Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

One Life 38

— Sim, esse é definitivamente uma surpresa — admiti reconhecendo a voz de John Meyer fluindo pela acústica boa de sua sala.
Ele estava com os olhos atentos em meu rosto, abstraindo cada emoção minha a julgar a playlist de seu aparelho de som, então deu de ombros para meu espanto.
— Não sabia que os góticos das trevas gostavam de músicas tristes românticas, a pauta diária deveria ser a fixação pela morte — refleti, provocando-o e trocando de faixa com o controle pequeno em minhas mãos.
Justin desviou os olhos, banalizando a questão.
— Creio que uma renovação no repertório não é ilícita.
E mais John Meyer.
— Você deveria ter me avisado sobre isso antes, também gosto dele, poderíamos aprender uma canção juntos.
Ele quase sorriu.
— É recente, mas aprendi uma. Se ainda quiser depois posso te ensinar, antes me deixe te dizer o que estou tentando há alguns minutos.
Neguei com a cabeça e me levantei do seu colo, desviando o assunto:
— Você me disse que tinha alguns instrumentos aqui, onde estão?
Justin suspirou, me fitando com o olhar superficialmente acusador.
— O que? — perguntei com inocência.
Ele não se deixou enganar.
— Você está me enrolando.
Fingi estar intrigada, embora soubesse que o único efeito seria prolongar, o que era minha intenção.
— Não estou — neguei.
— Faith, pensei termos chegado à conclusão de que apenas a verdade nos dará a direção.
Relaxei os ombros me rendendo, mas segurei sua mão e deixei meus olhos ali, tentando ser convincente.
— Eu vou ouvir a verdade, só quero ver seus instrumentos primeiro.
Eu quase podia ouvir seu cérebro trabalhando em uma rota alternativa antes que propusesse.
— Posso tocar uma das músicas para você, depois você me deixa falar. Os instrumentos estão num quarto do segundo andar, mas o violão está aqui na sala de treino.
Treino.
Impedi que o julgamento infestasse minha cabeça, me focando no oposto.
— Você quer tocar violão do jeito que está?
Ele revirou os olhos, fazendo menção de se levantar.
— Eu fui baleado, não amputei os braços. Isso é como bater o dedinho do pé para mim.
Coloquei a mão na frente para que não se movesse.
— Tudo bem, eu pego, mas você sabe que se estourar os pontos....
— Você vai jogar álcool e sal, rir da minha cara e me levar no hospital — completou, entediado.
Contive qualquer traço de humor e assenti para que me levasse a sério, me levantando.
— Muito bem, que seja feita sua vontade no leito de morte.
Me encaminhei para o já conhecido cômodo perturbador da casa, não tendo boas memórias dali. Estávamos mesmo na mesma semana? Parecia já fazer um século que eu vivia aquele impasse, os momentos leves e divertidos ao seu lado faziam parte de um século passado. 
Seu violão de cordas de aço estava deitado no meio do tatame, um lugar estranho para um instrumento musical; tão deslocado como eu naquela casa, quebrava a atmosfera pesada, revelando um ponto de sensibilidade na perdição. Forcei que despertasse do devaneio, peguei o que me interessava e saí depressa dali antes que minha mente fértil criasse as imagens das quais eu fugia. 
— O que um violão faz em meio a um ambiente violento? — questionei em voz alta enquanto voltava para a sala de estar.
Justin estava girando o controle do som nos dedos, os olhos no horizonte não enxergavam as coisas físicas a nossa volta, denunciando seu estado reflexivo, provavelmente sondando a melhor maneira de contar o que queria. Senti o verme imaginário corroer as paredes do meu estômago. Se Justin tinha medo da minha reação, era justo que eu também o sentisse. Ele olhou para mim ao escutar minha voz com um fantasma de sorriso no rosto, e eu supunha que estivesse feliz que eu ainda não saíra dali aos berros, de certo modo o inevitável para ele.
— Eu ando meio bagunçado — murmurou, então estendeu a mão.
Mesmo que incerta, entreguei para ele, torcendo que não tivesse uma hemorragia pela causa extremamente egoísta da minha parte. Eu não negava, desejava mais do que tudo poder ouvi-lo cantar nesse pedaço de realidade quase distante de nossos problemas.
Me sentei ao seu lado outra vez enquanto o observava tocar os dedos nas cordas separadamente para conferir a afinação, aperfeiçoando o som nas tarraxas.
— Pronta? — perguntou após terminar.
Dei um sorrisinho, incentivando para que começasse.
Ele pigarreou, então começou a dedilhar no violão, fechando os olhos. Após a introdução, começou a cantar:
— Jovem e cansado de fugir
Me diga aonde isto está me levando?
Apenas um grande desvendador ou um minúsculo infinito
Eu me lembrava de já ter ouvido aquela música algumas vezes, mas aquela melodia saindo de sua boca parecia nova e única, ninguém poderia cantar aquilo como ele. Sua voz de veludo entrava pelo meu ouvido e alcançava meu coração, transmitindo claramente a consternação.
— Amor realmente não é nada
Além de um sonho que fica me acordando
Pois todas as minhas tentativas
Você ainda termina morrendo
Como pode ser?
Não era surpresa que meus olhos já estivessem úmidos, e alguma coisa me avisava que eu não suportaria o refrão.
— Não diga nem uma palavra
apenas venha e deite-se aqui comigo
Porque estou prestes a colocar fogo em tudo que vejo
Eu te quero tanto que voltarei às coisas em que acredito
Aí está, acabei de dizer
tenho medo de que você se esqueça de mim
Ele pigarreou de novo quando sua voz ficou fraca e eu agradeci por estar de olhos fechados para não ver o quanto eu já me desfalecia, limpando disfarçadamente em meu rosto a trilha de destruição que ele deixava.
— Tão jovem e cansado de fugir
por todo o caminho até o limite do desejo
Controlo minha respiração, gritando silenciosamente
"tenho que te ter agora"
Inquieto e estou cansado
Acho que vou dormir nas minhas roupas no chão
Talvez esse colchão gire em torno de seu eixo
e me ache no seu
Era tão injusto o modo como a música terminava de materializar nossa realidade. Minha mão coçou para dar um tapa em sua boca por estar fazendo aquilo comigo, ele tinha mesmo que me deixar triste o tempo todo? Apesar disso, deixei que repetisse o refrão mais duas vezes, tentando rapidamente esconder o quanto aquilo me afetava antes que ele abrisse os olhos. Não demorou muito para que me olhasse, mas ambos não soubemos o que dizer, desabafando tudo o que precisava pelo nosso olhar visivelmente abalado.
De repente eu soube o que fazer, tirando o violão das suas mãos e colocando ao meu lado no sofá, me virando novamente para ele e me aproximando devagar, permitindo que a ponta dos meus dedos tocasse sua bochecha. Ele acompanhou o movimento antes de voltar aos meus olhos, entendendo onde eu queria chegar, desse modo segurou meu queixo com a mão direita, puxando minha boca para a sua.
Eu não queria chorar, já estava desidratada o suficiente para uma vida inteira, mas acabei tornando o beijo um pouco mais molhado do que deveria. Eu o amava como nunca havia amado ninguém, e a murmuração rodava em minha cabeça, por que quando eu finalmente experimentava algo tão forte assim tinha que ser tão complicado? Por que ele não podia simplesmente ceder e aceitar ser outra pessoa por mim?
Sua mão esquerda se apossou da minha cintura, descendo até minha perna com firmeza, intensificando o beijo, me mostrando como era sua forma de gritar silenciosamente que precisava de mim. Levei minha mão livre às suas costas, respondendo ao seu pedido, puxando levemente seu corpo contra o meu para que não o machucasse.
Não durou o tanto quanto eu desejava, logo ele estava se afastando para me olhar, direcionando as duas mãos ao meu rosto para afastar as gotículas de água.
— Eu quero que você se lembre disso, da forma que nos sentimos, do quanto isso é real e exclusivo. Você tem alguma dúvida da autenticidade desse sentimento, Faith? — perguntou baixo impetuosamente.
Era claro que eu não duvidava do quanto ele me tinha em suas mãos, mas poderia ter certeza de seu afeto? Naquele instante, não me parecia duvidoso.
Neguei rapidamente, tentando engolir o nó na garganta.
— Eu não planejava sentir essas coisas por você, mas aconteceu e é genuíno. Você me faz sentir vivo, como ninguém nunca fez antes. Você acredita nisso? — continuou.
Assenti, influenciada pela sinceridade em seus olhos.
Ele tirou as mãos de mim, esfregando seu rosto com nervosismo.
— Eu não posso perder você também — sua voz saiu abafada. De qualquer forma, eu não parecia ser mais sua interlocutora, o lamento era para si mesmo.
Sua aflição estava conseguindo me assustar.
Funguei, tomando coragem.
— Você pode me dizer — anunciei, querendo ser tão corajosa quanto minha vontade de ser.
Ele soltou o ar pela boca com um ruído alto, por fim me fitando.
Observei seu maxilar travar e diversas emoções passarem por seus olhos, a expressão procurando qual era a adequada. Esperei até que aquela seriedade distante tomasse seus traços. Ele pensava que se distanciar de mim tornaria aquilo mais fácil, mas até sua fisionomia sabia que aquilo não daria certo, portanto eu podia ver alguns resquícios de aflição e pesar ali.
Parei até mesmo de respirar quando ele abriu a boca para falar.
O som que veio em seguida não era o que eu esperava, era oco e reverberava pela sala. Paralisamos no momento em que ouvimos o chamado forte pelo vão da porta.
— Bieber?
Tendo em vista que até onde eu sabia todos os que o conheciam eram assassinos que não gostavam de mim — com exceção de Caitlin que pelo menos não queria me fazer mal — não era insano o aumento em meus batimentos cardíacos.
Justin levantou a palma da mão para que eu ficasse quieta e calma, direcionando sua atenção para a entrada da casa.
— Bieber? Estou com pressa — o homem repetiu, aparentando não estar com muita paciência.
Justin xingou baixo, me olhando com uma pressa camuflada.
— Só quero garantir que nada aconteça, então pode por favor se esconder lá em cima? — pediu com calma, tentando me tranquilizar.
Assenti e me pus em pé num salto, não me deixando enganar. Evidentemente se ocorresse algum problema, ele não estava em condições de lutar.
— Não faça barulho algum — me alertou, se levantando de uma vez e enrijecendo a postura.
Era ridículo, mas as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse repensar:
— Me chama se precisar de ajuda.
Sua testa se franziu imediatamente enquanto ele questionava minha sanidade.
— Não ouse descer aqui, Faith — avisou sério e indiciou com a cabeça para que eu subisse.
— Bieber eu vou arrombar essa porta — sua visita mais uma vez clamou.
Me virei imediatamente e tentei andar a passos surdos até a escada, subindo da forma mais silenciosa que eu podia. Rezei para que não tivesse um ataque de desastre bem naquele momento para tropeçar e rolar pelos degraus, e finalmente cheguei no segundo andar. Dali pude ver Justin se aproximar da porta e seu olhar violento flagrou minha hesitação. Dessa forma, disparei pelo corredor, entrando no quarto dele e fechando a porta. Parei bem ali no meio, com medo até mesmo de respirar ao mesmo tempo que apurava meus ouvidos para me atentar a qualquer sinal de encrenca. Caso acontecesse, eu deveria obedecê-lo e permanecer aqui a todo custo ou descer para ajudá-lo? Alguém disposto a enfrentar Justin Bieber devia ser tão experiente quanto ele, então eu definitivamente não estaria à altura do sujeito. Provavelmente era burrice, mas concluí que não importava, eu podia ser uma boa distração e pelo menos atrasá-lo para que Justin pudesse detê-lo, então sim, eu desceria.
Assim, colei meu ouvido na porta, tentando ouvir alguma coisa, mas só captava as vozes, não conseguia distinguir o que falavam. Fiquei no que pareceram horas naquela posição, até pensar na possibilidade dos dois subirem para o quarto. Justin disse não trazer mulheres, mas nada sobre homens — não de forma maliciosa. E se Guilherme houvesse contado do dia anterior e estivessem atrás de mim para saberem se estávamos juntos outra vez? Justin avisara sobre consequências por sermos vistos juntos. Apenas entrar no quarto não era uma forma de se esconder.
Tendo em vista que eu já não conseguia entender o que estava acontecendo e podia colocar tudo a perder, corri de modo abafado até a porta que eu supunha ser do banheiro. O trinco girou com facilidade sob minha mão, deixando a vista um closet um pouco menor do que o meu. A maioria das roupas ali eram sociais, ternos intermináveis quase idênticos de cores neutras, algumas peças esportivas solitárias e muitos sapatos sociais. Havia um espelho enorme cobrindo a parede do fundo e uma porta à direita. Dei uma espiada, encontrando um banheiro tão sofisticado que eu não me surpreenderia se o vaso fosse de ouro. Voltei ao closet e olhei a minha volta em estado de contemplação com o tanto dele que havia por ali, até o cheiro penetrava o ambiente. Corri minhas mãos inquietas pelas roupas, necessitando de uma distração. Parei em frente ao espelho e senti a moldura dourada tão bem elaborada. Mais preocupada do que eu imaginava, acabei fazendo uma pressão desnecessária que resultou num estalo. O arrepio de medo passou rápido pela minha coluna, e eu me afastei esperando que todo aquele vidro se espatifasse no chão. Era agora que eu seria descoberta.
Burra, burra, burra.
Cobri meu rosto para preservá-lo e apertei forte os olhos, rezando para que não me machucasse antes que pudesse lutar com quem quer que fosse que estivesse lá embaixo. Isso se Justin não me matasse primeiro do que ele.
Estava tão absorta me maldizendo que não percebi de imediato o silêncio que seguia. Abri um dos olhos para investigar o que estava acontecendo e vi uma idiota paralisada vestindo roupas amassadas e escondendo o rosto com as mãos. Eu mesma, a rainha do vexame.
Relaxei meus ombros pelo espelho estar intacto, mas podia ver o vão de cima a baixo que agora estava ali entre a moldura e a parede do lado em que o ruído se fez. Com cuidado — embora meus instintos gritassem para que eu não mexesse em mais nada — coloquei minha mão ali e tentei mover o espelho em minha direção, e ele abriu como se fosse uma porta. Uma passagem escondida atrás do espelho? Nada mal Justin.
Entrei naquele espaço escuro e tateei pela parede para encontrar um interruptor mesmo sem saber se haveria luz com receio. Por que ele esconderia um cômodo de sua casa? A alternativa mais plausível era ser o local que escondia armas.
Finalmente o cômodo se clareou quando encontrei o interruptor e dois segundos depois eu preferia que permanecesse apagado.
As paredes pretas davam destaque para os quadros brancos espalhados por elas, eram pelo menos uns cinco cheios de fotos e informações escritas a caneta vermelha, deixando espaço apenas para um armário embutido e mais uma porta no extremo esquerdo. Na verdade, o que me chamou a atenção foi a pintura que eu reconheceria em qualquer lugar pendurada acima da mesa grande e branca bagunçada que originava a arte exposta nos quadros investigativos que eu só vira na televisão, um organograma de pessoas, provavelmente os alvos do residente daquela casa. Por que ele penduraria meu quadro num lugar assim?
Passei meus olhos pelos organogramas sentindo meus braços se arrepiarem, algumas fotos estavam com um X vermelho em cima, e isso com certeza não queria dizer que Justin havia feito mais amigos. A tristeza se acumulava conforme eu apreendia rostos e mais rostos, e me aliviava por não serem todos a estarem riscados.
O ar entalou em minha garganta quando reconheci um rosto em um dos organogramas. Ao que Hanna poderia conduzir? Então veio como um clarão as fisionomias ao redor, estavam todos ali, os Peters, Flê, Nicole, Jean, Etienne, todos ligados a uma pessoa com um grande e exagerado círculo vermelho no topo, Faith Evans. Uma linha vermelha me ligava a Bryan bem ao meu lado, Eleanor e Caleb estavam abaixo ligados a nós dois. Minhas preferências, o restaurante italiano, o spa que Eleanor me levava, meu shopping preferido, notícias sobre mim, minha exposição de quadros, o brunch de Eleanor, detalhes sórdidos da minha casa, tudo estava exposto ali. ”Solteira” “Difícil de conquistar? ”, “Amante de batata frita”, “Cativante”, “Não consome bebidas alcoólicas”, “Sensível”, “Desavença com a família? ” “Fetiche por estrelas” e mais algumas outras frases contornavam minha foto, mas eu não conseguia mais ler, minha visão estava turva, eu não conseguia respirar.
Meu cérebro estava com dificuldades de raciocinar tudo de uma vez, e eu sentia que estava prestes a forçar um desligamento. Quando mais eu precisava do meu raciocínio? Não. Me apoiei na mesa e tentei respirar, encarando o chão para evitar as imagens perturbadoras, eu não podia pensar no quanto havia sido enganada, que tudo era uma mentira para que.... Interrompi o pensamento no meio quando o quarto girou, me concentrando novamente na minha respiração e me agarrando ao meu instinto.  Eu tinha que sair dali, e não seria pela porta da frente.
Cambaleei até a porta e girei a chave que estava nela para destrancar, sem ao menos pensar no que eu poderia achar ali. Para minha sorte não havia nenhum corpo em decomposição a vista, apenas uma escada mergulhando na escuridão do espaço estreito. Se lá embaixo haveria gente morta era outra coisa, mesmo assim resolvi arriscar. Não encontrando interruptor para não andar às cegas, me obriguei a descer devagar, apoiando nas paredes e colocando meticulosamente um pé a frente do outro.
Respire Faith, respire. Isso é um pesadelo, é apenas um pesadelo.
Eu já não enxergava mais nada quando cheguei ao fim dos degraus, dando de cara com uma barreira. Passei minha mão por ali até encontrar um trinco que girei com desespero, me sentindo claustrofóbica. Empurrei a madeira que não se abriu completamente, rangendo por ser pouco utilizada. Me espremi para passar pelo vão aberto e alguma coisa arranhou as partes expostas do meu corpo. Percebi segundos depois que eram galhos e folhas, e encostada na parede me afastei deles. O sol bateu em meu rosto assim que fiquei livre, e eu identifiquei o gramado que Bieber admirava pela manhã, localizado no fundo de sua casa. A janela da cozinha estava bem ao meu lado e respirei fundo algumas vezes antes de bisbilhotar por ela. Não havia ninguém na cozinha, isso era um fato, mas mesmo assim mantive a cautela, preferindo não colocar minha cabeça entre o vidro aberto. Para minha sorte eu conseguia ouvi-los conversando da sala.
— Sei Philip, mande o recado que eu te disse. Logo estarei lá, então por que não deixamos isso para conversar pela tarde? — Justin resmungou, irritado.
— Eles não vão mais engolir suas desculpas, Justin. O trabalho vai ser tomado de suas mãos e sua credibilidade vai diminuir mais do que pela metade por não conseguir lidar com uma mimadinha insignificante — Philip respondeu num tom repreensivo.
Não pude me enganar muito mais. Eles estavam falando de mim? A Companhia Bieber estava atrás de mim?
É só um pesadelo Faith, é um pesadelo.
— A pressa é a inimiga da perfeição, meu caro, vou inovar nossas técnicas e fazer crescer nosso nome. Mas isso eu não tenho que dar satisfação a você, eu já disse que após o almoço estarei lá. Agora se retire da minha casa, sim?
Inspire, expire. Inspire, expire.
Ouvi quando a porta se abriu e depois de um tempo de espera se fechou com um estrondo que me fez tremer. Espiei outra vez pela janela e após o barulho do carro saindo, Bieber subiu pelas escadas. Rapidamente forcei a porta de correr da cozinha e para minha segunda sorte no dia, ela se abriu. Corri então pela casa mesmo com as pernas trêmulas, sabendo que era questão de segundos para ele encontrar meus rastros. Saí pela porta de entrada sem me dar ao trabalho de fechar e me lancei na calçada, voando para a direita. Eu não sabia muito de direção e só havia feito o caminho da sua casa para a minha uma vez, então provavelmente não fazia ideia de para onde estava indo, só que ficar parada não era opção.
Ele viria atrás de mim, isso se já não tivesse me visto, então a prioridade era me esconder. Virei na próxima rua à direita e só então percebi que o contato do meu pé com o chão estava um pouco liso devido ao fato de eu estar apenas de meias. Perder um par daquelas era melhor do que perder minha vida.
Minha respiração já estava ofegante, e estar debilitada emocionalmente não me ajudava, mas adentrei as ruas sem direção nenhuma rezando para que funcionasse.  Não fiquei surpresa quando tropecei nos meus próprios pés e caí no chão, arranhando as palmas das mãos no concreto. De qualquer forma, a dor física não foi o motivo pelo qual quase não consegui me levantar. Assim que estava em pé, sentindo que parte de mim tinha ficado no chão, percebi alguém parado a minha frente me encarando. Estava prestes a dar meia volta quando assimilei a voz.
— Faith, está tudo bem? — o timbre fino e quase estridente de Clarissa sempre fora irritante para mim, mas naquele momento era uma benção.
Seu rosto estava preocupado, embora prevalecesse a repulsa — eu com certeza não estava bonita. Ela segurava a sacola da Victoria Secret’s, loja que estava bem atrás de seu corpo alto.
Não pensei duas vezes antes de segurar seu braço e arrastá-la novamente para dentro do estabelecimento, ouvindo seu gritinho de protesto. Me escorei na parede e a soltei.
— Me ajuda, por favor — supliquei arquejando.
Seus olhos se arregalaram um pouco mais.
— O que aconteceu? — perguntou alarmada.
Estendi a mão.
— Me empresta seu celular.
Ela ficou parada tentando entender a situação em sua mente. Eu não tinha tempo para que deixar que meu cérebro trabalhasse, que dirá o dela.
— Anda! — apressei, ordenando.
Clarissa deu um pulo de susto e pegou o aparelho no bolso de sua calça branca, me passando depressa.
Foram duas tentativas para que conseguisse acertar o número de Hanna, e esperei longos quatro toques para que me atendesse. Não esperei sua saudação.
— Você está com Guilherme? — fui direto ao ponto.
— Faith? — ela perguntou confusa.
— Só responde Hanna, está com o Guilherme ou não?
— Não — respondeu aturdida.
— Então vem me buscar na Victoria Secret’s da... — afastei o celular e olhei para Clarissa — Onde estamos? — ela respondeu confusa — 82 Newbury Street, perto do parque público. Venha imediatamente e sozinha.
— Você está me assustando. Tem algum problema? — questionou temerosa.
— Hanna, vem agora. Vou estar te esperando.
Desliguei o celular e devolvi para Clarissa.
— Obrigada. Acho melhor você ir agora.
Se eu fosse encontrada não queria arriscar a vida de mais ninguém, mesmo que fosse Clarissa. Hanna já estava na merda, então deveríamos sair juntas.
A ruivinha estava paralisada de assombro na minha frente. Não era mesmo uma situação ordinária, eu estava faltando as aulas, então de repente aparecia no meio da rua, sem sapatos, com a roupa amarrotada, sem agasalho, suada e descabela pedindo por ajuda. Teria sorte se não ligasse para a polícia.
— Tem certeza? Se quiser posso te levar a algum lugar ou ligar para o seu irmão — ofereceu.
Era óbvio que tentasse obter vantagem até numa situação dessas, se ela soubesse que ele estava solteiro então ...
— Tenho Clarissa, te vejo segunda — afirmei, tentando não ser mal-educada, afinal havia me ajudado.
Ela assentiu com a cabeça e saiu olhando para trás muitas vezes. Eu conhecia aquele olhar, com certeza fofocaria para todos na faculdade e fariam uma enquete para descobrir o que havia acontecido comigo num sábado de manhã. Seria uma ressaca terrível? Essa era uma boa teoria, embora eu não bebesse. Repensei a parte de ser uma benção encontrá-la.
Não me movi, apoiando as mãos nas coxas e regularizando minha respiração. Comecei a contar os segundos para não pensar no que havia acabado de me meter, mas mesmo sem pensar naquilo, estava doendo, e eu queria gritar de raiva e chorar, e espernear e até matar alguém. Aquele alguém.
— Senhorita, você precisa de ajuda? — uma das vendedoras veio até mim, me analisando dos pés à cabeça.
Se ela viesse com arrogância num momento daqueles eu não responderia por mim.
— Não. Estou esperando alguém, vamos escolher um presente — inventei parcialmente.
Ela fingiu um sorriso e assentiu.
— Qualquer coisa é só me chamar.
Imitei sua falsa cordialidade e ela saiu, sem saber disfarçar que não acreditava em mim. Eu também não acreditaria.
Estava ficando muito ruim permanecer dentro daquela loja com todos aqueles olhares. Eu não sabia se era pior não me reconhecerem ou se o fizessem. Então agradeci aos Céus quando Hanna adentrou pela porta, olhando apreensiva todos os cantos.
Me endireitei e ela me viu, arregalando os olhos.
— O que aconteceu com você? — interrogou aflita.
Olhei pela porta para me certificar de que estava limpo.
— Vamos — instruí, saindo da loja.
Seu carro estava bem ali na frente e esperei que destravasse, varrendo a rua com os olhos antes de saltar no banco.
Ela entrou desorientada.
— Acelera — solicitei com pressa, me abaixando.
— O que raios está acontecendo, Faith?
— Acelera e pergunta depois! — exigi apressada.
Hanna se rendeu, ligando o carro e manobrando.
— Pode me dizer agora?!
Deixei minha cabeça cair entre as mãos, tentando conter por mais alguns minutos toda a informação que se debatia em minha cabeça. Suas perguntas não ajudavam.
— Não vamos pra sua casa, nem pra minha, nem pra lugar nenhum que a gente sempre vai. Onde nunca iríamos? — pensei, revirando minha mente já em caos.
— Faith, pelo amor de Deus você está me assustando. Cadê o Justin?
— Numa estação de trem! — solucionei — Vá para a estação de trem.
— Justin está na estação de trem? Você está parecendo uma doida! Me diz o que aconteceu ou eu juro que paro esse carro e te jogo para fora! — ela ameaçou, surtando.
E foi a gota da água que bastava para que rompesse a barreira contendo a represa de pensamentos. Eu vi aquele quarto atrás do espelho, o quadro branco com meus dados, o círculo vermelho em volta da minha foto, as informações que eu havia passado para ele, meu fetiche por estrelas, meus lugares favoritos, minha relação difícil com meus pais... E aquilo só podia dizer uma coisa, não tinha como me enganar. Aquele era o seu trabalho, o tempo todo aquele era o seu trabalho. Eu era apenas a droga de mais um obstáculo para que ele ganhasse dinheiro.
— Faith! — Hanna gritou histérica, sua voz atravessou o zumbido em meus ouvidos.
Eu devolvi o favor, colérica:
— Ele vai me matar, Hanna! É isso o que está acontecendo!

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