Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

sábado, 5 de setembro de 2020

One Time 13

 Batuquei a caneta na mesa num ritmo constante, tendo dificuldades para conseguir me concentrar nos estudos. Se continuasse daquele jeito, eu provavelmente zeraria as provas. Bufei, frustrada comigo mesma, mas não podia afastar dos meus pensamentos aquela carta e a resposta do meu excelentíssimo namorado a ela. 

"Senhorita Evans

Com imensa honra e nossos mais sinceros cumprimentos, por meio desta, queremos lhe convidar, como acompanhante de nosso funcionário Justin Bieber, a comparecer ao baile exclusivo anual em comemoração à fundação da Cavanagh no dia 23 de novembro de 2018 às 22 horas. Dez minutos antes do horário e dia em questão, um carro se direcionará à sua residência para levá-la ao local designado. 

Na certeza de que teremos finalmente sua ilustre presença entre nós, nos despedimos, por ora. 

Companhia Cavanagh."

Se era um evento anual, não entendi o motivo de não terem me convidado no ano passado. Não, na verdade, por que estavam me convidando esse ano. O fato me deixou nervosa, lembrava-me muito bem do baile em que conheci George Bieber e a vulnerabilidade que o evento trouxera a Justin e eu. Seria como entrar na cova dos leões, e, esse baile em questão era pior, uma comemoração da "empresa" com todos os seus funcionários extremamente competentes em matar pessoas. Também não podia esquecer o fato de que estávamos devendo em nossa lealdade, maquinando nas costas deles. Eu tinha medo de sentir minha consciência pressionada demais a ponto de gritar no meio do baile "SIM ESTAMOS TENTANDO NOS LIVRAR DE VOCÊS".

E então eu mandei uma mensagem alerta para Justin, imaginando que se eu ligasse não me atenderia "JUSTIN: ALERTA CAVANAGH! ME LIGUE ASSIM QUE POSSÍVEL. U.R.G.E.N.T.E". Se eles me esperavam na sexta feira, provavelmente eu não corria riscos agora, não precisava ligar insistentemente até que ele atendesse. 

Curiosamente, Justin me retornou quase na mesma hora, num tom alarmado. Eu contara sobre a carta, lendo-a calmamente para ele. Expliquei que Diane pegara no nosso correio, eles não estavam a vista (pelo menos onde eu podia ver) e sim, Caitlin estava conosco. Justin grunhiu de irritação e murmurou entredentes:

— Você ir de minha acompanhante? — Distorceu as palavras. 

Eu sabia que era idiota da minha parte, mas me chateei com a frase, encolhendo-me. Ele provavelmente os criticava pelo convite sem noção, não questionava minha qualidade como sua "acompanhante" em geral. Mas não contive minha língua rápido o bastante:

— Bom, eles parecem pensar que sou digna de aparecer com você — murmurei a meia voz. 

— Digna de aparecer comigo? Faith, eles estão loucos. Eu já avisei para manterem distância de você. Agora acho que devo especificar para "nenhum contato" — bufou com sarcasmo. 

A paranoia em minha mente se agitou "viu, ele não confirmou que somos um belo par juntos, mas que apenas seria arriscado para o evento em si que estivéssemos lá". Balancei a cabeça, eu já estava passando do absurdo da carência. 

"Sim, e de quem é a culpa?"

Conversar comigo mesma daquele jeito não podia ser bom sinal. 

E se teve um baile anual no ano anterior, quem havia sido sua acompanhante então?!

— Assim que eu chegar tomarei medidas sobre isso. Preciso pensar um pouco. 

— Claro — respondi vagamente. 

— No mais, está tudo bem? — Perguntou, atento. 

— Ah, sim, minhas babás estão fazendo um ótimo trabalho — ironizei. 

Ele quase riu. 

— Ótimo.

— E por aí, está tudo bem? Quando você volta? 

— Tudo certo. Logo. Domingo ou segunda. Mande um abraço a todos, está bem? 

A voz dele, eu odiava a voz dele e o quanto ela mexia comigo, parecia aumentar minha saudade e a vontade de vê-lo, parecia caçoar de sua ausência na minha cara. 

— Ah, sim, eu mandarei, eu... — então houve um barulho do outro lado da linha e Justin xingou. 

— Nos falamos depois, Faith — e desligou. 

— ... amo você — suspirei. 

Sem novas atualizações desde então, eu me encontrava naquele conhecido poço de frustrações e paranoias. Não podia me concentrar em mais nada, nem nas brincadeiras com as crianças, nem nas conversas com Diane e Bruce, ou na culinária com Pattie. Meu sexto sentido me avisava que nosso relacionamento estava sendo conduzido a uma bifurcação, ou melhor, Justin nos conduzia. Não sabia dizer para o quê ou por quê. E não aguentava mais pensar naquilo, quase valia a pena chegar logo para acabar com o suspense. Tinha alguma coisa errada, eu sentia nos meus ossos, e as evidências estavam ao meu favor.

Estremeci.

Não, não valeria a pena. Eu não queria descobrir o que havia no fundo daquela trilha. Saltei em prontidão quando a campainha tocou, aliviada em poder fazer alguma coisa. Embora estivesse em meu quarto, cheguei antes que qualquer um na porta. Eu não conseguia me lembrar onde estavam todos. 

— Ei — Lucas deu seu sorriso simpático para mim, os olhos nebulosos. 

— Faith! — Ava acenou. 

Ambos se agarravam a livros e mais bolsas. Eu transpareci minha surpresa sem precisar abrir a boca. 

— Você esqueceu do nosso grupo de estudos para as provas? — Ava me repreendeu de testa franzida. 

Tentei disfarçar a culpa, acenando para que entrassem. 

— Não! Claro que não, entrem. 

Os dois trocaram um olhar, eu não enganara ninguém, porém, não comentaram sobre. Nos instalamos na sala de estar, espalhando os livros e notebooks. Eu me deitei de bruços no tapete, balançando as pernas no ar enquanto Lucas nos atirava perguntas sobre... Hm, qual matéria era mesmo?

— Perfeito, Faith! Está tão horrível que não vai precisar se esforçar tanto para tirar um zero — a ironia salpicou as pontas do seu sorriso. 

Atirei uma caneta nele, que se esquivou habilmente. Ela rodou para baixo da poltrona e eu gemi de desânimo. 

— Sério, você está vencendo Ava nos primeiros dias de sua história melosa com Ethan — a acidez no tom de sua voz ultrapassava a critica a um romance grudento, eu sabia. 

Ava lhe mostrou a língua. 

— Tem alguma coisa te incomodando? — Ela empurrou meu ombro com o seu, estando bem ao meu lado na mesma postura. 

Expirei ruidosamente. Sinceramente, até eu estava me cansando da minha pessoa. Não queria pensar no mesmo drama, falar do mesmo drama, respirar o mesmo drama. A tensão repetitiva havia tornado meus ombros duas rochas e eu já estava de saco cheio daquilo, precisava de férias.  

— Sabem de uma coisa? A revisão exaustiva de assuntos não traz nenhuma garantia se a mente não está apta para receber o conhecimento — senti-me agitada de repente. 

Os dois estreitaram os olhos para mim. 

— No que está pensando? — Lucas enfim perguntou, corajoso o bastante para enfrentar minha ideia. 

— Patinação no gelo e um bom chocolate quente — pulei para ficar em pé.

Jax e Jazzy estariam seguros com Ryan e Caitlin, eu agora me lembrava de que estavam nos fundos da casa fazendo bonecos de neve. A neve chegara no meio da tarde do sábado, trazendo a alegria para os pequenos que adoravam a estação. Eu não me importava muito comigo, mas de qualquer forma tinha aquela vaga impressão de que sobreviveria ao menos até o baile idiota — se Justin já não houvesse estragado tudo. 

Antes que meus amigos protestassem, acrescentei:

— Daí prometo que faremos horas de estudos a fio com bastante concentração. Podemos até madrugar. 

Eles se olharam, indecisos. Me preveni a um parecer desfavorável, saindo da sala aos pulos, com um breve aviso de que pegaria meus patins. Segui o ímpeto da diversão, concentrando minha atenção nos planos imediatos, em qual pista iríamos, qual lanchonete, o melhor agasalho... Mantive-me bastante ocupada, planejando. 

Mas, quando saí pela porta feito uma fugitiva e só avisei a Caitlin por mensagem de que estava indo dar um passeio, que tive a sensação, reforçada assim que desliguei o celular e liguei o som de Ava no máximo. Eu não estava escapando apenas dos estudos e da minha mente turbulenta. Precisava escapar de Justin, de todas as amarras dele em mim, indiretamente tentando me antecipar a algum corte definitivo. Precisava me lembrar de como era a vida sem ele, para ao menos também me concentrar apenas em mim como ele podia fazer muito bem com ele mesmo. 

Estar com Ava e Lucas era sobre isso, cuidar da minha vida privada. Eles não tinham relação alguma com Justin. Eu até que obtive êxito nos primeiros minutos. Encontrei a pista de gelo mais ridiculamente próxima e enfiei meus patins, uma sede desvairada por diversão. Ava e Lucas devem ter percebido alguma coisa, pelos olhares fugazes que me lançavam, mas não disseram nada, acompanhando meu ritmo. 

Deslizei pela cobertura lisa, sentindo a energia que corria por meu sangue. Aquelas lâminas sob os patins podiam representar algum nível de perigo, bem como o chão congelado garantindo quebrar meu nariz se eu caísse de cara. Aquela pequena adrenalina foi capaz de me distrair, desviar minha atenção para mim mesma, nos movimentos necessário para me manter em pé e intacta. E ainda haviam as provocações com meus amigos, risadas histéricas quando um de nós quase ia ao chão. 

Eu e Lucas quase nos chocamos e precisamos segurar um ao outro para não tomar um tombo fenomenal. Eu dei um gritinho ao agarrar seus ombros furiosamente enquanto ele se equilibrava com as mãos em meus braços. Deslizamos perigosamente até nos estabilizarmos, rindo emocionadamente em conjunto. Eu apoiei a cabeça no peito dele, oprimida pelo alívio. 

— Essa foi por pouco! — Ava comentou ao se aproximar de nós dois, avaliando a cena com um riso repicado. 

Eu me ergui assim que Lucas se afastou depressa, ao que parece preocupado com o que ela pensaria de nossa proximidade momentânea. Não havia malícia e de qualquer forma eu namoro então... Um namorado meio ausente às vezes, mas ainda assim contava. Aliás, o que ele estaria fazendo naquele momento? Qual Justin estava vencendo sua superfície?

Argh. E lá vinha ele infestar meus pensamentos. 

Seu nome e rosto em minha mente não foram recebidos com novidade. Percebi que enquanto eu me esforçava tanto para não pensar nele já o estava fazendo. Não era uma coisa natural. Suspirei derrotada, eu devia admitir de uma vez que nunca conseguiria fugir dele nem por um segundo. E, se pensasse direito, nem mesmo gostaria. Justin já era meu complemento. Não haveria Faith Evans sem Justin Bieber. E quando o mundo virou de ponta cabeça para tentar nos separar.... Literalmente havia virado de ponta cabeça. Tremi internamente ao me lembrar outra vez do meu período aterrorizante em Minneapolis. 

Fiquei momentaneamente desanimada e pedi licença para me sentar um pouquinho. Saí da pista e alcancei o banco bem ali na ponta, olhando distraída Lucas e Ava darem voltas não muito sincronizadas. Ava era muito melhor naquilo do que nós dois, e tentava ensinar nosso amigo a ficar ao menos em pé. 

Perguntei-me como Ava não conseguia perceber o olhar de adoração que Lucas lhe direcionava, tanta ternura, tanta atenção... Era impossível não ver. Então me lembrei do que Caitlin me dissera, que Justin me olhava como se eu fosse "o centro do universo". Seria possível que eu também estivesse tão cega por minha paranoia que não conseguisse ver que ele ainda me amava como antes?

Bom, se fosse assim, ele deveria começar a demonstrar melhor. Eu estava me sentindo bem abandonada e aflita com o futuro na maioria das vezes. 

Interrompi meus dramas no meio quando uma cena a frente chamou minha atenção. Lucas literalmente patinando no mesmo lugar, o braço direito estendido para buscar equilíbrio, seus olhos verdes esbugalhados de pânico. Ava segurava sua outra mão, tentando sustentá-lo, mas não estava dando muito certo. 

Levantei-me em prontidão para ajudar, e ainda colocava meus patins quando vi Ava mudar de estratégia, a par da derrota. Num movimento rápido colocou-se na frente dele para segurar seus dois braços. Mas era tarde demais. Os dois rodaram numa dança desengonçada e foram ao chão. Com aquele impulso humano sem sentido, me queixo caiu e cobri a boca com as mãos. 

Antes que eu pudesse ficar muito preocupada, percebi que o chacoalhar nos ombros de Lucas era de riso. Com uma vistoria rápida daquela distância, reparei que pareciam inteiros, nenhum membro estranhamente distorcido, nenhuma poça de sangue espalhando-se à sua volta. Além de que os dois estavam conscientes.

Consegui respirar, ganhariam apenas alguns hematomas. Ava mais do que Lucas, já que ela havia acabado embaixo do seu corpo. Ela estava com uma careta cômica enquanto dizia alguma coisa a ele, Lucas colocou uma das mãos na cabeça dela, como que para se certificar de que estava inteira. 

Abaixei-me para terminar de colocar os patins e ir ajudá-los a se levantar, mas quando ergui a cabeça alguma coisa na cena havia mudado. Os dois continuavam no chão, mas Lucas estava com um olhar diferente, intenso, fitando Ava. Ela estreitava um pouco os olhos, confusa. Precisei de um momento para entender, mesmo dali pude ver quando tomou a decisão. Eu queria gritar "Não, Lucas!", mas fiquei paralisada, como Ava. 

Lucas se inclinou e encostou os lábios nos dela levemente. Eu mordi a boca, nervosa. Encrenca. Independentemente da recepção de Ava, alguém estaria encrencado. Ethan ainda estava na equação. 

Não durou muito, Ava não reagiu, em choque, e Lucas pareceu voltar a si logo. Um selinho longo, mas capaz de um grande estrago — ou mudança. Senti a tempestade vindo antes de acontecer, um segundo inteiro em que os dois se olhavam de olhos arregalados. Alguma coisa no rosto de Lucas também apresentava uma empolgação crescente. No outro segundo, Ava o empurro de cima dela. Era hora de entrar em cena. 

— Lucas?! — O rosto dela havia virado uma pimenta. 

— Ava.... Eu... — ele tentou se levantar, gaguejando. 

Ela já estava em pé, evitando olhar para ele. 

— Espera! Ava! — Sua mão se esticou para tentar agarrar o braço branco, mas agarrou o ar. 

Nos encontramos no meio do caminho, e até meus olhos ela evitou, apressada em fugir. Lucas me olhou em desespero por ajuda. O que eu podia fazer? Olhei entre os dois, indecisa. 

— Droga! — Ouvi Ava xingar ao chegar na ponta da pista, relutante, ela se virou para mim — Faith... O... — apalpou os bolsos, depois me estendeu sua chave — Fiquem com meu carro — suspirou. 

— Não, Ava. Ryan vem nos buscar, fique tranquila. Pode ir. 

Ela me encarou por meio segundo, decidindo, mas seu desespero venceu e assentiu. 

— Desculpe, Faith — e sem esperar uma resposta, correu. 

Bem, nada como um drama alheio para nos distrair dos nossos próprios. Voltei lentamente para onde Lucas estava sentado com um olhar vazio encarando o nada. Estendi minha mão para ele, empática. Tive que esperar um pouco até que finalmente aceitasse minha ajuda. Ele parecia envergonhado demais para me olhar diretamente. 

— Vou pedir ao Ryan para vir nos buscar — quebrei o silêncio enquanto saíamos da pista. 

Ele só assentiu, cabisbaixo. 

Assim que liguei meu celular, recebi notificações de ligações perdidas e mensagens irritadas não respondidas do meu casal favorito. Imaginei se eles teriam reportado ao Justin meu sumiço repentino, só que ele ainda não dera sinal de vida. 

Quando liguei para Ryan, bastou dois toques para ser atendida. 

— O que você estava pensando, Faith? — Grunhiu, logo de cara. 

— Oi, Ry, pode buscar Lucas e eu na pista de patinação? — Pedi com educação, ignorando sua fúria. 

Ele suspirou alto. 

— Fale o endereço, estou a caminho. 

Sentei-me no banco de madeira com Lucas depois de desligar, passando minha mão aberta de luva para expulsar parte da neve.  Apesar de estar bem agasalhada, eu sabia que o contato congelaria minhas nádegas. Dito e feito, tremi com a temperatura se espalhando pelas minhas pernas e subindo por minhas costas.

Dois minutos de silêncio depois, ele expirou. 

— Ela vai me odiar agora, eu não planejei fazer isso, não assim, não agora, talvez nunca. 

Coloquei a mão em seu ombro, sem palavras prontas para dizer. 

— Bem, Lucas, imagino que vá ficar um pouco chateada agora, mas depois vai te perdoar — animei-o. Ava não costumava ser rancorosa, seu coração parecia marshmallow

— Foi um erro, não vamos mais poder manter uma amizade — lamentou. 

— Não seja tão negativo, dê a ela um tempo. Mas peça desculpas.

Perguntei-me se ela contaria a Ethan, e o que ele faria sobre aquilo. Lucas parecia estar pensando no mesmo que eu, gemeu baixinho. 

— Ethan e sua gangue vão acabar comigo. 

Mordi a boca, sem ter certeza de que não o fariam. 

— Pode pedir ao Justin e Ryan lutarem comigo? Eles são de dar medo. Na verdade, tenho certeza de que Justin acabaria com todos sozinho. Ele podia fazer pela nossa parceria de rockeiros

Emiti uma risadinha histérica. Ele tinha razão. 

— Claro, eu te empresto ele um pouquinho. 

Eu podia emprestar algo que não tinha? Se ele não tinha tempo para mim, não teria para Lucas. Ou só não tinha para mim mesmo? Ele podia estar propositalmente fugindo de mim, com aquela questão de indecisão sobre quem era. 

Uma buzina interrompeu nossos pensamentos e qualquer intuito de retomar a conversa. Ryan realmente voava com aquele carro. 

— Se divertiram, crianças? — Lançou a mim seu olhar de censura quando entramos.

— Claro —murmurei, sem culpa. 

Ele apertou os olhos, depois perguntou:

— Onde está Ava?

Lucas estava no banco de trás, mas eu quase podia ver sua careta. 

— Teve que ir embora... correndo. 

Ryan franziu a testa de desconfiança com o desconforto em minha voz. Por outro lado, não questionou. 

— Tudo bem. Te deixo onde, cara? — Olhou para Lucas pelo retrovisor. 

— Na verdade, Faith, se importa se eu ficar na sua casa mais um pouco? Podíamos continuar com os estudos — pediu, e eu notei sua agonia para não ficar sozinho. De fato, temia que Ethan o procurasse imediatamente ou fugia de seus pensamentos. 

— Claro, vamos continuar os estudos. 

Ryan olhou entre nós dois por um momento, curioso, mas novamente não disse nada. Sem dúvida havia captado o problema no ar. Eu não revelaria qual era, Lucas logicamente ficaria constrangido. 

Chegamos em casa e partimos direto para a sala. Ryan não nos acompanhou, pisando fundo enquanto se afastava. Não estava muito longe, por isso eu ouvi quando ele murmurou:

— E aí. Já achei. Trouxe ela pra casa, estava com o Lucas numa pista de patinação. É... Sim. Parece que vão estudar agora..... Beleza, mas... — o som ficou distante demais para que eu continuasse ouvindo. 

Eu tinha certeza de que ele estava falando com o Justin. Trinquei os dentes. Maldito, então comigo ele não podia falar, mas sobre mim e com Ryan sim. Não havia ao menos me dirigido uma palavra naquele dia inteiro. Deixara meu "bom dia" no vácuo eterno. Eu queria correr atrás de Ryan e tomar o telefone de suas mãos. Só a expressão desolada de Lucas me impediu. Que Justin e Ryan explodissem juntos! Eu não deixaria barato. 

Sentei-me no chão ao seu lado como uma boa mártir e empurrei um livro para ele. 

— Você tem umas perguntas para fazer. 

Com um meio sorriso, voltamos onde havíamos parado. Dessa vez, porém, eu não era a única a estar desmotivada. A preocupação em deixá-lo melhor me ajudou a ignorar um pouco a minha. Contudo, conforme o tempo avançava, meu progresso fora mínimo. 

— E então, qual é? — Cobrei sua resposta quando ele demorou mais de dez segundos para ao menos parecer que estava pensando sobre a matéria. 

Lucas passou a mão em seus cabelos enrolados, franzindo a testa de concentração.

— Sabe o que está me perturbando? De certa forma eu ainda estou um pouco... feliz? Satisfeito? Abobado? — lutou com as palavras, o vinco em sua testa se aprofundando — Eu esperei tanto por aquilo, Faith, e... — seus lábios se contraíram, tentando reprimir um sorriso — a boca dela é tão macia — balançou a cabeça — e ficar tão próximo dela, a ponto de sentir sua respiração no meu rosto. Merda.. Ela parece uma droga. E olha que eu nunca usei droga. 

Dei uma risadinha nervosa. 

— Ai, Lucas, você é completamente apaixonado por ela mesmo. — E eu não queria estar na sua pele, completei mentalmente. 

— Você vai me ajudar, Faith? — Olhou-me, inspirado — Vai dizer a ela que ao menos me perdoe? Eu prefiro ser amigo que nada. Acho. 

Não pude conter uma careta, sabendo que acabaria sobrando para mim. 

— Claro. O que acha de pedirmos uma pizza? Melhor respirarmos um pouco. 

— Ótimo — concordou, distante outra vez. 

Aquele era o pior grupo de estudos da história. 

— Vou ver o sabor que o pessoal quer. 

Fui direto ao jardim, mesmo que soubesse que não estariam mais ali, não ficariam tanto tempo assim no ar congelante. Talvez eu estivesse evitando de me encontrar com Caitlin. Se ela nem ao menos fora atrás de mim para me dar uma bronca, estava muito brava com minha fuga. 

Acabei encontrando os quatro na sala de jogos. Ryan jogava com Jax uma partida de ping-pong e Jazzy e Cait se concentravam no iPad. Bati na porta e pigarreei.

— Querem pizza do quê? 

As crianças gritaram sabores ao mesmo tempo, animadas. Caitlin, por sua vez, nem levantou os olhos para mim, respondendo:

— Já que você é tão autossuficiente poderia muito bem escolher sozinha. 

Revirei os olhos, mas antes que pudesse responder, meu celular estava tocando. 

— Ótimo, espero que seja o Justin — resmungou. 

— É o Wren — devolvi com um ar petulante, enquanto vibrava de alegria ao ver seu nome no visor. 

— Wren? — ela e Ryan trocaram um olhar. 

Ah! Eu ainda não havia contado a novidade, temendo uma reprimenda. Ops. Virei as costas e saí para ter privacidade. 

— Wren! — Saudei-o. 

— Oi, Faith. Tudo bem? — Sua voz parecia bem mais animada e confortável do que da última vez. 

— Melhor agora. Fico muito feliz que tenha ligado. Como vão as coisas? 

— Muito bem! Conversei com a Charlie, só estou ligando para avisar que vamos para aí na quinta sim. Ela adora o Canadá — ele estava radiante em anunciar as boas novas. 

— Ah! São ótimas notícias! Vocês serão muito bem vindos! — Eu estava chocada. Claro que queria que eles viessem, mas não pensei que aceitariam. Nem mesmo eu sabia como o pessoal os receberia — teria que trabalhar muito nisso — que dirá de sua parte. Wren era corajoso. 

— Será um prazer imenso. Você, hã... —o tom de voz dele mudou, hesitante — tem certeza de que vão gostar de me ver aí? 

Engoli em seco. 

— Claro, Wren — menti, porque eu não sabia nada —, você sempre foi da família. 

— Isso me deixa radiante. Saudade de vocês. Vou te mandar uma mensagem depois com mais informações sobre o voo. 

— Obrigada, Wren. 

Bom, como se eu já não tivesse conflitos demais para pensar. Eu só me arrumava confusão. Um raio para problemas. Wren também podia se sentir mal perto deles. Argh. Eu não pensava as coisas direito. 

Não seria fácil, e a cara de Ryan e Cait enquanto comíamos a pizza — com o sabor escolhido pelas crianças e Lucas somente, já que os avós e Pattie estavam no restaurante e o casal se recusara a responder — já adiantava isso. Claro que também podia ter algo a ver com os outros acontecimentos do dia. 

Estremeci ao pensar em como seriam suas reações quando eu contasse do jantar. Ryan, que achava muito difícil ficar calado e esconder seus sentimentos, grunhiu de repente:

— Wren. 

Arqueei a sobrancelha para ele. 

— Desde quando isso voltou, hein? — Investigou, rabugento. 

Ele era tão paranoico quanto Justin, então tinha dificuldades para acreditar em sua inocência. 

— Voltamos a nos falar na sexta feira, Ryan. Mais alguma pergunta? — Falei mal humorada. 

— Por que? — Exigiu saber, fitando-me como se eu tivesse neurônios a menos. 

— Porque ele sempre foi meu amigo — devolvi o olhar. 

— Ah, amigos, sim. Você tem um julgamento duvidosos sobre seus amigos — resmungou. 

Lucas, até aquele momento entretido com algo que Jax lhe dizia, nos olhou de rabo de olho. 

— Começando por você, claro.. 

Ele fez uma careta. 

— Justin adorou saber dessa reconciliação. 

Meu queixo caiu. O quê?!

— Será que eu consigo peidar sem que você faça um relatório completo para ele, Ryan? 

As crianças riram ao ouvir a palavra "peidar" e Catlin de fato segurava um sorriso. 

— Se ele está incomodado ou interessado, podia muito bem falar comigo sobre isso. Te pouparia o trabalho de fofocar como uma velhinha o tempo todo. Se bem que você deve gostar. 

— Ele gosta — Caitlin concordou. 

— Ei! De qual lado você está? — Ele a acusou com os olhos. 

— Da verdade — deu de ombros — Que anda junto com a transparência, coisa que você parece ter resolvido abandonar — ela agora olhava para mim. 

— Gente, não sei para quê tanto escândalo, estão convivendo muito com aquele lá. 

— Aquele lá? — Ryan arregalou os olhos de descrença para mim — Mais respeito com ele, Faith. 

— Bom, Ryan — larguei os talheres no prato — já que vocês se amam tanto e com você ele gosta de falar, deveriam namorar — abandonei a mesa com a pizza inacabada — Vamos, Lucas, vou te levar embora. 

Não vi se ele havia terminado ou não, focada na minha saída. Ouvi sua despedida breve e tímida aos presentes, em seguida, estava atrás de mm. 

— Hã, tudo bem, Faith? — Me alcançou. 

— Claro. Vamos pegar suas coisas. 

Então era isso? Justin e Ryan deviam conversar o dia inteiro nas minhas costas, enquanto minhas mensagens e ligações ele evitava. Por que me evitava? O que eu havia feito de errado? E se me evitava, por que ainda queria saber de mim? Para garantir que eu não colocara sua família em perigo? Já que era uma burra impulsiva. 

Milhões de vespas ferroavam meu cérebro, eu estava tão chateada e brava que queria chorar. Mas mordi bem a boca e garanti que não me humilharia assim na frente de Lucas, que passou o trajeto inteiro em silêncio, provavelmente preso em suas próprias preocupações também. O clima dentro do carro não estava dos melhores, nossas mentes cheias preenchiam todo o ar. 

Estava tão afobada que quase passei da casa de Lucas, mas no último segundo ele se manifestou e eu encostei o carro. Respirei fundo para destravar os dentes e lhe dar uma despedida decente. Ele examinou minha expressão por um breve momento. 

— O amor está mesmo em crise atualmente, não é? — adivinhou, e eu sabia que se referia a nós dois. 

Concordei com um sorrisinho desanimado.

— Se precisar estou aqui. Se quiser conversar, tem meu número — disse-me, terno. 

— Eu também. Se precisar das minhas artes em defesa pessoal também. 

Demos uma risadinha e em seguida um abraço rápido. 

Voltei para casa muito lentamente, não queria enfrentar Caitlin e Ryan, ou estar perto de algum ser humano. Talvez... Talvez eu precisasse ficar perto de um ser humano específico. Para termos mais uma conversa sincera. Será que ainda tinha espaço para mim na sua vida? Ou sua indecisão também era sobre mim? Eu precisava que ele me garantisse que eu estava sendo uma boba. Não era possível que depois de tudo... 

Parei o carro na garagem. Eu tentaria mais uma vez. 

Chamou pelo menos umas seis vezes, e eu imaginei que cairia na caixa postal como sempre, mas no último momento ele atendeu. Meu coração literalmente parou no peito. 

— Faith? — Sua voz não parecia irritada, cansada ou reprovadora como imaginei que estaria. Apenas... vacilante.  

  E eu quase chorei só de ouvir aquele timbre rouco e grave que arrepiava todos os míseros pelos do meu corpo. Todo o meu ser clamava por ele de maneira insana. Não era justo. Não se pra ele não era mesma coisa mais. 

— Oi — eu disse tarde demais. 

Um silêncio estranho se intrometeu entre nós, e aquilo me apavorou. Devíamos nos entender, não? 

— Se divertiu hoje? — Ele perguntou, mas não parecia uma forma de me cobrar por minhas aventuras do dia como seria o normal dele fazer.

— Ah, foi tudo bem. E você, se divertiu?

Pausa. 

— Hm... Pode-se dizer que sim. 

Como poderia ter se divertido se estávamos distantes daquele jeito? 

— Entendi. — olhei a hora no painel do carro, dez da noite — Não voltou ainda? 

— Voltei. — Respondeu, apenas. 

Mordi o lábio, não sabia se para evitar que o xingasse por não ter me ligado para nos encontrarmos ou ter imediatamente nos visto ou para não chorar mesmo. Pagaria aquele papel ridículo até quando?

— Ah. 

— Eu... preciso desligar agora. 

Previsível. Meus lábios tremeram. Ele realmente estava escapando entre os meus dedos. Não havia como mentir, cada vez mais suas distâncias eram maiores. E eu havia prometido lutar até o fim. 

Mas... E se no fundo ele não me quisesse mais? E se não me deixasse lutar por ele?

Tentei falar através do bolo em minha garganta. 

— Tudo bem. Boa noite. 

— Faith... — hesitou — Boa noite. 

Quando ele desligou, eu me debrucei no volante e a umidade em meus olhos transbordou. Até certo ponto eu podia ser considerada uma covarde e meu maior medo naquele momento era saber de modo direto se eu ainda era sua certeza como ele era a minha. Então sim, eu choraria de medo de perdê-lo, porque não podia nem queria me imaginar sem ele. E cruzaria bem os dedos para que ainda fosse assim para ele também. 

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