Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

One Life 41

JUSTIN. 

Tempo que decorre corre e vai embora  
Marca que existe hoje não existia outrora 
As folhas não mais rodopiam e os parques se esvaziam  
O inverno invade e bate uma... Saudade? 
Involuntariamente minha testa se vincou de desaprovação. Aquela não era uma palavra precisa e lógica, portanto não deveria estar em meu vocabulário. Mais uma indicação de que meu cérebro estava em pane, todos os neurônios desprovidos de armas estavam em guerra, desnorteados por não saberem ao certo a qual causa serviam. 
— Você está me ouvindo, garoto
O toque nada sutil de desprezo na voz de Brad era costumeiro, principalmente quando se dirigia a mim. Não importava o que eu fizesse, sempre era defeituoso aos seus olhos. Efetivamente, eu sabia que aquela era uma guerra de poder, meu tio tinha conhecimento do meu potencial e temia o fato de George substituí-lo como administrador da filial por alguém mais eficiente. Eu, no caso. Seu trabalho em campo chegava a ser grotesco e rudimentar.  
Por todas essas razões, levantei lentamente meus olhos monótonos em sua direção do outro lado da mesa preta para mini reuniões, ridicularizando sua autoridade irrisória.  
— O que te faz pensar que não estava, Brad? Meus ouvidos são extremamente sensíveis à sua voz.  
Suas narinas inflaram de ira e o canto da minha boca se repuxou satisfatoriamente por atingir meu objetivo. 
— Eu te dou 24 horas para concluir o pedido, caso contrário, o caso será repassado. Guilherme demonstrou interesse em cumpri-lo — vociferou. 
Todo traço de humor em meu rosto cedeu para perversidade. Eu me endireitei na cadeira para que não restasse sombra de dúvida do meu apontamento.  
— Meus casos são exclusivamente meus. 
Ele sorriu com deboche, empurrando seu assento para trás e se pondo em pé, sinal de que a reunião estava acabada e ele não seria contrariado.  
— Então espero que consiga concluí-lo até a mesma hora de amanhã. Você sabe que não gosto de dever favores ao departamento de polícia e quanto isso afeta nossa reputação.  
Me ergui apoiando as mãos na mesa, me inclinando em sua direção com o olhar fixo e ameaçador. 
— Você não faz ideia do que posso fazer em vinte e quatro horas. 
Sua postura não se abalou e ele abotoou distraidamente seu paletó para desvalorizar minha palavra. 
— Espero que isso não seja uma ameaça ao administrador, você conhece as normas, sabe o quão severa é a punição por apenas uma afronta. 
Imaginei que pudesse queimá-lo vivo apenas com o olhar intenso de ódio que jogava em sua direção. Minhas mãos imediatamente agarraram a beira da mesa e eu podia sentir as moléculas destrutivas e impulsivas subindo pelas pontas dos meus dedos. Embora nada mais naquele momento me fizesse feliz do que quebrar as vértebras do seu pescoço, contive o impulso com toda a quota do meu superego.  
— E eu espero que saiba com quem está mexendo. Você sabe que também tenho minhas influências, tio
Seu olhar se voltou para mim e ele pode perceber minha luta interna para ficar imóvel. Isso o agradou mais do que deveria. Ele me deu uma piscadela.  
— Boa sorte, sobrinho — murmurou, encerrando a conversação. 
Deixei meu lugar ruidosamente antes que ele pudesse se mover e escancarei a porta. Butler, até aquele instante invisível no canto da sala como testemunha do acordado, me seguiu, alcançando-me apenas no meio do corredor depois de sua voz desvelada. 
— Drew, vai devagar cara, Brad já está no seu encalço. 
— Butler, o momento não é bom — respondi entre dentes. 
Eu sabia que era questão de tempo até Faith me denunciar à policia, não era nenhuma surpresa. Todas as relações são circundadas pela disputa de poder, e essa era sua jogada para se sobressair às minhas. Como consequência, eu deveria devolver com um novo lance, o jogo era vital para mim, e em outras circunstâncias eu nunca aceitaria perder. Neste caso entretanto, apenas o movimento escolhido me aborrecia.  
— Você não quer me contar, mas sei que tem alguma coisa acontecendo. Sabe que pode confiar em mim — insistiu Ryan. 
— Eu vou socar seu rosto — avisei para que recuasse. 
— Eu sei, só que mesmo assim quero ajudar você. Estou te vendo amarrar uma corda no pescoço e não vejo motivo para isso. O que tem de tão especial nesse brinquedo que não consegue largar mão de uma vez? 
Brinquedo. 
Era meu limite, Brad extrapolara meu limite de paciência diário, o que significava em nada para me agarrar que mantivesse Ryan vivo. 
Virei-me com um gancho de direita repentino, e devido nossa convivência constante ele estava prevenido, segurando meu punho antes que acertasse seu nariz. O que não se podia dizer também do soco no meio de seu estômago. Sua boca expeliu uma lufada de ar. 
— Porra, Justin — resmungou num gemido. 
Ajeitei meu paletó antes de prosseguir o trajeto, dispensando qualquer comentário. 
Cheguei ao meu carro em um segundo, cantando pneus para fora da mansão quase sem dar tempo para Joshua abrir o portão. Essa era uma regalia que eu não poderia usufruir, tempo. 
Meu raciocínio fluía a mil por hora, delineando todas as rotas alternativas possíveis, considerando aquelas que eu dispensara num primeiro momento. De alguma forma, ferir Faith Evans estava fora de questão, entretanto, qualquer resolução célere deveria ser pautada. Se ao menos Bryan Evans não fosse tão pertinaz e avarento... 
Ainda que esse revés fosse inadiável, dirigi àquela rotina adquirida semanas atrás. Eu sabia que estava beirando a um viciado em heroína, mas me recusava a fazer algo mais antes de me esgueirar pela sacada da garota enroscada nos cobertores, sem fazer a mínima ideia do quanto cada fibra do meu corpo ansiava estar no lugar do tecido de algodão. 
Quando ia à faculdade Faith acordava às sete — não exatamente, por insistir em resistir ao despertador — e nos dias de falta, mais frequentes do que o esperado para boas notas, no máximo às dez. Semana passada em particular, seu horário estava desregulado e me peguei paranoico algumas vezes para saber se estava mesmo respirando ou se outra pessoa chegara primeiro que eu. Minha paralisia durava segundos infinitos de discussão interna para decidir se eu deveria entrar e checar seu pulso até que ela se mexesse.  
Não precisei suportar daquela aflição outra vez, agradecido por chegar minutos antes do celular de Hanna — adormecida num colchão ao lado da cama colossal de Faith — despertar. Me desagradou o fato de seu rosto estar entalhado em sofrimento e convenci a mim mesmo de que era responsabilidade de um sonho inquietante sobre uma porção inteira de batatas caindo na areia, e não devido às coisas que descobrira recentemente. Coisas que a feriram tão profundamente para serem transformadas em uma fúria depositada em meu órgão sexual. Ela era a única que sairia impune a uma afronta dessas, mesmo que me nocauteasse outra vez por sua denúncia. 
Você está ficando mole, Justin Bieber. 
O cabelo castanho escuro embaraçado — que ela não penteava a menos que tomasse banho — caiu em seu rosto com o movimento abrupto da cabeça se afundando no travesseiro. Depois sua mão deslizou os fios para trás e pude ver sua expressão, me dando certeza de que estava choramingando. Um segundo depois o travesseiro de Hanna foi lançado em seu rosto. Ela não gostou da brincadeira. Mais mal humorada do que o costume, se arrastou para o banheiro, dando cada passo como se fosse seu último. 
Conforme eu previra, seu estado de espírito se impregnou em mim, acentuado por saber que aquilo era culpa minha e não tinha conserto. Nada do que eu fizesse mudaria o fato de que eu a havia atraído para a morte certa. O que não era nenhuma novidade para mim. O único impasse com o qual não contava era ter encontrado alguma coisa gritando em seus olhos que não só me provava seu merecimento pela vida, como também um fascínio que me tornava prisioneiro de sua existência. E isso não era recíproco. Faith não estava afeiçoada a mim, pelo contrário, se atraía por uma idealização de sua mente personificada em meu aspecto físico. Ela não me aceitava como eu era, comprovando as palavras de Jeremy da minha incapacidade de ser amado. 
Senti o batimento surdo do músculo oco em minha cavidade torácica enfrentar a promessa de que nunca me deixaria quebrar outra vez. Eu sabia que sentimentos não conduziam à glórias. A própria encarnação de emoções saía naquele momento do banheiro travando uma batalha para expulsar os seus, tentando se livrar daquilo que a tornava tão frágil e ao mesmo tempo tão extraordinária. Faith deveria entender que o problema não era com ela, seu infortúnio foi ter parte de seu destino traçado ao meu. Ela não nascera para se esconder em minhas trevas, e eu faria com que ficasse segura novamente para apagar todos os danos que trouxera, independentemente do que fosse preciso.

Aquele, portanto, fora o dia mais estressante que eu conseguia me lembrar. Geralmente este trabalho costumava ser prazeroso, motivo pelo qual não necessitava de férias e consequentemente me destacava na Companhia. Status este que não me era tão mais atraente, tanto quanto a ideia de passar uma semana em Las Vegas, única idealização de férias que eu conhecia herdada de Jeremy.  
Desenhei as quatro estratégias existentes no papel, colocando andamento em todas para o caso de alguma falhar. Este era o segredo do meu êxito ininterrupto. Uma probabilidade menor no momento devido minha ganância de inviabilizar a última, embora fosse a mais lógica e prática. De qualquer forma, ninguém desfrutava mais de um desafio do que eu. 
Caitlin não se enquadrava nessa categoria. 
— Me poupe do discurso de que não quer me colocar nessa, sei que no fundo tudo o que te importa são seus interesses — ela estourou a bola de chiclete que formou e cruzou os braços — Já começaremos a tirar aqueles trouxas do serio? 
Eu deveria estar aliviado por Beadles concentrar a maior parte de seu luto na Companhia, e sabia que sua vingança também me beneficiaria, só não queria que se machucasse, eu devia isso a Christian.  
Suspirei, entregando o envelope em suas mãos. 
— Preciso que coloque isso no correio. 
Ela leu o destinatário antes de bufar. 
— Isso se parece mais com você sendo pau mandado outra vez. E só para constar, não é assim que se reconquista a garota. 
Desejei ardentemente voltar no tempo em que decidi que colocar Caitlin como minha assistente particular ajudaria a supervisiona-la e seria útil. Não era nada funcional. 
Permaneci indiferente, voltando ao meu carro. 
— Um passo de cada vez. Aguarde por mais instruções. 
Seu olhar zangado ultrapassou a lataria do carro. Numa grande volta do mundo, eu devia ser o homem mais odiado pelo sexo feminino. Precisava me munir o suficiente antes de enfrentar a próxima, reunindo o máximo de persuasão que detinha, um misto de arguição pertinente e aparência física.  
Abri a porta de casa mais perturbado com a essência que usaria do que já estive antes. Por essa razão, notei a presença de Ryan Butler mais tarde do que o teria feito normalmente. Ele bebericou o copo que segurava e fez uma careta. 
— Tentei imitar uma bebida que tomei em minha última viagem, mas isso com certeza não tem nada a ver com caipirinha.  
Não dei passo algum, aguardando que seu bom senso retornasse e encarasse o problema no qual se metia.  
Ryan terminou de tomar seu experimento, estremecendo de desgosto, confiante de que não corria perigo segurando o papel pardo com a mão esquerda como se fosse um álibi convincente para invadir minha propriedade. 
— Tudo bem — exclamou em conclusão para si mesmo, colocando o copo na bancada e se levantando — Por que não estou impressionado com seu mau humor? — perguntou retoricamente — Eu te ofereceria a caipirinha, mas está realmente horrível. 
— Cinco segundos, Butler — meu tom de voz deixou evidente que minha paciência não estava melhor do que mais cedo.  
Suas mãos levantaram em rendição. 
— Já te disse, quero ajudar. Se você não estivesse precisando, perceberia que te segui praticamente o dia todo. 
Ele esperava que aquilo melhorasse as coisas? Dei um passo hostil em sua direção. 
— Espere! Entendi que sua fixação pela garota é grande e não vou questionar. Ouvi dizer que é um mal comum entre os homens.  
Outro passo. 
— Então para provar minha fidelidade — falou depressa — resolvi fazer uma pesquisa. Você comentou alguma vez que queria descobrir o paradeiro de sua mãe... 
Mais dois passos. 
Ele recuou para a sala. 
— Você sabe o quanto Stacy dos arquivos confidenciais estava de olhos em mim e que conquistei a confiança dos caras superiores, então fiquei devendo alguns favores e consegui isso aqui — suas palavras se atropelaram e ele me estendeu o pacote — Peguei o máximo de coisa que consegui nos cinco minutos que ela me deu enquanto... — um sorriso ardiloso repuxou o canto de sua boca. Eu podia quebrar seu nariz apenas por pintar aquela cena em minha mente — Você sabe. 
Peguei o papel de sua mão e o encarei austero, prestando atenção nos mínimos gestos que mais diziam do que palavras. 
— E o que você quer em troca? Sabe o risco que corre por furtar a Companhia? 
O mais genuíno dos tédios distorceu sua expressão. 
— Para de ser desconfiado cara, somos amigos, abre aí. 
— Ryan, você sabe que se armar alguma coisa pra cima de mim já pode começar a se despedir de seus conhecidos agora. Certo? 
Ele jogou a cabeça para trás numa grande encenação de frustração. 
— Tem dias que não aguento sua paranoia. Quando perceber que falo serio e te ajudarei com Faith Evans, me ligue. 
Seus passos arrastados insatisfeitos se assemelhavam aos de uma criança birrenta. Apesar de seu espírito pecaminoso, sempre pensei que dentro daquela alma podre sua essência de criança permanecesse. Ryan era brincalhão até quando corria riscos de perder a língua se não calasse a boca, detinha uma audácia que transparecia não ter medo de nada, e por mais estranho que pudesse parecer, me transmitia lealdade. Deste modo, se o papel em minhas mãos não fosse armação — um teste de Brad para me ferrar, por exemplo —, ele era mais leal a mim do que a Companhia. Como Christian fora, Ryan era o mais próximo do que eu podia chamar de amigo, mas todos sabiam que eu tinha problemas com confiança. 
Encarei o papel pardo em minhas mãos, sabendo que eu precisaria de concentração para analisar aqueles documentos com precisão e havia aquela necessidade de compartilhar o momento com alguém. Um alguém que me deu sua confiança sem hesitação e tudo o que fiz foi destruí-la.  
Por isso, o que eu estava prestes a executar era o mais improvável dos planos, eu precisaria de sua aceitação. Como seu nome, tudo o que me restava era fé. E essa subjetividade não me era suficiente.  
Tomando prioridades, fui depressa tomar banho, passando minutos inteiros em busca de uma roupa que dissesse "sou confiável". Meus ternos usuais não se adequavam para que ela entendesse ter um significado muito maior do que um mero trabalho. 
Decidi vestir uma das poucas calças jeans em meu closet, me lembrando de sua reação ao me ver com um da primeira vez, estávamos começando a nos conhecer. Era como se fosse na década passada.   
Completei com uma camiseta preta, jaqueta e tênis da mesma cor, deixando a indecisão para o perfume que usaria. Toda aquela preocupação com aparência estava me deixando nauseado. 
Por fim, peguei a caixa em cima da cama e saí acelerado pela escada, sem esquecer de pegar o papel pardo em cima do balcão.  
Estava quase dando partida quando recebi a mensagem no celular. O rastreador no carro de Faith estava em movimento outra vez. Tive esperança de que estivesse sendo inteligente e fugindo do país, entretanto por bem conhecê-la, deveria prever outro passo impensado que a colocaria em risco. 
Não alcancei seu carro a tempo de seguir seus passos, então fui obrigado a procurá-la pelo shopping — estranhamente cheio considerando o fato de ser meio de semana — que constava no dispositivo. Minha intuição me levou a praça de alimentação com todo aquele ruído de talheres batendo nos pratos e conversas despreocupadas, contrastando meu humor inquieto por não encontrá-la.  
Aonde você se meteu, Faith? 
Era extremamente plausível estar sendo ameaçada de morte e resolver fazer umas comprinhas. 
Eu já estava há exatos vinte minutos perambulando pelo espaço comercial, cogitando a ideia de implantar um rastreador em sua pele morena quando a cabeleira loura rebelde me chamou a atenção. Hanna estava agarrada ao braço de Faith tagarelando em seu ouvido com a voz estridente enquanto estavam na fila para comprar ingressos no cinema. 
Inacreditável. 
Contive o impulso de arrastar as duas pelos cabelos e trancafiá-las em uma torre sem saída como uma espécie de Conto da Rapunzel contemporâneo, reparando no muro que Willian formava ao lado de sua protegida e o outro armário ao lado de Hanna conversando com Caleb. Pela forma que ambos esquadrilhavam com os olhos tudo a sua volta, já estavam informados do perigo iminente. Provavelmente, eu era tão querido no jantar de ação de graças quanto um peru podre em cima da mesa. 
Faith estava presente apenas em corpo, suas tentativas para fingir estar prestando atenção na conversa eram patéticas, movia a cabeça em intervalos regulares, esboçando um sorrisinho de incentivo para que Hanna continuasse a falar. Os olhos, entretanto, estavam fixos em lugar nenhum; o dedo indicador batucava em sua coxa, um aviso de que estava ansiosa, divagando em sua própria mente. Sempre apreciei seu âmago agitado, naquele segundo em particular não. 
Observei de longe os cinco seguirem para a sala dois e me inclinei para a funcionária dentro da cabine com meus olhos nas costas deles. 
— Boa noite. Qual o filme que está passando na sala dois, por favor? 
A resposta não veio no tempo esperado, então me voltei aborrecido para a atendente. Ela parecia em choque, gaguejando antes de conseguir dizer alguma coisa. 
— Uma readaptação de Pablo Picasso — sua voz fina como se fosse uma das esquiletes não foi confiante. 
Parecendo ter dificuldades de tirar os olhos de mim, ela checou o computador duas vezes antes de confirmar a informação para si mesma, disfarçadamente organizando seu cabelo ruivo preso em um coque. 
Certo. Eu reconhecia a reação, em boa hora para que eu pudesse fazer a investigação empírica. 
Dei um sorriso pequeno de lado, o suficiente para que as fibras puxassem a pele da bochecha para dentro com o movimento dos músculos, formando a popularmente conhecida covinha, numa forma de incentivá-la. 
Seus olhos azuis se arregalaram levemente com minha aparente aceitação e a bochecha quase escondida pelas sardas se coloriu de cor-de-rosa. 
— Alguma fixação por aquela sala em especial? Trabalho bastante tempo aqui, então a conheço com a palma da minha mão — informou sem pensar, a testa se franzindo minimamente ao findar, concluindo ter sido uma fala estúpida. 
Levantei a sobrancelha o suficiente para que a convencesse que era interessante, me inclinando um pouco mais em sua direção. 
— É mesmo? Bom, faz parte de um ritual meu. Quem sabe também não adquiro o costume de... — me afastei um pouco para ler o número de sua cabine, então terminei com um sorriso aberto — só comprar ingressos na cabine quatro? 
Em cheio. Inconscientemente ela se inclinou para mais perto do vidro, atordoada. 
— Será muito bem recebido, eu garanto — sorriu mais a vontade, então inspirou fundo — Ainda mais se usar esse perfume, é muito bom. 
Objetivo atingido. Eu não errara na escolha da essência, não sabia como chegara a duvidar.  
Li o nome da ruiva no crachá velho preso ao uniforme azul, pensando seriamente em agradecê-la por incentivar minha autoestima e provar que meus dons persuasivos permaneciam intactos. Só esperava que ainda funcionassem com Faith. 
— Obrigado, Alice — pronunciei seu nome devagar, exagerando na minha rouquidão. Foi satisfatório vê-la engolir em seco – Vou querer uma entrada para a sala dois. 
Minha conclusão não parecia ser o que esperava, mas prontamente imprimiu meu ingresso, se esquecendo de que o serviço não era cortesia. Estendi o dinheiro pelo vão no vidro, e não deixei de notar seu empenho para tocar a ponta dos meus dedos enquanto fazíamos a troca. 
Por mera diversão, lhe dei uma piscadela antes de virar as costas e ela literalmente engasgou com a própria saliva, me fazendo rir por dentro. Preferia uma descontração antes de enfrentar o animal selvagem que provavelmente faria ruir toda minha arquitetação mental. 
Não fiquei surpreso de que a sala estivesse praticamente vazia, o filme não parecia interessante, a capa mal elaborada me fazia preferir os desenhos animados do que duas horas de uma história mal contada sobre um grande homem. Picasso deveria estar se debatendo no caixão naquele momento. 
Faith escolhera a fileira do meio, ela e Hanna portavam um caderno em mãos para anotações, dando sentido para sua escolha cinematográfica terrível, era um trabalho para a faculdade. Por outro lado, não a isentava da culpa de brincar com sua segurança. Um trabalho universitário era completamente banal. 
Tendo conhecimento de como sua bexiga ativava no meio de um filme, foi questão de minutos para que ela se levantasse, já exausta de se retorcer na poltrona, e corresse pela sala escura até a saída com Willian atrás dela . Embora admirá-la fosse fascinante, me levantei amainado para segui-los, indo pela outra saída para que Hanna e Caleb não me vissem.  
Eu sabia que Willian não era bom o suficiente para vigiar Faith — tendo em vista quantas vezes ela fugira do mesmo — mas não totalmente para deixar passar que o banheiro feminino havia outra entrada, se limitando a guardar uma porta. Era tentador escolher a que ele estava só para furar-lhe um olho por ser tão incompetente. A sorte estava a seu favor, eu não queria chamar atenção. 
O banheiro extenso trabalhado em mármore claro estava vazio a não ser pela porta do meio fechada. Com a pressa que saiu, me surpreendia Faith ter tempo de escolher uma. 
Eu não estava nervoso, apenas escolhi checar se meu cabelo permanecia no lugar e tentei algumas saudações que não a espantassem logo de início fazendo com que gritasse e me obrigando a apagar Willian. Devido minha reputação com ela, o adequado seria não usar força física.  
A postura também era importante. Mãos no bolso soava indiferença. Braços cruzados transmitia resistência e ameaça. Mãos unidas, seriedade extrema análoga ao trabalho. Braços para trás, calculista e manipulador. Desejei um balcão para que pudesse repetir a estratégia feita com Alice, embora soubesse que superficialidade não era útil quando se tratava de nós.  
Ainda não havia decidido quando ouvi a descarga e meu instinto se sobressaiu a qualquer outra ideia. Minha estratégia de abordagem usual se minha vítima estivesse de sobreaviso.  
No momento em que Faith abriu a porta eu já estava na sua frente pressionando a palma da minha mão contra sua boca e a empurrando novamente para dentro do compartimento apertado. A tentativa de grito entalou em sua garganta quando os olhos arregalados de susto reconheceram os meus. 
— Preciso falar com você — murmurei em voz baixa, quase capaz de ouvir seu coração martelar nas costelas. 
Suas mãos agarradas à minha não afrouxaram o aperto para libertar sua boca, mas seus olhos assustados transmutaram para raiva imediata. 
Seria mais difícil do que eu pressupunha. 
  

Um comentário:

  1. Meu Deus! Eu vou ter um treco! Kkk
    Eu sempre acompanhei suas fic's mas nunca comentei nenhuma delas, quase chorei quando voc parou de postar e quase gritei de alegria quando voc voltou a postar kkkkk eu super adoro seu Blog! Sério! Kk sempre tive vergonha de comentar mas sempre acompanhei tudo kk mas então, eu estou AMANDO DEMAIS ESSA FIC!!! CONTINUA SUA DIVA! ❤

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O que achou do capítulo? Conte pra mim, eu não mordo ><