Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

One Time 14

Passei a noite no quarto de Jazzy. Vez ou outra ela me pedia para ficar, e naquele dia propositalmente enrolei um pouco conversando com ela, quando tive condições de subir, até que me convidasse a dormir ali. Me recusei a pensar que era por medo de ser uma de nossas últimas noites juntas, eu já estava tão apegada a ela e Jaxon que me doeria muito se tivesse que me separar deles. Contudo, o sentimento de despedida na garganta era quase impossível de engolir. Apertei seu corpinho frágil contra mim como se pudesse obrigar o destino a nos deixar ficar juntas. A família de Justin havia se tornado a minha também, não era só a ele que eu perdia se tudo acabasse no pior dos cenários que se pintavam em minha mente. 

No dia seguinte, levei ela e Jaxon para a escola, acordei mais cedo para deixar tudo meticulosamente arrumado em meu quarto, tomei café da manhã com todos, Pattie ainda estava ali, me lançando breves olhares um pouco preocupados. Procurei evitá-los, ninguém era mais observadora do que Patricia e eu não queria falar sobre aquilo, eu lhe prometera que ficaria, que cuidaria de Justin. Mas não havíamos cogitado a possibilidade dele não me querer mais por perto. Eu também não queria angustiá-la contando que ele estava um pouco perdido dentro de si mesmo. Será que se afastaria da família também? 

Depois que deixei as crianças na escola, ganhando um abraço de cada um que tornou meu humor um pouco melhor, entrei em meu carro para ir a faculdade. A chave já estava na ignição, estava colocando o cinto quando o celular vibrou no contato. Eu li a notificação antes de pegá-lo, uma mensagem de texto:

"Precisamos conversar". 

O clima naquele dia estava mais gelado do que nos anteriores. Os flocos de neve rodopiavam pelo ar como um lembrete congelante de que o pior ainda estava por vir. Naquele momento, eu não conseguia imaginar frio mais terrível do que tomou conta do meu coração. Sem ao menos um "bom dia", "Oi, Faith", ou qualquer cumprimento idiota, Justin me enviara aquelas temíveis palavras. Não se tratava só da reação imediata de um ser humano ao ser chamado para uma conversa sem anúncio prévio do motivo, era toda a junção dos fatos que já estavam em minha cabeça que me paralisara daquele jeito. 

Parecia que eu estava a beira de um precipício, sentindo uma presença opressora nas minhas costas prestes a me empurrar, o medo corria impiedoso por meu sangue, meu estômago se revirava com violência e o coração parecera imediatamente silenciado. Procurei alternativas que me salvassem na minha mente, mas o pânico espantara todas as palavras. 

Peguei o celular, percebendo que eu tremia. Expirei e digitei sem pensar:

"Quando e que horas?"

Se eu estivesse em condições de pensar, veria o quanto parecera duas pessoas marcando uma briga, poderia até rir, mas não tinha graça. Não quando realmente aconteceria uma briga que me nocautearia. Tive esperanças de que ele demorasse a responder. De repente não queria mais conversar com ele, toda a atenção que desejara havia passado. Se ele quisesse podia me ignorar por mais alguns dias, seria melhor do que ter aquela conversa. 

"Depois da sua aula, passo para te buscar. Pode ser?"

Além da minha óbvia covardia, havia algum motivo lógico para negar a oferta, contudo não consegui raciocinar rápido. 

"Ok."

Expirei, esmorecendo no banco do carro. Precisei me lembrar de como respirava, tinha a impressão de que estava sem ar. De repente eu não via mais nada a minha frente, tinha certeza de que não tinha condições de ir para a faculdade, mas não sabia mais aonde ir, o que fazer. Meu cérebro duramente atacado se agarrara na programação do dia, e eu poderia contar apenas com isso vindo dele.

Inspirei e expirei de novo, forçando oxigênio no meu sistema a fim de me acalmar. Talvez minha reação estivesse sendo exagerada. Qualquer que fosse o resultado daquela conversa. Me encolhi. Tudo bem, talvez não tão exagerada assim. Mas eu não podia me deixar abater daquele jeito, tinha deveres a cumprir. Aquele era o último dia de revisão para as provas que começariam impiedosamente no dia seguinte. O mundo continuaria girando, não pararia para me esperar. 

Agindo mecanicamente, girei a chave na ignição e arrastei com garras todo aquele nervosismo e a notícia do que eu faria mais tarde para o canto do meu cérebro. Eu não podia lidar com aquilo naquele momento. Tinha que sobreviver ao dia. Eu sabia bem como sobreviver a um dia. Bloqueei os pensamentos que viriam com essa nova linha. 

Num piscar de olhos eu estava na faculdade, nem atrasada ou adiantada, na hora. Entrei na sala e me dirigi para minha carteira sem ver ninguém, a atenção voltada para a frente, ansiosa para que o professor chegasse. Eu precisava me concentrar em atividades iminentes, não ajudaria em nada ficar parada apenas com a missão de conter meus temores. 

— Faith — Lucas me chamou, encostando de leve em meu ombro — Está tudo bem? — ele pareceu quase assustado ao olhar meus olhos. 

Fiz que sim com a cabeça, imaginando qual seria minha expressão, tentei senti-la, mas para mim parecia apenas neutra. 

— Tem certeza? Aconteceu alguma coisa? — Ele ainda estava preocupado. 

Suspirei, forçando minhas barreiras para não deixar escapar o que eu evitava pensar. 

— Sim, Lucas, tudo tranquilo. E você? — Para mim, minha voz estava ligeiramente distante. 

Ele me avaliou mais um pouco, então resolveu respeitar meu espaço, no sentido figurado, já que logo me empurrou um pouco para o lado a fim de dividir a cadeira comigo. 

— Bem, por enquanto tudo permanece o mesmo. Mandei uma mensagem para Ava ontem a noite pedindo perdão de novo, mas ela não me respondeu. Como você pode ver ela e Ethan ainda não chegaram, mas os amigos dele estão aqui — ele olhou discretamente por cima do ombro — e ainda não me olharam feio. Claro que pode ser apenas um disfarce, eles estão esperando o mandante para me atacar... 

Dei um sorrisinho, o movimento pareceu completamente desconectado do meu corpo. 

— Não seja tão negativo. Vai ficar tudo bem. Qualquer coisa você pode se esconder atrás de mim. 

Cogitei a ideia de apanhar e ir parar no hospital para escapar da conversa que teria mais tarde, e imediatamente me repreendi por isso. 

Lucas enrijeceu ao meu lado de repente, e eu não teria notado se seu corpo não estivesse colado ao meu, lado a lado. Adivinhei qual era sua motivação, e olhei para a porta a tempo de ver Ava e Ethan entrando na sala. Com o braço descansando nos ombros de Ava, nosso colega não parecia irritado. Ava, por outro lado, tinha uma ruguinha discreta de estresse entre as sobrancelhas, e evitou diligentemente olhar em nossa direção, marchando para seu lugar. Ethan deu um selinho rápido nela antes de se direcionar ao seu lugar de sempre, ao fundo, e resignada, ela se sentou na fileira do meio, estrategicamente longe de nós três. 

Lucas só respirou quando Ethan se sentou, e então cochichou para mim. 

— O que você acha? Ele nem nos cumprimentou também, isso quer dizer alguma coisa? Ou só estava distraído? Distraído planejando quebrar meu queixo. 

Se fosse outro dia eu poderia rir da sua histeria, mas apenas empurrei seu ombro com o meu de leve. 

— Acho que ele não sabe de nada, Ethan não é uma pessoa de se conter, se soubesse ele viria direto te quebrar. Ou conversar com você — dei de ombros — Está tudo bem, Lucas. Não acho que ela vá contar a ele, por mais brava que possa estar, ela não ia querer que você ficasse hospitalizado. 

Lucas me lançou um olhar estranho. 

— Hmm... Se você acha. Talvez eu precise ficar perto de você só por precaução durante o dia todo, se importa? 

Estiquei o canto da boca. 

— Nem um pouco. 

Assim que o professor entrou, ele se sentou na carteira ao lado da minha, tive a vaga impressão de que me supervisionava, embora não soubesse a lógica disso. Fiz o máximo que pude para prestar atenção na revisão, tomando notas em meu notbook. Com o tempo percebi que eu estava ansiosa por cada palavra, quase digitando tudo o que saía da boca do professor. Eu queria socar o máximo de matéria possível em meu cérebro, a ponto de não sobrar espaço para pensar em mais nada. E foi o que eu fiz, poderia permanecer horas a fio nas aulas, secretamente desejava que o período pudesse se estender por dias, meses, por todo o restante do ano. Eu não me importaria em perder as festas de fim de ano, aquela podia ser minha festa, de evitar o inevitável. 

Quase gemi quando chegou a hora do intervalo. Almoço. Lucas já estava ao meu lado, quase me atirando fora da cadeira para sairmos primeiro que o casal do ano. Eu o acompanhei sem ânimo. Seguimos para o restaurante do campus em silêncio, eu me concentrava muito nos movimentos necessários para me manter andando, reparando no fundo que o ar estava ainda mais frio. Talvez eu congelasse de dentro para fora. 

— Hm, não está com fome? — Lucas chamou minha atenção quando fui pagar minha comida. 

Eu nem havia percebido o que pegara, hm, uma garrafa de água e um chiclete. 

— Não muito. 

Nos sentamos numa mesa do canto por escolha de Lucas, ele estava o tempo todo atento a nossa volta, esperando um ataque repentino. Não parecia a pessoa ideal para me distrair, já que ele mesmo estava distraído. Mas antes que eu pudesse fazer alguma coisa sobre isso, meu celular despertou para uma chamada. Não houve tempo para temores, o visor já denunciava que era Hanna. Abençoada seja Hanna, ela é uma tagarela nata. Não havia motivos para ser diferente naquele dia. 

Ela estava muito empolgada sobre a última visita que recebera na galeria no dia anterior. Rafael finalmente dera as caras de novo.

— Ele me passou contatos importantes, e conseguiu me encaixar numa exposição de artes super badalada que vai ter em Minneapolis. Vai ser o máximo! Você devia vir... — convidou, já sem esperanças. 

— Eu adoraria. 

 É complicado, eu sei. Bem, então como retribuição eu fiz uma coisa.... — agora ela estava hesitante. 

Fiquei desconfiada de imediato, mais alerta. 

— O que?

— Eu meio que.... hm, eu meio que acabei soltando do jantar de ação de graças aí dessa semana... Eu disse que ele podia vir com a gente... Que eu só confirmaria com você a possibilidade. 

Hanna sabia que eu não conseguiria negar uma coisa dessas assim. Ele sabia que só dependia da minha resposta, ficaria muito feio recusar. Na verdade, eu não me importava muito que ele viesse. O problema era que a casa não era minha e o proprietário já estaria um pouco estressado pela presença de Wren, não que ele gostasse menos de Rafael, mas mesmo assim. E é claro, havia a questão suprema: eu nem sabia se esse jantar permaneceria em pé depois de nos encontrarmos hoje. 

— Hanna... já ouviu falar daquela história que convidado não convida? 

Ela deu uma risadinha culpada.

— Me perdoa. São hábitos ruins, você sempre me deixou muito a vontade aqui em Boston, como se eu fosse de casa, então... 

— O problema é que essa casa não é minha. 

Houve um breve momento de silêncio. 

— Ah, hm, eu deveria ter me lembrado disso. Me desculpa mesmo, eu vou avisar ele que... 

— Não, Han, tudo bem. Depois a gente conversa certinho sobre isso — depois que eu for chutada e cancelar o jantar com todo mundo. Nós ainda poderíamos fazê-lo em Boston. E eu sabia que meu humor estaria quase tão bom quanto na ação de graças do ano retrasado. 

Aliás, quanta ironia. No dia seguinte completaria dois anos que ele decidira morrer para mim. Poderia ser um padrão se repetindo. Dessa vez menos pior. Eu preferia com absoluta certeza que ele permanecesse vivo, ainda que longe de mim. Podia suportar isso. Só não conviveria com sua ausência de existir. Meu mundo só fazia sentido se ele continuasse vivo. A linha de pensamentos acabou arrombando minha caixa tão bem guardada no fundo da mente, soltando meus pesadelos. Se eu não estivesse junto dele, como poderia saber que ainda estava bem? Como teria certeza de que ele mudaria para uma profissão mais saudável, ao menos? Que estaria seguro, longe de inimigos? 

Senti meu rosto perder a cor com as possibilidades, atraindo o olhar assustado de Lucas, que movimentou os lábios quase em silêncio para perguntar se estava tudo bem. Assenti rapidamente e engoli em seco, como se a saliva pudesse empurrar os pensamentos descontrolados novamente na caixinha. Levei alguns segundos para isso, e Hanna teve que repetir a pergunta. 

— Faith? Está tudo bem? Sua voz parece... estranha.

— Sim — menti com firmeza — Me conte sobre essa exposição de artes. 

Pausa.

— Você está me escondendo alguma coisa. Não quer me falar? Precisa de ajuda? — Ela estava a cada segundo mais apreensiva. 

— Hanna, estou em segurança. Está tudo bem. — A primeira parte era verdade, pelo menos. 

Escutei seu suspiro. 

 Podemos conversar sobre isso depois, então? Promete? 

Eu suspirei dessa vez.

— Tudo bem — cedi. Depois de conversar com ele eu precisaria mesmo desabafar. 

— Então esse é um daqueles momentos que você precisa que eu te encha de assuntos triviais? 

Forcei uma risadinha. 

— Sim. 

— Tagarelice a pronta entrega para você então..... — e se desdobrou em seus assuntos intermináveis pelo resto do intervalo inteiro. Havia fofoca fresca no bairro sobre uma nova residente que parecia curiosamente reservada. Estavam tentando decidir se ela estava envolvida com atividades ilícitas ou se apenas era antissocial. Hanna apostava na primeira opção, já que ela parecia nova demais para não curtir a vida, "mais ou menos da nossa idade". 

Recebi descrições minuciosas de todos os boatos e as características da mulher rica e linda que inquietava os vizinhos. Eu me sentia um pouco culpada por deixar Lucas isolado momentaneamente, mas ele não parecia mesmo notar, esquadrilhando os espaços. Talvez ele precisasse tanto quanto eu de uma distração, e eu estava sendo uma péssima amiga naquele momento. Mas não encontrei coragem para desligar o celular e me forçar a conversar com ele, eu não estava em condições de puxar assuntos como ele parecia precisar que eu fizesse, e se ficássemos naquele silêncio doloroso não ajudaria ninguém. 

Então apenas me despedi de minha amiga quando já era hora de voltarmos à sala. 

— Está tudo certo? Você me assustou aquela hora. 

— Ah sim, está sim, eu... Me desculpa por ficar com Hanna o tempo todo do intervalo em ligação. 

 Ele estreitou os olhos para minha resposta vaga a sua pergunta. 

— Não se preocupe por isso — então respirou fundo — Vamos poder estudar hoje? 

— Bem... Acho que não. Qualquer coisa te aviso — tecnicamente, eu não sabia nem onde dormiria naquela noite. Não que achava que Justin fosse capaz de me expulsar da casa de sua mãe, só que não seria melhor partir imediatamente?

E partir para onde? 

Lucas se sentou na minha cadeira comigo e ficou rígido de novo quando Ava e Ethan voltaram do intervalo. Nossa amiga parecia mais inquieta. No fundo eu sabia que deveria falar com ela, não era comigo que estava chateada. Mas Lucas precisava do apoio e... eu não conseguiria me esforçar a ser normal para mais uma pessoa daquele jeito. 

Fiquei grata quando a professora entrou na sala, fazendo uma piadinha sobre sentir nossos nervos com a aproximação das provas finais. Eu ficaria feliz se esse fosse meu único problema. 

Como era o último período do dia, claro que a hora passou muito mais rápido do que eu queria, e eu senti a ansiedade transbordando pelos meus poros, rasgando todas as camadas da minha pele antes de vazar do meu corpo, meu coração mal tinha forças para bater. E quando o professor do último tempo deu a aula por encerrada, não consegui conter o gemido dessa vez. Eu queria protelar, arrumar uma desculpa para ficar na sala, mas Lucas já estava ao meu lado, ele não brincara ao dizer que ficaria ao meu lado o dia todo. 

— Vamos, Faith? — Seu nervosismo era tão evidente que eu não podia ignorar. 

Contra minha vontade, me levantei da cadeira. Ele me ajudou a recolher minhas coisas, pensando estar sendo gentil, enquanto na verdade eu tentava prolongar o máximo a tarefa. Tentei conter a irritação, a culpa não era dele. 

— E então, quais são os seus planos para hoje? — Perguntou com a voz descontraída, mas toda a atenção centrada em mim, como se a conversa fosse muito relevante. 

— Ah... Eu acho que vou ficar com o Justin um pouco — Será que ele podia ouvir a falha na minha voz quando eu falei o nome de Justin?

Talvez sim, a preocupação voltou ao seu rosto, franzindo suas sobrancelhas grossas. Ou talvez ele só se lembrara da pequena desavença no dia anterior. 

— Entendo. Bom, você sabe que se precisar de mim é só chamar, certo? Sério, a qualquer momento — ele agitou seus cachos.

Abri um sorrisinho e dessa vez era genuíno. 

— Claro, obrigada, Lucas. Você também.

Ele piscou pra mim e já estávamos na entrada da faculdade. A temperatura caiu ainda mais. 

— Estou contando com isso — ele beijou o topo da minha cabeça — Tchau, Faith, até amanhã. 

Pela visão periférica eu podia ver Ethan e Ava se aproximando, provavelmente Lucas correria o mais depressa possível para o carro e derraparia para longe da faculdade. Acenei rápido antes que ele se virasse e apressasse o passo para a saída. Respirei fundo e o acompanhei com os olhos, tanto para garantir seu bem estar quanto para procurar a minha ruína. 

Ninguém correu atrás do Lucas, e Ethan não parecia motivado a isso quando passou com Ava devagar perto de mim. Não me virei para olhar pra eles, ainda investigando pelas pessoas e carros ali na frente. Eu me lembrava agora o motivo de um impedimento para Justin vir me buscar, eu estava de carro. Bem, não era como se eu nunca tivesse deixado um veículo em frente a uma faculdade para darmos um passeio. Lembrei-me de quando estávamos nos conhecendo e ele apareceu com aquela moto preta reluzente, tão sedutor e convincente. 

Engoli em seco com a lembrança. Tanto já havia mudado até ali. 

Olhei em volta, percebendo mais uma vez no quanto eu mudara por ele, quanto dispusera da minha vida. Eu já estava no Canadá há dezoito meses. Dezoito meses que acatei mais uma mudança brusca por ele. Por nós.

Não parecia justo para mim. Ele simplesmente jogaria todo esse tempo no lixo como se não fosse nada? Já nos preparávamos para a segunda festa de ação de graças, de natal e ano novo juntos. Eu dei meu sangue para que o clima fosse inteiramente familiar, missão esta complicada porque Bryan meio que o odiava ainda. Mas Eleanor quase já não criticava Patricia. Jazmyn e Jaxon estavam mais apegados a mim do que nunca. Todos nós éramos uma família. Claro que não perfeita, a propósito, existe alguma família perfeita? Sei que ainda tínhamos muito a resolver, e só podíamos fazer aquilo juntos.

O fluxo de pessoas diminuiu até que não restava quase ninguém ali enquanto eu repassava os últimos meses da minha vida na cabeça — meio como se eu estivesse prestes a morrer mesmo. Imaginei se ele ia querer me dar um bolo igual me deu no passado por duas semanas. Talvez fosse mesmo melhor do que a conversa. Eu devia pegar o carro e ir para a sua casa? O suspense estava me matando. Ou podia dirigir diretamente para o restaurante de Patricia e me esconder atrás dela como uma boa covarde.

Chutei a neve acumulada aos meus pés no jardim da faculdade. Minhas meias já estavam úmidas aquela altura e os pés congelados de ficar dando voltas infinitas no espaço descoberto. No momento, essa parte não me importava. Não. Justin não podia estar pensando em terminar comigo agora. Mas o que mais justificaria seu comportamento estranho nas últimas semanas? 

Fui contando nos dedos minhas reflexões. Ele mal falava comigo, mal tinha tempo de me ver, e quando estávamos juntos, parecia distante. Um hora eu o tinha e outra não. Está certo de que minhas aulas serem de período integral não ajudava muito, e diversas vezes ele tinha que trabalhar à noite e viajar, mas nada justificava sua ausência quando estava presente. Provavelmente havia se cansado, finalmente. 

É isso. Se cansou. Perdi a batalha. Estava bom demais para ser verdade mesmo. Desde o começo eu soube que ele não era uma pessoa cômoda com as tradições sociais. Almoços aos domingos com a família reunida, preparar festas de aniversários para crianças, frequentar a igreja às vezes (o mais inacreditável) e estar preso a uma namorada não era do seu feitio. Enganosamente, no início, pensei que ele estava se adequando ao estilo familiar, e até mesmo gostando.

. Ao menos não terminou tudo por uma mensagem no celular, isso lhe dava pontos no caráter. Faria aquilo pessoalmente, como um homem. Não que isso fosse mudar alguma coisa quando as palavras enfim quebrassem meu coração em mil pedacinhos. Fiquei com raiva mais uma vez pela época escolhida para fazer aquilo. Semana de provas e o aniversário de sua suposta morte queria dizer "me dê muita atenção e carinho", não "quebre meu coração mais uma vez". .

O que eu faria? Me mudaria para um apartamento sozinha? Trancaria a faculdade e voltaria para os meus pais com o rabo entre as pernas? Eu não suportaria continuar nessas redondezas sem ele. Se eu voltasse aos Estados Unidos, contudo, sua família paterna ficaria feliz de me receber de braços abertos.

Minha respiração se acelerava cada vez mais, combatendo a iminente falta de ar. Talvez eu fosse desmaiar dali a pouco.

“Cheguei”, li em meu celular.

Farpas afiadas rasgaram minhas tripas. Choraminguei olhando para o céu cinza. O clima combinava com a ocasião. Apesar das minhas roupas, o frio parecia atravessar o tecido e gelar minha alma.

Tudo bem. É melhor enfrentar isso de uma vez, Faith. Esfreguei as mãos cobertas de luvas. Você deve se valorizar, mulher, não é o fim do mundo. Bati as mãos em minhas bochechas. Soltei o ar e caminhei para a saída. O carro estava parado bem em frente ao portão, à minha espera. Levantei a cabeça e entrei.

— Ei — saudou-me com um fantasma de sorriso.

Ah, a quem eu tentava enganar?! Eu não estava pronta para isso! Deus, eu o amo demais. O modo como deixava seu cabelo curto agora, levemente arrepiado na frente de modo natural, o rosto sempre depilado, os olhos notoriamente brilhantes na luz, sua elegância incontestável nos trajes de inverno. Cogitei implorar que não terminasse comigo, mas seria humilhante demais.

— Oi — respondi um pouco estrangulada.

Isso fez com que realmente me olhasse, provavelmente não queria que eu sujasse seu carro com vômito ou morte.

— Está tudo bem?

Preferi não usar a voz dessa vez, assenti. E ele deixou pra lá. Esse era outro péssimo sinal, Justin sabia quando eu mentia, o que quer dizer que não se importou. Ligou o rádio em sua estação de rock preferida, e quase ri de nervoso. Eu sempre soube que o mundo conspirava contra mim, mas já era demais tocar I Don’t Wanna Miss a Thing – Aerosmith num momento desses. “Eu não quero sentir falta de um sorriso, não quero sentir falta de um beijo, eu apenas quero estar com você”. Seu cheiro estava em toda a parte durante todo o trajeto, e como uma viciada eu o respirei em grandes lufadas de ar, temendo ter pouco tempo para senti-lo.

O carro foi estacionado em frente à sua casa. Que gentil, ainda me daria a chance de ver seu refúgio uma última vez, não me levaria a um lugar público para me despachar imediatamente como poderia ter feito. 

— Você pode... subir comigo um pouco?

Eu já estava ali, não estava? O acompanhei casa a dentro ligeiramente aérea, cada passo parecia meu fim, imaginando a forma inusitada que preparara de anunciar o término. Talvez tivesse comprado uma passagem só de ida para os Estados Unidos, por que não?

Paramos em frente a um quarto de hóspedes no segundo andar e eu já estava sem oxigênio no corpo.

— Eu preciso da... sua opinião para uma coisa. Promete pensar com calma? Essa pode ser a última promessa que me faz — ele me olhou com seriedade nos olhos de mel, no fundo, parecia tão perturbado quanto eu. Iludi-me pensando que aquilo seria tão difícil para ele quanto para mim. Se assim fosse, eu poderia demovê-lo do erro.

Retesei-me. "Última promessa?" Sim. Era aquilo. Mas ter meus medos confirmados não me ajudaram em nada. Pisquei para tentar manter meus olhos secos. Passaram-se o que se pareceram minutos até que eu me obrigasse a assentir. Para isso precisei reunir todas as minhas forças, deixando minhas pernas bambas. O calor emanava do seu corpo perto do meu, enganosamente acolhedor. Contudo, ele não me tocara em momento nenhum desde que nos vimos.

Com minha confirmação, Justin abriu a porta e acendeu a luz. O segui cambaleante para dentro, o cômodo estava praticamente vazio, apenas um lençol cobria algum objeto grande no fundo. Justin seguiu exatamente até ele, e pareceu pensar muitas vezes antes de puxá-lo. Eu estava nervosa o bastante para tentar criar hipóteses que justificassem aquilo, só conseguia pensar em todos os motivos para lhe atirar para ficarmos juntos. Nós nascemos para isso. Pertencíamos um ao outro. Ele não podia sentir?

Ou... eu podia sobreviver solteira. Havia nascido solteira, podia morrer sem nunca mais tocar sua pele macia, beijar seus lábios de coração, acariciar seus cabelos quase ondulados e encarar seus olhos de pestanas grandes e escuras. Podia não ouvir mais o som de sua risada infantil e as promessas de que me amava. Podia deixar para trás todos os planos que fizemos para o futuro. 

Sim, eu podia. 

Mas ali, contornando a forma de suas costas largas com meus olhos, tive certeza de que só o faria se já estivesse junto de Deus.

Quis cobrir o rosto quando ele saiu da frente para que eu me aproximasse. Em contrapartida, dei dois passos em direção ao objeto, contra minha vontade — sabendo que eu estava prestes em me atirar em seus braços e chorar —, e automaticamente reconheci um cavalete. Esqueci-me um pouco do meu dilema quando visualizei a pintura que este sustentava, nada melhor para distrair um amante de arte do que a própria arte. Era isso que ele queria? Me amaciar antes do matadouro?

— Hm, de quem é essa pintura? — meu primeiro instinto foi procurar uma assinatura, localizada no canto inferior esquerdo — Você... você quem fez? — surpreendi-me. Claro, ele sempre me surpreendia. Até suas surpresas me fariam falta.

— Sim — a resposta estava carregada, mas não me virei para olhar. Eu não poderia olhar seu rosto a essa altura e me certificar de que não haveria lágrimas escorrendo por minhas bochechas.

Acompanhei os detalhes muito bem feitos da técnica de pintura a óleo sobre tela para identificar o desenho. A cama colossal de lençol azul abrigava um corpo adormecido. Com os cabelos ondulados jogados para trás, era possível visualizar os traços do rosto relaxado.

— Sou... eu? — balbuciei.

— Sim.

Fitei-o impressionada. Perfeccionista como só ele sabia ser, sua pintura parecia um retrato estupendo.

— Justin... desde quando você pinta? Quanto tempo gastou pra fazer isso?

Esse seria o término mais bonito da história. Ele de fato se esforçara para me deixar o mais confortável possível. Se perdera seu tempo precioso aprimorando suas habilidades com um pincel, ainda devia me considerar com carinho. Hanna me contara que várias de suas amigas mantinham uma amizade com os ex namorados, mesmo que ela não entendesse como isso era possível. Talvez eu pudesse me conformar em ser sua amiga.

Toquei na tela receosa de que ainda estivesse molhada. A ponta do meu dedo indicador permanecia seca, então delineei as formas transpostas com tanto cuidado ali, visualizando um Justin sentado em um banco com a postura impecável — como sempre —, concentrado em aplicar um pouco mais de força ali e delicadeza aqui.

Eu nunca poderia ser apenas amiga desse homem.

— Não chega nem perto do quanto pretendo dedicar a você — a intensidade em sua voz aveludada me atingiu como um chicote. 

— Hein? — voltei-me a ele, sobressaltada.

Justin passou a língua sobre os lábios, e agora eu via o quanto ele estava nervoso, a respiração tão pesada quanto a minha. Confirmei o veredicto assim que tomou minhas mãos — já livre de luvas — nas suas, geladas o bastante para que eu me preocupasse em aquecê-las.

— Eu não sou digno de você, Faith. Não sou digno de seus olhares bondosos e cheios de carinho. Não sou digno dos seus beijos tão entregues. Não sou digno dos seus pensamentos mais puros. Não sou digno de te ter em meus braços como minha. Eu sei disso. Tentei pensar em uma forma de te libertar de mim. Tentei me distanciar de você para te fazer entender que a vida oferece muito mais do que um ser quebrado e falho como eu, porque me dói o que significa para você estar comigo. O perigo constante — a voz dele falhou e seus olhos estavam úmidos de repente.

— Mas não consigo mais. Eu não consigo estar sem você. Estou tão perdido, mas você é a minha única certeza. E sou egoísta o bastante para querer que todo o meu tempo seja seu, Faith. Quero estar atado a você de todas as formas possíveis. Quero que nós sejamos um só, de forma que seus traços sejam visíveis em mim, que eu possa refletir seu coração. Quero respirar o seu ar. Quero que seu rosto seja o primeiro e o último que vejo no dia. Quero firmar sob o Céu e a terra que você me tem por inteiro, que eu te pertenço. Eu quero... — a essa altura, eu parecia sentir o bombear frenético do seu coração na ponta dos dedos — te dar meu sobrenome, e te proteger com tudo o que eu tenho e sou. Você tem todo o direito de não querer e fugir de mim sem pensar duas vezes. A escolha é sua. — Com os olhos cravados em mim, Justin se abaixou, entendi então que ele se ajoelhava e perplexa o vi estender uma caixinha de veludo aberta para mim — Por isso, eu te pergunto, Faith: Você aceita se casar comigo?


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que achou do capítulo? Conte pra mim, eu não mordo ><