não quero que ele venha. 
Seu cenho se franziu de confusão. 
— Sei que veio aqui porque quis, mas já deve ter entendido que foi uma péssima ideia. Justin não tem uma cara muito bonita de se ver, mas ele quer te ajudar. 
Neguei com fervor. 
— Não quero que se meta em confusão, meu pai vai dar um jeito nisso. 
Ele estreitou os olhos, me classificando como doente mental. 
— Justin não tem medo de confusão. 
— Como é seu nome? 
Sem toda a cerimônia que Justin fizera quando lhe fiz a mesma pergunta ao nos conhecermos, ele respondeu: 
— Ryan. 
Ryan, o amigo que lhe arranjara os documentos. 
— Ryan, por favor, diga que eu o mandei ficar de fora — supliquei. 
Ele olhou o relógio em seu pulso, então se levantou com pressa. Assim soube que nosso tempo havia acabado. 
— Ninguém diz a ele o que fazer — e então me jogou um sorriso largo de empolgação — Relaxe, Faith. Hoje somos os mocinhos, vamos te libertar. 
Não tive tempo de protestar, ele estava correndo para a porta, me dando uma piscadela de camaradagem antes que a fechasse. E então, eu estava sozinha outra vez. 

Eu estava olhando para os dedos das minhas mãos, passando a língua em todos os meus dentes, contemplando cada um dos meus membros e agradecendo por todo o serviço prestado naqueles vinte anos. "A coisa começar a ficar feia" queria dizer sessões de tortura, era óbvio. Eu sempre via que começavam arrancando dedos e dentes das vítimas para enviar como coação à família. Torci para Caleb guardar meu dedo com cuidado no gelo. Quem sabe uma cirurgia não consertasse depois.  
Bryan não vai deixar que encostem em você, a essa hora deve estar renunciando seus direitos na empresa em cartório.  
Era ótimo saber que meu lado positivo ainda permanecia vivo depois de tanto tempo de tortura psicológica. Agora eu entendia a finalidade do cômodo. Nos deixar sozinhos com nossa mente é o suficiente para levar alguém à extrema loucura.  
Deitada no chão com as palmas das mãos voltadas para baixo, eu sabia que meu estado estava deplorável. Eu já havia chorado, começado a redigir mentalmente meu testamento — queria que minhas coisas fossem vendidas e o dinheiro revertido ao orfanato —, cantado "mais perto do meu Deus", lamentado terminar a vida tão cedo, me despedido dos meus planos para o futuro, me conformando com as experiências vividas. Voltei no tempo e avaliei cada um dos meus atos, pensando se eu faria alguma coisa diferente e desejei ter aproveitado mais cada momento. Por fim, pensei sobre Justin. 
Era fato, apesar de tudo, não me arrependia de tê-lo conhecido. Nossos caminhos se cruzaram e ele quebrou meu coração como ninguém havia feito ante. Mas também, me proporcionou o extremo do júbilo. Me fez sentir cada veia em meu corpo. Transformou horas em segundos e minutos em dias. Me removeu da monotonia e arrancou meus mais sinceros sorrisos. Com a missão de me matar, me trouxera ao máximo da vida. E descobri que era grata. Não importava que suas intenções não fossem boas ao se aproximar de mim. Desfrutei de momentos épicos e no fim, era isso que me interessava. Em meus últimos momentos, poderia apagar sua imagem botando fogo no meu quarto para substituí-la para quando me segurou em minha queda da árvore.
Sempre tive medo de morrer sem ter vivenciado um grande amor. E se havia algo que definia nossa conturbada relação, era emoção. E que se danem as convenções sociais me taxando de louca. Já vi em algum filme que as melhores pessoas são loucas. Na verdade, queria que gravassem em minha lápide "Faith Angel Evans, louca, pirada, biruta: extremamente feliz". Provavelmente não teria espaço pra isso tudo, então me contentava com apenas meu nome. Já era sinônimo para todo o restante. 
Os passos firmes no corredor fizeram com que eu me levantasse de uma vez, me posicionando atrás do sofá para que ficasse entre mim e a ameaça.  
Nós vamos todos morrer! Gritou uma veia em meu pescoço. 
Pense positivo, pense positivo, pense positivo, retruquei.  
Diferentemente de como Ryan fizera, meu novo visitante abriu a porta com autoridade e a deixou escancarada. Para mim, não parecia bom sinal. Vestindo uma camisa slim fit preta e jeans, sua aparência despojada me faria duvidar que realmente trabalhasse na Companhia se não fosse por seus olhos tingidos de violência entre o castanho vivo e o porte físico ameaçador.  
— Já posso ir embora? — perguntei cedo demais. Era mais um pedido de um gatinho assustado do que uma dúvida real. 
Ele me devolveu um sorriso ácido, apontando para que eu saísse do quarto com uma gentileza sarcástica. 
— Da sala de espera sim. Agora vamos começar a festa de verdade — sua voz rude me deu calafrios.    
Sala de espera? Festa? Não me soava muito animador. 
Comecei a recuar de costas devagar inconscientemente. Como se houvesse algum lugar para escapar. 
— Já gostaria de avisar que não tenho problema algum em carregar você — avisou, visivelmente empolgado com a ideia.  
Parei com a hipótese. 
— Meu pai vai dar o que vocês querem, não precisam me machucar — falei depressa num tom de voz patético.  
Ele invadiu o cômodo, avançando na minha direção com impaciência. Meu estômago girou assim que minhas costas bateram na parede. Pensando bem, eu adorava essa sala, não me importava em ficar ali mais um pouco. 
Sua mão gigante agarrou meu braço e comecei a ser arrastada. O grito de protesto se perdeu em minha garganta e tentei encontrar de volta toda a coragem que me levara até ali. Só conseguia pensar que tudo daria errado. E se Bryan não quisesse mesmo ser encontrado? E se houvesse nos abandonado pelo capital? E se eu acabasse de fato morrendo e não adiantasse nada? Caleb era o próximo da lista. 
Eu ia vomitar, tinha certeza. Não podia ao menos me iludir pensando que seria uma morte rápida. Talvez eu devesse mesmo ter ido com Justin à Califórnia. Sua postura não me inspirava nenhuma ameaça comparada com meu novo carrasco. Prova disso era que com Justin ainda havia espaço para a atração. Então eu não era tão doente assim, há tempos que sua intenção não era mais de me matar. Ao menos fora isso que concluíra na minha salinha de castigo. Por um instante me detestei por não ter aceitado seu beijo na noite anterior, haviam grandes chances de nunca mais senti-lo. 
Chacoalhei a cabeça, aquela não era hora de me martirizar, não no meu caminho para o abate. Neste mérito, haviam outras questões envolvidas que eu não conseguia enxergar em meu desespero silencioso no caminho para o abate.  
Fui guinchada de volta para o primeiro andar e cada vez mais fundo no corredor à direita que serpenteava pelo imóvel. Os seguranças estagnados em cada centímetro não ousavam me olhar, deviam estar acostumados com uma cena daquela. Uma garota atravessando seu calvário terrivelmente sozinha. Eu sabia que não precisava ser assim, então chamei por Deus para que me desse forças e no fim recebesse minha alma. Não estava certa de que havia sido boa o suficiente para merecer estar no paraíso, mas não queria me atribuir mais aquela angústia. Pensar que provavelmente no final do dia estaria com meu Criador me trazia paz. "E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas."* Fiz uma prece para que consolasse os que ficariam e guiasse Justin para a felicidade eterna. 
O carrasco colocou seu dedo indicador num leitor quadrado ao lado da porta cinza bem no fim do corredor e ela se abriu. Então me arrastou por um novo lance de escadas que se iluminou assim que passamos. Um leve aroma de álcool me recebeu, acrescentando um ponto em minha agonia.  
O piso era claro e encardido, e eu tentava não me atentar às manchas em vermelho nas frestas, mais concentradas perto da única cadeira centralizada. Feita num material metálico, seus braços e pernas continham travas abertas em forma de meia lua. Meus batimentos cardíacos falharam.  
Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, Deus.... 
Fui jogada no assento e minhas pernas amoleceram. Mesmo que eu fosse estúpida o suficiente para tentar correr, aquilo não funcionaria. Animado demais, meu novo amigo envolveu as travas em meus pulsos e canelas, ajustando para que não sobrasse espaço. Fechei as mãos em punho, me recusando a colaborar. 
De onde estava, eu tinha visão de um armário grande de três repartições do mesmo material da cadeira. Eu não queria descobrir o que havia ali dentro, embora soubesse ser o inevitável. 
Meu olfato captou outra substância diluída em álcool, desespero. As paredes cheiravam a desespero e dor. De forma muito pior, equiparei a sensação com a de sentar na cadeira de um dentista. O diferencial era que o dentista não queria me fazer mal, e mesmo assim eu tremia de medo. Naquele momento, daria tudo para estar no dentista. Se tivesse que me arrancar algum dente, ele o faria com anestesia. Anestésicos eram os últimos utensílios que eu esperava encontrar naquele armário. 
Se afastando, o carrasco me contemplou com um sorriso duro.  
— Ok, senhorita Evans, gostaria de dizer alguma palavra aos seus pais antes que comecemos nossa sessão? — ele apontou com a cabeça para trás dele. 
Tensa em tirar os olhos dele, espiei por um segundo, vendo a câmera posicionada no canto da parede. Senti meu peito subir e descer um pouco mais rápido. 
— Você não precisa fazer isso — implorei, mal ouvindo minha voz. 
Ele se voltou para o armário enquanto falava e eu olhei para o chão, escolhendo não sofrer por antecipação.  
— Aí é que está, eu preciso. É meu ganha pão. Não sou como você que tem toda a vida feita com o dinheiro do papai. E vamos ser honestos — seus pés giraram no calcanhar, virados para mim — Creio que ele não está disposto a abrir mão por você. 
Pensei que meu coração escalava para sair pela boca, ouvindo cada vez mais alto seu martelar em meus ouvidos, dificultando minha audição.  
— Podemos fazer com que colaborem, o que acha? Se eles nos ajudarem logo, você ainda pode ter alguns membros do corpo para realizar algum trabalho digno para seu sustento. 
Não levantei o rosto quando ele parou na minha frente, tentada a fechar os olhos.  
— Agora, preciso que me ajude querida, pode abrir a mão por um segundo? Depois você pode fechar outra vez, eu não me importo.  
Neguei repetidas vezes.  
Ele vai arrancar meu dedo, eu sei que vai arrancar meu dedo. Eu preciso de todos eles. Deus me deu dez. Eu preciso dos dez.  
Mordi o lábio, tentando conter o bolo que subia por minha garganta. 
— Faith, só vou pedir mais uma vez, abra a porcaria da mão — da água para o vinho, ele já estava irritado.  
Mantive os olhos no chão, eu não queria ver o que segurava. 
Neguei mais uma vez e um pingo de água desceu quente pela minha bochecha.  
Então ao mesmo tempo, uma dor aguda e alarmante se espalhou pelas costas da minha mão direita ao passo que ouvi o derrapar de uma moto vindo do lado de fora. Quando procurei o problema, notei meus dedos abertos e trêmulos no braço da cadeira e uma mancha crescente vermelha nas costas da mão. Ressentida, entendi que ele havia batido ali com algum instrumento como punição e que não havia moto nenhuma, o som agudo saíra dos meus lábios. 
— Melhor assim. De qual dedo você menos gosta? — perguntou amigável.  
Não tendo forças para autocontrole, me permiti ver uma espécie de alicate em suas mãos. A hipótese agora era fato.  
Me retorci na cadeira, choramingando e estremecendo de dor quando mexi a mão direita. Rezei para que aquilo fosse o suficiente para anestesiar meus dedos.  
— Por favor, por favor... 
Ele suspirou, segurando com brutalidade minha mão machucada.  
— Eu escolho por você. Soube que estava se envolvendo com um dos Biebers, é verdade? — com a voz leve, introduzia o assunto — Não acho que eles sejam de gestos românticos, mas vou adiantar seu lado. Para que ele não te enrole com uma aliança de compromisso e parta logo para o casamento, pensei em tirar o anelar da mão direita? Não é uma ótima ideia? 
Ignorei a dor lacinante, tentando a todo custo tirar minha mão da sua. Firmando o aperto, ele inutilizou minhas tentativas inúteis de escapar. E então eu estava implorando outra vez, o pânico se materializava em gotículas que escorriam da minha testa e olhos. Ele separou meus dedos, segurando o anelar para em seguida manusear o alicate.
Não havia escapatória, a única coisa que eu podia fazer era fechar os olhos com força. Minhas canelas já reclamavam de toda a agitação das pernas que queriam a todo custo chutar a cara daquele demônio. Lamentei em voz alta ter que perder um dedo, e pedi que Deus me ajudasse, gritando em seguida coisas não identificáveis que surgiam na minha boca. 
Eu não estava preparada quando aconteceu. Na verdade, não havia como me preparar para aquilo.


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