Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

segunda-feira, 20 de março de 2017

One Life 46

O aquecedor estava em pleno funcionamento, Faith atirava seu casaco na cama, mas eu tinha a impressão de que seu corpo era uma pedra de gelo, distante, inalcançável.
Ela colocava as joias nas respectivas caixas em cima da mesa quando seus olhos pararam outra vez no papel pardo.
— Pode abrir, se quiser — ofereci, tirando o sapato e a meia, me concentrando mais do que o necessário na tarefa.
— Hm, o que é? — perguntou ela desconfiada.
Dei de ombros, aparentando indiferença. Depois do que havia sido dito, não poderia me enganar pensando que se interessasse com o rumo que meu sobrenome teria.
— São alguns documentos que Ryan conseguiu pra mim, sobre minha família.
Inusitadamente, o interesse transpareceu em seu rosto.
— Você já olhou? Diz sobre sua mãe e seus irmãos?
— Não olhei ainda. Estou esperando que sim.
Ela cruzou os braços, mordiscando o canto da boca com nervosismo.
— E não está curioso para investigar?
Sondei sua reação, confuso com a oscilação de humor. Embora fosse improvável, ela estava de fato envolvida.
— Acho que sim — caminhei até o pacote na mesa e o segurei nas mãos — Quer olhar comigo? Quer dizer, eu vou precisar de ajuda.
Entortando o nariz, ela parecia estar lutando consigo mesma para recusar.
— Tem certeza?
Me sentei na cama destinada a mim por nosso acordo não verbal, batendo no espaço ao lado para que se sentasse ali como forma de reafirmação. A passos incertos, ela preferiu se empoleirar no seu próprio colchão, inconscientemente inclinando-se na minha direção.
Os minutos prazerosos de Ryan não foram suficientes para que estufasse o pacote de documentos, e não me dei ao luxo de pensar encontrar alguma informação valiosa ali.
Por mera praticidade, se Faith não se sentaria ao meu lado por vontade própria, decidi que assim eu o faria. Quase como um reflexo, ela se afastou um pouco assim que meu peso afundou mais um pouco seu colchão, mas não reclamou, atenta ao movimento que eu fazia para abrir o pacote. Retirei todo o conteúdo e o dividi em dois, estendendo uma parte para Faith.
— Assim vamos mais rápido — expliquei.
Suas mãos seguraram a pilha sem confiança e eu soube que estava repensando sobre me ajudar. Ignorei sua hesitação, avaliando minha parte. A primeira folha era uma ficha minuciosa de Jeremy, como a que todos os membros da Companhia deviam ter. Passei os olhos no documento, me detendo no tópico “Histórico Estado Civil”. Três casamentos era o que constava. O riso de escárnio ficou preso em minha garganta.
— Ah! — a exclamação de Faith roubou minha atenção — Esses são sobre você.
Olhei por sobre seu ombro, encontrando uma foto amarelada presa com um clip a uma ficha igual a que eu segurava. O bebê na foto tinha cabelos loiros lisos moldando o rosto rechonchudo.
— O que quer dizer “Classe A”? — perguntou.
— Uma identificação para os membros legítimos da família.
Ela estudou o papel com mais afinco, franzindo a testa de ceticismo ao final da leitura.
— Acessos de raiva frequentes, explosivo, ansioso, sentimental — recitou — Potencialmente nocivo.
Tamborilei os dedos no queixo, fazendo meu juízo de valor quanto aos adjetivos atribuídos. Faith esperou pacientemente o veredicto.
— Sim. Esse sou eu. Tudo o que não podem controlar é uma ameaça. Então provavelmente sou nocivo.
Ela arregalou os olhos com uma perplexidade fajuta.
— Você me parece extremamente inofensivo.
— Acho que já sabemos o bastante sobre mim — fiz menção de pegar o papel, ela o afastou.
— Não sabemos. Tem mais alguma coisa a esconder de mim?
Levantei a mão em rendição, permitindo que prosseguisse. Perguntei-me se precisava me preocupar com algum segredo obscuro que a aborrecesse. Meio segundo depois decidia em qual cemitério gostaria de ser enterrado. As informações sobre meu falecido pai não me entretinham mais, então o arfar silencioso foi suficiente para que eu olhasse Faith já na defensiva.
De queixo caído, ela leu em voz alta:
— Advertência da escola: o aluno apresentou comportamentos indecentes ao se insinuar para a professora de educação física — eram as aulas que eu mais gostava, não podia negar. Ela mudou de página — Expulsão: Justin Drew Bieber foi flagrado em atos libidinosos no vestiário com a docente Kris Hillfigter (dispensada).
— Eu não me lembrava disso — menti. Na verdade, fora um dos únicos dias que deixara Jeremy orgulhoso.
Faith me fuzilou com os olhos, transparecendo “não admitir torna sua situação mais precária”.
— Ela não era muito mais velha. Eu já estava no colégio.
Seu revirar de olhos quase produziu som.
— Você é tão previsível.
Se ali estava a história com a professora de educação física, ela não gostaria de continuar a leitura...
— Suspensão: o aluno, por meio de um espelho fixado em cima do sapato, espiou roupas íntimas das colegas de saia.
Quase não esperei que terminasse.
— Eu estava em uma época complicada — me defendi — E se continuar lendo, vai encontrar alguns casos violentos também. Minha vida estudantil foi conturbada.
Ela suspirou, descartando ao seu lado o que supus serem mais históricos escolares.
— Vocês garotos deveriam pensar com a cabeça de cima.
Contive o riso. Seu intuito não era me fazer rir.
Voltei ao trabalho, mais aliviado por termos superado a parte do julgamento. Após uma lista dos bens imóveis de Jeremy, estava sua linha sucessória. “Três filhos: Justin Drew Bieber, Jasmyn Kathleen Bieber e Jaxon Julian Bieber”.
— Você é canadense, como sua mãe — Faith disse surpresa, me mostrando a certidão.
Teria a de Jaxon e Jasmyn também?
— London, Ontario — eu li, atingido por mais uma novidade.
Próximo ao garrancho mal feito de Jeremy estava a caligrafia calculadamente arredondada de Patricia Elizabeth Lynn Mallete, como se ela pudesse usar o registro para me dar aulas de caligrafia.
Agora eu possuía o nome inteiro de todos.
— O Canadá é legal — Faith murmurou. Tive a impressão de que tentava amenizar o impacto — Sempre quis conhecê-lo.
O quão irônico seria se Patricia estivesse onde tudo havia começado?
Passei a ponta dos dedos no relevo que sua escrita deixara na certidão, tentando visualizar em quais circunstâncias fora feito. Se o papel pudesse apreender sentimentos, quais seriam os deixados ali por Patricia? Estaria feliz por conceber de Jeremy? Saberia termos pouco tempo juntos? O capricho na letra não indicava pressa, mas zelo. Zelo de quem se orgulhava. Zelo de quem pensava ter uma vida inteira para eternizar aquele momento.
Num contraste frustrante, essa não era a realidade presente. Patricia abandonara seu filho de seis meses em uma Companhia de assassinos, escolhendo para um incapaz o seu destino.
— Hm, suponho que esse seja seu irmão? — Faith me puxou de meus devaneios, me apresentando uma foto colada a uma declaração.
Poderia estar sendo pretensioso, mas reparei em várias semelhanças minhas com o aparente Jaxon. Sua fixa não estava preenchida, contendo apenas o aniversário do garoto de agora sete anos e o transcrito em negrito com uma data em vermelho “Jaxon Julian Bieber, resgatado e transferido para a sede”.
Resgatado? Essa era a palavra?
— E essa sua irmã?
A ficha de Jasmyn estava exatamente igual. Então minha suspeita de sua localização estava certa.
— Onde fica essa sede?
Separei as fichas dos dois, folheando o restando dos papéis em minhas mãos.
— Minnesota. Cresci por lá. A ala infantil é bem reforçada.
— E quando você veio para cá?
Guardei o que já havia analisado mais satisfeito com o resultado do que esperava.
— Quando terminei o colégio. Ainda gosto mais de lá, embora seja mais rígido, tenho influência maior. Não acho que vai ser difícil descobrir se os dois estão mesmo por ali, mas preciso fazer isso num espaço de tempo curto para que não tenham tempo de transferi-los outra vez assim que souberem que procuro por eles — olhei para suas mãos pousadas em cima de sua pilha organizada — Descobriu mais alguma coisa?
Ela me entregou os papéis com um ar de trabalho cumprido.
— Bom, suas vacinas estão em dia.
Devolvi o restante para o pacote, tirando uma foto com meu celular da certidão e dos comprovantes de transferência.
— Informação relevante.
— Assim sabemos que não transmite raiva — ela me deu uma cotovelada.
Fechei o envelope, cogitando a possibilidade de não devolver os documentos. Quando sentissem falta, Stacy estaria encrencada. O que não era exatamente um problema, seu sorriso vulgar acompanhado do excesso de confiança conseguia ser irritante muitas vezes.
Conferi a resolução das imagens em meu aparelho, e acabei me detendo na foto de Jaxon. O que ele pensaria de ter um irmão mais velho? Um acréscimo genético em sua vida?
— Eles vão gostar de você — Faith murmurou baixo e convicta.
Seu sorriso compreensivo e fixo mostrava que não havia nada de errado com insegurança.
— Eu não teria tanta certeza disso.
Ela endireitou a postura, como se aquilo a deixasse mais convincente.
— Eu já te vi com crianças, lembra? Com elas você tem jeito. E se qualquer coisa der errado, esteja preparado com um punhado de doces.
Me imaginei atirando doces a distância quando estivessem tendo uma crise de nervos.
— Claro que o ideal seria você mudar por eles e viverem como uma família de verdade.
Expirei, me jogando de costas na cama com toda aquela pressão em cima do meu estômago.
— Consegue imaginar isso? Eu preparando um café da manhã de cereais coloridos e os levando à escola na minha  mini van?
Houve um momento de pausa, então Faith concordou. Não sabia dizer se era só pra me animar.
— Não tenho vocação para ser pai e nem condição de exercer essa função.
Ela fez uma cara de tédio, me olhando de cima.
— Você não pode afirmar coisas dais quais não sabe.
No caso, eu podia. Era uma realidade completamente distante da minha. Em um mundo simples, talvez eu pudesse mudar de profissão, comprar uma casa maior e segura, gastar grande parte do meu dinheiro com brinquedos e roupas que não serviam em mim, e para completar a fantasia, acompanhado de uma mulher que me ajudasse a vencer as dificuldades diárias com um sorriso positivo no rosto. Faith Evans. Se houvesse possibilidade de formar uma família, não me restavam dúvidas de que seria com ela.
— Não existem coisas impossíveis, existe limite da força de vontade que inviabiliza nossas metas ilusoriamente. E não é do seu feitio respeitar limites — insistiu.
— Quem tem limite é município — concordei da boca pra fora, esfregando as pontas dos dedos nas têmporas.
— Então estamos combinados.
Se aquela ilusão a deixava mais feliz, eu não discordaria.
Num movimento inesperado, Faith se jogou ao meu lado, puxando todo o cabelo para o ombro direito, deixando a pele visível onde o tecido do vestido não cobria, abrindo caminho para seu pescoço e nuca, um trajeto extremamente atraente para meus lábios. O cheiro adocicado de sua pele alcançou minhas vias respiratórias antes que eu pudesse me preparar.
Engraçado como o mundo esfrega todos os seus fracassos no seu rosto.
— Acho que Hanna deveria vir conosco — cuspi a informação, sedento por uma distração.
Ela virou a cabeça para mim, surpresa, esperando que eu me justificasse.
Mantive os olhos no teto, sabia que olhar pra ela diminuiria ainda mais a distância entre meu desejo, e não me agradava ser masoquista.
— Guilherme foi quem mandou aqueles dois idiotas para o shopping hoje, prefiro que ela esteja a vista pelo menos nesse início — esclareci.
Faith bufou, encarando o vazio como se olhasse para o rosto de Guilherme.
— Não gosto de dizer isso, mas eu realmente odeio esse cara. Por que ele não me deixa em paz e vai arrumar o que fazer? Isso pra mim é uma admiração encubada.
Sem olhar, eu sabia que sua testa se enrugava para semicerrar os olhos, a boca se franzia ligeiramente. Eu esperava que apreciar sua fisionomia irritada não me tornasse um pouco mais sádico.
— Mais fácil seria dizer quem não tem uma admiração encubada por você.
Imediatamente sua garganta emitiu um riso histérico.
— Ah meu Deus, você é de fato iludido.
Olhei pra ela com intensidade, indignado.
— Quase fui obrigado a destruir a integridade de todos os homens no baile de Hall. Então os argumentos estão a meu favor.
A coloração rosa se concentrou em suas bochechas, fazendo com que ficasse desconfortável. Ela estalou os nós dos dedos, pensando em uma forma de retrucar ao devolver meu olhar. Meu entusiasmo persuasivo expresso no rosto a pegou desprevenida, terminando de desconcertá-la. Lembrei-me tardiamente que essa posição deixava sua boca macia e convidativa muito mais perto da minha, caçoando da minha impossibilidade de possuí-la.
Uma onda de calor preencheu o ambiente. Se não estivéssemos sozinhos teria certeza de que alguém aumentara a temperatura. Mas estávamos sozinhos. Deitados. Próximos. E teoricamente, desimpedidos. Meu corpo estava pronto, a mente premeditava todos os movimentos possíveis para que eu me afogasse em sua pele morena, bebendo o suficiente para entrar em overdose.
Desabotoei os dois primeiros botões da minha camisa, sentindo-me sufocado. Faith acompanhou o movimento com os olhos, deixando escapar um traço perturbado em suas feições.
Tivemos aquela conversa momentos antes, eu sabia que minutos não eram suficientes para fazê-la mudar de opinião, mas não resisti a ao menos me inclinar e tocar vagarosamente com meus lábios a parte a mostra de seus ombros. Eu sentia sua respiração forte em meu rosto, me tentando a subir com os beijos e tomar seu rosto nas mãos. Por hora, deveria me conformar por não ter levado um tapa estalado por essa liberdade roubada.
Me afastei com certa dificuldade, me pondo em pé num impulso só.
— Vou esperar no corredor enquanto se troca — avisei, deixando o responsável por nossa proximidade de volta à mesa ao disparar para a porta.
Um vislumbre do banheiro me serviu de lembrete sobre o quanto aquela era uma péssima desculpa.
Me sentei no chão, tentando acalmar os ânimos. “Vocês garotos deveriam pensar com a cabeça de cima” Faith dissera. Eu podia fazer isso. Preenchi minha mente com as próximas táticas do jogo.
Peguei o celular no bolso da calça, discando o número de Ryan. Ele não demorou a atender. O ambiente atrás da linha estava conturbado.
 Tudo bem, estou honrado com essa renovação de confiança, mas confesso não estar entendendo o plano.
Respirei fundo, guardando um pouco mais a motivação.
 Está com ele?
— E alguma vez fiz um serviço mal feito? Estamos na Wild Life, não precisei de muito para convencê-lo a vir. Da forma que está se entregando à bebida, diria que até sente a ameaça.
Fechei a mão em punho. Hoje seria a oportunidade perfeita. Seria. Seu ataque falhara, então era minha vez de empenhar o próximo golpe.
— Não o perca de vista, Butler, se necessário use força física. Eu cubro você.
Ele produziu um muxoxo. Despreocupação era quase seu estado de espírito permanente.
— Não se preocupe com essas coisas. Posso saber o que ele fez agora? O cara é um saco, soubemos desde o princípio, mas achei que ignorar a existência dele funcionava.
— Ele mandou gente atrás da Faith — revelei entredentes — Já estava sondando, mas decidiu agir hoje efetivamente.
Contrariando meu humor, Ryan riu animado.
— Cara, ele está tão ferrado. Não é como se só tivesse violado o código de ética.
Após desligar — reforçando que Ryan não deixasse Guilherme sumir — recusei mais uma ligação de outro número desconhecido. Me compadeci do irmão de Faith, contra ele eu não tinha nada. Sabendo não ser o bastante, digitei uma mensagem endereçada à Hanna. “Ela está bem e assim permanecerá, eu prometo.”
Para ser sincero, a presença de Hanna em nossa viagem à Califórnia não era totalmente estimulante, mas eu não tinha escolha. Deixei para que Faith a convencesse de vir conosco, já reservando uma passagem para o final do dia, devido a lotação em nosso voo. Ryan apreciaria mais passar o dia de babá da loira alta do que do estúpido Guilherme. E esse era o tipo de consequência por me oferecer ajuda.
O celular vibrou.
Eu juro que se alguma coisa acontecer a ela vou cortar seu passarinho fora. Você não me conhece,  Justin Bieber”
Eu poderia levar as ameaças de Hanna a serio se não soubesse que conseguiu sentir interesse pela cabeça de ovo de Guilherme. Mas em se tratando da proteção de Faith, não duvidaria da capacidade de adquirir forças sobrenaturais. Ela causava esse tipo reação intensa.
O ritmo das ligações diminui após a mensagem, até que se extinguissem me deixando solitário no corredor. Cogitei a possibilidade de dormir ali, relutante em invadir o espaço de Faith, e consciente de que deveria bloquear a saída para o caso dela eventualmente pensar em algum plano estúpido. De qualquer forma, sabia que não teria uma noite tão tranquila de sono com os assuntos pendentes estourando no prazo. Faith era uma péssima influência, não era do meu feitio fugir dos problemas. Mas como envolvia sua segurança, eu não estava disposto a correr nenhum risco.
Estava justamente traçando nossos primeiros passos na Califórnia, desejando secretamente que houvesse oportunidade para darmos um pulo na praia, quando a porta se abriu timidamente a minha frente. Colocando metade do corpo para fora, Faith me olhava sem jeito.
— Acho que você já pode entrar agora.
Atento ao seu tom de voz, percebi que era mais um pedido para que lhe fizesse companhia. A solidão era mais aterrorizadora do que passar um tempo ao meu lado. Sendo o responsável pela origem do sentimento, ser sua única opção se tornava irônico.
Tendo noção do fato, Faith demorou em sair da frente da porta, rígida. Fechei o trinco atrás de mim, reparando no pijama de seda dourado que vestia enquanto se dirigia para a cama.
— Sua amiga não parece ser do tipo que dorme de roupas — comentou desconfortável, escondendo as pernas com as mãos assim que se sentou.
Certo, deveria tomar mais cuidado para onde olhava.
Pegando uma bermuda no guarda roupa, entrei no banheiro para me trocar. Não demorei muito, já prevendo o incômodo no rosto de Faith assim que visse que eu não dormiria de camisa. Não era uma coisa que eu fosse abrir mão. A menos que desligássemos o aquecedor.
Ela ainda estava na mesma posição que eu deixara, encarando o vazio inexpressiva. Não era bom sinal que se perdesse em pensamentos naquele contexto.
Pigarreei, chamando sua atenção, direcionando-a diretamente para meu abdômen desnudo.
— Ao que parece, deixou passar um detalhe em suas compras.
— Pensei que não te incomodasse mais.
Ela fez cara feia, detectando meu cinismo.
Estava pronto para me jogar na cama quando sua palma da mão sinalizou que eu parasse.
— Preciso da sua profunda sinceridade agora.
Entrei na defensiva, apertando um pouco os olhos.
— Quanto ao que?
— Você trouxe o Boa-noite Cinderela? — sua pergunta tendia para uma acusação.
Eu tinha o pressentimento de que ela me interpretaria mal, entretanto mentir não melhoraria.
— Sim, mas — acrescentei rápido — não com o intuito de usar em você. É só uma precaução para eventos de força maior.
Não foi convincente e ela estendeu a mão.
— Me dê— exigiu — Não confio em você e não vou deixar que use isso em mim de novo.
A questão não estava aberta para discussões, mas eu não estava certo de que deixar em suas mãos era a melhor solução para o impasse.
— Justin Bieber, se quer que eu confie em você, me dê a droga do frasco.
Relutante, resgatei o vidro do paletó no guarda roupa e o pousei com cuidado na palma de sua mão. Ela fechou os dedos em volta com ímpeto antes que eu pudesse mudar de ideia.
— Comprei uma passagem para Hanna no voo das cinco, seria bom se pudesse convencê-la.
Ela concordou com a cabeça antes de virar de costas e deitar, se ajeitando entre os lençóis. A mão que guardava o frasco se escondeu embaixo do travesseiro.
— Você apaga a luz? — disse ela, deixando explícito que era o fim do dia para nós dois.
Não questionei, deitando de barriga para cima e me esticando para alcançar o interruptor ao lado da cama. O quarto abrigou o escuro, embora permitisse a invasão da meia luz refletida pela lua, fazendo sombras por ele.
Não me surpreendia estar sendo atacado pela insônia, atento a cada ruído produzido no ambiente. Eu podia ouvir o zumbido quase imperceptível do aquecedor, a pele de Faith roçando no lençol quando mudava de posição e a frequência de nossa respiração. Assim, percebi quando houve uma alteração na sua. Demorando em renovar os ciclos respiratórios, inspirava devagar e expelia o ar pela boca, como se estivesse tendo dificuldades para respirar.
Ela ainda estava de costas para mim, encolhida, e seus ombros me pareciam tensos.
— Faith?
Não houve uma resposta, mas ouvi sua fungada quase silenciosa.
— Está tudo bem?
Dessa vez, ela balançou a cabeça para frente. Sua habilidade de mentir não melhorava quando evitava as palavras.
Acendi o abajur.
— O que há de errado?
Depois de um longo momento de silêncio, me preparava para ir até ela e interpretar sua expressão, mas a resposta veio primeiro:
— Esse… foi um dia de merda — choramingou com a voz embargada.
Encerrando o expediente, nossa mente enfim tem um tempo de apreender todo o ocorrido. A de Faith estava com sobrecarga emocional. Eu sabia que em algum momento não suportaria, mas não deixava de ser perturbador presenciar essa sua reação.
Incerto de que aquilo fosse melhorar as coisas, arrastei o criado mudo, arrancando o fio do telefone e do aparelho de wi fi, até que o meio entre as camas estivesse livre. Depois, empurrei minha cama até que se encostasse à sua, produzindo menos de barulho que eu conseguia. Eu não me arrependia de não ter escolhido desde o princípio um quarto de casal, demonstrava que eu não a forçaria a nada.
Com os olhos molhados, Faith observava por cima do ombro, exausta demais para questionar o que eu fazia.
— Não te contaram? A vida é uma grande bosta produzida pelo orifício de uma vaca.
A linha de sua boca se afinou, aprisionando o riso.
Deitei-me novamente, detendo-me no meu espaço para que não se sentisse invadida. Abri os braços para fazer a oferta.
— Mas talvez fique mais fácil se se deixar abraçar pelo esterco.
Seu sorriso tristonho se distinguiu no meio de seu embaraço.
— Essa é a pior tentativa de consolo que recebi na vida — murmurou, limpando a umidade em seu rosto.
Supondo ser uma deixa de sua permissão, me arrastei para mais perto, atravessando a cama única improvisada. A envolvi ternamente em meus braços. No início, seu corpo estava rígido, mas conforme eu acariciava seu cabelo, foi relaxando, até que repousasse a cabeça em meu  peito, se aconchegando. E assim me senti inteiro.
— Eu sou a pessoa mais estranha da terra — comentou, se referindo ao fato de aceitar meu conforto.
— Qual seria a graça de ser normal?
Meu batimento cardíaco estava mais forte e pesado, tentando transmitir a mensagem que ecoava em minhas veias para seu ouvido colado em meu peito.
— Como está seu ferimento? — perguntou atenta ao curativo ainda colado à minha pele.
— Logo retirarei os pontos. E o seu?
Ela não demorou a entender a referência, suspirando.
— Vai passar.

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