Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 22 de maio de 2018

One Love 39


Joguei-me no sofá, cedendo aos meus instintos mais gritantes. Justin riu.

—  Você parece ter saído de uma guerra agora —  ele se sentou ao meu lado, deitando a cabeça para trás. Vi seu pescoço branquinho tão exposto exibindo o pomo-de-adão.
No fim, Patricia colocou um vinho na mesa e começou uma conversa casual, o assunto basicamente se resumia a mim, ela queria saber meus gostos, planos — esse foi meio difícil de responder, mas soltei de praxe que planejava ser médica, o que fez com que desse uma olhadela impressionada para Justin, e então falamos sobre os desafios da profissão, depois sobre meu primeiro emprego. Expliquei que tinha um carinho especial por artes, mas trancara o curso ano passado por ter recebido outro chamado profissional do meu coração. Contei que conheci Justin na primeira exposição dos meus quadros e ela pediu que lhe mostrasse algum em outra oportunidade. O assunto se estendeu tanto que quase não nos lembramos da promessa de colocar as crianças para dormir, já era tarde e aqueles olhos pequenos estavam praticamente se fechando sozinhos.
Eu ajudei Jazmyn a escolher um pijama e lhe fiz companhia enquanto escovava os dentes no próprio banheiro. Depois a observei subir na cama enorme e deitar-se tagarelando sobre o nervosismo de começar em uma escola nova.
— Eles vão te adorar, Jazmyn — dei-lhe um beijo na testa e apaguei a luz. Antes de sair do quarto ela me perguntou se Justin demoraria a lhe dar boa noite, em suas palavras, Jaxon poderia monopolizá-lo até que ela dormisse.
Quando entrei no quarto de Jaxon, os dois realmente estavam perto da televisão apertando agressivamente controles de Xbox. Demorei alguns segundos para chamá-los, encantada com o brilho infantil nos olhos dos dois. O rosto de Justin completamente livre daquela preocupação constante que aparecia até atrás dos seus sorrisos. Naquele momento, ele era apenas um menino. Foi o gesto de coçar o olho de Jaxon que me fez entrar em cena.
— Você não pode me julgar. De um dia para o outro tem duas crianças enormes me chamando de mãe e acabei de conhecer sua família materna.
Ele fechou os olhos e atribui isso ao seu cansaço.
— Desculpe por isso. Não consegui explicá-los que não era bem assim.
— Não me importo. Gosto muito dos dois.
Por outro lado, eu sabia que aquilo não era muito saudável. Quer dizer, ter um filho acarreta muitas responsabilidades, os dois sabiam muito bem disso e esperariam tudo de mim. Com vinte e dois anos ser mãe de uma menina de nove e um garoto de oito parecia um desafio e tanto.
— Eu quero te pedir uma coisa — seus olhos lampejaram para mim.
Àquela altura eu achava difícil recusar alguma coisa que ele me pedisse. Mesmo assim, fiz graça:
— Vamos ver o que posso fazer por você.
Ele repuxou o lábio em um sorriso.
— Consegui um segurança para essa casa. Acrescentando a isso o fato de que eu queria que Jazmyn e Jaxon ficassem perto de alguém que já conhecem... Você acha que pode morar algum tempo aqui? Fiz a mesma proposta a Caitlin e Ryan, e embora tenham aceitado passar essa noite aqui, partirão amanhã para encontrar um apartamento nas redondezas. Sei que talvez você prefira morar com eles, mas... — respirou fundo, e então existiu de falar. Era quase cômico que estivesse perdendo sua habilidade de se expressar.
Ponderei por cinco segundos no máximo, então ele piscou seus cílios longos para mim.
— Tudo bem. Por um tempo.
O alívio fez com que fechasse os olhos outra vez. Próxima demais de seus traços angelicais, cedi a tentação de acariciar seu rosto com a ponta dos dedos, percebendo-o relaxar ainda mais sob meu toque.
— Ainda não acredito que Caitlin deixou tudo para trás de novo.
— Ela não abandonaria Ryan agora. E modéstia parte, acho que também pesamos em sua decisão.
— Seus pais vão ficar arrasados. E agora, o que vai fazer com a agência de modelo?
Ele entortou um pouco a boca, numa expressão de “não sei”.
— Acho que conseguiu referências, alguma coisa assim. Mas disse para Ryan que essa é a última mudança da sua vida, com exceção de necessidade profissional. Vocês não conversaram sobre? Ela continua brava com você?
Dei de ombros, apenas aparentando indiferença. Não consegui pensar em algo para dizer que correspondesse com meu gesto.
— Caitlin é meio exagerada, mas logo vocês estarão conversando. Dou menos de uma semana.
Eu esperava que sim. De repente, me liguei em outra coisa enquanto contornava  seu maxilar com o indicador.
— Ei, você disse que queria Jazmyn e Jaxon  perto de alguém que conhecessem, mas não é como se você fosse um completo desconhecido. Não que eu esteja reclamando de ficar aqui ou voltando atrás...
Sua testa se franziu um pouco.
— Hm, sim. É só que... Não vou morar aqui, na verdade.
Arqueei a sobrancelha.
— Não acho bom morar no mesmo lugar que vocês, esse trabalho faz de mim um alvo. Mas vou passar essa noite aqui para que possa se sentir mais a vontade.
— Você vai me despejar aqui e ir embora? — grasnei.
— Não vou morar tão longe assim, e prometo visitá-los todos os dias.
Isso era perfeito. Então agora eu havia me tornado uma mãe solteira vivendo de favor na casa da sogra. Fiz uma pausa no surto silencioso para apreciar como soava bem chamar Patricia Mallette de sogra.
— Eu sei que é complicado. Se você quiser te imploro de joelhos — para reforçar a persuasão, colocou a mão em cima da minha em seu rosto.
Respirei fundo diante de toda confusão que seu toque causava em meu sistema, praguejando mentalmente. Bem, eu já estava ali, não é?
Ah, meu Deus. Eu estava ali.
— Posso tentar —  murmurei. Aquilo pareceu mais uma pergunta.
Senti-me um pouco melhor ao ver seu sorriso grato antes que se colocasse em pé e me estendesse a mão — não o suficiente para afastar o pânico gelado passeando por meu estômago.
— Venha, vou te apresentar seu quarto.
Os quartos do terceiro andar eram reservados para hóspedes, Ryan e Caitlin já se recolhiam em um deles, e aparentemente, agora para mim também. Desfrutei de certa ansiedade quando pensei que já no dia seguinte seria apenas eu naquele corredor grande e vazio.
— Se não gostar, podemos mudar alguma coisa — Justin disse enquanto abria a porta.
O tom de azul que cobria as paredes me lembrava do céu em seu melhor dia, os móveis se distribuíam nas cores branca e azul bebê, muito bem planejado para que realmente parecesse uma moradia no paraíso feita sob medida para mim. Corri os olhos por um quadro de Vladimir Kush pendurado atrás da cama vintage majestosa de casal — forrada de ursos de pelúcia — e a moldura de um pôster de CSI na parede da frente. A tela de pintura em branco num dos cantos do quarto terminou de derreter meu coração. E então me perguntei há exatamente quanto tempo ele planejara aquilo sem mesmo saber se eu aceitaria sua proposta.
— Você... — gaguejei — Isso é incrível. Como...? E se eu não...?
— Pedi para decorarem um para você quando decidi voltar a Boston. Gosto de delinear todas as alternativas, até as mais improváveis, e colocá-las em andamento, você sabe.
Virei-me para ele, as duas mãos no pescoço, tamanha perplexidade.
— E se eu não viesse?
— Eu teria alguns anos para transformar Jazmyn numa amante de artes e CSI. Duvido muito que ela ainda vai gostar daquele quarto em sua adolescência.
Voltei ao quadro de Vladimir Kush, nada mais e nada menos que Farewell Kiss. Temi que Justin percebesse em meu rosto que aquilo me lembrava de Rafael — aliás, ele já não devia saber daquilo? — e falei qualquer coisa que veio na minha cabeça:
— Faz algum tempo que não vejo CSI. Preciso voltar.
— Patricia estava me falando sobre uma chamada Grey’s Anatomy, parece ser uma série sobre médicos, talvez você goste.
Como uma boa sedentária, e curiosa para experimentar a maciez do colchão, me sentei na cama, afundando-a levemente com meu peso. Foi como me sentar em plumas. Vi que Justin ainda avaliava minha expressão e sorri pra ele.
— Obrigada. Não precisava ter feito tudo isso.
Justin pegou uma cobra preta entre as pelúcias atrás de mim e me estendeu.
— Você não gosta muito de animais, mas se está oficialmente namorando uma cobra, deve aceitar um pouco mais essa espécie agora.
Eu ri mais alto do que planejava, lisonjeada que a palavra “namoro” saísse de sua boca novamente, pegando da sua mão só para atirá-la em seu rosto.  
— Então você deve amar Avestruz agora.
— Por que Avestruz?
Girei um pinguim pequeno em minhas mãos.
— É o animal mais medroso do mundo.
O colchão afundou quando ele se sentou atrás de mim. Seus braços me puxaram para recostar em seu peito e lá estava ele outra vez em todas as partes, enlaçando-me como se fôssemos um só. Senti um arrepio quando sua voz bateu em meu pescoço.
— Ah, é? Bom, mas eu amo você, a criatura mais corajosa que já conheci na vida — beijou de leve minha nuca.
Meu corpo dividiu-se em euforia e nós emotivos na garganta.
— Você não deve ter conhecido muitas então.
Sua risadinha fez cócegas em minha pele.
— Espero que isso não seja uma pergunta — virei meu pescoço como a menina exorcista para lhe encarar furiosamente — No entanto, nenhuma delas me fez sentir como você. Eu sou seu, Faith. 
Precisei beijá-lo, seus lábios tinham o gosto ácido do vinho ingerido há pouco, mas eu duvidava que alguma coisa conseguisse ser mais doce. Não pensei mais em todas as catástrofes que caíram sobre minha cabeça, sobre o desafio de mudar para um novo país, sobre as coisas que enfrentaria dali pra frente. Eu o tinha, e era o que importava. 

No dia seguinte, Caitlin e eu fomos as últimas a deixar a mesa do café da manhã. Todos acordaram cedo, Patricia trabalhava numa editora de livros no centro da cidade, Bruce e Diane gostavam de aproveitar o máximo do sol para os afazeres diários, Ryan e Caitlin sairiam em busca de um novo lar e Justin e eu tínhamos que deixar as crianças na escola. Ela parecia entretida demais com sua panqueca para notar que eu fora a única companhia que lhe restara, mas não ficou surpresa ao ouvir minha voz:
— Já sabem onde começar a procurar pelos apartamentos? — falei aleatoriamente.
Caitlin me encarou.
— Não. — Respondeu seca, baixando os olhos logo em seguida.
— E vão dividir?
— Sim.
— Você está ansiosa com isso?
— Não.
— E já conversou com seus pais sobre?
— Não.
— Hm. O clima parece agradável aqui, não é?
— Sim.
— E vocês dormiram bem?
— Sim.
— Vai me perdoar?
Ela se deteve assim que abriu a boca para responder no automático, direcionando-me um olhar insondável. Comecei a balançar a perna de nervoso conforme o tempo passava. Não relaxei quando ela respirou fundo.
—Não tem o que perdoar, Faith.
—Mas você ainda está brava comigo.
Caitlin finalmente afastou seu prato e direcionou toda sua atenção para mim, cruzando as mãos em cima da mesa.
— E você também não estaria? Entenda Faith, depois de tudo o que ele te fez não consigo acreditar que tenha coragem de se colocar na mesma posição. Na verdade, em uma posição pior ainda — olhou significativamente a sua volta — Eu sei que você aceitou morar aqui, mas também sei que, embora ficar nos Estados Unidos seja perigoso, por causa de seu envolvimento com ele —  destacou —, você poderia arrumar outra coisa. Não gosto da ideia de ver vocês juntos, e desde o princípio soube que vocês não manteriam apenas uma amizade. É só que... É um pouco frustrante tudo isso. Você pode pensar que não é da minha conta, só que eu cuido daqueles que eu amo.
Ela pareceu pasma que eu estivesse sorrindo.
— Foco, Faith. Pelo amor de Deus, você tem crianças de altura acima da sua cintura te chamando de mãe!
— Eu sei. E não é como se eu não estivesse com medo, porque eu estou assustada pra caralho — contive a vontade de roer as unhas — Mas, Caitlin, ele está diferente — levantei a palma da mão, impedindo que ela me interrompesse — e eu o amo. Posso muito bem estar cometendo um erro de novo, e só posso descobrir isso se tentar. Chegamos nesse ponto. Minha segurança também depender dele, por hora. Não consegui evitar que meu coração também interferisse, e resistir me parecia errado. Por favor, você precisa entender — estendi minha mão para a dela, e aproveitei sua inércia para segurá-la —, eu preciso de você.
Mais um tempo razoável de um olhar inseguro e pedincho da minha parte até que Caitlin fizesse uma careta de contradição.
— Não vou abandonar você. Mas se ele partir seu coração outra vez eu vou pegar os cacos e enfiar um por um no rabo dele, depois te dar uma sacodida no cérebro pra ver se seus miolos finalmente voltam para o lugar.
Gargalhei, uma mente fértil como a minha não tinha dificuldade de imaginar uma coisa daquelas. E sim, ela riu comigo, o que foi um conforto pra minha alma. Além de Justin, eu só teria a ela e Ryan outra vez, cada um era responsável por alguma parte de mim. Eu necessitaria de todas para poder me fazer inteira.
Interrompendo o momento, Jazzy e Jaxon entraram na sala de jantar fazendo barulho com mochilas nas costas, e logo atrás deles, estava o dono dos meus sorrisos. Ele notou com satisfação minha interação com Caitlin.
— Posso saber do que estão rindo?
Eu e ela nos entreolhamos antes de rir outra vez.
— Não é adequado para se dizer na frente de crianças — Cait sorriu venenosa, e repentinamente fechou a expressão — Eu acho muito bom você andar na linha, Justin Drew Bieber. Vou infringir várias normas dos direitos humanos se precisar entrar em ação contra você.
Ele assentiu solenemente.
— Se alguma coisa acontecer a ela, eu mesmo facilitarei os meios pra você.
— Muito bem — me levantei da mesa, pegando meu prato — É agradável que demonstrem carinho por mim falando sobre tortura, mas as crianças vão perder a hora.
Já que havíamos feito às pazes, Caitlin e Ryan permitiram que eu os acompanhasse na busca por um apartamento, assim, fomos os quatro para a escola. Jazzy deu a mão para mim e para o Justin quando descemos do carro, já Jaxon preferiu andar na frente de braços cruzados, reclamando do quanto meninas são “moles”. Olhei para seu irmão mais velho por uma fração de segundos e ele captou meu olhar. As mãozinhas de Jazzy passaram uma corrente de euforia diferente, entendi que o sentimento não partia apenas dos estudantes mirins, aquele momento tinha um aspecto de perpetuidade. Aparentemente, éramos um casal comum conduzindo seus filhos ao primeiro dia de aula, e o impacto daquilo, por mais que não fosse verdadeiramente a realidade, acelerou meu ritmo cardíaco.
Fui puxada de volta a realidade quando Jazmyn me abraçou.
— Se lembra de não desligar o celular e deixa ele perto de você, eu posso te ligar. — Não conseguimos convencê-la de que seria melhor deixar o aparelho em casa, Justin foi quem deu a palavra final. “Só hoje, para lhe dar segurança”, dissera. Eu tinha a impressão de que aqueles dois seriam mimados ao máximo pelo irmão mais velho.
Ajoelhei-me e fitei seus olhos ansiosos.
— Eu sei que vai ficar tudo bem. Lembre-se de só usar em casos extremos, certo? Você é maravilhosa, Jazzy, vai se sair muito bem.
Jaxon preferiu parecer indiferente, mas senti sua tensão quando me abraçou. Dei-lhe um beijo na bochecha com a promessa de que logo estaríamos de volta para buscá-los. Mas foi Justin quem pareceu mais apreensivo quando os deixamos nas mãos da funcionária sorridente de avental rosa. Eu jurava que despejaria alguma ameaça no intuito de motivá-la a cuidar bem de seus irmãos, então envolvi seu braço ternamente no meu. Observamos os dois até que desaparecessem atrás dos portões azuis, acenando freneticamente. Não fiquei surpresa que fossem tão corajosos quanto Justin. No meu caso, Eleanor me dissera que eu chorava amargamente todas as vezes que as aulas começavam, mais intensamente quando me mudavam de turma ou escola.
— Eles vão ficar bem — afirmei ainda sem olhar em seu rosto, dando-lhe o tempo necessário para que se recompusesse.
— Essa escola é frequentada por crianças relacionadas aos Cavanagh, então o esperado é que estejam.
— Espera — arfei —  É uma escola de...?
— Não. É uma escola financiada e supervisionada por eles, mas o ensino não difere de outras. Quer dizer, é melhor.
— Hm. Que bom, eu acho.
Uma mulher de vestido vermelho se ajoelhou a nossa frente segurando os bracinhos finos de um menino em lágrimas silenciosas. Ela sorria pra ele com incentivo, falando energeticamente. Dava para notar que sofria quase tanto quanto a criança, despedaçada em deixá-lo ali naquele estado. Pelas semelhanças dos rostos quadrados e queixos pontudos, não se podia ao menos duvidar de que era sua mãe. Assisti a cena distraída, comovida pela emoção dos dois. Acabei me lembrando de Eleanor outra vez e imaginei o que estaria sentindo agora que tinha uma filha fugitiva com um namorado de origem duvidosa.
Flagrei Justin me encarando.
— Eu sabia que apenas você podia me transformar nessa pessoa — girou-me de frente para ele e tomou meu rosto com uma das mãos, levantando para que ficasse quase na mesma altura do seu. Vi-me refletida em sua íris líquida que me capturava como se eu fosse uma abelha atraída por aquele mel — Estamos mesmo parecendo uma família.
Involuntariamente, as pontas dos meus lábios tentaram alcançar minhas bochechas.
— É incrível que você não tenha dito isso com depreciação.
Arqueou a sobrancelha.
— Você duvida que eu queira formar uma família com você, Faith Evans? — engasguei com um bolo de sentimentos, e ele sabiamente não me esperou responder — Parece que vou ter que te provar algumas coisas durante esse tempo no Canadá.
— Esse tempo?
Tinha quase certeza de que ele franzia a boca para fazer charme enquanto pensava.
— Talvez pudéssemos nos mudar para outro país mais para frente. O que acha da Inglaterra? — aquela também não era uma pergunta para responder. Ou talvez fosse, e eu apenas me distraí com seu rosto se aproximando do meu. Fitava seus olhos segundos antes que entreabrisse a boca e a colasse na minha.
— Acho que as crianças não estão apreciando muito o show, se me permitem dizer — Caitlin pigarreou.
Realmente nos deparamos com alguns rostos franzidos, em parte de alguns pais indignados. Escondi meu rosto no peito de Justin e senti seu peito vibrar com a risada breve.
— Tudo bem, já podemos ir andando. Não queremos que alguém pegue antes nosso apartamento perfeito — Ryan disse.
Justin me apertou um pouco contra ele.
— Claro, eu também já tenho que ir. Encontro vocês mais tarde?
— Promete que não vai demorar? — o que eu queria dizer, na verdade, era que não fosse. Eu não suportava a ideia de tê-lo novamente naquele meio desumano. Me despedaçava.
— Volto a tempo de pegarmos as crianças aqui — beijou minha testa — Não faça nada de imprudente, por favor — olhou para Ryan, se certificando de que ele seria minha babá.
Cogitei fazer uma cena um tanto infantil para não deixá-lo ir, espernearia até que o fizesse ficar e depois me agarraria a sua perna como um bicho preguiça. Entretanto, apenas o vi entrar no carro e me dar uma piscadela.
Ah, Justin, o que estamos fazendo da vida?
Saber o que ele faria e aguentar em silêncio me fazia uma espécie de cúmplice? Acaso nossas vidas importavam mais do que de outras pessoas?
— O que estamos esperando? — Ryan me puxou pelo braço, exageradamente animado.
Ele havia alugado um carro, então nos enfiamos lá dentro e seguimos em busca do lugar ideal para os dois. Acabei entendendo que Ryan não se importava tanto com decoração, tamanho e até mesmo móveis, para ele bastava uma cama de casal e um chuveiro. Parei imediatamente quando minha mente começou a interpretar sua empolgação com essas coisas. Para Caitlin era outra história, nós pulávamos de um apartamento ao outro enquanto ela comparava preços, instalações, vizinhança... Eu não me lembrava de ter passado por aquilo em Minneapolis, de qualquer forma, raramente me lembrava de alguma coisa daquele tempo. Não demorou muito para que Ryan se cansasse, e afirmando uma passada no banco, nos pediu para seguir em frente com o carro, qualquer coisa conversaríamos pelo celular.
Eu e Caitlin nos sentamos na décima primeira cama que experimentávamos só naquela manhã, protelei para me levantar, um pouco cansada de toda a procura. De onde estava eu tinha visão da janela de vidro aberta permitindo a entrada dos sons da globalização, buzinas de pessoas impacientes, motores superaquecidos, ônibus públicos, alguém usando uma serra, outra com um secador ligado. Deixei-me levar pelo vai-e-vem do centro da cidade, dando liberdade para todos os tipos de pensamento que quisessem aflorar.
— É complicado, não? — Cait chamou minha atenção, de volta ao quarto, encostara-se ao batente da porta e me analisava.
— Encontrar o apartamento certo? Sim, um pouco.
Ela caminhou lentamente até mim, sentando-se ao meu lado.
— Bom, isso também. Acho que é pior ainda quando se trata de uma coisa tão nova. Quer dizer, dividir apartamento com um namorado? Isso parece algo bem sério a se fazer — refletiu um pouco distante.
Eu sabia que toda a sua indecisão não tinha a ver somente com as acomodações.
— Está arrependida? Você sabe que pode morar na casa da família do Justin.
Seu olhar me taxou de desmiolada. Pelo menos eu tentei.
— Não posso estar arrependida de algo que ainda não fiz — suspirou — Estou um pouco nervosa, mas também determinada.
Movi a cabeça.
— Não precisa ser uma coisa perpétua também.
— Claro. De qualquer forma, não era sobre isso que eu me referia. É complicado se permitir ser feliz em meio ao caos. Parece que sempre vai ter alguma coisa contra para tentar te colocar pra baixo de novo.
Suspirei, encarando o vazio.
— Nem me fale — eu estava tentando bastante não enumerar as razões para me deprimir.
— E às vezes parece errado ser feliz em momentos desses.
Fiz que sim, sentindo uma porta se abrir dentro de mim. Eu sabia que ficar longe de Justin não seria uma boa coisa, ele tinha o dom de me fazer esquecer coisas assim.
— Além de tudo, eu fico pensando que eu não tinha direito. — Caitlin me esperou completar sozinha, e eu o fiz — Annelise. Eu realmente a detestava. Mas a ideia de que eu fui responsável em terminar com a vida de alguém... — estremeci, mordendo a boca para segurar aquele impulso tão vulnerável.
— Eu entendo. Eu quebrei o pescoço de um daqueles caras e... da mãe de Wren. Acho que um dos pontos positivos de estar aqui é não precisar mais olhar pra ele. Não sei se aguentaria ver os traços dela e lidar com a culpa de ter causado um vazio em sua vida.
Ficamos em silêncio. Senti sua mão em meu rosto.
— Espere só até eu contar para o Justin que você chorou a morte da ex dele — brincou, tentando deixar o clima mais ameno.
Enxuguei meu rosto rapidamente com um sorriso forçado, o que não adiantou em nada a forma como eu me sentia por dentro.
— E deixa eu contar pro Ryan que você chorou por causa de outro cara.
Ela riu. Se aquilo pudesse ser classificado como uma risada.
Quando respirou fundo, entendi que decidira mudar de assunto.
— Ok, e como vai fazer com seus pais agora?
Relaxei as costas, encurvando os ombros sob o peso de toda aquela responsabilidade. Olhei o celular na minha mão com remorso, vendo outra vez o montante de mensagens não respondidas e ligações ignoradas. Claro, a solução de Ryan não duraria para sempre.
— Não sei. O que vai fazer com os seus?
Deu de ombros.
— Não preciso exatamente fazer alguma coisa. Vou ligar e avisar que estou morando no Canadá, simples.
Dei-lhe uma olhadela descrente.
— Não me julgue, você nem falar com os seus pais quer.
Apoiei o rosto na mão, infeliz. Deixar minha família com a angustiante ignorância me garantiria um lugar na lista de filhos mais desnaturados do mundo. Entretanto, eu não tinha ideia de como resolveria aquela questão. Fato incontentável: eu não podia voltar aos Estados Unidos. Ossos do ofício: eles não podiam simplesmente abandonar tudo e mudar de país quando lutaram tanto para manter. Solução e problema: convencê-los de deixar as coisas como estavam.
— Vamos fazer um trato, eu ligo para os meus pais agora e você para os seus. Assim damos coragem uma a outra.
Encarei seus olhos com resistência. Choraminguei e me joguei de costas na cama. Bufei e me sentei novamente.
— Não tenho outra escolha mesmo.
E que comecem os jogos. Mais uma vez. 

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